Publico.pt

04-05-2001
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A uma semana do 25 de Novembro, os independentistas saíram à rua dominados pela ideia de "os Açores para os açorianos". Os preparativos da manifestação, com reuniões em que tomaram parte dirigentes do PPD, eram atentamente seguidos pelo presidente da Junta Governativa, general Altino de Magalhães, e pela representação diplomática dos EUA, permanentemente informados por um agente da CIA, Norman Bailey, destacado para o arquipélago.

O prenúncio da queda do governo central, devido à dissidência do Grupo dos Nove no MFA, foi o pretexto utilizado por Mota Amaral para não participar na manifestação que saiu à rua na manhã do dia 17, sem atingir a dimensão da contestação de 6 de Junho liderada pelos lavradores. Em Paris, jornalistas das agências France-Press e Reuters convidados pela FLA para a cobertura da declaração da independência e contra a "política totalitária" seguida em Portugal, recebem ordem para não embarcar, adivinhando-se o insucesso.

Os independentistas não perdoaram a "traição" de Mota Amaral, acusado de ser o autor do "Manifesto Açoriano" da FLA. Na carta aberta, intitulada "Os traidores desmascaram-se" e endereçada ao carismático líder do PPD, o presidente dos separatistas açorianos, José de Almeida - paradoxalmente continental e antigo deputado da Assembleia Nacional portuguesa -, fazia ainda acusações de "oportunismo político" e de "despudor" de quem se serviu da FLA para ascender ao poder. Também na Madeira, Jardim, cuja subida ao governo coincide com o fim do bombismo, não escapou a idêntica acusação por parte de flamistas ditos "autênticos".

O desejo de alguns "bem intencionados" de verem a tal "pátria açoriana" arrefeceu e a FLA adormeceu, sem nunca ter encontrado os necessários apoios exteriores que pretendia para atingir a independência, nomeadamente por parte dos EUA, apesar das intensas diligências feitas por Almeida na América e também na Europa. Na tentativa de vincular a comunidade de cerca de 700 mil imigrantes açorianos nos Estados Unidos, a revista "Boston" publicou, sob o título "The Fall River Conspiracy", um artigo sobre o separatismo em que relata o envolvimento de membros da OAS, organização de extrema-direita francesa.

Transferidos para Lisboa já em 1963, os elementos da OAS colaboraram com a PIDE e actuavam no recrutamento de mercenários e no tráfico de armas. Jean-Denis Raingerard, em 1975, acompanhado por José de Almeida, foi aos EUA tentar associar a CIA às operações que seriam necessárias realizar nos Açores. Outro militante da OAS, conhecido por Napoleão e tido como o homem-chave da FLA, seria o operacional activo e responsável pelo desencadeamento da violência nos Açores.

Na CIA, os especialistas de informações da secção para os assuntos europeus reconheceram o plano de Raingerard. Tratava-se do modelo clássico da organização secreta, ainda escrito em francês, com o código "Operação Usine", e seria parcialmente colocado em França. Os agentes americanos detectaram que apenas o primeiro parágrafo do plano tinha sido alterado e o local das operações mudado para os Açores.

Na reportagem do "Boston", escrevia-se que, falhada a tentativa de obter apoio monetário e operacional da CIA, o núcleo OAS-FLA começou a enviar cartas ameaçadoras a diversos órgãos da ONU. "Vai haver terrorismo tão violento em Portugal que hão-de reconhecer a independência dos Açores", advertiam.

Senadores americanos deram conta a Frank Carlucci da pressão sobre eles exercida. O então embaixador em Lisboa e antigo director da CIA tranquilizou-os adiantando que a ajuda para evitar um regime comunista era prestada a Lisboa e não haveria participação em nenhuma aventura no arquipélago onde a NATO instalara uma base.

À organização separatista resta tentar financiamentos junto de entidades privadas. Um projecto, subentendendo pedido de financiamento, terá sido entregue a figuras preponderantes da mafia nova-iorquina. Os dirigentes da FLA tinham perdido o controlo da situação e, perante o risco de as ilhas poderem ser transformadas em reserva para o crime organizado, começam a desentender-se, enquanto a autonomia da região avançava sob a liderança de Mota Amaral.

