EXPRESSO: Opinião

27-05-2001
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28/4/2001

OPINIÃO

Portas e o dedo em riste Henrique Monteiro

«A estratégia de afirmação que Paulo Portas tem vindo a seguir até poderia dar frutos, apesar de eles não serem, de facto, visíveis. Mas usa e abusa de uma demagogia que chega a raiar a irresponsabilidade política. Portugal já tem 27 anos de democracia, tempo suficiente para o eleitorado já não ir atrás de frases e discursos de dedo em riste, tão grandiloquentes quanto inconsequentes. Talvez por isso o PP não progrida, apesar do inegável desconforto do PS e do PSD.» COM O SEU estilo habitual, ar solene, o dedo em riste como quem vai proferir sentenças decisivas e inovadoras, Paulo Portas enumerou um por um os nomes das vítimas do terrorismo das FP-25. Fê-lo da tribuna de São Bento, durante as comemorações oficiais do 27º aniversário do 25 de Abril. Portas deu uma lição de demagogia; quis fazer crer, por um lado, que é ele o único a estar sinceramente revoltado com a sentença do tribunal que absolveu os terroristas e, por outro, que essa sentença tem contornos políticos que, de uma forma ou de outra, lançam suspeitas sobre o Estado democrático. Nesse sentido, com o mesmo ar solene, já na semana passada desafiara Durão Barroso, Guterres e Jorge Sampaio a pronunciarem-se sobre aquela absolvição, quando, ainda há não pouco tempo (e com a mesma solenidade), se insurgia em defesa da total independência dos tribunais. A verdade é que há pouco a dizer sobre a sentença. O mal de que ela enferma não está, obviamente, no tribunal (as palavras da juíza foram claras ao dizer que os assassinos estavam diante dela, embora fosse impossível afirmar quais deles o eram, de facto). O mal estará nos avanços e recuos do processo, nas manobras dilatórias (obviamente legais) da defesa e, sobretudo, no já comummente criticado excesso de garantias. É mais fácil encontrar na lei as causas desta estranha absolvição, do que no colectivo que julgou Otelo e os seus pares. Ora Portas limitou-se a criticar uma pretensa negociação entre o Estado e a violência, sabendo que não foi a anterior e polémica amnistia que deu origem à actual situação: uma estranha conjugação que faz com que se dê como provada a existência de uma organização terrorista (crime pelo qual foram amnistiados), mas não consegue reunir provas suficientes para determinar quem foram de facto os autores e mandantes dos crimes cometidos. Além disso, Portas decidiu fazer a homenagem aos mortos pelo terrorismo da extrema-esquerda, pretendendo esquecer o dia que se comemorava no Parlamento. Fê-lo Mota Amaral, dando indirectamente uma lição ao líder do PP: a de que é possível condenar veementemente o desenlace do processo das FP, como mais um sinal da crise mais vasta da Justiça portuguesa. Mas fazê-lo sem demagogia, de forma serena e séria, apelando à razão e reflexão democráticas e não aos instintos mais ou menos primários, sem utilizar a dor alheia como modo de fazer política. Saudando o 25 de Abril, lembrando os perseguidos, presos, torturados, desterrados e mortos, pelo regime anterior, defendendo a democracia e a estabilidade que lhe é necessária. A estratégia de afirmação que Paulo Portas tem vindo a seguir até poderia dar frutos, apesar de eles não serem, de facto, visíveis. Mas usa e abusa de uma demagogia que chega a raiar a irresponsabilidade política. Portugal já tem 27 anos de democracia, tempo suficiente para o eleitorado já não ir atrás de frases e discursos de dedo em riste, tão grandiloquentes quanto inconsequentes. Talvez por isso o PP não progrida, apesar do inegável desconforto do PS e do PSD. E-mail: hmonteiro@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

14 comentários 1 a 10

2 Maio 2001 às 15:18

Odete

Olhe que não!

Depois de muito reflectir faz-se, faz-se.

1 Maio 2001 às 23:17

Ó Odete

Isso não se faz ao Cunhal!!!

1 Maio 2001 às 20:09

Odete

A Teresa é uma incondicional do Durão.

A Marta uma desiludida com o Portas

Eu sou uma admiradora do João Aguiar.

A Catarina uma indefectível do Guterres.

1 Maio 2001 às 12:39

Ó Teresa

Olhe que o Zé Manel não larga a uva!

1 Maio 2001 às 11:33

teresa

Ainda bem que se começa a perceber que o estilo trauliteiro e demagógico não serve. Pode ser que os jornalistas comecem a apoiar a seriedade, a contenção e o não uso da demagogia de Durão Barroso.

29 Abril 2001 às 23:11

Se Portas fosse o líder do PS....

...o seu discurso tinha sido magnífico, o seu estilo solene como a situação requeria, a oportunidade das suas palavras inquestionável!

Felizmente o povo já não acredita nestes "fazedores" de opinião baratos e vendidos!

29 Abril 2001 às 21:35

O Mota Amaral Falou???

Nas FP25?? - nem dei por isso!

Tem tanta classe, tanta classe que o PS adorou o seu discurso - ninguém deu por ele!

Só pelo Portas, e isso é que lhes dói!

29 Abril 2001 às 19:31

Marta Azevedo

Portas podia ser mas não é

Um bom político

É pena mas é verdade, a classe de Mota Amaral ultrapassou-o! E assim vai a Oposição.

E nós a gramar o Tony e o Rabbit.

29 Abril 2001 às 16:29

Ao das 23.58 ( anamaria@clix,pt )

O meu amigo ou é ceguinho ou é surdinho...

28 Abril 2001 às 23:58

Se não fosse Paulo Portas...

