Carta aberta a Manuel Maria Carrilho

12-07-2001
marcar artigo

OPINIÃO

Carta Aberta a Manuel Maria Carrilho

Por JOAQUIM SARMENTO

Quinta, 12 de Julho de 2001 Acompanhei solidariamente o magistério político e cultural do doutor Carrilho, enquanto ministro da Cultura. E, a esse nível, considero o balanço da sua prestação ministerial francamente positivo. E, em consonância com esse juízo, defendi-o, com acutilância e entusiasmo, na legislatura anterior, enquanto deputado à Assembleia da República, perante a indiferença e até hostilidade dos meus (nossos) pares e a oposição cerrada dos adversários políticos, que não suportavam o seu estilo, a sua postura e a sua polémica verbal e académica. O doutor Carrilho, após o seu ruidoso abandono governamental, manteve coerentemente esses coágulos e esses estados de alma que o caracterizam, mas agora direccionados em sentido diametralmente oposto. Quando era ministro, chegou a verberar violentamente Marcelo Rebelo de Sousa e Manuel Alegre. As suas declarações políticas representavam sempre um ataque demolidor às hostes adversárias. Às vezes parecia acometido dum ataque de esquizofrenia guterrista, tal era o vigor litúrgico com que defendia os Estados Gerais e o Governo. Hoje é o que sabemos. O doutor Carrilho já não é ministro da Cultura e as leis da natureza como que se alteraram radicalmente. Não é o doutor Carrilho quem anda à volta do sol, é o sol que gira em torno do doutor Carrilho. Subvertidos os apoios e os émulos, o que outrora reluzia passou agora a um quadro de sombras. O que no passado era paixão transformou-se no presente num desconstrucionismo de ódio. O doutor Carrilho tem o direito de criticar e de dialogar somente com os ecrãs das televisões e as colunas dos jornais e de entornar o seu fulgor intelectual em revistas "passerelle" das "Lilis Caneças". Mas o seu "a priori" não pode arrancar o asfalto dos deveres. E nestes perpassam as suas responsabilidades como militante do PS e deputado da nova maioria. Não é forçoso que tenha de continuar a ser militante socialista, mas sendo-o deveria saber que um partido democrático não é apenas um espaço de reflexão e de crítica, é também um espaço de afectos, os quais se cimentam nos valores e no ideário do seu programa, no combate colegial pela concretização dum projecto que aglutine militantes de base e dirigentes. E quando o doutor Carrilho refere em recente entrevista à PÚBLICA que António Guterres não tem perfil nem competência para ser primeiro-ministro e secretário-geral do PS, afirmações que repudio e que constituem uma enormidade e uma colossal provocação, está a ofender e a sopesar a carga afectiva, por mais frágil que seja, dum partido que consubstancia uma família ideológica e doutrinária. Está a assassinar a ética da responsabilidade e a subverter à luz duma pretensa liberdade opinativa o respeito (pelo menos este) que nos deve merecer quem recebeu um mandato popular e foi sufragado pela maioria esmagadora dos militantes no último congresso. O doutor Carrilho não criticou Guterres, tentou apedrejá-lo, com o aplauso de toda a direita. E tal é imperdoável. E não sou dos seguem a máxima de Cícero, "aconselho a criticarmos os nossos em privado e a elogiá-los em público". Não se trata disso. O doutor Carrilho feriu o orgulho afectivo do PS, vilipendiou o seu líder e encheu de júbilo os Portas e os Barrosos da arena política adversária. O doutor Carrilho, deslumbrado com o seu "ego", está a tornar-se no "inocente útil" da direita portuguesa. Estas considerações não são um anátema, nem a expressão de qualquer beatitude fora do tempo democrático em que vivemos. São a sincera reprodução duma voz que se situa entre o aparelhismo e o carrilhismo, entre a subserviência e a irreverência sem termómetro, entre a obediência canina e a heterodoxia sem afecto. É neste espaço que a inteligência e a cultura podem criar raízes, é neste espaço que se pode e deve ser livre, sem constrangimentos individuais ou cumplicidades espúrias com a futilidade dos "media". O doutor Carrilho, que podia aspirar a ser um "Siegfried" ou um "Fabrício del Dongo", está a transformar-se, estranhamente, num "Frankenstein", devorador do PS, dos seus admiradores e dos seus amigos. Estes poderão sempre , contudo, dizer: "Perca-se o amigo, salve-se o desabafo." Deputado do PS e presidente da Assembleia Municipal de Lamego OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Governo manipula números sobre gastos na Defesa

