EXPRESSO: País

02-04-2002
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Governo faz as malas O EXPRESSO foi espreitar o ambiente de fim de estação em S. Bento. «É como mudar de casa», desdramatiza Vitalino Canas Ana Baião O secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros selecciona a informação essencial a passar ao sucessor dos quilos de papel que juntou nestes seis anos no Governo NA RESIDÊNCIA oficial do primeiro-ministro está tudo a postos para receber o próximo inquilino. As poucas fotografias de António Guterres que, aqui e ali, davam uma nota pessoal às salas do palacete já foram retiradas e apenas na antecâmara dos gabinetes do primeiro-ministro e do ministro-adjunto, no primeiro andar, se encontra um ténue vestígio da governação socialista: uma revista, já antiga, que dedica a capa à então ministra da Saúde, Maria de Belém. NA RESIDÊNCIA oficial do primeiro-ministro está tudo a postos para receber o próximo inquilino. As poucas fotografias de António Guterres que, aqui e ali, davam uma nota pessoal às salas do palacete já foram retiradas e apenas na antecâmara dos gabinetes do primeiro-ministro e do ministro-adjunto, no primeiro andar, se encontra um ténue vestígio da governação socialista: uma revista, já antiga, que dedica a capa à então ministra da Saúde, Maria de Belém. As máquinas trituradoras de papel estão, enfim, silenciosas, depois do afinco com que trabalharam na semana passada, e nas divisões ainda ocupadas pelos colaboradores de António Guterres e António José Seguro não se encontra mais do que «material de manutenção». Na secretária do ministro-adjunto já só estão os telefones e o computador e a estante que ocupa uma das paredes do enorme gabinete está igualmente vazia; restam meia dúzia de pastas de cartão, de conteúdo provisoriamente identificado por «post-its», à espera de serem levadas para casa de Seguro. Passar a pasta, levado à letra Só o que está em cima da mesa redonda é para ficar: dois dossiês novinhos em folha, contendo uma extensa lista de quem é quem na Defesa do Consumidor e trabalho legislativo já adiantado, que o novo titular da pasta logo decidirá se quer ou não aproveitar. O cenário é idêntico na Gomes Teixeira, sede da presidência do Conselho de Ministros. O secretário de Estado Vitalino Canas acabou de arrumar o gabinete na segunda-feira: «É como mudar de casa», desdramatiza. Os quilos e quilos de papel que o centro nevrálgico de um Governo naturalmente produz foram criteriosamente seleccionados por ele para que os senhores que se seguem tenham a informação essencial, porém «o mais completa possível», sobre as linhas com que se cose uma PCM. Despejada a Gomes Teixeira, preparado o último Conselho de Ministros e assegurada a publicação dos resultados eleitorais dos círculos da emigração - as suas derradeiras tarefas enquanto governante -, Vitalino teve tempo para começar a pensar no regresso à vida civil: quarta-feira à tarde foi à Fnac do Chiado escolher um novo computador. «Temos de fazer o que os cidadãos vulgares fazem». Pois claro. E tempo foi algo que também José Sócrates começou a voltar a ter esta semana, ao cabo de dois anos que, na sua definição, foram «vibrantes». Os últimos dias repartiu-os entre a preparação dos dossiês que vai transmitir ao sucessor e a redacção de «mais de uma centena» de cartas de despedida das pessoas que com ele colaboraram nas variadas pastas por onde passou ao longo dos seis anos no Governo: Desporto, Droga, Ambiente e por último, também o Equipamento. Embora até à data da conversa com o EXPRESSO ainda não tivesse conseguido realizar o sonho de «um dia acordar e não ter nada que fazer», tantos são os despachos correntes que o Ministério do Ambiente exige diariamente, o ainda patrão do edifício da rua do Século já pôde dispor de umas horas para ir ao «stand» escolher o automóvel que o vai voltar a levar ao volante: «Vou voltar a conduzir; vou voltar a fazer 'check-in' nos aeroportos», regozija-se, confessando-se particularmente obcecado com a possibilidade de dispor, como bem lhe aprouver, de todo o tempo do mundo agora que se apeia do Governo. Confesso fã de poesia, cita um poema que considera particularmente adequado aos dias que tem pela frente: «Amar ou odiar ou tudo ou nada/ o meio termo é que não pode ser/ Metade de um prazer não é um prazer/ Quem quiser a vida sossegada, fuja desta vida e deixe-se morrer». A despedida de Guterres Ontem de manhã, no palacete de São Bento, cheirava a cozido à portuguesa - uma especialidade da cozinheira do palacete, segundo consta, e o prato favorito de muitos dos governantes reunidos na residência para o último Conselho de Ministros da legislatura e convidados do primeiro-ministro para um almoço de despedida. Diz quem lá esteve que a ementa condizia com o estado de espírito: estava «excelente». No final do repasto, fugindo à tentação de um longo discurso na hora do adeus, Guterres preferiu o brinde com vinho do Porto: «À vida», num trocadilho com o célebre «é a vida», que uma vez deixou escapar e que desde aí foi em diversas ocasiões utilizado para explicar muitas coisas da governação socialista. O senhor Ferreira, espécie de «mordomo» do palacete de S. Bento, não comenta as mudanças deinquilino, habituado que está a que elas ocorram com a regularidade que a democracia prevê. Está na casa há mais de trinta anos: ainda abriu a porta a Salazar. Agora que se prepara para se despedir do senhor engenheiro, vai habituar-se facilmente ao senhor doutor. Afinal, é só mais um primeiro-ministro.

