Suplemento Mil Folhas

15-02-2002
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Ensaio Geral

Por MÁRIO SANTOS

Sábado, 2 de Fevereiro de 2002

Para começar não está mal: Cavaco Silva publica na Temas e Debates a sua "Autobiografia Política" e o físico António Manuel Baptista publica na Gradiva "Discurso Pós-Moderno Contra a Ciência - Obscurantismo e Irresponsabilidade Intelectuais", uma "resposta" previsivelmente polémica ao sociólogo Boaventura de Sousa Santos. São dois livros que chegam para alimentar discussões e muitas especulações. Sem qualquer dúvida, apostamos mais no segundo, pela relevância conceptual daquilo que está em jogo. Veremos. Mas como estes dois títulos já devem estar nas livrarias, passamos em voo panorâmico a destacar alguns dos ensaios que deverão ser publicados em português no primeiro semestre deste ano (e voltamos a sublinhar que são apenas destaques de uma selecção).

Prosseguindo um notabilíssimo trabalho, a Relógio D'Água vai editar mais três livros de George Steiner: "Gramáticas da Criação", o mais recente (saiu no ano passado), é uma meditação sobre o sentido e o destino da criação artística e literária num mundo dominado pela invenção científica e tecnológica e o que podemos dizer aqui é que o mais fascinante crítico e ensaísta literário contemporâneo é um pessimista melancólico, mas o seu pessimismo é redentor; "Paixão Intacta", que reúne textos escritos entre 1978 e 1995; e o mais antigo e já clássico "Depois de Babel", sobre um tema infinito, a tradução.

Na área da teoria ou da história literária e artística, da estética em geral, chame-se também a atenção para o livro de Mirella Bandini "O Estético e o Político - De Cobra à Internacional Situacionista (1948-1957)", a ser editado pela Antígona. Além de tentar fazer uma história "interior" do movimento de Guy Debord, Bandini colige e apresenta um conjunto de textos difíceis de encontrar e alguns inéditos, nomeadamente cartas.

No ano passado foram publicados nos Estados Unidos e depois em Espanha os textos "esquecidos" de umas conferências sobre poesia que Jorge Luis Borges deu na Universidade de Harvard e que são pertinentes para a compreensão da poética borgesiana e, em qualquer caso, imperdíveis para os viciados. Vão chegar em Março a Portugal, pela mão da Teorema, sob o título "O Ofício de Poeta". E por falar em Borges, a Assírio & Alvim também vai editar o seu: intitula-se "Borges Verbal" e é uma compilação de citações, organizada sob a forma de dicionário, retiradas de artigos de imprensa.

Empreendimentos raros na edição portuguesa são os volumosos e utilíssimos dicionários que a Caminho vem dedicando a temas e autores (o Romantismo, a literatura galego-portuguesa, Eça, Camilo...). A mesma editora vai publicar agora (em Junho) um "Dicionário das Personagens de Camilo" (que completará o anterior, dedicado ao escritor, e que nos parecia menos exaustivo do que aquele dedicado a Eça). Em Maio publicará "A Sinfonia em Portugal", de Alexandre Delgado. A escassíssima produção teórica ou histórica sobre música em Portugal e o autor deste ensaio são motivos suficientes para sublinhar o feito. Que também deve ser sublinhado no caso da Afrontamento, que vai publicar um livro intitulado "Sobre Música", de António Pinho Vargas. Na Caminho sairá também o volume VI do diário de José Saramago, "Cadernos de Lanzarote", além do estudo clássico de Giuseppe Tavani sobre "Trovadores e Jograis". Falando em "clássicos", a Gradiva vai reeditar "Poesia e Metafísica", de Eduardo Lourenço, muito aconselhável para quem ainda (?) se interesse por Camões, Antero ou Pessoa. A Campo das Letras vai publicar um "Dicionário da Literatura Infantil Portuguesa", de Garcia Barreto, e uma colectânea de crónicas literárias de Fernando Venâncio intitulada "Maquinações e Bons Sentimentos". Na Temas e Debates, Eduardo Pitta também colige crónicas e críticas sob o título "A Comenda de Fogo". Mas nesta editora destacaríamos (mais para o lado da filosofia) um livro intitulado "História da Retórica", entre cujos autores estão Michel Meyer e Manuel Maria Carrilho. A Difel vai publicar "O Meio Literário em Portugal", de João Pedro George.

