EXPRESSO -

12-03-2000
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JÁ O PSD levava oito anos no poder quando um dos mais discretos sociais-democratas do Norte - o então governador civil de Braga, Fernando Ribeiro da Silva - acusou alguns dirigentes do partido dum mal terrível: tinham inchado. O que então estava em causa não seria exactamente o mesmo, mas quem olhou para o Partido Socialista no passado fim-de-semana sentiu-se irresistivelmente tentado a recorrer ao léxico do velho amigo de Eurico de Melo e a afirmar: o PS inchou. O alargamento dos órgãos nacionais do partido atingiu um número nunca antes visto, e a razão para tal facto é simples: Guterres escolheu agradar a todos. O tique não é novo nos partidos no poder, e o Tino de Penafiel - o tal delegado-calceteiro que pôs o Coliseu a rir às gargalhadas - revelou uma clarividência notável. «O Tino pode ser o que quiser», anunciou do alto do palco o presidente da Junta de Rãs. Acabou membro da Comissão Nacional.

Durante o Congresso, algumas mulheres protestaram por ninguém sair para elas entrarem nos órgãos dirigentes do partido. Contas feitas, a Comissão Nacional passou de 225 para 285 membros e a Comissão Política de 61 para 76 elementos

Ao seu lado passam a sentar-se 260 militantes, e só não se pode dizer que estão lá por terem feito questão por uma razão imprevista: é que também há quem lá esteja à força. Maria Teresa Coimbra, por exemplo, é militante na Figueira da Foz, está inscrita no PS desde 1974 e nunca foi chamada aos órgãos nacionais do partido. Desta vez, até nem queria, porque é contra as quotas - «as mulheres deviam subir aos lugares porque os mereciam e porque lutavam por eles» -, mas a sua opinião não foi tida nem achada. «Puseram lá o meu nome sem me darem cavaco e só me disseram depois», confessou-nos Maria Teresa. «Ainda hesitei, mas depois, olhe, tomei isto como um imperativo.» São uma surpresa, as vicissitudes de um partido no poder. Guterres tinha de agradar a todos, e não é agradável tirar cadeiras a quem está sentado. A solução foi uma conta de somar: entram as mulheres, mais os homens que ameaçam fazer barulho se ficarem de fora, e não sai ninguém. A Comissão Nacional passa a ter 285 militantes (tinha 225), a Comissão Política 76 (tinha 61).

As mulheres protestaram por ninguém sair para elas entrarem, mas acabaram por fazer como Maria Teresa Coimbra - encararam tudo o que não lhes apetecia como um desígnio. A conta de somar foi, aliás, requintada. Ascenderam aos órgãos nacionais do partido militantes de todas as tendências, sensibilidades, subtendências e simpatias. E, como nos órgãos partidários - apesar da filosofia elástica - não cabem todos, este Congresso do PS arranjou uma maneira refinada de serenar os espíritos: enterrou a máxima de Guterres «no jobs for the boys» e conseguiu, como convinha, que o coveiro fosse um homem insuspeito. Nem Jorge Coelho, nem Fausto Correia, nem Narciso Miranda, nem António José Seguro.... os homens do aparelho não precisaram de pronunciar a frase maldita - os poetas sabem purificar as palavras, e o PS também tem um poeta.

Manuel Alegre esteve no Congresso para proclamar que não se resigna, mas também lá esteve, como se viu, para trabalhar para o bem de todos. E quando o poeta argumentou que já chega de suspeição sobre os socialistas e determinou que era preciso «enterrar a frase 'no jobs for the boys'» conseguiu a maior ovação do Coliseu. É certo que na altura ainda não se sabia do regresso de Soares e Guterres ainda não havia pronunciado a mágica «maioria absoluta». Mas já se tinha falado do fundador Mário, do líder Guterres e até de Xanana Gusmão. Nada que galvanizasse a plateia. O Coliseu foi ao rubro foi quando o poeta enterrou a frase maldita. Finalmente, empregos para a rapaziada. Texto de ÂNGELA SILVA

