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22-07-2001
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Mapa do genoma socialista 02-MAY-2001

Francisco Trigo de Abreu e Carlos Lima

O que é que José Sócrates, António Costa, Jaime Gama e Ferro Rodrigues têm em comum? Todos necessitam, de alguma forma, da benção de Jorge Coelho se, algum dia, quiserem ascender à liderança do PS.

O peso que o ex-ministro do Equipamento Social tem no aparelho faz dele uma figura incontornável no processo de sucessão a Guterres. Coelho sabe-o, e apesar de já ter dito que não queria ser líder, certo é que em política «o que hoje é verdade...»

Por isso, todos os outros «candidatos a candidatos» ao lugar de secretário-geral têm de seduzir Coelho, ou então estarão condenados ao fracasso político.

Nesta corrida, só Sócrates parece querer correr em pista própria, optando por formar a sua própria «entourage». António Vitorino, o homem providencial de Guterres, é um caso àparte.

Num partido em que é preciso um mapa para não nos perdermos no campo de batalha das várias facções.

As personalidades

Jorge Coelho - O todo-poderoso do PS. Jorge Coelho é o militante que mais apoios reúne nas bases do partido. O porta-voz da comissão permanente, depois da eventual saída do actual líder, pode nomear-se a si, ou a quem quiser, como secretário-geral dos socialistas. Há quem diga que duvida das suas próprias capacidades para ser primeiro-ministro, pelo que poderá optar por escolher o sucessor de Guterres. Colocou na fila dos candidatos Ferro Rodrigues. Já lá estavam António Vitorino, José Sócrates, António Costa e Jaime Gama. Muitos podem ser os eleitos, mas só um será escolhido... por Coelho.

António Vitorino - Para grande desgosto da família Mello, voltou a piscar um olho (ou dois) à política. Apesar de ser pouco previsível que se deixe tentar pela hipótese de uma guerra aberta com Jorge Coelho, é o único que tem hipóteses no confronto directo com o bem-amado das bases. Se tiver o apoio de Guterres, Almeida Santos e dos soaristas, pode contar com o beneplácito dos sampaístas para se lançar na corrida ao Largo do Rato. É o mais bem preparado da lista de sucessores e afastará, se quiser, Ferro Rodrigues e Jaime Gama. Em relação a Sócrates e António Costa, Vitorino contará com o apoio dos dois. A única esperança de muitos dos seus adversários é que adie a sua reentrada na luta pelo poder. Mas numa recente entrevista nem pestanejou em relação à data da sua saída do cargo de Comissário Europeu: 15 de Janeiro de 2005.

José Sócrates - Acusado pelos seus detractores de vaidoso e inculto, Sócrates, a cada dia que passa, ganha mais influência no interior do PS. Não quis trocar o Ambiente pelo Equipamento, numa cartada que lhe poderá valer o apoio de mais algumas federações do PS. É que as verbas do programa Polis podem fazer deste filho de boas famílias o novo pêndulo das bases socialistas. Quer o lugar que já foi de Guterres e hoje é de Jorge Coelho. Consequentemente, as relações de Sócrates com o antigo ministro do Equipamento já não são o que eram. Precisa de Guterres mas a verdade é que já está a construir, com a ajuda de Armando Vara e Edite Estrela, uma base de apoio independente do primeiro-ministro. Entre a emancipação do líder, a luta com Coelho ou a «renovação na continuidade», Sócrates escolherá sempre a terceira via.

António Costa - As ambições de António Costa são ilimitadas. Muito hábil e oportuno na política, está sempre à tona de água. Colado há muito ao rótulo de sampaísta - sem nunca ter feito parte do núcleo histórico de amigos do Presidente -, Costa só poderá ser líder do PS se conseguir congregar o apoio dos que não se satisfazem com o factor Sócrates. Apesar do apoio de uma parte das bases e do seu reconhecido carisma, está, como muitos outros, dependente de Jorge Coelho. Que, como Costa reconheceu numa entrevista ao DN, terá sempre uma palavra decisiva na sucessão de Guterres.

Ferro Rodrigues - É o legítimo herdeiro dos sampaístas, fruto da sua militância no MES, mas sabe que tem que ter mais apoios para ser secretário-geral. A resposta, ou ausência de resposta, ao afastamento de João Cravinho do Governo

é a prova acabada das suas ambições dentro do PS. Ferro Rodrigues também sabe que se não se aliar a Jorge Coelho será derrotado pelo aparelho, tal como Jorge Sampaio o foi por António Guterres. O novo cargo de ministro do Equipamento

pode ser a oportunidade de consolidar o prestígio que o rendimento mínimo obrigatório lhe deu.