Está interessado em filosofia pura e dura, antropologia, psicanálise? Vá pelas Edições 70, por exemplo, que vão publicar "Racionalidade e Comunicação", de Jürgen Habermas, "Cadernos 1914-1918", de Wittgenstein, "Lições de Sociologia", de Theodor Adorno, e "Ideias Para uma Psicologia Descritiva e Analítica", de Wilhelm Dilthey, entre outros. Na Assírio & Alvim sairão "A Arte dos Sonhos", um ensaio de antropologia de Aristóteles Barcelos Neto, "Sonhos, Ilusão e Outras Realidades", de uma especialista em mitologia hindu, Wendy Doninger, e "O Eu e o Outro - Textos Essenciais em Psicanálise da Infância", de Teressa Ferreira. No âmbito da filosofia política, deve destacar-se o livro de Hannah Arendt que a Relógio D'Água vai publicar: "Sobre a Revolução", uma reflexão fundamental sobre a política e a liberdade, a partir dos destinos diferentes que tiveram a Revolução Francesa e a Americana. A ter em atenção, na Temas e Debates: "As Ligações de Deleuze", de John Rajchman.

Seguem-se notícias para a estante da história e das biografias. A Bertrand editará biografias de Norton de Matos, de Churchill e da Rainha Vitória. Refira-se que a primeira é escrita por um sobrinho-neto do biografado, José Norton. Na Quetzal sairá uma biografia de Mao Zedong escrita por Jung Chang (a autora do bestseller "Cisnes Selvagens"). E também "Incursões Monárquicas - Memórias da Condessa de Mangualde", de Maria Teresa Albuquerque, uma revisitação da reacção anti-republicana em Portugal, prefaciada por Vasco Pulido Valente. Deste último, a Gótica vai publicar em Maio "Marcello Caetano - As Desventuras da Razão". António Borges Coelho publica na Caminho "A Inquisição de Évora"

Passando àquela zona que recobre o político e o social, em sentido abrangente, ou a "actualidade" nos seus contornos intemporais. A Editorial Notícias vai publicar: um "Dicionário do Islão", de Margarida Santos Lopes; "O Mistério do Capital", de Hernando de Soto, o peruano que a "Time" considerou ser um dos cinco mais importantes inovadores do século XX na América Latina, e que deve interessar a quem se interessa pela riqueza e pela pobreza das nações; "Tecnognose", de Erik Davis, que pode interessar a quem se interessa pelo "misticismo" em que boiam a cibercultura e a tecnocultura; e o último (sai este mês em França) de Pascal Bruckner, "A Euforia Perpétua". A Relógio D'Água vai publicar "No Logo", de Naomi Klein, que é uma espécie de manifesto político contra as ilusões da "globalização"; e "Armas, Germes e Aço", de Jared Diamond (com prefácio de António Barreto), um professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia que tem uma peculiar teoria sobre as razões do sucesso histórico daquilo a que costumamos chamar a "civilização ocidental". A Quetzal vai publicar: "A Nossa Sociedade Pós-Humana", de Francis Fukuyama, uma interpelação sobre as consequências possíveis da revolução biotecnológica em curso; e "O Império da Fast Food", de Eric Schlosser, também um crítico da globalização. Talvez se possa ler "ao mesmo tempo" o livro de H. E. Jacob que a Antígona vai publicar, "Seis Mil Anos de História do Pão". E sem dúvida aqui, em pleno centro da actualidade, caberá o verdadeiro clássico de há muitos, muitos séculos, a ser editado pela Frenesi, em nova tradução: "A Arte da Guerra", de Sun Wu.

Quase em P. S., citem-se, em paralelo, "Elogio da Velhice", de Hermann Hesse, na Difel, e "A Magia Sexual", de Alexandrian, na Antígona. Que lhes parece?