...alguém teria chamado tanto a atenção para a irresponsabilidade do governo nesta matéria?

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Portas e o dedo em riste Henrique Monteiro

«A estratégia de afirmação que Paulo Portas tem vindo a seguir até poderia dar frutos, apesar de eles não serem, de facto, visíveis. Mas usa e abusa de uma demagogia que chega a raiar a irresponsabilidade política. Portugal já tem 27 anos de democracia, tempo suficiente para o eleitorado já não ir atrás de frases e discursos de dedo em riste, tão grandiloquentes quanto inconsequentes. Talvez por isso o PP não progrida, apesar do inegável desconforto do PS e do PSD.» COM O SEU estilo habitual, ar solene, o dedo em riste como quem vai proferir sentenças decisivas e inovadoras, Paulo Portas enumerou um por um os nomes das vítimas do terrorismo das FP-25. Fê-lo da tribuna de São Bento, durante as comemorações oficiais do 27º aniversário do 25 de Abril. Portas deu uma lição de demagogia; quis fazer crer, por um lado, que é ele o único a estar sinceramente revoltado com a sentença do tribunal que absolveu os terroristas e, por outro, que essa sentença tem contornos políticos que, de uma forma ou de outra, lançam suspeitas sobre o Estado democrático. Nesse sentido, com o mesmo ar solene, já na semana passada desafiara Durão Barroso, Guterres e Jorge Sampaio a pronunciarem-se sobre aquela absolvição, quando, ainda há não pouco tempo (e com a mesma solenidade), se insurgia em defesa da total independência dos tribunais. A verdade é que há pouco a dizer sobre a sentença. O mal de que ela enferma não está, obviamente, no tribunal (as palavras da juíza foram claras ao dizer que os assassinos estavam diante dela, embora fosse impossível afirmar quais deles o eram, de facto). O mal estará nos avanços e recuos do processo, nas manobras dilatórias (obviamente legais) da defesa e, sobretudo, no já comummente criticado excesso de garantias. É mais fácil encontrar na lei as causas desta estranha absolvição, do que no colectivo que julgou Otelo e os seus pares. Ora Portas limitou-se a criticar uma pretensa negociação entre o Estado e a violência, sabendo que não foi a anterior e polémica amnistia que deu origem à actual situação: uma estranha conjugação que faz com que se dê como provada a existência de uma organização terrorista (crime pelo qual foram amnistiados), mas não consegue reunir provas suficientes para determinar quem foram de facto os autores e mandantes dos crimes cometidos. Além disso, Portas decidiu fazer a homenagem aos mortos pelo terrorismo da extrema-esquerda, pretendendo esquecer o dia que se comemorava no Parlamento. Fê-lo Mota Amaral, dando indirectamente uma lição ao líder do PP: a de que é possível condenar veementemente o desenlace do processo das FP, como mais um sinal da crise mais vasta da Justiça portuguesa. Mas fazê-lo sem demagogia, de forma serena e séria, apelando à razão e reflexão democráticas e não aos instintos mais ou menos primários, sem utilizar a dor alheia como modo de fazer política. Saudando o 25 de Abril, lembrando os perseguidos, presos, torturados, desterrados e mortos, pelo regime anterior, defendendo a democracia e a estabilidade que lhe é necessária. A estratégia de afirmação que Paulo Portas tem vindo a seguir até poderia dar frutos, apesar de eles não serem, de facto, visíveis. Mas usa e abusa de uma demagogia que chega a raiar a irresponsabilidade política. Portugal já tem 27 anos de democracia, tempo suficiente para o eleitorado já não ir atrás de frases e discursos de dedo em riste, tão grandiloquentes quanto inconsequentes. Talvez por isso o PP não progrida, apesar do inegável desconforto do PS e do PSD. E-mail: hmonteiro@mail.expresso.pt

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2 Maio 2001 às 15:18

Odete

Olhe que não!

Depois de muito reflectir faz-se, faz-se.

1 Maio 2001 às 23:17

Ó Odete

Isso não se faz ao Cunhal!!!

1 Maio 2001 às 20:09

Odete

A Teresa é uma incondicional do Durão.

A Marta uma desiludida com o Portas

Eu sou uma admiradora do João Aguiar.

A Catarina uma indefectível do Guterres.

1 Maio 2001 às 12:39

Ó Teresa

Olhe que o Zé Manel não larga a uva!

1 Maio 2001 às 11:33

teresa

Ainda bem que se começa a perceber que o estilo trauliteiro e demagógico não serve. Pode ser que os jornalistas comecem a apoiar a seriedade, a contenção e o não uso da demagogia de Durão Barroso.

29 Abril 2001 às 23:11

Se Portas fosse o líder do PS....

...o seu discurso tinha sido magnífico, o seu estilo solene como a situação requeria, a oportunidade das suas palavras inquestionável!

Felizmente o povo já não acredita nestes "fazedores" de opinião baratos e vendidos!

29 Abril 2001 às 21:35

O Mota Amaral Falou???

Nas FP25?? - nem dei por isso!

Tem tanta classe, tanta classe que o PS adorou o seu discurso - ninguém deu por ele!

Só pelo Portas, e isso é que lhes dói!

29 Abril 2001 às 19:31

Marta Azevedo

Portas podia ser mas não é

Um bom político

É pena mas é verdade, a classe de Mota Amaral ultrapassou-o! E assim vai a Oposição.

E nós a gramar o Tony e o Rabbit.

29 Abril 2001 às 16:29

Ao das 23.58 ( anamaria@clix,pt )

O meu amigo ou é ceguinho ou é surdinho...

28 Abril 2001 às 23:58

Se não fosse Paulo Portas...

...alguém teria chamado tanto a atenção para a irresponsabilidade do governo nesta matéria?

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