A uma semana do 25 de Novembro, os independentistas saíram à rua dominados pela ideia de "os Açores para os açorianos". Os preparativos da manifestação, com reuniões em que tomaram parte dirigentes do PPD, eram atentamente seguidos pelo presidente da Junta Governativa, general Altino de Magalhães, e pela representação diplomática dos EUA, permanentemente informados por um agente da CIA, Norman Bailey, destacado para o arquipélago.

O prenúncio da queda do governo central, devido à dissidência do Grupo dos Nove no MFA, foi o pretexto utilizado por Mota Amaral para não participar na manifestação que saiu à rua na manhã do dia 17, sem atingir a dimensão da contestação de 6 de Junho liderada pelos lavradores. Em Paris, jornalistas das agências France-Press e Reuters convidados pela FLA para a cobertura da declaração da independência e contra a "política totalitária" seguida em Portugal, recebem ordem para não embarcar, adivinhando-se o insucesso.

Os independentistas não perdoaram a "traição" de Mota Amaral, acusado de ser o autor do "Manifesto Açoriano" da FLA. Na carta aberta, intitulada "Os traidores desmascaram-se" e endereçada ao carismático líder do PPD, o presidente dos separatistas açorianos, José de Almeida - paradoxalmente continental e antigo deputado da Assembleia Nacional portuguesa -, fazia ainda acusações de "oportunismo político" e de "despudor" de quem se serviu da FLA para ascender ao poder. Também na Madeira, Jardim, cuja subida ao governo coincide com o fim do bombismo, não escapou a idêntica acusação por parte de flamistas ditos "autênticos".

O desejo de alguns "bem intencionados" de verem a tal "pátria açoriana" arrefeceu e a FLA adormeceu, sem nunca ter encontrado os necessários apoios exteriores que pretendia para atingir a independência, nomeadamente por parte dos EUA, apesar das intensas diligências feitas por Almeida na América e também na Europa. Na tentativa de vincular a comunidade de cerca de 700 mil imigrantes açorianos nos Estados Unidos, a revista "Boston" publicou, sob o título "The Fall River Conspiracy", um artigo sobre o separatismo em que relata o envolvimento de membros da OAS, organização de extrema-direita francesa.

Transferidos para Lisboa já em 1963, os elementos da OAS colaboraram com a PIDE e actuavam no recrutamento de mercenários e no tráfico de armas. Jean-Denis Raingerard, em 1975, acompanhado por José de Almeida, foi aos EUA tentar associar a CIA às operações que seriam necessárias realizar nos Açores. Outro militante da OAS, conhecido por Napoleão e tido como o homem-chave da FLA, seria o operacional activo e responsável pelo desencadeamento da violência nos Açores.

Na CIA, os especialistas de informações da secção para os assuntos europeus reconheceram o plano de Raingerard. Tratava-se do modelo clássico da organização secreta, ainda escrito em francês, com o código "Operação Usine", e seria parcialmente colocado em França. Os agentes americanos detectaram que apenas o primeiro parágrafo do plano tinha sido alterado e o local das operações mudado para os Açores.

Na reportagem do "Boston", escrevia-se que, falhada a tentativa de obter apoio monetário e operacional da CIA, o núcleo OAS-FLA começou a enviar cartas ameaçadoras a diversos órgãos da ONU. "Vai haver terrorismo tão violento em Portugal que hão-de reconhecer a independência dos Açores", advertiam.

Senadores americanos deram conta a Frank Carlucci da pressão sobre eles exercida. O então embaixador em Lisboa e antigo director da CIA tranquilizou-os adiantando que a ajuda para evitar um regime comunista era prestada a Lisboa e não haveria participação em nenhuma aventura no arquipélago onde a NATO instalara uma base.

À organização separatista resta tentar financiamentos junto de entidades privadas. Um projecto, subentendendo pedido de financiamento, terá sido entregue a figuras preponderantes da mafia nova-iorquina. Os dirigentes da FLA tinham perdido o controlo da situação e, perante o risco de as ilhas poderem ser transformadas em reserva para o crime organizado, começam a desentender-se, enquanto a autonomia da região avançava sob a liderança de Mota Amaral.

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