Médicos criticam Arcanjo e elogiam Maria de Belém

13-04-2001
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Médicos Criticam Arcanjo e Elogiam Maria de Belém

Por NELSON MORAIS

Domingo, 8 de Abril de 2001

Substituição da ministra da Saúde alvo de reparos num debate realizado em Coimbra

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi visto ontem, em Coimbra, como algo que desde há muito tempo entrou num estado de decomposição contra o qual apenas Maria de Belém Roseira lutou. O elogio à ex-ministra da Saúde foi feito num debate promovido pela Associação Cívica de Coimbra Pró Urbe, no qual o cirurgião cardiotorácico Manuel Antunes considerou que o SNS tem "um produto para vender que não está de acordo com os gostos dos seus clientes" e que, por outro lado, "a medicina privada tem uma qualidade muita fraca".

Pedro Ferreira, da Faculdade de Economia de Coimbra, abriu o debate subordinado ao tema "A Saúde que temos - A Saúde que Queremos", e deixou no ar uma ideia omnipresente nas intervenções seguintes: "O êxito da actividade privada depende do insucesso do SNS". A esta declaração seguiu-se a apresentação de dados objectivos, como o da inexistência de um único mamógrafo do SNS em todo o Algarve ou o da progressiva diminuição do número de médicos de família que, em 1995, deixou desamparados deste tipo de assistência 1,4 milhões de portugueses (dado da OCDE).

Arcanjo desvalorizada

Ao fim de duas horas, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Cílio Correia, politizou ainda mais o debate, questionando a continuidade de Manuela Arcanjo à frente da Saúde: "A nossa equipa ministerial é parte da solução ou parte do problema?". Manuel Antunes foi o primeiro a responder: "Ela própria colocou em causa a sua capacidade física para continuar", ironizou, aludindo ao facto de a ministra ter dito esta semana que, ao fim de oito anos no cargo, sairia "perfeitamente entrevadinha".

A generalidade dos oradores desvalorizou o nome da pessoa que assume a tutela da Saúde, responsabilizando, antes, a estratégia do respectivo primeiro-ministro. O principal alvo acabou por ser António Guterres. E a razão mais visível do ataque foi a substituição de Maria de Belém, no final do primeiro governo socialista. Elogiada por quase todos, Belém foi apontada por António Rodrigues, ex-coordenador da Agência de Contratualização da Região Centro, como a única ministra da Saúde dos últimos anos que fez uma "reaposta" no SNS.

Para aquele médico de família, Maria de Belém foi afastada por ter criado uma "massa crítica" na Saúde, "diagnosticado" e "pacificado" o sector, instituído os centros de responsabilidade integrada - para remunerar os profissoinais consoante a sua produtividade -, desencadeado a autonomia financeira dos centros de saúde ou idealizado os sistemas locais de saúde, "armazenados na gaveta" pela sua substituta. Para António Rodrigues, perante o "processo reformador", Guterres terá dito: "Alto e pára o baile!".

Médicos Criticam Arcanjo e Elogiam Maria de Belém

Por NELSON MORAIS

Domingo, 8 de Abril de 2001

Substituição da ministra da Saúde alvo de reparos num debate realizado em Coimbra

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi visto ontem, em Coimbra, como algo que desde há muito tempo entrou num estado de decomposição contra o qual apenas Maria de Belém Roseira lutou. O elogio à ex-ministra da Saúde foi feito num debate promovido pela Associação Cívica de Coimbra Pró Urbe, no qual o cirurgião cardiotorácico Manuel Antunes considerou que o SNS tem "um produto para vender que não está de acordo com os gostos dos seus clientes" e que, por outro lado, "a medicina privada tem uma qualidade muita fraca".

Pedro Ferreira, da Faculdade de Economia de Coimbra, abriu o debate subordinado ao tema "A Saúde que temos - A Saúde que Queremos", e deixou no ar uma ideia omnipresente nas intervenções seguintes: "O êxito da actividade privada depende do insucesso do SNS". A esta declaração seguiu-se a apresentação de dados objectivos, como o da inexistência de um único mamógrafo do SNS em todo o Algarve ou o da progressiva diminuição do número de médicos de família que, em 1995, deixou desamparados deste tipo de assistência 1,4 milhões de portugueses (dado da OCDE).

Arcanjo desvalorizada

Ao fim de duas horas, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Cílio Correia, politizou ainda mais o debate, questionando a continuidade de Manuela Arcanjo à frente da Saúde: "A nossa equipa ministerial é parte da solução ou parte do problema?". Manuel Antunes foi o primeiro a responder: "Ela própria colocou em causa a sua capacidade física para continuar", ironizou, aludindo ao facto de a ministra ter dito esta semana que, ao fim de oito anos no cargo, sairia "perfeitamente entrevadinha".

A generalidade dos oradores desvalorizou o nome da pessoa que assume a tutela da Saúde, responsabilizando, antes, a estratégia do respectivo primeiro-ministro. O principal alvo acabou por ser António Guterres. E a razão mais visível do ataque foi a substituição de Maria de Belém, no final do primeiro governo socialista. Elogiada por quase todos, Belém foi apontada por António Rodrigues, ex-coordenador da Agência de Contratualização da Região Centro, como a única ministra da Saúde dos últimos anos que fez uma "reaposta" no SNS.

Para aquele médico de família, Maria de Belém foi afastada por ter criado uma "massa crítica" na Saúde, "diagnosticado" e "pacificado" o sector, instituído os centros de responsabilidade integrada - para remunerar os profissoinais consoante a sua produtividade -, desencadeado a autonomia financeira dos centros de saúde ou idealizado os sistemas locais de saúde, "armazenados na gaveta" pela sua substituta. Para António Rodrigues, perante o "processo reformador", Guterres terá dito: "Alto e pára o baile!".

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