Resgate dos corpos começará hoje

09-03-2001
marcar artigo

TRAGÉDIA EM ENTRE-OS-RIOS

Resgate dos Corpos Começará Hoje

Por RUI BAPTISTA

Quarta-feira, 7 de Março de 2001

Sonar detectou viaturas a cem metros da ponte

Hoje pode ser um dia decisivo para recuperação dos corpos das vítimas da tragédia de Entre-os-Rios

Os corpos das vítimas do acidente da ponte de Entre-os-Rios devem começar a ser recuperados hoje, depois de ontem, ao final da tarde, terem sido, finalmente, localizados o autocarro e quatro viaturas ligeiras que no domingo mergulharam nas águas do Douro. Foi o próprio chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Viegas Matias, que comunicou o achado das viaturas a cerca de 100 metros a jusante do primeiro pilar da ponte, e a cerca de 30 metros da margem esquerda do rio. "Teremos que fazer uma verificação visível para confirmar se as viaturas estão mesmo nesse local, mas tudo indica que sim", disse ao PÚBLICO o coordenador das buscas, o capitão-de-fragata Augusto Ezequiel, que é também director do Instituto Hidrográfico da Marinha.

A presumível localização das viaturas sinistradas foi determinada graças à utilização de um sonar da Marinha, que detectou um eco "comprido e oblongo", que as autoridades supõem tratar-se do autocarro da companhia Asa Douro, que transportava 70 pessoas. Na mesma zona foram ainda detectados quatro ecos, supostamente correspondentes aos outros tantos carros ligeiros que caíram também ao rio e que depois foram arrastados ao longo de uma centena de metros pela força da corrente. "Podem ser simplesmente pedras, mas acreditamos que sejam as viaturas, o que só pode ser confirmado por uma observação visual e por apalpação por parte dos mergulhadores", explicou Augusto Ezequiel.

Com base em testemunhas oculares do acidente, pensava-se inicialmente que apenas dois carros ligeiros tinham caído ao rio quando um pilar cedeu, arrastando dois tabuleiros da ponte. No entanto, na manhã de ontem, o presidente da Câmara de Castelo de Paiva avisou que, com base em informações recolhidas pela autarquia junto das populações mais afectadas pelo desastre, o número de viaturas ligeiras sinistradas seria de quatro. "Houve gente que desapareceu no domingo à noite, nunca mais tendo sido vista", explicou o autarca. Mais tarde, fonte da Marinha confirmou as suspeitas de Paulo Teixeira, admitindo o envolvimento de quatro viaturas. A utilização do sonar veio confirmar as piores suspeitas.

Sampaio compara acidente de Entre-os-Rios com submarino "Kursk"

A presumível determinação da localização do autocarro e dos carros, confirmada ao final da tarde, veio trazer alguma esperança a um dia que parecia estar a correr muito mal. A chuva e o vento dificultaram o reinício dos trabalhos de busca, pela manhã, e quando o Presidente da República chegou ao local, às 12h15, foi confrontado com um ambiente de desolação. Jorge Sampaio saiu do encontro com a Marinha, Bombeiros e Protecção Civil pouco animado, e foi logo avisando as pessoas que acorreram ao Douro em busca de notícias de que só "um golpe de sorte" podia acelerar as buscas. "É preciso paciência, porque a tarefa não é fácil", recomendou o Presidente. Mais tarde, Sampaio causou embaraço entre quem conduzia as buscas, ao comentar: "Infelizmente, parece que temos uma espécie de submarino russo no Douro". O secretário de Estado da Defesa, Miranda Calha, não conseguiu esconder, em declarações aos jornalistas, o embaraço causado pela comparação entre a tragédia do "Kursk" e o acidente de Entre-os-Rios.

