Acho que Carrilho foi um bom ministro da Cultura

27-08-2001
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Acho Que Carrilho Foi Um Bom Ministro da Cultura

Segunda-feira, 27 de Agosto de 2001

P - A sua experiência governativa agradou-lhe?

R - Bastante.

P - Porquê? Já tinha pensado na hipótese de entrar no governo?

R - Quando o ministro me convidou disse-lhe que o meu projecto principal era ser mãe. E fiquei à espera de criança um mês depois.

P - Foi por causa disso que ficou naquela bizarra situação de secretária de Estado sem pelouros?

R - Há várias maneiras de repartir as tarefas entre um ministro e o secretário de Estado. Eu tinha trabalhado no gabinete com o Manuel Carrilho, tinha um conhecimento alargado das questões. Por outro lado, a área que dominava melhor, em termos de especialização, era a das Artes do Espectáculo, até porque tinha tido uma experiência no Fórum Dança. Na situação em que se encontrava o Ministério da Cultura (já tinham passado dois anos, os vários organismos começavam a funcionar em velocidade de cruzeiro) era mais importante ter uma articulação forte a nível dos gabinetes e de coordenação da intervenção a nível sectorial, que estava a cargo dos diferentes organismos. Apesar do ministério ter um orçamento reduzido, tem um número de serviços e direcções gerais muitíssimo elevado.

P - Contam-se pelos dedos de uma mão os discursos que fez. Não gosta de aparecer em público?

R - Não tendo eu uma área de intervenção específica e na qual tivesse competências exclusivas, acho que faz sentido caber ao ministro toda a parte de intervenção...

P - ...pública, de que ele gostava. Foi portanto um encontro de dois gostos?

R - Exactamente. Foi uma coisa completamente pacífica.

P - O que é que acha que fez melhor no seu mandato?

R - Tive uma grande intervenção na montagem e definição das políticas do Instituto Português das Artes do Espectáculo, que foi o último organismo a ser criado. Também gostei de toda a parte de relacionamento com os outros ministérios, nomeadamente com os da educação, do Trabalho e da Economia. Sendo uma questão difícil a da dimensão económica dos bens culturais e da cultura, fizemos um trabalho de abrir os incentivos do ministério às indústrias do livro, do audiovisual e assim conseguir um reconhecimento pelo lado da economia da importância da cultura enquanto factor de desenvolvimento. A preparação e coordenação da Presidência da União Europeia no sector da Cultura foi também um a tarefa que gostei de fazer.

P - Um dos problemas recorrentes do MC é a questão dos subsídios. Como é que se pode conciliar a necessidade de apoio a grupos de teatro, cinema, etc, com a necessidade de contrariar uma cultura de subsídio-dependência?

R Essa questão tem sido muito pouco clarificada em termos públicos. Os bens culturais hoje estão também inseridos numa lógica de mercado. Mas esta não permite que os bens culturais cheguem aos cidadãos em toda a sua diversidade. É por isso que a intervenção do Estado é importante. E é sempre importante. Há diferenças de sector para sector - os livros, a edição, têm formas de rentabilização diferentes das artes do espectáculo, que são acontecimentos efémeros que acontecem uma, duas, três vezes, uma semana, um mês, mas depois desaparecem - e a intervenção do Estado justifica-se para suprir essas condições e insuficiências do mercado.

P - O problema é o ponto de equilíbrio.

R - Exactamente. Uma das acções mais importantes do MC - tarefa árdua mas que não pode ser abandonada - é a de promover o reconhecimento da cultura como um bem para a comunidade. A cultura sempre foi vista entre nós como dirigindo-se a um pequeno número de pessoas, levando a que se olhe para ela como uma actividade em que se desperdiça o erário público. O que se tentou fazer, nomeadamente através de uma abordagem comunicacional (alvo de críticas, mas eu acho que injustas) foi levar o teatro, a dança, a música, a poesia às pessoas de forma a que houvesse um reconhecimento pela comunidade da valia desses bens. A celebração, por exemplo, dos Dias Mundiais era neste contexto muito importante. No início, o ministério era o único promotor destas celebrações. Actualmente há numerosas instituições e agentes culturais que têm programas especiais nestes dias.

P - Mesmo assim foram alvo de bastantes críticas por parte dos agentes culturais.

R - Há sempre críticas. Até porque há um grau de subjectividade, por mais regulamentos que se arranjem. O esforço que se fez foi o de tentar encontrar critérios tão objectivos quanto possível, mas isso é muito complicado. Pela matéria em si e pela escassez de técnicos qualificados nesta área na nossa Administração Pública. Como há, por exemplo, em França.

P - Manuel Maria Carrilho foi um bom ministro da Cultura?

R - Eu acho que sim. Enquanto estive no Ministério partilhava e fui co-responsável da visão que nele havia para a Cultura em Portugal.

