"Discrição eficaz" no relacionamento com a Capital Europeia da Cultura

19-04-2001
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"Discrição Eficaz" no Relacionamento com a Capital Europeia da Cultura

Por INÊS NADAIS

Quinta-feira, 19 de Abril de 2001

Na sede da Capital Europeia da Cultura, o nome de José Sasportes não levanta grandes ondas. A gestão do actual ministro da Cultura tem sido pacífica e merece até um elogio discreto por parte de alguns responsáveis do Porto 2001. O que não é de estranhar, já que o antecessor de Sasportes provocou alguns terramotos numa fase crucial: o cepticismo exuberante de Manuel Maria Carrilho quanto à proporção do investimento na requalificação urbana e a sua insistência na vocação cultural do projecto, bem como divergências de fundo sobre o figurino da Sociedade Porto 2001, levaram Artur Santos Silva a demitir-se do cargo de comissário.

José Sasportes acabou por fazer a diferença num contexto em que o intervencionismo era a regra. É nesse sentido que vai o balanço avançado ao PÚBLICO por Paulo Cunha e Silva, o programador encarregado dos pelouros do Pensamento, Ciência e Literatura: "O ministro não tem interferido de modo negativo e criou condições para as pessoas trabalharem. A fase tumultuosa que atravessámos com o ministro anterior já terminou". Por isso, Cunha e Silva fala de "discrição eficaz" na maneira como Sasportes tem gerido a sua relação com a Capital Europeia da Cultura: "A partir do momento em que o Porto 2001 entrou em velocidade de cruzeiro, deixou de haver necessidade para uma intervenção tão assídua, ou pelo menos tão visível". A nomeação de uma responsável do gabinete do Ministério para o acompanhamento do projecto não funcionou sequer como uma forma de ingerência.

Pedro Burmester, membro da Comissão Executiva da Sociedade Porto 2001 e responsável pela Casa da Música, também avalia positivamente a entrada em cena do ministro: "Tem funcionado tudo muito bem. Não houve em relação à Capital Europeia da Cultura nenhuma mudança de atitude por parte do Governo: manteve-se o apoio, assim como o empenho na qualidade do projecto. Os compromissos foram honrados".

Mas a verdade é que Sasportes introduziu algumas novidades radicais no discurso sobre o papel do Estado na gestão da actividade cultural - e as reservas sugeridas em Agosto passado por ocasião de uma visita às obras da Capital Europeia da Cultura são disso um bom exemplo. Na altura, evitou a Casa da Música - "Neste momento, é só um buraco. Para quê ir lá ver?, não sou engenheiro civil...", justificou -, mas deixou bem claro que a sua principal dor de cabeça não ficava a dever-se aos compulsivos atrasos da empreitada. A sustentabilidade financeira dos equipamentos, num futuro pós-2001, mereceu-lhe alguns comentários que deixaram os responsáveis em estado de alerta: "Só a Casa da Música deverá custar, depois de pronta, cerca de 2,5 milhões de contos ao ano. O Estado não pode comprometer-se a sustentar todos os equipamentos que vão nascer - nesse caso, o Porto consumiria um quarto do orçamento de funcionamento do Ministério". O mote ficou dado, com o ministro a sugerir a procura de "formas alternativas de financiamento e partenariatos com a cidade" de maneira a reduzir a dependência face ao Estado.

O cenário, porém, já não é o mesmo. É pelo menos assim que pensa Pedro Burmester: "O ministro precisou de algum tempo para inteirar-se do projecto, e talvez essas afirmações iniciais tenham decorrido do seu desconhecimento quanto aos detalhes da Casa da Música". Entretanto, defende, "o discurso alterou-se profundamente e o Ministério da Cultura mostra confiança no projecto: creio que o tem como um dos principais equipamentos culturais do país". A hora actual é, por isso, de intensivo "diálogo", até porque, lembra o responsável pela Casa da Música: "Neste momento estamos a tentar que o Estado garanta o programa-base e viabilize os seus objectivos, sendo evidente que o ideal para o Estado, e para o próprio projecto, é que se possa contar com outras formas de financiamento. Creio, porém, que o Ministério está ciente de que uma das principais fontes de financiamento terá de ser o Estado". O esforço para encontrar parceiros alternativos, garante, não está a ser descurado.