Jaime Gama - O seu silêncio é uma arma política. O "peixe de águas profundas" do socialismo, diz-se nos bastidores, está disposto a rentabilizar até ao fim as guerras dentro do PS. Num cenário de luta fratricida, Jaime Gama poderá sempre ser o escolhido para uma aliança com Coelho. E o ministro dos Negócios Estrangeiros acredita nesta possibilidade mais do que deixa crer. Apesar das fortes e usuais possibilidades de fracasso eleitoral na era pós-Guterres.

As Facções

Socráticos - Armando Vara, Edite Estrela, Laurentino Dias, José Reis, Renato Sampaio, Fernando Serrasqueiro garantem ao jovem ministro os votos de várias federações e um forte apoio na bancada socialista. Também são a prova cabal de que o poder de José Sócrates já não depende exclusivamente do primeiro-ministro. Quem quiser derrubar os socráticos terá muito trabalho pela frente.

Coelhismo - Narciso Miranda, Fausto Correia, António Galamba, José Junqueiro, Luís Parreirão, Miguel Coelho e, a outro nível, Murteira Nabo são o garante do poder de Jorge Coelho no partido. Incansáveis no acompanhamento das bases, dominam e garantem a fidelidade das federações socialistas de Braga, Coimbra, Évora, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal e Viseu. Sabem muito bem que Coelho sempre retribuiu adequadamente a lealdade política.

Sampaísmo - A facção, apesar das aparências, continua unida e exerce grande influência dentro do grupo parlamentar do PS, fruto do trabalho de João Cravinho, Vera Jardim e Strecht Ribeiro. No executivo são representados por Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Alberto Martins e, até certo ponto, António Costa. Medeiros Ferreira, que não é um sampaísta de raiz, tem feito a ponte com os soaristas. Erguendo bandeiras ideológicas, têm uma inegável capacidade de atracção sobre muitas personalidades do partido. Francisco Assis, Alberto Costa, Jorge Lacão, Manuel Alegre, Helena Roseta e Fernando Gomes têm sido alguns dos nomes sublinhados na lista de conspirações pontuais.

Soarismo - Manuel Alegre (com reticência éticas e históricas), António Campos, Vítor Ramalho, Carlos Candal, António Saleiro e o comandante Gomes Mota são os chefes de fila de uma facção que já teve dias melhores no PS. A sã convivência em Bruxelas parece ter aproximado o grupo da jovem esperança guterrista, pela via de António José Seguro. Dependem quase exclusivamente dos discursos do ex-Presidente da República e de Manuel Alegre, mas no dia em que houver luta a sério todos quererão contar com o apoio do pai fundador e seus apaniguados.

João-Soarismo - As diferenças entre o movimento do pai e o movimento do filho são óbvias. Se Mário Soares tem criticado abertamente o partido, João Soares afina sempre pela defesa de Guterres e pelo «politicamente correcto». Perseguido pela sombra e carisma do pai, João Soares terá que provar em Lisboa que o seu movimento partidário, onde pontificam Acácio Barreiros e Nuno Baltazar Mendes, tem pernas para andar.

Gamismo - A lealdade é uma marca dos seguidores de Jaime Gama. José Lello, Miranda Calha e Eduardo Pereira estarão com o ministro dos Negócios Estrangeiros para o que der e vier. Inclusive uma futura corrida à liderança do PS.

Proscritos - As constantes críticas que Manuel Maria Carrilho e Helena Roseta têm feito à liderança fazem deles os mais que prováveis alvos da fúria, controlada, das bases do partido. No congresso do Pavilhão Atlântico arriscam-se a servir de bombos da festa. No partido deixaram de ter futuro político.

Ex-comunistas - No dia em que a liderança mudar os ex-comunistas estarão do lado do novo secretário-geral. E se é quase certo que Pina Moura cairá com António Guterres, não é menos acertado afirmar que Osvaldo de Castro, Barros Moura e José Magalhães continuarão, num reflexo pavloviano, a seguir a disciplina partidária.

Porto - É a Bósnia do Partido Socialista. Os militantes próximos de Narciso Miranda estão no bolso de Jorge Coelho, mas é cada vez mais clara a aproximação de Orlando Gaspar, o presidente da concelhia, a José Sócrates. Já Francisco Assis e seus correligionários correm em pista própria, sem compromissos prévios estabelecidos. O posicionamento de Fernando Gomes numa eventual corrida à liderança do PS só poderá ser aferido depois da sua vitória nas eleições autárquicas.

