A via-sacra dos deficientes da Póvoa de Varzim

09-03-2001
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A Via-sacra dos Deficientes da Póvoa de Varzim

Por ÂNGELO TEIXEIRA MARQUES

Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2001

VáRIOS EDIFíCIOS PúBLICOS AINDA NãO FIZERAM OBRAS DE ADAPTAçãO PARA MELHORAR AS ACESSIBILIDADES. Juiz de muletas teve de subir 29 degraus para depor num julgamento.

Vários edifícios de serviços públicos existentes na Póvoa de Varzim ainda não executaram obras de adaptação para melhorarem as acessibilidade às pessoas com deficiências motoras. Está em vigor um decreto-lei, de 1997, que dá margem de manobra até 2004, para as instituições executarem as alterações necessárias, mas, enquanto isso, os problemas persistem.

Ângelo Morais, juiz do Tribunal de Círculo da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, fracturou uma perna e, recentemente, para não deixar prolongar ainda mais um caso que anda pelos tribunais há uma década, compareceu, ainda combalido, na sessão de alegações finais de um julgamento que o PÚBLICO noticiou. Os advogados de defesa dos arguidos e o procurador da República elogiaram, em plena sessão, a conduta do juiz que colocou o brio profissional à frente do sofrimento físico.

É que Ângelo Morais teve de subir, apoiado em muletas, os 29 degraus que separam a rua da sala de audiências. Confrontado pelo PÚBLICO, o juiz lamentou a inexistência, no Palácio da Justiça, de um elevador e acabou por retratar as dificuldades que se colocam aos demais cidadãos, com dificuldades de locomoção, e que têm de se deslocar ao tribunal.

Mas a própria via pública também tem "armadilhas", apesar do presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Macedo Vieira, ter garantido que, na elaboração dos projectos das obras públicas, é vincada a feitura de acessos para pessoas portadoras de deficiência. É até possível, assegura o autarca, a um cidadão que se faça transportar numa cadeira de rodas fazer um percurso de uma ponta à outra da cidade, utilizando as rampas de ligação entre os passeios.

Nessa situação encontra-se Manuel Moreira, residente na parte norte da cidade (Rua de Gomes de Amorim), que consegue chegar ao centro da cidade, nomeadamente à Rua da Junqueira, o principal eixo comercial. Há 27 anos que a cadeira de rodas se tornou o seu principal meio de locomoção e, desde então, tem chamado a atenção para as barreiras que vão surgindo pela cidade. A custo de "muitos telefonemas" e contactos pessoais com autarcas, comerciantes e bancários; o sócio n.º 573 da Associação Portuguesa de Deficientes já conseguiu que alguns obstáculos tenham sido eliminados. "Nunca desistirei", disse ao PÚBLICO aproveitando para divulgar dois casos recentes da criação de mais dificuldades que "servem como exemplo".

Manuel Moreira utilizava sempre a mesma caixa Multibanco presa à parede do Banco Pinto & Sotto Mayor, na Praça de Luís de Camões. Recentemente, quando regressou de um tratamento médico, reparou que a dependência bancária tinha sido remodelada e a caixa transferida para o interior do imóvel, sem uma rampa de acesso. No outro extremo da praça, as obras na via pública altearam o pavimento, ao ponto da cadeira de rodas se desequilibrar quando transpõe o inusitado obstáculo.

"Quando não vamos acompanhados, por vezes, é um martírio", salientou João Vilas Boas, um outro deficiente motor que se queixou sobretudo das barreiras existentes nos edifícios públicos (ver exemplos). Entre as diversas "situações caricatas" que já enfrentou recordou-se de uma em especial, pelo constrangimento causado: "No dia do meu casamento, em 1989, fui transportado ao colo para o interior da Igreja de S. José de Ribamar, que só tinha acesso através de escadas". As condições de circulação nos passeios "têm melhorado nos últimos anos", reconhece Vilas Boas, mas "ainda há muito a fazer".

"Sempre que é detectada uma situação de dificuldade, a câmara procura corrigi-la", assegurou Macedo Vieira, que se mostrou disposto a "breve prazo" a proceder a obras nos edifícios camarários que tenham barreiras arquitectónicas. Por outro lado, o vereador com o pelouro das Obras Particulares, Mário Jorge, afirmou ao PÚBLICO que a autarquia tem autorizado a colocação de rampas, mesmo à custa da diminuição do espaço público, no acesso a edifícios onde residam deficientes motores.

"Até decorrente da minha profissão [cirurgião], tenho uma sensibilidade especial para acolher as reivindicações de pessoas com dificuldades de locomoção", concluiu Macedo Vieira. Nesse sentido, a edilidade procedeu à substituição dos semáforos existentes no centro da cidade por outros que emitem sinais sonoros de aviso aos invisuais.