Cristina Figueiredo

O poder medido em dias Dias de permanência no Governo (à data de hoje) 1. Fernando Nogueira - 4289

2. Ferreira Amaral - 4250

3. Cavaco Silva - 4015

4. Valente Oliveira - 3894

5. Durão Barroso - 3641

- Marques Mendes - 3641

- Mira Amaral - 3641

8. Vítor Martins - 3637

9. Jaime Gama - 3557

25. Miranda Calha - 2803

37. António Guterres - 2344 O PS deixa o poder ao fim de seis anos consecutivos. É um recorde para os socialistas, mas continuam a ser os sociais-democratas os ocupantes dos lugares cimeiros no «ranking» do tempo de permanência no Governo. Fernando Nogueira é o medalha de ouro: o adversário de António Guterres em 1995, sucessor de Cavaco Silva na liderança do PSD, permaneceu cerca de 4300 dias no Governo, praticamente dois meses mais do que o seu colega Ferreira do Amaral, medalha de prata. Mas Cavaco ainda cabe no «podium»: é o detentor da medalha de bronze, com cerca de 4000 dias de governação, primeiro como ministro das Finanças de Sá Carneiro, antes de dez anos como primeiro-ministro. Durão Barroso surge em sétimo lugar. Só na nona posição é que que a lista regista, enfim, um socialista: trata-se de Jaime Gama, que chegou ao Terreiro do Paço em 1978, como ministro da Administração Interna do II Governo Constitucional; com a sua passagem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros no Executivo de Guterres completa mais de 3500 dias no poder. O segundo socialista depois dele só surge no 25º lugar e trata-se, curiosamente, de um «gamista», Miranda Calha - que os anais da governação registaram, pela primeira vez, como secretário de Estado da Administração Local, também em 1978. António Guterres é o 37º. Desde o 25 de Abril de 1974 que já passaram 679 nomes pelos Governos da República. Os que menos tempo estiveram em funções foram os membros do V Governo provisório, liderado por Vasco Gonçalves: só governaram durante 23 dias.

C.F.

As últimas leis OS DERRADEIROS actos legislativos do XIV Governo foram aprovados ontem, num Conselho de Ministros mais propício ao balanço informal de seis anos de governação socialista do que a gestos marcantes de última hora. Como seria de esperar, o Executivo deixou para o fim leis sem grande significado político, como a alteração da denominação da Empresa Pública de Navegação Aérea de Portugal, a fixação de um novo prazo para a contratação de pessoal no Ministério da Educação, a prorrogação de um período transitório previsto no estatuto da carreira dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, ou a determinação da restituição dos descontos feitos para a Administração Ultramarina no período posterior à independência das ex-colónias. Com estes decretos-lei somam 37 os diplomas em Belém à espera de promulgação. Entre eles, não se encontra nada de particularmente polémico, assegurou ao EXPRESSO a Presidência da República, garantindo que todos serão apreciados de acordo com os procedimentos seguidos desde que o Governo entrou em gestão e recusando liminarmente a hipótese de Jorge Sampaio estar à espera das opiniões dos novos governantes para decidir o que fazer.

C.F.