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O peso que o ex-ministro do Equipamento Social tem no aparelho faz dele uma figura incontornável no processo de sucessão a Guterres. Coelho sabe-o, e apesar de já ter dito que não queria ser líder, certo é que em política «o que hoje é verdade...»

Por isso, todos os outros «candidatos a candidatos» ao lugar de secretário-geral têm de seduzir Coelho, ou então estarão condenados ao fracasso político.

Nesta corrida, só Sócrates parece querer correr em pista própria, optando por formar a sua própria «entourage». António Vitorino, o homem providencial de Guterres, é um caso àparte.

Num partido em que é preciso um mapa para não nos perdermos no campo de batalha das várias facções.

As personalidades

Jorge Coelho - O todo-poderoso do PS. Jorge Coelho é o militante que mais apoios reúne nas bases do partido. O porta-voz da comissão permanente, depois da eventual saída do actual líder, pode nomear-se a si, ou a quem quiser, como secretário-geral dos socialistas. Há quem diga que duvida das suas próprias capacidades para ser primeiro-ministro, pelo que poderá optar por escolher o sucessor de Guterres. Colocou na fila dos candidatos Ferro Rodrigues. Já lá estavam António Vitorino, José Sócrates, António Costa e Jaime Gama. Muitos podem ser os eleitos, mas só um será escolhido... por Coelho.

António Vitorino - Para grande desgosto da família Mello, voltou a piscar um olho (ou dois) à política. Apesar de ser pouco previsível que se deixe tentar pela hipótese de uma guerra aberta com Jorge Coelho, é o único que tem hipóteses no confronto directo com o bem-amado das bases. Se tiver o apoio de Guterres, Almeida Santos e dos soaristas, pode contar com o beneplácito dos sampaístas para se lançar na corrida ao Largo do Rato. É o mais bem preparado da lista de sucessores e afastará, se quiser, Ferro Rodrigues e Jaime Gama. Em relação a Sócrates e António Costa, Vitorino contará com o apoio dos dois. A única esperança de muitos dos seus adversários é que adie a sua reentrada na luta pelo poder. Mas numa recente entrevista nem pestanejou em relação à data da sua saída do cargo de Comissário Europeu: 15 de Janeiro de 2005.

José Sócrates - Acusado pelos seus detractores de vaidoso e inculto, Sócrates, a cada dia que passa, ganha mais influência no interior do PS. Não quis trocar o Ambiente pelo Equipamento, numa cartada que lhe poderá valer o apoio de mais algumas federações do PS. É que as verbas do programa Polis podem fazer deste filho de boas famílias o novo pêndulo das bases socialistas. Quer o lugar que já foi de Guterres e hoje é de Jorge Coelho. Consequentemente, as relações de Sócrates com o antigo ministro do Equipamento já não são o que eram. Precisa de Guterres mas a verdade é que já está a construir, com a ajuda de Armando Vara e Edite Estrela, uma base de apoio independente do primeiro-ministro. Entre a emancipação do líder, a luta com Coelho ou a «renovação na continuidade», Sócrates escolherá sempre a terceira via.

António Costa - As ambições de António Costa são ilimitadas. Muito hábil e oportuno na política, está sempre à tona de água. Colado há muito ao rótulo de sampaísta - sem nunca ter feito parte do núcleo histórico de amigos do Presidente -, Costa só poderá ser líder do PS se conseguir congregar o apoio dos que não se satisfazem com o factor Sócrates. Apesar do apoio de uma parte das bases e do seu reconhecido carisma, está, como muitos outros, dependente de Jorge Coelho. Que, como Costa reconheceu numa entrevista ao DN, terá sempre uma palavra decisiva na sucessão de Guterres.

Ferro Rodrigues - É o legítimo herdeiro dos sampaístas, fruto da sua militância no MES, mas sabe que tem que ter mais apoios para ser secretário-geral. A resposta, ou ausência de resposta, ao afastamento de João Cravinho do Governo

é a prova acabada das suas ambições dentro do PS. Ferro Rodrigues também sabe que se não se aliar a Jorge Coelho será derrotado pelo aparelho, tal como Jorge Sampaio o foi por António Guterres. O novo cargo de ministro do Equipamento

pode ser a oportunidade de consolidar o prestígio que o rendimento mínimo obrigatório lhe deu.

