O que falta saber

03-04-2002
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EDITORIAL

O Que Falta Saber

Por JOSÉ MANUEL FERNANDES

Sexta-feira, 29 de Março de 2002 Os nomes do Governo lá vão saindo, a conta-gotas, entre muita especulação jornalística, alguns tiros certeiros, muitos errados. É normal e é, até, um bom sinal: mostra que a regra da confidencialidade entre PSD e PP tem sido mantida, indica que a preocupação com "o que sai nos jornais" não é a primeira preocupação. O que sabemos até agora? Que teremos Manuela Ferreira Leite como segunda figura do Governo e ministra das Finanças. Não é o nome sonante que se esperava, mas parece ter qualidades para ser o ministro das Finanças de que o país precisa neste momento. Uma espécie de Ernâni Lopes "de saias". E que teremos Bagão Feliz no Emprego e Solidariedade Social. Devo dizer que considero a melhor escolha possível para o lugar pela sua seriedade, competência e capacidade de diálogo - inclusivé para estabelecer as indispensáveis pontes com o PS -, e pelo espírito de missão que mostrou ao aceitar mais estes anos de "serviço cívico" como ministro (é bom dizê-lo, com frontalidade: ao ir para o Governo viver com o ordenado correspondente, Bagão Feliz vai perder muito dinheiro por mês - como, de resto perderia qualquer das "estrelas" de que se falou durante a campanha eleitoral). E o que é que não sabemos? Não sabemos, de ciência certa, a composição final do executivo. E, por a desconhecermos, desconhecemos algo de essencial: qual o equilíbrio entre o rigor e o reformismo. Explicando melhor. Todos sabemos o estado em que estão as contas públicas (ou julgamos saber, porque podem estar bem pior). Todos sabemos por isso que vai ser necessário arrumar a casa, fechar a torneira, pedir sacrifícios. Nos últimos anos, o país e, sobretudo, o Estado, engordaram, cresceram, mas não se desenvolveram. Para que este "crescimento para os lados", esta engorda, se transforme em desenvolvimento saudável, faz falta ao país uma dieta de rigor. Ora fazer dieta custa, como sabem todos os que se deixaram engordar - mas pode compensar. Deve compensar O desafio do próximo Governo é, por isso, o de conseguir fazer a dieta, solicitar sacrifícios, mas fazê-lo em nome de um projecto reformista. Por outras palavras. Não chega rigor, tem de se evitar cortar a eito. Tem sim de se poupar no acessório para investir no essencial. A composição final do Governo dar-nos-á sinais cruciais sobre se vai ser este o caminho escolhido. Se for, justificar-se-á pedir hoje que se aperte o cinto para que amanhã todos vivamos melhor. Em suma: não basta uma "dama de ferro" nas Finanças, é também crucial gente com vontade, energia e visão reformadora. Gente capaz de devolver a esperança e a autoestima aos portugueses. Alguém que diga: "somos capazes, vamos a isto". Sem que do novo Governo venham tais sinais, o pessimismo manter-se-á, a crispação não tardará. E isso era o pior que nos poderia suceder. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE PSD-CDS/PP: Nova AD jura fidelidade

Frases

TEXTO INTEGRAL DO DOCUMENTO: CONVERGÊNCIA DEMOCRÁTICA PARA UM GOVERNO DE LEGISLATURA

EDITORIAL O que falta saber

Pequena história das alianças à direita

Durão não põe Madeira no Conselho de Ministros

Como se desmonta um governo

A FOTOGRAFIA Cozido à portuguesa e um brinde à vida

EDITORIAL

O Que Falta Saber

Por JOSÉ MANUEL FERNANDES

Sexta-feira, 29 de Março de 2002 Os nomes do Governo lá vão saindo, a conta-gotas, entre muita especulação jornalística, alguns tiros certeiros, muitos errados. É normal e é, até, um bom sinal: mostra que a regra da confidencialidade entre PSD e PP tem sido mantida, indica que a preocupação com "o que sai nos jornais" não é a primeira preocupação. O que sabemos até agora? Que teremos Manuela Ferreira Leite como segunda figura do Governo e ministra das Finanças. Não é o nome sonante que se esperava, mas parece ter qualidades para ser o ministro das Finanças de que o país precisa neste momento. Uma espécie de Ernâni Lopes "de saias". E que teremos Bagão Feliz no Emprego e Solidariedade Social. Devo dizer que considero a melhor escolha possível para o lugar pela sua seriedade, competência e capacidade de diálogo - inclusivé para estabelecer as indispensáveis pontes com o PS -, e pelo espírito de missão que mostrou ao aceitar mais estes anos de "serviço cívico" como ministro (é bom dizê-lo, com frontalidade: ao ir para o Governo viver com o ordenado correspondente, Bagão Feliz vai perder muito dinheiro por mês - como, de resto perderia qualquer das "estrelas" de que se falou durante a campanha eleitoral). E o que é que não sabemos? Não sabemos, de ciência certa, a composição final do executivo. E, por a desconhecermos, desconhecemos algo de essencial: qual o equilíbrio entre o rigor e o reformismo. Explicando melhor. Todos sabemos o estado em que estão as contas públicas (ou julgamos saber, porque podem estar bem pior). Todos sabemos por isso que vai ser necessário arrumar a casa, fechar a torneira, pedir sacrifícios. Nos últimos anos, o país e, sobretudo, o Estado, engordaram, cresceram, mas não se desenvolveram. Para que este "crescimento para os lados", esta engorda, se transforme em desenvolvimento saudável, faz falta ao país uma dieta de rigor. Ora fazer dieta custa, como sabem todos os que se deixaram engordar - mas pode compensar. Deve compensar O desafio do próximo Governo é, por isso, o de conseguir fazer a dieta, solicitar sacrifícios, mas fazê-lo em nome de um projecto reformista. Por outras palavras. Não chega rigor, tem de se evitar cortar a eito. Tem sim de se poupar no acessório para investir no essencial. A composição final do Governo dar-nos-á sinais cruciais sobre se vai ser este o caminho escolhido. Se for, justificar-se-á pedir hoje que se aperte o cinto para que amanhã todos vivamos melhor. Em suma: não basta uma "dama de ferro" nas Finanças, é também crucial gente com vontade, energia e visão reformadora. Gente capaz de devolver a esperança e a autoestima aos portugueses. Alguém que diga: "somos capazes, vamos a isto". Sem que do novo Governo venham tais sinais, o pessimismo manter-se-á, a crispação não tardará. E isso era o pior que nos poderia suceder. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE PSD-CDS/PP: Nova AD jura fidelidade

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TEXTO INTEGRAL DO DOCUMENTO: CONVERGÊNCIA DEMOCRÁTICA PARA UM GOVERNO DE LEGISLATURA

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