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COMENTÁRIOS AO ARTIGO

5 comentários 1 a 5

30 de Março de 2002 às 10:37

Portuga

Solução para os pedientes de criança ao colo

Porque não fazer uma lei que permitisse:

a) deter estas pessoas para identificação;

b) no caso de acompanharem crianças, proceder a análises ao sangue destas para saber se estão drogadas com sedativos ou outras substâncias;

c) no caso de as análises darem resultados positivos, proceder criminalmente contra o adulto acompanhante, o qual seria presumido responsável pela situação;

d) retirar à guarda dos pais e familiares qualquer menor nacional ou estrangeiro encontrado na prática da mendicidade, com base na presunção legal de que esta prática por parte do menor configura uma negligência grave por parte do adulto.

30 de Março de 2002 às 05:43

Jo Serrao ( joserrao42@hotmail.com )

Sotto Mai,

Mais uma vez de acordo consigo. Excepto quando diz "Os contribuintes pagaram uma televisão do Estado ao serviço da SUA PRÓPRIA LIBERDADE". A verdade é que muitas vezes me senti esmagada e indignada com a forma como a RTP contribuiu para esconder o muito de positivo que foi feito. Lembro apenas o destaque aparatoso que a RTP, o Expresso e tantos outros deram à primeira presidência portuguesa da UE, com Cavaco Silva, e em que o trabalho feito foi uma total indignidade, nomeadamente no que respeita à Agricultura portuguesa. Lembro-me como o Expresso se mudou de armas e bagagens para o CCB para estar perto do grande acontecimento! As notícias é que eram escassas e tristes.

Da brilhante presidência da UE por António Guterres falou-se o mínimo possível. A informação foi simplesmente sonegada, o brilho ofuscado. Muitos portugueses até julgavam que o PM não estava em Portugal e que não estava a pugnar pelos interesses e prestígio do país. Lembro-me, entre outros escândalos, que uma entrevista de Javier Solana, altamente elogiosa para a presidência portuguesa, foi publicada na última página do caderno Internacional (!) do Expresso. Não me lembro de a ver mencionada na RTP ou em qualquer outro meio de comunicação.

Ainda há poucos dias ouvi o insuspeito Aznar agradecer mais uma vez o trabalho e o método da Cimeira de Lisboa. Só os portugueses é que foram mantidos na ignorância sobre o que feito. Isto quer dizer que a liberdade de informação foi coartada para milhões de portugueses, bem como o orgulho que essa informação lhes teria proporcionado.

29 de Março de 2002 às 18:25

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Os números ficam

Guterres deixa um crescimento do PIB de 3,5% ao ano em média durante seis anos e deixa um milhão de casas construídas, tendo meio milhão de famílias adquirido casa com crédito bonificado e cem mil passaram a viver em casa social depois de uma vida inteira nas miseráveis barracas. O flagelo da miséria em barracas quase desapareceu no nosso País, o desemprego desceu para valores zero a ponto de PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA mais de cem mil cidadãos de países europeus, ditos mais desenvolvidos, terem vindo trabalhar para Portugal.

Com Guterres Portugal entrou no Euro, os défices do Estado desceram para uma média de 2,45% ao ano em seis anos quando c/ Cavaco estiveram a 6,05% ao ano e a mais de 10% ao ano entre 1975 e 1985.

Foram construídos 715 km de auto-estradas, 500 instalações escolares, 11 hospitais e 181 novos centros de Saúde, a Barragem de Alqueva foi, enfim, completada, e construídas 31 obras de aproveitamento hídrico-agrícola,

Foram criadas 2 novas Faculdades de Medicina, foram abertas 15 mil novas vagas no Ensino Superior Público. Quase meio milhão de alunos no pré-ecolar. A população escolar atingiu o número recorde na Europa e quase no Mundo de 21% da populaçao na escola, mais de 2,1 milhões de alunos.

A população activa a trabalhar na Construção Civil passaou de 7,5 para 12,9% do total dos activos, o maior aumento de empregabilidade num sector em toda a história de Portugal.

o número de consultas dadas pelo SNS aumentou em 3,5 milhões ao ano, as forças de segurança passaram de 41 mil homens para 47 mil, foram criados 31 corpos de polícia municipal.

E os Impostos: Guterres produziu um "choque fiscal" a favor das empresas, reduzindo o IRC de 36% c/ Cavaco para os actuais 30%, introduzindo o escalão dos 20% para as mini-empresas e as isenções de IRC por seis anos nos distritos do interior para novos investimentos e novas empresas, seguidos de descontos 40 a 60% em anos seguintes para favorecer a iniciativa privada no interior, tendo em vista a competitividade acrescida relativamente às empresas espanholas das zonas raianas.

o IVA não subiu, excepto o da taxa zero por imposição da UE. Os escalões do IRS subiram, inclusivé o da isenção, fazendo com que o IRS acabasse por descer para todos.

