Ex-adjunto de Gomes compromete Vara

26-06-2001
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Ex-adjunto de Gomes Compromete Vara

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Quinta-feira, 17 de Maio de 2001

Inquérito à FPS em nova maratona

O secretário de Estado que sucedeu a Armando Vara na Administração Interna acha "estranho" que aquele não lhe tenha dito nada sobre a FPS quando recebeu a pasta

Um deputado do PS contribuiu ontem para complicar ainda mais a vida de Armando Vara no inquérito parlamentar à Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS).

Manuel Diogo, antigo secretário de Estado adjunto de Fernando Gomes no Ministério da Administração Interna, disse que o seu antecessor, Armando Vara, não lhe transmitiu qualquer informação sobre a FPS - nem sequer a da sua existência - quando transferiram a pasta um para o outro. Perguntaram-lhe se não achava a omissão estranha e Manuel Diogo, agora deputado do PS, respondeu: "Sim, foi estranho."

De referir, também, que não foi apenas Vara que nada disse ao seu sucessor. Todos os serviços do MAI - a começar por aqueles que mantinham protocolos com a FPS - fizeram o mesmo, segundo o depoimento de Manuel Diogo. O então secretário de Estado adjunto de Fernando Gomes só soube da existência da FPS pelo seu ministro, e este por um jornalista que lhe tinha feito perguntas sobre um dos edifícios públicos adjudicados à fundação.

O administrador casado com a contabilista

Ontem foi mais um dia de maratona na comissão de inquérito. Passaram pelo Parlamento oito testemunhas. Pelas 20h00, a reunião terminou - dez horas depois de ter começado - e pode dizer-se que em ambiente de grande animação.

O último inquirido foi José Alberto Borges, antigo adjunto de Vara quando este impulsionou a criação da FPS, depois membro do seu conselho de administração, e agora funcionário "estagiário" da Direcção-Geral de Viação, uma entidade na dependência do MAI.

Os deputados da oposição divertiram-se imensamente a ouvir Borges dizer que era ele na FPS quem assinava "basicamente todos os cheques" e depois confessar - a instâncias de Guilherme Silva, do PSD - que a contabilista da fundação era a sua esposa.

Riram-se também quando, depois de dizer que era agora funcionário da DGV por concurso público, acrescentou que afinal esse concurso público não tinha acabado - ou seja, era apenas "estagiário" da direcção-geral e só no fim do estágio poderia dizer que o concurso estava fechado.

O PSD apertou José Alberto Borges até à exaustão - do inquirido mas também do presidente da comissão, Barros Moura (PS), que muitas vezes viu a reunião fugir-lhe ao controlo absoluto.

Guilherme Silva atirou a testemunha contra a sua própria mulher - inquirida numa reunião anterior - por causa de uns documentos relativos às contas da FPS em 1999. Nesse relatório, aprovado em Março de 2000 num jantar no Clube dos Empresários, em Lisboa, os dirigentes da fundação assinaram que ele continha documentos que afinal - comprovou depois a Inspecção-Geral da Administração Interna - não continha.

Atrapalhadíssimo, José Alberto Borges respondeu que o relatório aprovado era ele próprio suficiente e insistiu no argumento de que todo o dinheiro dado pelo Estado à FPS foi bem gasto. "Se assinei esse relatório dizendo que os documentos existiam, fi-lo na convicção de que existiam."

Pelo meio, Barros Moura irritou-se com o seu colega de bancada Laurentino Dias, chegando a atirar-lhe um ríspido: "O senhor não faça comentários!"

Outro dos inquiridos da maratona foi o actual secretário de Estado da Administração Interna. Rui Pereira foi confrontado pela oposição de direita com o facto de ter, por despacho, extinto a fundação. Na visão do PSD, Rui Pereira deveria ter, isso sim, proposto ao Ministério Público que decretasse a nulidade do acto constitutivo da FPS. Numa discussão hermeticamente jurídica, cada um ficou na sua.

Os píncaros do surrealismo foram atingidos quando entrou na comissão Vítor Mendonça Torres, outro ex-dirigente da FPS. Pela sua argumentação, Vítor Torres fez lembrar aquele personagem do Herman José do "eu é mais bolos...". Disse que foi convidado a criar e dirigir a FPS pelo seu presidente, general Tomé Falcão, mas que antes não o conhecia. Reconheceu que não tinha qualquer formação especial em matéria de prevenção rodoviária e de incêndios - mas achava "uma boa causa". E terminou confessando que "depreendia" que o convite lhe tinha sido feito por ser amigo pessoal do então chefe de gabinete de Armando Vara, João de Almeida Santos - que vai ser ouvido na Assembleia da República na próxima terça-feira.

