Alegre critica "obsessão" de Sócrates pela co-incineração

21-08-2001
marcar artigo

Alegre Critica "Obsessão" de Sócrates pela Co-incineração

Por NELSON MORAIS

Terça-feira, 21 de Agosto de 2001

Guterres dá "cobertura política"

Deputado diz que há uma "clara contradição" entre a Convenção de Estocolmo e o início da co-incineração em Portugal

"Teimosia", "obsessão" e "arrogância" são palavras com que o deputado socialista Manuel Alegre prendou, ontem, o ministro do Ambiente, José Sócrates, no seguimento das suas intervenções acerca da convenção das Nações Unidas, que, há dois meses, em Estocolmo, comprometeu cerca de cem países, incluindo Portugal, a abandonarem progressivamente a co-incineração em cimenteiras. "Não há racionalidade capaz de o convencer [Sócrates]", declarou ao PÚBLICO o deputado, lamentando que o carácter do ministro o impeça de reconhecer a "clara contradição" entre a assinatura daquela convenção e o início da co-incineração em Portugal. Bastante duro com Sócrates, também não poupou o primeiro-ministro, António Guterres, por dar "cobertura política" a atitudes que fazem lembrar a "cultura de crispação" dos Governos de Cavaco Silva.

Para Manuel Alegre, a manchete de anteontem do PÚBLICO, que revelou que Portugal é signatário de uma convenção internacional que condena a co-incineração, demonstra com clareza que "alguém se enganou: ou quem assinou a convenção ou quem decidiu levar para a frente a co-incineração. Há uma clara contradição e o ministro não a admite por uma questão de prestígio e poder, mais nada!...".

"Quero, posso e mando"

O deputado eleito pelo distrito de Coimbra continua convencido de que a co-incineração "não resolve o problema dos lixos tóxicos", mas reconhece que é difícil reavaliar a situação enquanto houver um ministro do Ambiente que usa a "autoridade pela autoridade", seguindo o princípio do "quero, posso e mando". "Se eu estivesse na situação dele, demitia-me", assegurou, dizendo-se, no entanto, certo de que José Sócrates não abandonará o seu cargo, porque, "para ele, o poder está acima do resto". Neste contexto, o deputado de Coimbra disse que "o primeiro-ministro deveria reflectir sobre aquilo que anda a fazer, ao assinar uma convenção internacional e, depois, fazer outra coisa". Mas não se mostrou optimista: "Por razões que eu não quero adiantar, o ministro Sócrates tem cobertura política", afirmou, ao acusar o Governo socialista de se reger por um "critério de fidelidades" já evidenciado quando António Guterres não demitiu Armando Vara do cargo de ministro da Juventude e Desporto, ao rebentar a polémica sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança, exemplificou.

A Comissão Científica Independente (CCI) encarregada de gerir o processo de co-incineração também não escapou à crítica de Manuel Alegre. Na melhor das hipóteses, o socialista lamenta apenas que membros da CCI desconhecessem que Portugal iria assinar uma convenção que condena o início da co-incineração; pior seria, se, de antemão, a CCI estivesse a par do conteúdo da Convenção de Estocolmo - "se não desconhecia, as contradições são ainda maiores", sublinhou, numa alusão à (im)parcialidade daquele grupo de cientistas.

Alegre Critica "Obsessão" de Sócrates pela Co-incineração

Por NELSON MORAIS

Terça-feira, 21 de Agosto de 2001

Guterres dá "cobertura política"

Deputado diz que há uma "clara contradição" entre a Convenção de Estocolmo e o início da co-incineração em Portugal

"Teimosia", "obsessão" e "arrogância" são palavras com que o deputado socialista Manuel Alegre prendou, ontem, o ministro do Ambiente, José Sócrates, no seguimento das suas intervenções acerca da convenção das Nações Unidas, que, há dois meses, em Estocolmo, comprometeu cerca de cem países, incluindo Portugal, a abandonarem progressivamente a co-incineração em cimenteiras. "Não há racionalidade capaz de o convencer [Sócrates]", declarou ao PÚBLICO o deputado, lamentando que o carácter do ministro o impeça de reconhecer a "clara contradição" entre a assinatura daquela convenção e o início da co-incineração em Portugal. Bastante duro com Sócrates, também não poupou o primeiro-ministro, António Guterres, por dar "cobertura política" a atitudes que fazem lembrar a "cultura de crispação" dos Governos de Cavaco Silva.

Para Manuel Alegre, a manchete de anteontem do PÚBLICO, que revelou que Portugal é signatário de uma convenção internacional que condena a co-incineração, demonstra com clareza que "alguém se enganou: ou quem assinou a convenção ou quem decidiu levar para a frente a co-incineração. Há uma clara contradição e o ministro não a admite por uma questão de prestígio e poder, mais nada!...".

"Quero, posso e mando"

O deputado eleito pelo distrito de Coimbra continua convencido de que a co-incineração "não resolve o problema dos lixos tóxicos", mas reconhece que é difícil reavaliar a situação enquanto houver um ministro do Ambiente que usa a "autoridade pela autoridade", seguindo o princípio do "quero, posso e mando". "Se eu estivesse na situação dele, demitia-me", assegurou, dizendo-se, no entanto, certo de que José Sócrates não abandonará o seu cargo, porque, "para ele, o poder está acima do resto". Neste contexto, o deputado de Coimbra disse que "o primeiro-ministro deveria reflectir sobre aquilo que anda a fazer, ao assinar uma convenção internacional e, depois, fazer outra coisa". Mas não se mostrou optimista: "Por razões que eu não quero adiantar, o ministro Sócrates tem cobertura política", afirmou, ao acusar o Governo socialista de se reger por um "critério de fidelidades" já evidenciado quando António Guterres não demitiu Armando Vara do cargo de ministro da Juventude e Desporto, ao rebentar a polémica sobre a Fundação para a Prevenção e Segurança, exemplificou.

A Comissão Científica Independente (CCI) encarregada de gerir o processo de co-incineração também não escapou à crítica de Manuel Alegre. Na melhor das hipóteses, o socialista lamenta apenas que membros da CCI desconhecessem que Portugal iria assinar uma convenção que condena o início da co-incineração; pior seria, se, de antemão, a CCI estivesse a par do conteúdo da Convenção de Estocolmo - "se não desconhecia, as contradições são ainda maiores", sublinhou, numa alusão à (im)parcialidade daquele grupo de cientistas.

marcar artigo