Pela primeira vez desde 1961, o consumo privado em Portugal subiu com Guterres muito mais que o consumo Público. Repare-se: Em 1997 o consumo privado sobe 3,1% e o público 2,2%; em 1998, o privado sobe 5,7% e o público 3,2%; em 1999, +4,6% dos privados e +3,4% do público, etc., etc.

Os números aí ficam para ver se a dupla Durão/Portas sabe fazer melhor e é isso que vai caracterizar António Guterres como um governante não só melhor que Cavaco, e os númeos não mentem, como o melhor em mais de um Século de História Portuguesa, baseado em números e dados estatísticos absolutamente concretos, não em conceitos subjectivos ou MENTIRAS mesmo.

Eu tenho a certeza, pelo andar da carruagem, que Durão/Portas não vão conseguir que o CONSUMO PRIVADO AUMENTE EM PORTUGAL MAIS QUE O PÚBLICO e duvido que consigam governar SEM AUMENTAR OS IMPOSTOS, nomeadamente o IVA. Isto, apesar de no mês de Janeiro a despesa pública total ter sido inferior em 12% à do mês homólogo do ano anterior, a receita ter subido 2,&%, o desemprego recuado 0,4%, relativamente a Janeiro de 2001 e os preços terme diminuido de 0,2% relativamente ao mês anterior. Além disso, o ano agrícola parece ser muito bom em Portugal e péssimo em Espanha. Os agricultores estão a produzir muito e poderão vender bem em Portugal e exportar para Espanha.

Guterres manteve um alto nível de liberdade em Portugal. Quase nunca utilizou a Televisão do Estado para fazer propaganda ou divulgar a sua obra pessoalmente. Enquanto isto, Durão chegou a fazer conferências de imprensa diárias na Televisão do Estado e Portas quase diárias. Gutrees fez tão pouco uso dos meios de propaganda que o póprio líder da oposição, então Marcelo R. de Sousa, reclamava a presença de Guterres na Televisão.

A RTP foi uma ESCOLA DE LIBERDADE, aberta a todos os partidos, com eminentes jornalistas da oposição a trabalharem como Judite de Sousa, Maria Elisa Domingues e muitos outros. Os contribuintes pagaram uma televisão do Estado ao serviço da SUA PRÓPRIA LIBERDADE que, assim, fez com que nas televisões privadas, a liberdade de toda a informação chegar aos portugueses não pôde ser coartada por interesses obscuros dos grandes capitalistas da informação.

António Guterres foi uma grande Governante, um Liberal da Esquerda Humanista, Cristã e Socialista. Foi o governante que mais respeitou a liberdade em Portugal e mais fez pela coesão social e maior número de famílias libertou da miséria. Nenhum dos antecessores de Guterres fez melhor;nem Cavaco, nem Mário Soares, nem Balsemão, nem Sá Carneiro, nem Marcelo Caetano, nem Salazar, nem António Maria da Silva, nem Domingos Pereira, nem Vitorino Guimarães, nem José Domingos dos Santos, nem Álvaro de Castro, nem Ginestal Machado, nem Francisco Cunha Leal, nem Manuel Maria Coelho, nem ... porra já estou cansado.

Nenhum Primeiro Ministro fez tanto por Portugal como António Guterres. Apresentem números, dados estatísticos para demonstrar

29 de Março de 2002 às 18:00

Jotaerre

Gostaria de saber se a foto foi uma maldade do fotógrafo ou se o Canas é mesmo macrocéfalo e curto de gâmbias! É que isso explicaria várias taras...

29 de Março de 2002 às 13:05

ignotus 1 ( agtm@netcabo.pt )

Porque se trata de um poema de Fausto Guedes Teixeira,poeta lírico(1894-1940),o que o Dr. Vitalino Canas diz apreciar,sugeria-lhe que lesse o referido poema no livro intitulado "O MEU LIVRO",da edição Marânus,Porto 1941,onde verificará que o que recitou são versos do soneto "Amar ou odiar",pertencendo duas à primeira quadra e as duas últimas à segunda.Quanto à preferência, só demonstra bom gosto.