Ângelo Teixeira Marques

A Via-sacra dos Deficientes da Póvoa de Varzim

Por ÂNGELO TEIXEIRA MARQUES

Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2001

VáRIOS EDIFíCIOS PúBLICOS AINDA NãO FIZERAM OBRAS DE ADAPTAçãO PARA MELHORAR AS ACESSIBILIDADES. Juiz de muletas teve de subir 29 degraus para depor num julgamento.

Vários edifícios de serviços públicos existentes na Póvoa de Varzim ainda não executaram obras de adaptação para melhorarem as acessibilidade às pessoas com deficiências motoras. Está em vigor um decreto-lei, de 1997, que dá margem de manobra até 2004, para as instituições executarem as alterações necessárias, mas, enquanto isso, os problemas persistem.

Ângelo Morais, juiz do Tribunal de Círculo da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, fracturou uma perna e, recentemente, para não deixar prolongar ainda mais um caso que anda pelos tribunais há uma década, compareceu, ainda combalido, na sessão de alegações finais de um julgamento que o PÚBLICO noticiou. Os advogados de defesa dos arguidos e o procurador da República elogiaram, em plena sessão, a conduta do juiz que colocou o brio profissional à frente do sofrimento físico.

É que Ângelo Morais teve de subir, apoiado em muletas, os 29 degraus que separam a rua da sala de audiências. Confrontado pelo PÚBLICO, o juiz lamentou a inexistência, no Palácio da Justiça, de um elevador e acabou por retratar as dificuldades que se colocam aos demais cidadãos, com dificuldades de locomoção, e que têm de se deslocar ao tribunal.

Mas a própria via pública também tem "armadilhas", apesar do presidente da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Macedo Vieira, ter garantido que, na elaboração dos projectos das obras públicas, é vincada a feitura de acessos para pessoas portadoras de deficiência. É até possível, assegura o autarca, a um cidadão que se faça transportar numa cadeira de rodas fazer um percurso de uma ponta à outra da cidade, utilizando as rampas de ligação entre os passeios.

Nessa situação encontra-se Manuel Moreira, residente na parte norte da cidade (Rua de Gomes de Amorim), que consegue chegar ao centro da cidade, nomeadamente à Rua da Junqueira, o principal eixo comercial. Há 27 anos que a cadeira de rodas se tornou o seu principal meio de locomoção e, desde então, tem chamado a atenção para as barreiras que vão surgindo pela cidade. A custo de "muitos telefonemas" e contactos pessoais com autarcas, comerciantes e bancários; o sócio n.º 573 da Associação Portuguesa de Deficientes já conseguiu que alguns obstáculos tenham sido eliminados. "Nunca desistirei", disse ao PÚBLICO aproveitando para divulgar dois casos recentes da criação de mais dificuldades que "servem como exemplo".

Manuel Moreira utilizava sempre a mesma caixa Multibanco presa à parede do Banco Pinto & Sotto Mayor, na Praça de Luís de Camões. Recentemente, quando regressou de um tratamento médico, reparou que a dependência bancária tinha sido remodelada e a caixa transferida para o interior do imóvel, sem uma rampa de acesso. No outro extremo da praça, as obras na via pública altearam o pavimento, ao ponto da cadeira de rodas se desequilibrar quando transpõe o inusitado obstáculo.

"Quando não vamos acompanhados, por vezes, é um martírio", salientou João Vilas Boas, um outro deficiente motor que se queixou sobretudo das barreiras existentes nos edifícios públicos (ver exemplos). Entre as diversas "situações caricatas" que já enfrentou recordou-se de uma em especial, pelo constrangimento causado: "No dia do meu casamento, em 1989, fui transportado ao colo para o interior da Igreja de S. José de Ribamar, que só tinha acesso através de escadas". As condições de circulação nos passeios "têm melhorado nos últimos anos", reconhece Vilas Boas, mas "ainda há muito a fazer".

"Sempre que é detectada uma situação de dificuldade, a câmara procura corrigi-la", assegurou Macedo Vieira, que se mostrou disposto a "breve prazo" a proceder a obras nos edifícios camarários que tenham barreiras arquitectónicas. Por outro lado, o vereador com o pelouro das Obras Particulares, Mário Jorge, afirmou ao PÚBLICO que a autarquia tem autorizado a colocação de rampas, mesmo à custa da diminuição do espaço público, no acesso a edifícios onde residam deficientes motores.

"Até decorrente da minha profissão [cirurgião], tenho uma sensibilidade especial para acolher as reivindicações de pessoas com dificuldades de locomoção", concluiu Macedo Vieira. Nesse sentido, a edilidade procedeu à substituição dos semáforos existentes no centro da cidade por outros que emitem sinais sonoros de aviso aos invisuais.

Ângelo Teixeira Marques

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