Ex-adjunto de Gomes Compromete Vara

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES

Quinta-feira, 17 de Maio de 2001

Inquérito à FPS em nova maratona

O secretário de Estado que sucedeu a Armando Vara na Administração Interna acha "estranho" que aquele não lhe tenha dito nada sobre a FPS quando recebeu a pasta

Um deputado do PS contribuiu ontem para complicar ainda mais a vida de Armando Vara no inquérito parlamentar à Fundação para a Prevenção e Segurança (FPS).

Manuel Diogo, antigo secretário de Estado adjunto de Fernando Gomes no Ministério da Administração Interna, disse que o seu antecessor, Armando Vara, não lhe transmitiu qualquer informação sobre a FPS - nem sequer a da sua existência - quando transferiram a pasta um para o outro. Perguntaram-lhe se não achava a omissão estranha e Manuel Diogo, agora deputado do PS, respondeu: "Sim, foi estranho."

De referir, também, que não foi apenas Vara que nada disse ao seu sucessor. Todos os serviços do MAI - a começar por aqueles que mantinham protocolos com a FPS - fizeram o mesmo, segundo o depoimento de Manuel Diogo. O então secretário de Estado adjunto de Fernando Gomes só soube da existência da FPS pelo seu ministro, e este por um jornalista que lhe tinha feito perguntas sobre um dos edifícios públicos adjudicados à fundação.

O administrador casado com a contabilista

Ontem foi mais um dia de maratona na comissão de inquérito. Passaram pelo Parlamento oito testemunhas. Pelas 20h00, a reunião terminou - dez horas depois de ter começado - e pode dizer-se que em ambiente de grande animação.

O último inquirido foi José Alberto Borges, antigo adjunto de Vara quando este impulsionou a criação da FPS, depois membro do seu conselho de administração, e agora funcionário "estagiário" da Direcção-Geral de Viação, uma entidade na dependência do MAI.

Os deputados da oposição divertiram-se imensamente a ouvir Borges dizer que era ele na FPS quem assinava "basicamente todos os cheques" e depois confessar - a instâncias de Guilherme Silva, do PSD - que a contabilista da fundação era a sua esposa.

Riram-se também quando, depois de dizer que era agora funcionário da DGV por concurso público, acrescentou que afinal esse concurso público não tinha acabado - ou seja, era apenas "estagiário" da direcção-geral e só no fim do estágio poderia dizer que o concurso estava fechado.

O PSD apertou José Alberto Borges até à exaustão - do inquirido mas também do presidente da comissão, Barros Moura (PS), que muitas vezes viu a reunião fugir-lhe ao controlo absoluto.

Guilherme Silva atirou a testemunha contra a sua própria mulher - inquirida numa reunião anterior - por causa de uns documentos relativos às contas da FPS em 1999. Nesse relatório, aprovado em Março de 2000 num jantar no Clube dos Empresários, em Lisboa, os dirigentes da fundação assinaram que ele continha documentos que afinal - comprovou depois a Inspecção-Geral da Administração Interna - não continha.

Atrapalhadíssimo, José Alberto Borges respondeu que o relatório aprovado era ele próprio suficiente e insistiu no argumento de que todo o dinheiro dado pelo Estado à FPS foi bem gasto. "Se assinei esse relatório dizendo que os documentos existiam, fi-lo na convicção de que existiam."

Pelo meio, Barros Moura irritou-se com o seu colega de bancada Laurentino Dias, chegando a atirar-lhe um ríspido: "O senhor não faça comentários!"

Outro dos inquiridos da maratona foi o actual secretário de Estado da Administração Interna. Rui Pereira foi confrontado pela oposição de direita com o facto de ter, por despacho, extinto a fundação. Na visão do PSD, Rui Pereira deveria ter, isso sim, proposto ao Ministério Público que decretasse a nulidade do acto constitutivo da FPS. Numa discussão hermeticamente jurídica, cada um ficou na sua.

Os píncaros do surrealismo foram atingidos quando entrou na comissão Vítor Mendonça Torres, outro ex-dirigente da FPS. Pela sua argumentação, Vítor Torres fez lembrar aquele personagem do Herman José do "eu é mais bolos...". Disse que foi convidado a criar e dirigir a FPS pelo seu presidente, general Tomé Falcão, mas que antes não o conhecia. Reconheceu que não tinha qualquer formação especial em matéria de prevenção rodoviária e de incêndios - mas achava "uma boa causa". E terminou confessando que "depreendia" que o convite lhe tinha sido feito por ser amigo pessoal do então chefe de gabinete de Armando Vara, João de Almeida Santos - que vai ser ouvido na Assembleia da República na próxima terça-feira.

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