Com a tarde chegou o bom tempo, e as buscas redobraram. O sonar foi utilizado sistematicamente, em linhas paralelas a jusante da ponte. Por algum tempo chegou a pensar-se que as viaturas estariam debaixo do tabuleiro de betão da ponte, encontrado a poucos metros do primeiro pilar da margem esquerda, mas o sonar não confirmou esta suposição. O dia já começava a cair quando, finalmente, chegou a notícia da provável localização das viaturas. Antes, tinha sido encontrado, a 17 quilómetros da ponte, na Lomba, um dos bancos do autocarro. O gerente da Asa Douro, António Esteves, deu também conta de que tinham sido encontradas na mesma zona duas portas das malas do autocarro. Estes achados fizeram supor que os corpos das vítimas poderiam ter sido arrastadas pela corrente para longe, ultrapassando mesmo a Barragem de Crestuma, que tem tido as comportas abertas. Por este motivo, Miranda Calha anunciou a instalação de redes na Foz do Douro, junto à Ponte de D. Maria II. Entretanto, foram requisitadas uma câmara de vídeo para usar nas profundezas do rio, ligada a um televisor, e uma outra sonda.

Marinha admite recorrer a ajuda internacional

As buscas acabaram por ser interrompidas por falta de luz, mas serão retomadas já esta manhã, pelas 8h00. Os mergulhadores usarão como plataforma de apoio os batelões cedidos pelas empresas de extracção de areia e deverão descer até às viaturas sinistradas descendo a pulso uma corda esticada nas águas. "Temos que garantir a segurança dos mergulhadores", avisou o capitão-de-fragata Augusto Ezequiel. Por seu lado, o chefe de Estado-Maior da Armada revelou, entretanto, que Portugal está disposto a recorrer à ajuda de peritos estrangeiros para recuperar em segurança os cadáveres das vítimas. "Estamos a usar a tecnologia indicada, mas toda a ajuda é preciosa", argumenta Viegas Matias.

O PÚBLICO apurou que já foram encetados contactos com a Marinha espanhola e com técnicos alemães. A técnica que será usada para recuperar os cadáveres ainda não está definida, mas o autocarro deve ser erguido por uma grua. Em alternativa, serão retirados os corpos um a um pelos mergulhadores. "Vamos avançar passo a passo. Primeiro necessitamos de confirmar a localização dos corpos e só depois pensaremos como fazer para os retirar", disse o capitão-de-fragata.

TRAGÉDIA EM ENTRE-OS-RIOS

Resgate dos Corpos Começará Hoje

Por RUI BAPTISTA

Quarta-feira, 7 de Março de 2001

Sonar detectou viaturas a cem metros da ponte

Hoje pode ser um dia decisivo para recuperação dos corpos das vítimas da tragédia de Entre-os-Rios

Os corpos das vítimas do acidente da ponte de Entre-os-Rios devem começar a ser recuperados hoje, depois de ontem, ao final da tarde, terem sido, finalmente, localizados o autocarro e quatro viaturas ligeiras que no domingo mergulharam nas águas do Douro. Foi o próprio chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Viegas Matias, que comunicou o achado das viaturas a cerca de 100 metros a jusante do primeiro pilar da ponte, e a cerca de 30 metros da margem esquerda do rio. "Teremos que fazer uma verificação visível para confirmar se as viaturas estão mesmo nesse local, mas tudo indica que sim", disse ao PÚBLICO o coordenador das buscas, o capitão-de-fragata Augusto Ezequiel, que é também director do Instituto Hidrográfico da Marinha.

A presumível localização das viaturas sinistradas foi determinada graças à utilização de um sonar da Marinha, que detectou um eco "comprido e oblongo", que as autoridades supõem tratar-se do autocarro da companhia Asa Douro, que transportava 70 pessoas. Na mesma zona foram ainda detectados quatro ecos, supostamente correspondentes aos outros tantos carros ligeiros que caíram também ao rio e que depois foram arrastados ao longo de uma centena de metros pela força da corrente. "Podem ser simplesmente pedras, mas acreditamos que sejam as viaturas, o que só pode ser confirmado por uma observação visual e por apalpação por parte dos mergulhadores", explicou Augusto Ezequiel.

