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30-12-2001
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P. - Quem deu as ordens aos pára-quedistas?

R. - As forças de extrema-esquerda. A ordem sai do Copcon.

P. - Quem a deu?

R. - Não sei dizer. Do que eu não tenho dúvidas nenhumas é de que o Otelo estava lá quando saiu a ordem e esta não lhe passou ao lado.

P. - Essa atitude não foi uma ingenuidade em termos militares?

R. - Vamos à tal história do Otelo. Oito ou dez dias depois, o Otelo procura-me, no meu gabinete no Restelo, tem uma conversa comigo e com [o conselheiro e membro do grupo dos Nove] Marques Júnior, em que nos conta o que se tinha passado. "Eu, Otelo, tinha perdido por completo o controlo das unidades e não tinha capacidade para resolver o problema. Quando sou pressionado para fazer sair os pára-quedistas, vi que tinha aí a possibilidade de resolver o problema, porque tu me tinhas dito nos últimos meses que vocês estavam preparados para responder a qualquer acto do nosso lado. Sabia que vocês iam responder e iriam resolver o meu problema. E confiei na vossa benevolência, nos brandos costumes da vossa parte. Dei luz verde para avançarem e depois retirei-me para casa e deixei-os sem comando e vocês resolveram mais facilmente o problema."

P. - Trocando isso por miúdos, Otelo sabia...

R. - Deixe-me acabar. Eu disse ao Otelo: "Mas isso é o pior que se pode fazer, é traição pura aos homens que comandamos, atiramo-los para uma missão e tiramos-lhe o tapete. Deixamo-los pendurados a esvoaçar feitos borboletas." Ele diz: "Pois, mas era a única maneira que eu tinha de resolver o problema." Respondi: "Mas o que me estás a dizer é extraordiariamente grave, eu vou utilizar isso." Ele disse: "Faz o que quiseres." E utilizámos a informação.

P. - De que maneira?

R. - Dizendo à Comissão de Inquérito aos Acontecimentos do 25 de Novembro o que tínhamos ouvido ao Otelo. Quando este é confrontado com isso, nega: "Eu disse isso ao Vasco Lourenço e ao Marques Júnior mas inventei tudo. Inventei tudo para chamar a mim a responsabilidade e para conseguir que os meus camaradas presos fossem libertados." Perante isto, tenho que me interrogar. Os dados que tenho são estes. Tenho outros dados, que me permitem formar uma opinião...

P. - E qual é a sua opinião?

R. - Infelizmente, inclino-me mais para que seja verdade o que o Otelo me contou inicialmente. O que é facto é que Otelo saiu do Copcon às cinco ou seis da manhã, depois de a ordem ser dada, e apareceu às duas da tarde. Apesar de o Copcon e toda a gente, incluindo do nosso lado, termos tentado contactá-lo pelo telefone, inclusivamente mandando-lhe emissários a casa, ele fechou-se em casa e não apareceu. O que ele diz é que caiu no sono e não ouviu nada. O Otelo saberá exactamente o que aconteceu.

P. - Otelo diz que alertou Arlindo Ferreira [major piloto encarregado das operações] e Tasso de Figueiredo [também oficial da Força Aérea, na repartição de informações do Copcon] e toda a gente para a existência de um plano preparado para lhes cair em cima e que a saída dos pára-quedistas podia ser um pretexto.

R. - E foi um pretexto. O que acontece é que nós terminámos o Conselho da Revolução às quatro e tal da manhã, às sete, às oito, sou acordado pelo telefone, era o Jaime Neves a dizer que os pára-quedistas tinha ocupado as bases. Fomos para Belém, convocámos uma reunião com o general Costa Gomes, e acordámos que a saída dos pára-quedistas era uma tentativa de golpe para assumir o poder e que era preciso responder-lhe.

P. - Quem deu as ordens aos pára-quedistas?

R. - As forças de extrema-esquerda. A ordem sai do Copcon.

P. - Quem a deu?

R. - Não sei dizer. Do que eu não tenho dúvidas nenhumas é de que o Otelo estava lá quando saiu a ordem e esta não lhe passou ao lado.

P. - Essa atitude não foi uma ingenuidade em termos militares?

R. - Vamos à tal história do Otelo. Oito ou dez dias depois, o Otelo procura-me, no meu gabinete no Restelo, tem uma conversa comigo e com [o conselheiro e membro do grupo dos Nove] Marques Júnior, em que nos conta o que se tinha passado. "Eu, Otelo, tinha perdido por completo o controlo das unidades e não tinha capacidade para resolver o problema. Quando sou pressionado para fazer sair os pára-quedistas, vi que tinha aí a possibilidade de resolver o problema, porque tu me tinhas dito nos últimos meses que vocês estavam preparados para responder a qualquer acto do nosso lado. Sabia que vocês iam responder e iriam resolver o meu problema. E confiei na vossa benevolência, nos brandos costumes da vossa parte. Dei luz verde para avançarem e depois retirei-me para casa e deixei-os sem comando e vocês resolveram mais facilmente o problema."

P. - Trocando isso por miúdos, Otelo sabia...

R. - Deixe-me acabar. Eu disse ao Otelo: "Mas isso é o pior que se pode fazer, é traição pura aos homens que comandamos, atiramo-los para uma missão e tiramos-lhe o tapete. Deixamo-los pendurados a esvoaçar feitos borboletas." Ele diz: "Pois, mas era a única maneira que eu tinha de resolver o problema." Respondi: "Mas o que me estás a dizer é extraordiariamente grave, eu vou utilizar isso." Ele disse: "Faz o que quiseres." E utilizámos a informação.

P. - De que maneira?

R. - Dizendo à Comissão de Inquérito aos Acontecimentos do 25 de Novembro o que tínhamos ouvido ao Otelo. Quando este é confrontado com isso, nega: "Eu disse isso ao Vasco Lourenço e ao Marques Júnior mas inventei tudo. Inventei tudo para chamar a mim a responsabilidade e para conseguir que os meus camaradas presos fossem libertados." Perante isto, tenho que me interrogar. Os dados que tenho são estes. Tenho outros dados, que me permitem formar uma opinião...

P. - E qual é a sua opinião?

R. - Infelizmente, inclino-me mais para que seja verdade o que o Otelo me contou inicialmente. O que é facto é que Otelo saiu do Copcon às cinco ou seis da manhã, depois de a ordem ser dada, e apareceu às duas da tarde. Apesar de o Copcon e toda a gente, incluindo do nosso lado, termos tentado contactá-lo pelo telefone, inclusivamente mandando-lhe emissários a casa, ele fechou-se em casa e não apareceu. O que ele diz é que caiu no sono e não ouviu nada. O Otelo saberá exactamente o que aconteceu.

P. - Otelo diz que alertou Arlindo Ferreira [major piloto encarregado das operações] e Tasso de Figueiredo [também oficial da Força Aérea, na repartição de informações do Copcon] e toda a gente para a existência de um plano preparado para lhes cair em cima e que a saída dos pára-quedistas podia ser um pretexto.

R. - E foi um pretexto. O que acontece é que nós terminámos o Conselho da Revolução às quatro e tal da manhã, às sete, às oito, sou acordado pelo telefone, era o Jaime Neves a dizer que os pára-quedistas tinha ocupado as bases. Fomos para Belém, convocámos uma reunião com o general Costa Gomes, e acordámos que a saída dos pára-quedistas era uma tentativa de golpe para assumir o poder e que era preciso responder-lhe.

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