Aarão Guedes Teixeira de Magalhães

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Governo faz as malas O EXPRESSO foi espreitar o ambiente de fim de estação em S. Bento. «É como mudar de casa», desdramatiza Vitalino Canas Ana Baião O secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros selecciona a informação essencial a passar ao sucessor dos quilos de papel que juntou nestes seis anos no Governo NA RESIDÊNCIA oficial do primeiro-ministro está tudo a postos para receber o próximo inquilino. As poucas fotografias de António Guterres que, aqui e ali, davam uma nota pessoal às salas do palacete já foram retiradas e apenas na antecâmara dos gabinetes do primeiro-ministro e do ministro-adjunto, no primeiro andar, se encontra um ténue vestígio da governação socialista: uma revista, já antiga, que dedica a capa à então ministra da Saúde, Maria de Belém. NA RESIDÊNCIA oficial do primeiro-ministro está tudo a postos para receber o próximo inquilino. As poucas fotografias de António Guterres que, aqui e ali, davam uma nota pessoal às salas do palacete já foram retiradas e apenas na antecâmara dos gabinetes do primeiro-ministro e do ministro-adjunto, no primeiro andar, se encontra um ténue vestígio da governação socialista: uma revista, já antiga, que dedica a capa à então ministra da Saúde, Maria de Belém. As máquinas trituradoras de papel estão, enfim, silenciosas, depois do afinco com que trabalharam na semana passada, e nas divisões ainda ocupadas pelos colaboradores de António Guterres e António José Seguro não se encontra mais do que «material de manutenção». Na secretária do ministro-adjunto já só estão os telefones e o computador e a estante que ocupa uma das paredes do enorme gabinete está igualmente vazia; restam meia dúzia de pastas de cartão, de conteúdo provisoriamente identificado por «post-its», à espera de serem levadas para casa de Seguro. Passar a pasta, levado à letra Só o que está em cima da mesa redonda é para ficar: dois dossiês novinhos em folha, contendo uma extensa lista de quem é quem na Defesa do Consumidor e trabalho legislativo já adiantado, que o novo titular da pasta logo decidirá se quer ou não aproveitar. O cenário é idêntico na Gomes Teixeira, sede da presidência do Conselho de Ministros. O secretário de Estado Vitalino Canas acabou de arrumar o gabinete na segunda-feira: «É como mudar de casa», desdramatiza. Os quilos e quilos de papel que o centro nevrálgico de um Governo naturalmente produz foram criteriosamente seleccionados por ele para que os senhores que se seguem tenham a informação essencial, porém «o mais completa possível», sobre as linhas com que se cose uma PCM. Despejada a Gomes Teixeira, preparado o último Conselho de Ministros e assegurada a publicação dos resultados eleitorais dos círculos da emigração - as suas derradeiras tarefas enquanto governante -, Vitalino teve tempo para começar a pensar no regresso à vida civil: quarta-feira à tarde foi à Fnac do Chiado escolher um novo computador. «Temos de fazer o que os cidadãos vulgares fazem». Pois claro. E tempo foi algo que também José Sócrates começou a voltar a ter esta semana, ao cabo de dois anos que, na sua definição, foram «vibrantes». Os últimos dias repartiu-os entre a preparação dos dossiês que vai transmitir ao sucessor e a redacção de «mais de uma centena» de cartas de despedida das pessoas que com ele colaboraram nas variadas pastas por onde passou ao longo dos seis anos no Governo: Desporto, Droga, Ambiente e por último, também o Equipamento. Embora até à data da conversa com o EXPRESSO ainda não tivesse conseguido realizar o sonho de «um dia acordar e não ter nada que fazer», tantos são os despachos correntes que o Ministério do Ambiente exige diariamente, o ainda patrão do edifício da rua do Século já pôde dispor de umas horas para ir ao «stand» escolher o automóvel que o vai voltar a levar ao volante: «Vou voltar a conduzir; vou voltar a fazer 'check-in' nos aeroportos», regozija-se, confessando-se particularmente obcecado com a possibilidade de dispor, como bem lhe aprouver, de todo o tempo do mundo agora que se apeia do Governo. Confesso fã de poesia, cita um poema que considera particularmente adequado aos dias que tem pela frente: «Amar ou odiar ou tudo ou nada/ o meio termo é que não pode ser/ Metade de um prazer não é um prazer/ Quem quiser a vida sossegada, fuja desta vida e deixe-se morrer». A despedida de Guterres Ontem de manhã, no palacete de São Bento, cheirava a cozido à portuguesa - uma especialidade da cozinheira do palacete, segundo consta, e o prato favorito de muitos dos governantes reunidos na residência para o último Conselho de Ministros da legislatura e convidados do primeiro-ministro para um almoço de despedida. Diz quem lá esteve que a ementa condizia com o estado de espírito: estava «excelente». No final do repasto, fugindo à tentação de um longo discurso na hora do adeus, Guterres preferiu o brinde com vinho do Porto: «À vida», num trocadilho com o célebre «é a vida», que uma vez deixou escapar e que desde aí foi em diversas ocasiões utilizado para explicar muitas coisas da governação socialista. O senhor Ferreira, espécie de «mordomo» do palacete de S. Bento, não comenta as mudanças deinquilino, habituado que está a que elas ocorram com a regularidade que a democracia prevê. Está na casa há mais de trinta anos: ainda abriu a porta a Salazar. Agora que se prepara para se despedir do senhor engenheiro, vai habituar-se facilmente ao senhor doutor. Afinal, é só mais um primeiro-ministro.

