A excepção e a regra

03-03-2001
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A Excepção e a Regra

Por EDUARDO PRADO COELHO

Terça-feira, 12 de Dezembro de 2000 Três breves notas. A primeira tem a ver com Júlio Meirinhos. Era governador civil de Bragança e acaba de se demitir. Armando Vara ficou consternado. E disse: "Lamento que uma frase infeliz, proferida num momento também infeliz, tenha sido explorada pela oposição e alguma comunicação social." Reparem que Vara não diz que a frase era uma afirmação falsa. Nota apenas que foi "infeliz". Subentende-se que terá sido "infeliz", porque verdadeira, não devia nunca ter sido dita. E o momento "infeliz" foi o facto de Meirinhos a ter dito para a comunicação social. Se fosse em casa, à lareira, a coisa não tinha importância. Mota Andrade, presidente da federação socialista de Bragança, vai na mesma onda: a demissão "é a consequência de algum momento menos feliz na forma como se pronunciou, foram declarações dadas em má hora". Má hora? Erros meus, má fortuna, amor ardente - sabe-se lá... Agora queriam que a comunicação social fizesse um silêncio compungido, que a oposição se calasse? Chamam "exploração" ao facto de alguém utilizar declarações que todos pudemos ouvir, preto no branco, a dizerem aquilo que só se diz por ser verdade e que não se deve dizer porque nem todas as verdades se dizem? Enigma: e que motivos levam Meirinhos e Catarino (na Saúde) a terem este tropismo suicida para a verdade? A segunda tem a ver com o torneio de ténis no Pavilhão Atlântico, iniciativa de qualidade, e em que por todo o mundo tivemos a honra de ser designados como o lugar onde ela ocorria. Segundo os jornais, o Governo teria contribuído para o evento com um milhão de contos. Muito bem. Nisto demonstrou um notável desportivismo, porque não serão muitos os Governos que se empenham em dar tal soma para mostrar às televisões internacionais o primeiro-ministro a ser vaiado pela assistência. Apenas uma nota: aposto que a esmagadora maioria da assistência era constituída por aqueles que passam todo o tempo a vociferar contra os subsídios, a subsidiodependência e o uso arbitrário do dinheiro dos contribuintes. Porque é que desta vez se calaram? Terceira: Francisco Assis diz-nos que o "Governo atravessa uma má conjuntura". É uma afirmação de que ninguém duvida. Mas ela parece pressupor que as más conjunturas são a excepção e que as boas são a regra. No entanto, tudo parece levar a pensar que, desde aquele funesto dia em que Pina Moura resolveu aumentar os combustíveis (e que irá acontecer quando em Janeiro anunciar novos aumentos?), as coisas se inverteram: a regra são as más conjunturas, as boas são uma excepção. O perigo está em que os eleitores se convençam que a soma das conjunturas é uma estrutura. OUTROS TÍTULOS EM ÚLTIMA PÁGINA UNTAET acusa oficial indonésio

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