Mário Santos

Ensaio Geral

Por MÁRIO SANTOS

Sábado, 2 de Fevereiro de 2002

Para começar não está mal: Cavaco Silva publica na Temas e Debates a sua "Autobiografia Política" e o físico António Manuel Baptista publica na Gradiva "Discurso Pós-Moderno Contra a Ciência - Obscurantismo e Irresponsabilidade Intelectuais", uma "resposta" previsivelmente polémica ao sociólogo Boaventura de Sousa Santos. São dois livros que chegam para alimentar discussões e muitas especulações. Sem qualquer dúvida, apostamos mais no segundo, pela relevância conceptual daquilo que está em jogo. Veremos. Mas como estes dois títulos já devem estar nas livrarias, passamos em voo panorâmico a destacar alguns dos ensaios que deverão ser publicados em português no primeiro semestre deste ano (e voltamos a sublinhar que são apenas destaques de uma selecção).

Prosseguindo um notabilíssimo trabalho, a Relógio D'Água vai editar mais três livros de George Steiner: "Gramáticas da Criação", o mais recente (saiu no ano passado), é uma meditação sobre o sentido e o destino da criação artística e literária num mundo dominado pela invenção científica e tecnológica e o que podemos dizer aqui é que o mais fascinante crítico e ensaísta literário contemporâneo é um pessimista melancólico, mas o seu pessimismo é redentor; "Paixão Intacta", que reúne textos escritos entre 1978 e 1995; e o mais antigo e já clássico "Depois de Babel", sobre um tema infinito, a tradução.

Na área da teoria ou da história literária e artística, da estética em geral, chame-se também a atenção para o livro de Mirella Bandini "O Estético e o Político - De Cobra à Internacional Situacionista (1948-1957)", a ser editado pela Antígona. Além de tentar fazer uma história "interior" do movimento de Guy Debord, Bandini colige e apresenta um conjunto de textos difíceis de encontrar e alguns inéditos, nomeadamente cartas.

No ano passado foram publicados nos Estados Unidos e depois em Espanha os textos "esquecidos" de umas conferências sobre poesia que Jorge Luis Borges deu na Universidade de Harvard e que são pertinentes para a compreensão da poética borgesiana e, em qualquer caso, imperdíveis para os viciados. Vão chegar em Março a Portugal, pela mão da Teorema, sob o título "O Ofício de Poeta". E por falar em Borges, a Assírio & Alvim também vai editar o seu: intitula-se "Borges Verbal" e é uma compilação de citações, organizada sob a forma de dicionário, retiradas de artigos de imprensa.

Empreendimentos raros na edição portuguesa são os volumosos e utilíssimos dicionários que a Caminho vem dedicando a temas e autores (o Romantismo, a literatura galego-portuguesa, Eça, Camilo...). A mesma editora vai publicar agora (em Junho) um "Dicionário das Personagens de Camilo" (que completará o anterior, dedicado ao escritor, e que nos parecia menos exaustivo do que aquele dedicado a Eça). Em Maio publicará "A Sinfonia em Portugal", de Alexandre Delgado. A escassíssima produção teórica ou histórica sobre música em Portugal e o autor deste ensaio são motivos suficientes para sublinhar o feito. Que também deve ser sublinhado no caso da Afrontamento, que vai publicar um livro intitulado "Sobre Música", de António Pinho Vargas. Na Caminho sairá também o volume VI do diário de José Saramago, "Cadernos de Lanzarote", além do estudo clássico de Giuseppe Tavani sobre "Trovadores e Jograis". Falando em "clássicos", a Gradiva vai reeditar "Poesia e Metafísica", de Eduardo Lourenço, muito aconselhável para quem ainda (?) se interesse por Camões, Antero ou Pessoa. A Campo das Letras vai publicar um "Dicionário da Literatura Infantil Portuguesa", de Garcia Barreto, e uma colectânea de crónicas literárias de Fernando Venâncio intitulada "Maquinações e Bons Sentimentos". Na Temas e Debates, Eduardo Pitta também colige crónicas e críticas sob o título "A Comenda de Fogo". Mas nesta editora destacaríamos (mais para o lado da filosofia) um livro intitulado "História da Retórica", entre cujos autores estão Michel Meyer e Manuel Maria Carrilho. A Difel vai publicar "O Meio Literário em Portugal", de João Pedro George.