Cristina Figueiredo

O poder medido em dias Dias de permanência no Governo (à data de hoje) 1. Fernando Nogueira - 4289

2. Ferreira Amaral - 4250

3. Cavaco Silva - 4015

4. Valente Oliveira - 3894

5. Durão Barroso - 3641

- Marques Mendes - 3641

- Mira Amaral - 3641

8. Vítor Martins - 3637

9. Jaime Gama - 3557

25. Miranda Calha - 2803

37. António Guterres - 2344 O PS deixa o poder ao fim de seis anos consecutivos. É um recorde para os socialistas, mas continuam a ser os sociais-democratas os ocupantes dos lugares cimeiros no «ranking» do tempo de permanência no Governo. Fernando Nogueira é o medalha de ouro: o adversário de António Guterres em 1995, sucessor de Cavaco Silva na liderança do PSD, permaneceu cerca de 4300 dias no Governo, praticamente dois meses mais do que o seu colega Ferreira do Amaral, medalha de prata. Mas Cavaco ainda cabe no «podium»: é o detentor da medalha de bronze, com cerca de 4000 dias de governação, primeiro como ministro das Finanças de Sá Carneiro, antes de dez anos como primeiro-ministro. Durão Barroso surge em sétimo lugar. Só na nona posição é que que a lista regista, enfim, um socialista: trata-se de Jaime Gama, que chegou ao Terreiro do Paço em 1978, como ministro da Administração Interna do II Governo Constitucional; com a sua passagem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros no Executivo de Guterres completa mais de 3500 dias no poder. O segundo socialista depois dele só surge no 25º lugar e trata-se, curiosamente, de um «gamista», Miranda Calha - que os anais da governação registaram, pela primeira vez, como secretário de Estado da Administração Local, também em 1978. António Guterres é o 37º. Desde o 25 de Abril de 1974 que já passaram 679 nomes pelos Governos da República. Os que menos tempo estiveram em funções foram os membros do V Governo provisório, liderado por Vasco Gonçalves: só governaram durante 23 dias.

C.F.

As últimas leis OS DERRADEIROS actos legislativos do XIV Governo foram aprovados ontem, num Conselho de Ministros mais propício ao balanço informal de seis anos de governação socialista do que a gestos marcantes de última hora. Como seria de esperar, o Executivo deixou para o fim leis sem grande significado político, como a alteração da denominação da Empresa Pública de Navegação Aérea de Portugal, a fixação de um novo prazo para a contratação de pessoal no Ministério da Educação, a prorrogação de um período transitório previsto no estatuto da carreira dos técnicos de diagnóstico e terapêutica, ou a determinação da restituição dos descontos feitos para a Administração Ultramarina no período posterior à independência das ex-colónias. Com estes decretos-lei somam 37 os diplomas em Belém à espera de promulgação. Entre eles, não se encontra nada de particularmente polémico, assegurou ao EXPRESSO a Presidência da República, garantindo que todos serão apreciados de acordo com os procedimentos seguidos desde que o Governo entrou em gestão e recusando liminarmente a hipótese de Jorge Sampaio estar à espera das opiniões dos novos governantes para decidir o que fazer.

C.F.