Acho Que Carrilho Foi Um Bom Ministro da Cultura

Segunda-feira, 27 de Agosto de 2001

P - A sua experiência governativa agradou-lhe?

R - Bastante.

P - Porquê? Já tinha pensado na hipótese de entrar no governo?

R - Quando o ministro me convidou disse-lhe que o meu projecto principal era ser mãe. E fiquei à espera de criança um mês depois.

P - Foi por causa disso que ficou naquela bizarra situação de secretária de Estado sem pelouros?

R - Há várias maneiras de repartir as tarefas entre um ministro e o secretário de Estado. Eu tinha trabalhado no gabinete com o Manuel Carrilho, tinha um conhecimento alargado das questões. Por outro lado, a área que dominava melhor, em termos de especialização, era a das Artes do Espectáculo, até porque tinha tido uma experiência no Fórum Dança. Na situação em que se encontrava o Ministério da Cultura (já tinham passado dois anos, os vários organismos começavam a funcionar em velocidade de cruzeiro) era mais importante ter uma articulação forte a nível dos gabinetes e de coordenação da intervenção a nível sectorial, que estava a cargo dos diferentes organismos. Apesar do ministério ter um orçamento reduzido, tem um número de serviços e direcções gerais muitíssimo elevado.

P - Contam-se pelos dedos de uma mão os discursos que fez. Não gosta de aparecer em público?

R - Não tendo eu uma área de intervenção específica e na qual tivesse competências exclusivas, acho que faz sentido caber ao ministro toda a parte de intervenção...

P - ...pública, de que ele gostava. Foi portanto um encontro de dois gostos?

R - Exactamente. Foi uma coisa completamente pacífica.

P - O que é que acha que fez melhor no seu mandato?

R - Tive uma grande intervenção na montagem e definição das políticas do Instituto Português das Artes do Espectáculo, que foi o último organismo a ser criado. Também gostei de toda a parte de relacionamento com os outros ministérios, nomeadamente com os da educação, do Trabalho e da Economia. Sendo uma questão difícil a da dimensão económica dos bens culturais e da cultura, fizemos um trabalho de abrir os incentivos do ministério às indústrias do livro, do audiovisual e assim conseguir um reconhecimento pelo lado da economia da importância da cultura enquanto factor de desenvolvimento. A preparação e coordenação da Presidência da União Europeia no sector da Cultura foi também um a tarefa que gostei de fazer.

P - Um dos problemas recorrentes do MC é a questão dos subsídios. Como é que se pode conciliar a necessidade de apoio a grupos de teatro, cinema, etc, com a necessidade de contrariar uma cultura de subsídio-dependência?

R Essa questão tem sido muito pouco clarificada em termos públicos. Os bens culturais hoje estão também inseridos numa lógica de mercado. Mas esta não permite que os bens culturais cheguem aos cidadãos em toda a sua diversidade. É por isso que a intervenção do Estado é importante. E é sempre importante. Há diferenças de sector para sector - os livros, a edição, têm formas de rentabilização diferentes das artes do espectáculo, que são acontecimentos efémeros que acontecem uma, duas, três vezes, uma semana, um mês, mas depois desaparecem - e a intervenção do Estado justifica-se para suprir essas condições e insuficiências do mercado.

P - O problema é o ponto de equilíbrio.

R - Exactamente. Uma das acções mais importantes do MC - tarefa árdua mas que não pode ser abandonada - é a de promover o reconhecimento da cultura como um bem para a comunidade. A cultura sempre foi vista entre nós como dirigindo-se a um pequeno número de pessoas, levando a que se olhe para ela como uma actividade em que se desperdiça o erário público. O que se tentou fazer, nomeadamente através de uma abordagem comunicacional (alvo de críticas, mas eu acho que injustas) foi levar o teatro, a dança, a música, a poesia às pessoas de forma a que houvesse um reconhecimento pela comunidade da valia desses bens. A celebração, por exemplo, dos Dias Mundiais era neste contexto muito importante. No início, o ministério era o único promotor destas celebrações. Actualmente há numerosas instituições e agentes culturais que têm programas especiais nestes dias.

P - Mesmo assim foram alvo de bastantes críticas por parte dos agentes culturais.

R - Há sempre críticas. Até porque há um grau de subjectividade, por mais regulamentos que se arranjem. O esforço que se fez foi o de tentar encontrar critérios tão objectivos quanto possível, mas isso é muito complicado. Pela matéria em si e pela escassez de técnicos qualificados nesta área na nossa Administração Pública. Como há, por exemplo, em França.

P - Manuel Maria Carrilho foi um bom ministro da Cultura?

R - Eu acho que sim. Enquanto estive no Ministério partilhava e fui co-responsável da visão que nele havia para a Cultura em Portugal.

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