Carrilho demite-se da direcção do PS

RTP mantém transmissão de programas de Soares

A irresistível tentação do regresso à política

Amigos (também) para a ocasião

O «capital» de Soares

Soares «contraria» Mitterrand e Chirac

Uma ajuda a Guterres

Triunfalismos proibidos

O congresso

Carrilho bate com a porta

A grande encenação

Outra vez Soares

Lugares para todos

Tudo em família

JÁ O PSD levava oito anos no poder quando um dos mais discretos sociais-democratas do Norte - o então governador civil de Braga, Fernando Ribeiro da Silva - acusou alguns dirigentes do partido dum mal terrível: tinham inchado. O que então estava em causa não seria exactamente o mesmo, mas quem olhou para o Partido Socialista no passado fim-de-semana sentiu-se irresistivelmente tentado a recorrer ao léxico do velho amigo de Eurico de Melo e a afirmar: o PS inchou. O alargamento dos órgãos nacionais do partido atingiu um número nunca antes visto, e a razão para tal facto é simples: Guterres escolheu agradar a todos. O tique não é novo nos partidos no poder, e o Tino de Penafiel - o tal delegado-calceteiro que pôs o Coliseu a rir às gargalhadas - revelou uma clarividência notável. «O Tino pode ser o que quiser», anunciou do alto do palco o presidente da Junta de Rãs. Acabou membro da Comissão Nacional.

Durante o Congresso, algumas mulheres protestaram por ninguém sair para elas entrarem nos órgãos dirigentes do partido. Contas feitas, a Comissão Nacional passou de 225 para 285 membros e a Comissão Política de 61 para 76 elementos

Ao seu lado passam a sentar-se 260 militantes, e só não se pode dizer que estão lá por terem feito questão por uma razão imprevista: é que também há quem lá esteja à força. Maria Teresa Coimbra, por exemplo, é militante na Figueira da Foz, está inscrita no PS desde 1974 e nunca foi chamada aos órgãos nacionais do partido. Desta vez, até nem queria, porque é contra as quotas - «as mulheres deviam subir aos lugares porque os mereciam e porque lutavam por eles» -, mas a sua opinião não foi tida nem achada. «Puseram lá o meu nome sem me darem cavaco e só me disseram depois», confessou-nos Maria Teresa. «Ainda hesitei, mas depois, olhe, tomei isto como um imperativo.» São uma surpresa, as vicissitudes de um partido no poder. Guterres tinha de agradar a todos, e não é agradável tirar cadeiras a quem está sentado. A solução foi uma conta de somar: entram as mulheres, mais os homens que ameaçam fazer barulho se ficarem de fora, e não sai ninguém. A Comissão Nacional passa a ter 285 militantes (tinha 225), a Comissão Política 76 (tinha 61).

As mulheres protestaram por ninguém sair para elas entrarem, mas acabaram por fazer como Maria Teresa Coimbra - encararam tudo o que não lhes apetecia como um desígnio. A conta de somar foi, aliás, requintada. Ascenderam aos órgãos nacionais do partido militantes de todas as tendências, sensibilidades, subtendências e simpatias. E, como nos órgãos partidários - apesar da filosofia elástica - não cabem todos, este Congresso do PS arranjou uma maneira refinada de serenar os espíritos: enterrou a máxima de Guterres «no jobs for the boys» e conseguiu, como convinha, que o coveiro fosse um homem insuspeito. Nem Jorge Coelho, nem Fausto Correia, nem Narciso Miranda, nem António José Seguro.... os homens do aparelho não precisaram de pronunciar a frase maldita - os poetas sabem purificar as palavras, e o PS também tem um poeta.

Manuel Alegre esteve no Congresso para proclamar que não se resigna, mas também lá esteve, como se viu, para trabalhar para o bem de todos. E quando o poeta argumentou que já chega de suspeição sobre os socialistas e determinou que era preciso «enterrar a frase 'no jobs for the boys'» conseguiu a maior ovação do Coliseu. É certo que na altura ainda não se sabia do regresso de Soares e Guterres ainda não havia pronunciado a mágica «maioria absoluta». Mas já se tinha falado do fundador Mário, do líder Guterres e até de Xanana Gusmão. Nada que galvanizasse a plateia. O Coliseu foi ao rubro foi quando o poeta enterrou a frase maldita. Finalmente, empregos para a rapaziada. Texto de ÂNGELA SILVA

Carrilho demite-se da direcção do PS

RTP mantém transmissão de programas de Soares

A irresistível tentação do regresso à política

Amigos (também) para a ocasião

O «capital» de Soares

Soares «contraria» Mitterrand e Chirac

Uma ajuda a Guterres

Triunfalismos proibidos

O congresso

Carrilho bate com a porta

A grande encenação

Outra vez Soares

Lugares para todos

Tudo em família

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