Jaime Gama - O seu silêncio é uma arma política. O "peixe de águas profundas" do socialismo, diz-se nos bastidores, está disposto a rentabilizar até ao fim as guerras dentro do PS. Num cenário de luta fratricida, Jaime Gama poderá sempre ser o escolhido para uma aliança com Coelho. E o ministro dos Negócios Estrangeiros acredita nesta possibilidade mais do que deixa crer. Apesar das fortes e usuais possibilidades de fracasso eleitoral na era pós-Guterres.

As Facções

Socráticos - Armando Vara, Edite Estrela, Laurentino Dias, José Reis, Renato Sampaio, Fernando Serrasqueiro garantem ao jovem ministro os votos de várias federações e um forte apoio na bancada socialista. Também são a prova cabal de que o poder de José Sócrates já não depende exclusivamente do primeiro-ministro. Quem quiser derrubar os socráticos terá muito trabalho pela frente.

Coelhismo - Narciso Miranda, Fausto Correia, António Galamba, José Junqueiro, Luís Parreirão, Miguel Coelho e, a outro nível, Murteira Nabo são o garante do poder de Jorge Coelho no partido. Incansáveis no acompanhamento das bases, dominam e garantem a fidelidade das federações socialistas de Braga, Coimbra, Évora, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal e Viseu. Sabem muito bem que Coelho sempre retribuiu adequadamente a lealdade política.

Sampaísmo - A facção, apesar das aparências, continua unida e exerce grande influência dentro do grupo parlamentar do PS, fruto do trabalho de João Cravinho, Vera Jardim e Strecht Ribeiro. No executivo são representados por Ferro Rodrigues, Paulo Pedroso, Alberto Martins e, até certo ponto, António Costa. Medeiros Ferreira, que não é um sampaísta de raiz, tem feito a ponte com os soaristas. Erguendo bandeiras ideológicas, têm uma inegável capacidade de atracção sobre muitas personalidades do partido. Francisco Assis, Alberto Costa, Jorge Lacão, Manuel Alegre, Helena Roseta e Fernando Gomes têm sido alguns dos nomes sublinhados na lista de conspirações pontuais.

Soarismo - Manuel Alegre (com reticência éticas e históricas), António Campos, Vítor Ramalho, Carlos Candal, António Saleiro e o comandante Gomes Mota são os chefes de fila de uma facção que já teve dias melhores no PS. A sã convivência em Bruxelas parece ter aproximado o grupo da jovem esperança guterrista, pela via de António José Seguro. Dependem quase exclusivamente dos discursos do ex-Presidente da República e de Manuel Alegre, mas no dia em que houver luta a sério todos quererão contar com o apoio do pai fundador e seus apaniguados.

João-Soarismo - As diferenças entre o movimento do pai e o movimento do filho são óbvias. Se Mário Soares tem criticado abertamente o partido, João Soares afina sempre pela defesa de Guterres e pelo «politicamente correcto». Perseguido pela sombra e carisma do pai, João Soares terá que provar em Lisboa que o seu movimento partidário, onde pontificam Acácio Barreiros e Nuno Baltazar Mendes, tem pernas para andar.

Gamismo - A lealdade é uma marca dos seguidores de Jaime Gama. José Lello, Miranda Calha e Eduardo Pereira estarão com o ministro dos Negócios Estrangeiros para o que der e vier. Inclusive uma futura corrida à liderança do PS.

Proscritos - As constantes críticas que Manuel Maria Carrilho e Helena Roseta têm feito à liderança fazem deles os mais que prováveis alvos da fúria, controlada, das bases do partido. No congresso do Pavilhão Atlântico arriscam-se a servir de bombos da festa. No partido deixaram de ter futuro político.

Ex-comunistas - No dia em que a liderança mudar os ex-comunistas estarão do lado do novo secretário-geral. E se é quase certo que Pina Moura cairá com António Guterres, não é menos acertado afirmar que Osvaldo de Castro, Barros Moura e José Magalhães continuarão, num reflexo pavloviano, a seguir a disciplina partidária.

Porto - É a Bósnia do Partido Socialista. Os militantes próximos de Narciso Miranda estão no bolso de Jorge Coelho, mas é cada vez mais clara a aproximação de Orlando Gaspar, o presidente da concelhia, a José Sócrates. Já Francisco Assis e seus correligionários correm em pista própria, sem compromissos prévios estabelecidos. O posicionamento de Fernando Gomes numa eventual corrida à liderança do PS só poderá ser aferido depois da sua vitória nas eleições autárquicas.

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