"Discrição Eficaz" no Relacionamento com a Capital Europeia da Cultura

Por INÊS NADAIS

Quinta-feira, 19 de Abril de 2001

Na sede da Capital Europeia da Cultura, o nome de José Sasportes não levanta grandes ondas. A gestão do actual ministro da Cultura tem sido pacífica e merece até um elogio discreto por parte de alguns responsáveis do Porto 2001. O que não é de estranhar, já que o antecessor de Sasportes provocou alguns terramotos numa fase crucial: o cepticismo exuberante de Manuel Maria Carrilho quanto à proporção do investimento na requalificação urbana e a sua insistência na vocação cultural do projecto, bem como divergências de fundo sobre o figurino da Sociedade Porto 2001, levaram Artur Santos Silva a demitir-se do cargo de comissário.

José Sasportes acabou por fazer a diferença num contexto em que o intervencionismo era a regra. É nesse sentido que vai o balanço avançado ao PÚBLICO por Paulo Cunha e Silva, o programador encarregado dos pelouros do Pensamento, Ciência e Literatura: "O ministro não tem interferido de modo negativo e criou condições para as pessoas trabalharem. A fase tumultuosa que atravessámos com o ministro anterior já terminou". Por isso, Cunha e Silva fala de "discrição eficaz" na maneira como Sasportes tem gerido a sua relação com a Capital Europeia da Cultura: "A partir do momento em que o Porto 2001 entrou em velocidade de cruzeiro, deixou de haver necessidade para uma intervenção tão assídua, ou pelo menos tão visível". A nomeação de uma responsável do gabinete do Ministério para o acompanhamento do projecto não funcionou sequer como uma forma de ingerência.

Pedro Burmester, membro da Comissão Executiva da Sociedade Porto 2001 e responsável pela Casa da Música, também avalia positivamente a entrada em cena do ministro: "Tem funcionado tudo muito bem. Não houve em relação à Capital Europeia da Cultura nenhuma mudança de atitude por parte do Governo: manteve-se o apoio, assim como o empenho na qualidade do projecto. Os compromissos foram honrados".

Mas a verdade é que Sasportes introduziu algumas novidades radicais no discurso sobre o papel do Estado na gestão da actividade cultural - e as reservas sugeridas em Agosto passado por ocasião de uma visita às obras da Capital Europeia da Cultura são disso um bom exemplo. Na altura, evitou a Casa da Música - "Neste momento, é só um buraco. Para quê ir lá ver?, não sou engenheiro civil...", justificou -, mas deixou bem claro que a sua principal dor de cabeça não ficava a dever-se aos compulsivos atrasos da empreitada. A sustentabilidade financeira dos equipamentos, num futuro pós-2001, mereceu-lhe alguns comentários que deixaram os responsáveis em estado de alerta: "Só a Casa da Música deverá custar, depois de pronta, cerca de 2,5 milhões de contos ao ano. O Estado não pode comprometer-se a sustentar todos os equipamentos que vão nascer - nesse caso, o Porto consumiria um quarto do orçamento de funcionamento do Ministério". O mote ficou dado, com o ministro a sugerir a procura de "formas alternativas de financiamento e partenariatos com a cidade" de maneira a reduzir a dependência face ao Estado.

O cenário, porém, já não é o mesmo. É pelo menos assim que pensa Pedro Burmester: "O ministro precisou de algum tempo para inteirar-se do projecto, e talvez essas afirmações iniciais tenham decorrido do seu desconhecimento quanto aos detalhes da Casa da Música". Entretanto, defende, "o discurso alterou-se profundamente e o Ministério da Cultura mostra confiança no projecto: creio que o tem como um dos principais equipamentos culturais do país". A hora actual é, por isso, de intensivo "diálogo", até porque, lembra o responsável pela Casa da Música: "Neste momento estamos a tentar que o Estado garanta o programa-base e viabilize os seus objectivos, sendo evidente que o ideal para o Estado, e para o próprio projecto, é que se possa contar com outras formas de financiamento. Creio, porém, que o Ministério está ciente de que uma das principais fontes de financiamento terá de ser o Estado". O esforço para encontrar parceiros alternativos, garante, não está a ser descurado.

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