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30 de Março de 2002 às 10:37

Portuga

Solução para os pedientes de criança ao colo

Porque não fazer uma lei que permitisse:

a) deter estas pessoas para identificação;

b) no caso de acompanharem crianças, proceder a análises ao sangue destas para saber se estão drogadas com sedativos ou outras substâncias;

c) no caso de as análises darem resultados positivos, proceder criminalmente contra o adulto acompanhante, o qual seria presumido responsável pela situação;

d) retirar à guarda dos pais e familiares qualquer menor nacional ou estrangeiro encontrado na prática da mendicidade, com base na presunção legal de que esta prática por parte do menor configura uma negligência grave por parte do adulto.

30 de Março de 2002 às 05:43

Jo Serrao ( joserrao42@hotmail.com )

Sotto Mai,

Mais uma vez de acordo consigo. Excepto quando diz "Os contribuintes pagaram uma televisão do Estado ao serviço da SUA PRÓPRIA LIBERDADE". A verdade é que muitas vezes me senti esmagada e indignada com a forma como a RTP contribuiu para esconder o muito de positivo que foi feito. Lembro apenas o destaque aparatoso que a RTP, o Expresso e tantos outros deram à primeira presidência portuguesa da UE, com Cavaco Silva, e em que o trabalho feito foi uma total indignidade, nomeadamente no que respeita à Agricultura portuguesa. Lembro-me como o Expresso se mudou de armas e bagagens para o CCB para estar perto do grande acontecimento! As notícias é que eram escassas e tristes.

Da brilhante presidência da UE por António Guterres falou-se o mínimo possível. A informação foi simplesmente sonegada, o brilho ofuscado. Muitos portugueses até julgavam que o PM não estava em Portugal e que não estava a pugnar pelos interesses e prestígio do país. Lembro-me, entre outros escândalos, que uma entrevista de Javier Solana, altamente elogiosa para a presidência portuguesa, foi publicada na última página do caderno Internacional (!) do Expresso. Não me lembro de a ver mencionada na RTP ou em qualquer outro meio de comunicação.

Ainda há poucos dias ouvi o insuspeito Aznar agradecer mais uma vez o trabalho e o método da Cimeira de Lisboa. Só os portugueses é que foram mantidos na ignorância sobre o que feito. Isto quer dizer que a liberdade de informação foi coartada para milhões de portugueses, bem como o orgulho que essa informação lhes teria proporcionado.

29 de Março de 2002 às 18:25

Diogo Sotto Mai ( op3706@mail.telepac.pt )

Os números ficam

Guterres deixa um crescimento do PIB de 3,5% ao ano em média durante seis anos e deixa um milhão de casas construídas, tendo meio milhão de famílias adquirido casa com crédito bonificado e cem mil passaram a viver em casa social depois de uma vida inteira nas miseráveis barracas. O flagelo da miséria em barracas quase desapareceu no nosso País, o desemprego desceu para valores zero a ponto de PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA mais de cem mil cidadãos de países europeus, ditos mais desenvolvidos, terem vindo trabalhar para Portugal.

Com Guterres Portugal entrou no Euro, os défices do Estado desceram para uma média de 2,45% ao ano em seis anos quando c/ Cavaco estiveram a 6,05% ao ano e a mais de 10% ao ano entre 1975 e 1985.

Foram construídos 715 km de auto-estradas, 500 instalações escolares, 11 hospitais e 181 novos centros de Saúde, a Barragem de Alqueva foi, enfim, completada, e construídas 31 obras de aproveitamento hídrico-agrícola,

Foram criadas 2 novas Faculdades de Medicina, foram abertas 15 mil novas vagas no Ensino Superior Público. Quase meio milhão de alunos no pré-ecolar. A população escolar atingiu o número recorde na Europa e quase no Mundo de 21% da populaçao na escola, mais de 2,1 milhões de alunos.

A população activa a trabalhar na Construção Civil passaou de 7,5 para 12,9% do total dos activos, o maior aumento de empregabilidade num sector em toda a história de Portugal.

o número de consultas dadas pelo SNS aumentou em 3,5 milhões ao ano, as forças de segurança passaram de 41 mil homens para 47 mil, foram criados 31 corpos de polícia municipal.

E os Impostos: Guterres produziu um "choque fiscal" a favor das empresas, reduzindo o IRC de 36% c/ Cavaco para os actuais 30%, introduzindo o escalão dos 20% para as mini-empresas e as isenções de IRC por seis anos nos distritos do interior para novos investimentos e novas empresas, seguidos de descontos 40 a 60% em anos seguintes para favorecer a iniciativa privada no interior, tendo em vista a competitividade acrescida relativamente às empresas espanholas das zonas raianas.

o IVA não subiu, excepto o da taxa zero por imposição da UE. Os escalões do IRS subiram, inclusivé o da isenção, fazendo com que o IRS acabasse por descer para todos.