Avaliação de contrapartidas suscita nova discussão

Coluna de abertura

Magistratura quer ouvir juíza da Moderna

Resmas comunistas no Campo Grande

A engenheira que não sabia nada

Governo aprova "critérios e métodos" da reforma da despesa

Escolha do candidato lança confusão no PS da Figueira da Foz

OPINIÃO Carta aberta a Manuel Maria Carrilho

OPINIÃO

Carta Aberta a Manuel Maria Carrilho

Por JOAQUIM SARMENTO

Quinta, 12 de Julho de 2001 Acompanhei solidariamente o magistério político e cultural do doutor Carrilho, enquanto ministro da Cultura. E, a esse nível, considero o balanço da sua prestação ministerial francamente positivo. E, em consonância com esse juízo, defendi-o, com acutilância e entusiasmo, na legislatura anterior, enquanto deputado à Assembleia da República, perante a indiferença e até hostilidade dos meus (nossos) pares e a oposição cerrada dos adversários políticos, que não suportavam o seu estilo, a sua postura e a sua polémica verbal e académica. O doutor Carrilho, após o seu ruidoso abandono governamental, manteve coerentemente esses coágulos e esses estados de alma que o caracterizam, mas agora direccionados em sentido diametralmente oposto. Quando era ministro, chegou a verberar violentamente Marcelo Rebelo de Sousa e Manuel Alegre. As suas declarações políticas representavam sempre um ataque demolidor às hostes adversárias. Às vezes parecia acometido dum ataque de esquizofrenia guterrista, tal era o vigor litúrgico com que defendia os Estados Gerais e o Governo. Hoje é o que sabemos. O doutor Carrilho já não é ministro da Cultura e as leis da natureza como que se alteraram radicalmente. Não é o doutor Carrilho quem anda à volta do sol, é o sol que gira em torno do doutor Carrilho. Subvertidos os apoios e os émulos, o que outrora reluzia passou agora a um quadro de sombras. O que no passado era paixão transformou-se no presente num desconstrucionismo de ódio. O doutor Carrilho tem o direito de criticar e de dialogar somente com os ecrãs das televisões e as colunas dos jornais e de entornar o seu fulgor intelectual em revistas "passerelle" das "Lilis Caneças". Mas o seu "a priori" não pode arrancar o asfalto dos deveres. E nestes perpassam as suas responsabilidades como militante do PS e deputado da nova maioria. Não é forçoso que tenha de continuar a ser militante socialista, mas sendo-o deveria saber que um partido democrático não é apenas um espaço de reflexão e de crítica, é também um espaço de afectos, os quais se cimentam nos valores e no ideário do seu programa, no combate colegial pela concretização dum projecto que aglutine militantes de base e dirigentes. E quando o doutor Carrilho refere em recente entrevista à PÚBLICA que António Guterres não tem perfil nem competência para ser primeiro-ministro e secretário-geral do PS, afirmações que repudio e que constituem uma enormidade e uma colossal provocação, está a ofender e a sopesar a carga afectiva, por mais frágil que seja, dum partido que consubstancia uma família ideológica e doutrinária. Está a assassinar a ética da responsabilidade e a subverter à luz duma pretensa liberdade opinativa o respeito (pelo menos este) que nos deve merecer quem recebeu um mandato popular e foi sufragado pela maioria esmagadora dos militantes no último congresso. O doutor Carrilho não criticou Guterres, tentou apedrejá-lo, com o aplauso de toda a direita. E tal é imperdoável. E não sou dos seguem a máxima de Cícero, "aconselho a criticarmos os nossos em privado e a elogiá-los em público". Não se trata disso. O doutor Carrilho feriu o orgulho afectivo do PS, vilipendiou o seu líder e encheu de júbilo os Portas e os Barrosos da arena política adversária. O doutor Carrilho, deslumbrado com o seu "ego", está a tornar-se no "inocente útil" da direita portuguesa. Estas considerações não são um anátema, nem a expressão de qualquer beatitude fora do tempo democrático em que vivemos. São a sincera reprodução duma voz que se situa entre o aparelhismo e o carrilhismo, entre a subserviência e a irreverência sem termómetro, entre a obediência canina e a heterodoxia sem afecto. É neste espaço que a inteligência e a cultura podem criar raízes, é neste espaço que se pode e deve ser livre, sem constrangimentos individuais ou cumplicidades espúrias com a futilidade dos "media". O doutor Carrilho, que podia aspirar a ser um "Siegfried" ou um "Fabrício del Dongo", está a transformar-se, estranhamente, num "Frankenstein", devorador do PS, dos seus admiradores e dos seus amigos. Estes poderão sempre , contudo, dizer: "Perca-se o amigo, salve-se o desabafo." Deputado do PS e presidente da Assembleia Municipal de Lamego OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Governo manipula números sobre gastos na Defesa

Avaliação de contrapartidas suscita nova discussão

Coluna de abertura

Magistratura quer ouvir juíza da Moderna

Resmas comunistas no Campo Grande

A engenheira que não sabia nada

Governo aprova "critérios e métodos" da reforma da despesa

Escolha do candidato lança confusão no PS da Figueira da Foz

OPINIÃO Carta aberta a Manuel Maria Carrilho

marcar artigo