Está interessado em filosofia pura e dura, antropologia, psicanálise? Vá pelas Edições 70, por exemplo, que vão publicar "Racionalidade e Comunicação", de Jürgen Habermas, "Cadernos 1914-1918", de Wittgenstein, "Lições de Sociologia", de Theodor Adorno, e "Ideias Para uma Psicologia Descritiva e Analítica", de Wilhelm Dilthey, entre outros. Na Assírio & Alvim sairão "A Arte dos Sonhos", um ensaio de antropologia de Aristóteles Barcelos Neto, "Sonhos, Ilusão e Outras Realidades", de uma especialista em mitologia hindu, Wendy Doninger, e "O Eu e o Outro - Textos Essenciais em Psicanálise da Infância", de Teressa Ferreira. No âmbito da filosofia política, deve destacar-se o livro de Hannah Arendt que a Relógio D'Água vai publicar: "Sobre a Revolução", uma reflexão fundamental sobre a política e a liberdade, a partir dos destinos diferentes que tiveram a Revolução Francesa e a Americana. A ter em atenção, na Temas e Debates: "As Ligações de Deleuze", de John Rajchman.

Seguem-se notícias para a estante da história e das biografias. A Bertrand editará biografias de Norton de Matos, de Churchill e da Rainha Vitória. Refira-se que a primeira é escrita por um sobrinho-neto do biografado, José Norton. Na Quetzal sairá uma biografia de Mao Zedong escrita por Jung Chang (a autora do bestseller "Cisnes Selvagens"). E também "Incursões Monárquicas - Memórias da Condessa de Mangualde", de Maria Teresa Albuquerque, uma revisitação da reacção anti-republicana em Portugal, prefaciada por Vasco Pulido Valente. Deste último, a Gótica vai publicar em Maio "Marcello Caetano - As Desventuras da Razão". António Borges Coelho publica na Caminho "A Inquisição de Évora"

Passando àquela zona que recobre o político e o social, em sentido abrangente, ou a "actualidade" nos seus contornos intemporais. A Editorial Notícias vai publicar: um "Dicionário do Islão", de Margarida Santos Lopes; "O Mistério do Capital", de Hernando de Soto, o peruano que a "Time" considerou ser um dos cinco mais importantes inovadores do século XX na América Latina, e que deve interessar a quem se interessa pela riqueza e pela pobreza das nações; "Tecnognose", de Erik Davis, que pode interessar a quem se interessa pelo "misticismo" em que boiam a cibercultura e a tecnocultura; e o último (sai este mês em França) de Pascal Bruckner, "A Euforia Perpétua". A Relógio D'Água vai publicar "No Logo", de Naomi Klein, que é uma espécie de manifesto político contra as ilusões da "globalização"; e "Armas, Germes e Aço", de Jared Diamond (com prefácio de António Barreto), um professor da Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia que tem uma peculiar teoria sobre as razões do sucesso histórico daquilo a que costumamos chamar a "civilização ocidental". A Quetzal vai publicar: "A Nossa Sociedade Pós-Humana", de Francis Fukuyama, uma interpelação sobre as consequências possíveis da revolução biotecnológica em curso; e "O Império da Fast Food", de Eric Schlosser, também um crítico da globalização. Talvez se possa ler "ao mesmo tempo" o livro de H. E. Jacob que a Antígona vai publicar, "Seis Mil Anos de História do Pão". E sem dúvida aqui, em pleno centro da actualidade, caberá o verdadeiro clássico de há muitos, muitos séculos, a ser editado pela Frenesi, em nova tradução: "A Arte da Guerra", de Sun Wu.

Quase em P. S., citem-se, em paralelo, "Elogio da Velhice", de Hermann Hesse, na Difel, e "A Magia Sexual", de Alexandrian, na Antígona. Que lhes parece?

Mário Santos

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