Pela primeira vez desde 1961, o consumo privado em Portugal subiu com Guterres muito mais que o consumo Público. Repare-se: Em 1997 o consumo privado sobe 3,1% e o público 2,2%; em 1998, o privado sobe 5,7% e o público 3,2%; em 1999, +4,6% dos privados e +3,4% do público, etc., etc.

Os números aí ficam para ver se a dupla Durão/Portas sabe fazer melhor e é isso que vai caracterizar António Guterres como um governante não só melhor que Cavaco, e os númeos não mentem, como o melhor em mais de um Século de História Portuguesa, baseado em números e dados estatísticos absolutamente concretos, não em conceitos subjectivos ou MENTIRAS mesmo.

Eu tenho a certeza, pelo andar da carruagem, que Durão/Portas não vão conseguir que o CONSUMO PRIVADO AUMENTE EM PORTUGAL MAIS QUE O PÚBLICO e duvido que consigam governar SEM AUMENTAR OS IMPOSTOS, nomeadamente o IVA. Isto, apesar de no mês de Janeiro a despesa pública total ter sido inferior em 12% à do mês homólogo do ano anterior, a receita ter subido 2,&%, o desemprego recuado 0,4%, relativamente a Janeiro de 2001 e os preços terme diminuido de 0,2% relativamente ao mês anterior. Além disso, o ano agrícola parece ser muito bom em Portugal e péssimo em Espanha. Os agricultores estão a produzir muito e poderão vender bem em Portugal e exportar para Espanha.

Guterres manteve um alto nível de liberdade em Portugal. Quase nunca utilizou a Televisão do Estado para fazer propaganda ou divulgar a sua obra pessoalmente. Enquanto isto, Durão chegou a fazer conferências de imprensa diárias na Televisão do Estado e Portas quase diárias. Gutrees fez tão pouco uso dos meios de propaganda que o póprio líder da oposição, então Marcelo R. de Sousa, reclamava a presença de Guterres na Televisão.

A RTP foi uma ESCOLA DE LIBERDADE, aberta a todos os partidos, com eminentes jornalistas da oposição a trabalharem como Judite de Sousa, Maria Elisa Domingues e muitos outros. Os contribuintes pagaram uma televisão do Estado ao serviço da SUA PRÓPRIA LIBERDADE que, assim, fez com que nas televisões privadas, a liberdade de toda a informação chegar aos portugueses não pôde ser coartada por interesses obscuros dos grandes capitalistas da informação.

António Guterres foi uma grande Governante, um Liberal da Esquerda Humanista, Cristã e Socialista. Foi o governante que mais respeitou a liberdade em Portugal e mais fez pela coesão social e maior número de famílias libertou da miséria. Nenhum dos antecessores de Guterres fez melhor;nem Cavaco, nem Mário Soares, nem Balsemão, nem Sá Carneiro, nem Marcelo Caetano, nem Salazar, nem António Maria da Silva, nem Domingos Pereira, nem Vitorino Guimarães, nem José Domingos dos Santos, nem Álvaro de Castro, nem Ginestal Machado, nem Francisco Cunha Leal, nem Manuel Maria Coelho, nem ... porra já estou cansado.

Nenhum Primeiro Ministro fez tanto por Portugal como António Guterres. Apresentem números, dados estatísticos para demonstrar

29 de Março de 2002 às 18:00

Jotaerre

Gostaria de saber se a foto foi uma maldade do fotógrafo ou se o Canas é mesmo macrocéfalo e curto de gâmbias! É que isso explicaria várias taras...

29 de Março de 2002 às 13:05

ignotus 1 ( agtm@netcabo.pt )

Porque se trata de um poema de Fausto Guedes Teixeira,poeta lírico(1894-1940),o que o Dr. Vitalino Canas diz apreciar,sugeria-lhe que lesse o referido poema no livro intitulado "O MEU LIVRO",da edição Marânus,Porto 1941,onde verificará que o que recitou são versos do soneto "Amar ou odiar",pertencendo duas à primeira quadra e as duas últimas à segunda.Quanto à preferência, só demonstra bom gosto.

Aarão Guedes Teixeira de Magalhães

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