EXPRESSO: Opinião

22-03-2002
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O imperativo da liberdade

«Quem nesta altura tenta analisar o mundo apenas pelo lado cínico dos interesses económicos, dos jogos de influência, das estratégias de domínio, engana-se redondamente. O nosso modo de vida está ameaçado (e neste «nosso» entram muitos islâmicos moderados, de Marrocos ao Egipto, da Turquia à Indonésia, da Palestina ao Senegal). E a ameaça vem de fanáticos suicidas liderados por mentes criminosas que não conhecem limites para o mal, que desprezam a vida. E que a única linguagem que conhecem é a da força.»

HÁ QUEM entenda a liberdade apenas como um direito, algo que nos propicia mais bem-estar, desenvolvimento, garantias, justiça ou até lazer. Uma vez que todos os direitos implicam benefícios, a liberdade, do ponto de vista dessas pessoas, só faz sentido se dela tirarmos vantagens imediatas.

Mas há quem sinta a liberdade também como um dever. Os indivíduos e as sociedades devem ser livres porque é essa a condição essencial da realização pessoal e social. No extremo, como referiu Thomas Moore (o santo padroeiro dos políticos) antes de ser condenado à morte, sem liberdade nem vale a pena um homem viver. Pela liberdade se bateram e morreram inúmeros homens ao longo da História, porque a consideraram não numa simples relação de custo-benefício, mas como um valor do domínio espiritual. A «Santa Liberdade», como lhe chamavam os liberais portugueses do séc. XIX, era mais do que um mero direito - era um imperativo moral. E os imperativos, os deveres, implicam muitas vezes sacrifícios.

O facto de o terrorismo ser a maior ameaça contemporânea à liberdade é algo de inquestionável. Porém, e apesar disso, verificam-se entre europeus (mas também noutras latitudes) inúmeras tibiezas sobre a resposta a dar. Apesar de se concordar que é necessário uma atitude, ressaltando o horror de um atentado que matou cerca de seis mil pessoas de 60 países, colocam-se por vezes tantas condições para o combate que se fica com a sensação de que, por vontade desses líderes, não haveria resposta nenhuma ou, a haver, seria com a garantia de que nenhum sacrifício lhes seria pedido.

E depois há quem vá mais longe. Quem, implícita ou explicitamente, sustente que a culpa do terrorismo reside nos EUA, em Israel, na globalização, no facto de o Ocidente ser mais rico ou em qualquer outra fantasia que não resiste a uma análise séria.

ORA, como muito bem salientou entre outros Manuel Alegre, estamos perante um caso em que quem ama a liberdade já escolheu instintivamente um lado. A nossa sociedade, com todos os defeitos com que a queiram carregar, não pode comparar-se com sociedades em que as leis são determinadas por clérigos, onde as mulheres não têm quaisquer direitos (nem o de tratamento hospitalar), e nas quais a maioria dos dirigentes vive numa sumptuosidade exorbitante. Não é um problema do Islão (religião naturalmente respeitável) é um problema da falta de secularização dessas sociedades que entre nós começou com uma simples frase de Jesus («Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus») e se concretizou efectivamente há centenas de anos. Não é uma guerra religiosa, e menos uma cruzada, não pretende impor um modelo que não seja o do respeito pela vida e a tolerância. Quem nesta altura tenta analisar o mundo apenas pelo lado cínico dos interesses económicos, dos jogos de influência, das estratégias de domínio, engana-se redondamente.

O nosso modo de vida está ameaçado (e neste «nosso» entram muitos islâmicos moderados, de Marrocos ao Egipto, da Turquia à Indonésia, da Palestina ao Senegal). E a ameaça vem de fanáticos suicidas liderados por mentes criminosas que não conhecem limites para o mal, que desprezam a vida. E que a única linguagem que conhecem é a da força.

E-mail: hmonteiro@mail.expresso.pt

O imperativo da liberdade

«Quem nesta altura tenta analisar o mundo apenas pelo lado cínico dos interesses económicos, dos jogos de influência, das estratégias de domínio, engana-se redondamente. O nosso modo de vida está ameaçado (e neste «nosso» entram muitos islâmicos moderados, de Marrocos ao Egipto, da Turquia à Indonésia, da Palestina ao Senegal). E a ameaça vem de fanáticos suicidas liderados por mentes criminosas que não conhecem limites para o mal, que desprezam a vida. E que a única linguagem que conhecem é a da força.»

HÁ QUEM entenda a liberdade apenas como um direito, algo que nos propicia mais bem-estar, desenvolvimento, garantias, justiça ou até lazer. Uma vez que todos os direitos implicam benefícios, a liberdade, do ponto de vista dessas pessoas, só faz sentido se dela tirarmos vantagens imediatas.

Mas há quem sinta a liberdade também como um dever. Os indivíduos e as sociedades devem ser livres porque é essa a condição essencial da realização pessoal e social. No extremo, como referiu Thomas Moore (o santo padroeiro dos políticos) antes de ser condenado à morte, sem liberdade nem vale a pena um homem viver. Pela liberdade se bateram e morreram inúmeros homens ao longo da História, porque a consideraram não numa simples relação de custo-benefício, mas como um valor do domínio espiritual. A «Santa Liberdade», como lhe chamavam os liberais portugueses do séc. XIX, era mais do que um mero direito - era um imperativo moral. E os imperativos, os deveres, implicam muitas vezes sacrifícios.

O facto de o terrorismo ser a maior ameaça contemporânea à liberdade é algo de inquestionável. Porém, e apesar disso, verificam-se entre europeus (mas também noutras latitudes) inúmeras tibiezas sobre a resposta a dar. Apesar de se concordar que é necessário uma atitude, ressaltando o horror de um atentado que matou cerca de seis mil pessoas de 60 países, colocam-se por vezes tantas condições para o combate que se fica com a sensação de que, por vontade desses líderes, não haveria resposta nenhuma ou, a haver, seria com a garantia de que nenhum sacrifício lhes seria pedido.

E depois há quem vá mais longe. Quem, implícita ou explicitamente, sustente que a culpa do terrorismo reside nos EUA, em Israel, na globalização, no facto de o Ocidente ser mais rico ou em qualquer outra fantasia que não resiste a uma análise séria.

ORA, como muito bem salientou entre outros Manuel Alegre, estamos perante um caso em que quem ama a liberdade já escolheu instintivamente um lado. A nossa sociedade, com todos os defeitos com que a queiram carregar, não pode comparar-se com sociedades em que as leis são determinadas por clérigos, onde as mulheres não têm quaisquer direitos (nem o de tratamento hospitalar), e nas quais a maioria dos dirigentes vive numa sumptuosidade exorbitante. Não é um problema do Islão (religião naturalmente respeitável) é um problema da falta de secularização dessas sociedades que entre nós começou com uma simples frase de Jesus («Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus») e se concretizou efectivamente há centenas de anos. Não é uma guerra religiosa, e menos uma cruzada, não pretende impor um modelo que não seja o do respeito pela vida e a tolerância. Quem nesta altura tenta analisar o mundo apenas pelo lado cínico dos interesses económicos, dos jogos de influência, das estratégias de domínio, engana-se redondamente.

O nosso modo de vida está ameaçado (e neste «nosso» entram muitos islâmicos moderados, de Marrocos ao Egipto, da Turquia à Indonésia, da Palestina ao Senegal). E a ameaça vem de fanáticos suicidas liderados por mentes criminosas que não conhecem limites para o mal, que desprezam a vida. E que a única linguagem que conhecem é a da força.

E-mail: hmonteiro@mail.expresso.pt

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