Com base em testemunhas oculares do acidente, pensava-se inicialmente que apenas dois carros ligeiros tinham caído ao rio quando um pilar cedeu, arrastando dois tabuleiros da ponte. No entanto, na manhã de ontem, o presidente da Câmara de Castelo de Paiva avisou que, com base em informações recolhidas pela autarquia junto das populações mais afectadas pelo desastre, o número de viaturas ligeiras sinistradas seria de quatro. "Houve gente que desapareceu no domingo à noite, nunca mais tendo sido vista", explicou o autarca. Mais tarde, fonte da Marinha confirmou as suspeitas de Paulo Teixeira, admitindo o envolvimento de quatro viaturas. A utilização do sonar veio confirmar as piores suspeitas.

Sampaio compara acidente de Entre-os-Rios com submarino "Kursk"

A presumível determinação da localização do autocarro e dos carros, confirmada ao final da tarde, veio trazer alguma esperança a um dia que parecia estar a correr muito mal. A chuva e o vento dificultaram o reinício dos trabalhos de busca, pela manhã, e quando o Presidente da República chegou ao local, às 12h15, foi confrontado com um ambiente de desolação. Jorge Sampaio saiu do encontro com a Marinha, Bombeiros e Protecção Civil pouco animado, e foi logo avisando as pessoas que acorreram ao Douro em busca de notícias de que só "um golpe de sorte" podia acelerar as buscas. "É preciso paciência, porque a tarefa não é fácil", recomendou o Presidente. Mais tarde, Sampaio causou embaraço entre quem conduzia as buscas, ao comentar: "Infelizmente, parece que temos uma espécie de submarino russo no Douro". O secretário de Estado da Defesa, Miranda Calha, não conseguiu esconder, em declarações aos jornalistas, o embaraço causado pela comparação entre a tragédia do "Kursk" e o acidente de Entre-os-Rios.

Com a tarde chegou o bom tempo, e as buscas redobraram. O sonar foi utilizado sistematicamente, em linhas paralelas a jusante da ponte. Por algum tempo chegou a pensar-se que as viaturas estariam debaixo do tabuleiro de betão da ponte, encontrado a poucos metros do primeiro pilar da margem esquerda, mas o sonar não confirmou esta suposição. O dia já começava a cair quando, finalmente, chegou a notícia da provável localização das viaturas. Antes, tinha sido encontrado, a 17 quilómetros da ponte, na Lomba, um dos bancos do autocarro. O gerente da Asa Douro, António Esteves, deu também conta de que tinham sido encontradas na mesma zona duas portas das malas do autocarro. Estes achados fizeram supor que os corpos das vítimas poderiam ter sido arrastadas pela corrente para longe, ultrapassando mesmo a Barragem de Crestuma, que tem tido as comportas abertas. Por este motivo, Miranda Calha anunciou a instalação de redes na Foz do Douro, junto à Ponte de D. Maria II. Entretanto, foram requisitadas uma câmara de vídeo para usar nas profundezas do rio, ligada a um televisor, e uma outra sonda.

Marinha admite recorrer a ajuda internacional

As buscas acabaram por ser interrompidas por falta de luz, mas serão retomadas já esta manhã, pelas 8h00. Os mergulhadores usarão como plataforma de apoio os batelões cedidos pelas empresas de extracção de areia e deverão descer até às viaturas sinistradas descendo a pulso uma corda esticada nas águas. "Temos que garantir a segurança dos mergulhadores", avisou o capitão-de-fragata Augusto Ezequiel. Por seu lado, o chefe de Estado-Maior da Armada revelou, entretanto, que Portugal está disposto a recorrer à ajuda de peritos estrangeiros para recuperar em segurança os cadáveres das vítimas. "Estamos a usar a tecnologia indicada, mas toda a ajuda é preciosa", argumenta Viegas Matias.

O PÚBLICO apurou que já foram encetados contactos com a Marinha espanhola e com técnicos alemães. A técnica que será usada para recuperar os cadáveres ainda não está definida, mas o autocarro deve ser erguido por uma grua. Em alternativa, serão retirados os corpos um a um pelos mergulhadores. "Vamos avançar passo a passo. Primeiro necessitamos de confirmar a localização dos corpos e só depois pensaremos como fazer para os retirar", disse o capitão-de-fragata.

marcar artigo