Opinião

26-10-2000
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>1< 2 FRANCISCO DA SILVA Insubmissão, mas pouco

- querem eles Novembro de 1999

"tornarmo-nos insubmissos outra e mais uma vez, agora sendo muitos mais do que da última vez"

Cito de cor e vou desenrolando as consequências.

Para Pacheco Pereira, por exemplo, o grande erro dos comunistas terá sido simplesmente o facto de terem pretendido combaterem aquilo que é o estado natural das coisas: a sociedade capitalista. Natural, ora vejam. Tão natural não era, de certeza, para ele, a sociedade, queria eu antes dizer, a comunidade primitiva. Esta, sim, julgava eu, pelo contrário, bem mais próxima da naturalidade porque vogando ainda nos alvores da Cultura e da Civilização usando as técnicas de lascar as pedras ou, quando muito, já na sua fase final, as técnicas de moldar o bronze.

Afinal o natural não é a Natureza não "estragada" pelos frutos da Cultura? Segundo Pacheco Pereira, parece que seria antes a naturalidade das trocas mercantis. E daqui decorre que este estado natural das sociedades humanas será, além disso, afinal de contas, a parte de naturalidade que pode caber à Humanidade na luta pelo natural no meio ambiente, por uma certa maneira pós-moderna de perspectivar as lutas pelos ideais da salvaguarda da natureza. Já viram a bem intencionada confusão onde este tipo de "brincadeiras" conceptuais nos pode conduzir? Sim, porque as ideologias acabaram, nem vê-las.

Insubmissão? Zero. Pelo contrário, pregação a favor da submissão. Afinal, tal como seria de esperar.

Agora, outro exemplo. Continuo a citar de cor - neste caso, Manuel Alegre. A esquerda dita e propagandeada como insubmissa, contudo não ultrapassando nunca as fronteiras do politicamente correcto.

(Pode alguém dizer que ouvi, ou li, ou percebi, ou interpretei, Manuel Alegre de uma maneira menos acertada. Talvez essa evidência possa ser considerada como um bom castigo para o atrevimento! Mesmo assim, devo arriscar. Caso contrário, permanentemente de coibição em coibição atingimos o estado em que a expressão das opiniões deixa de poder acontecer. O fluir do debate é, então, travado, muitas vezes irremediavelmente, por barreiras quase intransponíveis, em termos de disponibilidade para uma investigação minuciosa - pelo menos, foi este o meu caso para a preparação desta intervenção.)

Aquilo que pude recuperar directamente da minha memória pode, então ser relatado do seguinte modo: da leitura de uma entrevista dada por Manuel Alegre, julgo que a propósito da questão da despenalização da interrupção voluntária de gravidez, retirei as ideias de continuar a Esquerda e a insatisfação que lhe é inerente a serem absolutamente relevantes para o combate por grandes questões de civilização, afirmação com o qual posso concordar em absoluto - aliás, neste particular, esta também parece ser a opinião de Pacheco Pereira; contudo, do mesmo passo, Manuel Alegre - e ele é apenas um exemplo, mas um significativo para este nosso tema da insubmissão - referiu que, quanto à Economia, nada a fazer, para além de trabalhar nos limites do sistema. Esta globalização é uma tendência objectiva pesada, e incombatíveis são os poderes de absolutização financeira que a movem. Ou, pelo menos nesta situação, já nem o paralelo do David e Golias, digo eu, poderia ser invocado. Terá definitivamente acabado o lugar para a revolta, e também para a sua expressão poética?

Se interpretei mal o seu pensamento que me desculpe o atingido. De qualquer forma, penso andar bem perto da verdade ao formular este exemplo e ao identificá-lo com uma corrente significativa no seio da intelectualidade do campo democrático na actualidade.

A relevância da Esquerda e a da sua insatisfação. Mas a propriamente dita insubmissão, essa não!

Estamos então perante o cenário proposto pelo Pensamento Único. Este baseia-se na concepção de uma classe trabalhadora global condenada a jogar na Bolsa para poder sobreviver, incluindo no seu seio uma classe operária condenada ao definhamento final, relegada, após um processo de taylorização embrutecedora, para o ostracismo por ter sido substituída pelas máquinas automáticas dos processos industriais. Mas que pobreza teórica esta, a criada pelos desejos e estímulos de classe pequeno-burgueses - desculpem lá o termo fora de moda, mas não encontrei outro -, agora, acolhidos à sombra do guarda chuva do grande poder financeiro, sonhando que afinal sempre tinham tido toda a razão.

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Insubmissão. Uma palavra apropriada para uma atitude necessária neste final de época. Sim, final. Senão, vejamos.Cito de cor e vou desenrolando as consequências.Para Pacheco Pereira, por exemplo, o grande erro dos comunistas terá sido simplesmente o facto de terem pretendido combaterem aquilo que é o estado natural das coisas: a sociedade capitalista. Natural, ora vejam. Tão natural não era, de certeza, para ele, a sociedade, queria eu antes dizer, a comunidade primitiva. Esta, sim, julgava eu, pelo contrário, bem mais próxima da naturalidade porque vogando ainda nos alvores da Cultura e da Civilização usando as técnicas de lascar as pedras ou, quando muito, já na sua fase final, as técnicas de moldar o bronze.Afinal o natural não é a Natureza não "estragada" pelos frutos da Cultura? Segundo Pacheco Pereira, parece que seria antes a naturalidade das trocas mercantis. E daqui decorre que este estado natural das sociedades humanas será, além disso, afinal de contas, a parte de naturalidade que pode caber à Humanidade na luta pelo natural no meio ambiente, por uma certa maneira pós-moderna de perspectivar as lutas pelos ideais da salvaguarda da natureza. Já viram a bem intencionada confusão onde este tipo de "brincadeiras" conceptuais nos pode conduzir? Sim, porque as ideologias acabaram, nem vê-las.Insubmissão? Zero. Pelo contrário, pregação a favor da submissão. Afinal, tal como seria de esperar.Agora, outro exemplo. Continuo a citar de cor - neste caso, Manuel Alegre. A esquerda dita e propagandeada como insubmissa, contudo não ultrapassando nunca as fronteiras do politicamente correcto.(Pode alguém dizer que ouvi, ou li, ou percebi, ou interpretei, Manuel Alegre de uma maneira menos acertada. Talvez essa evidência possa ser considerada como um bom castigo para o atrevimento! Mesmo assim, devo arriscar. Caso contrário, permanentemente de coibição em coibição atingimos o estado em que a expressão das opiniões deixa de poder acontecer. O fluir do debate é, então, travado, muitas vezes irremediavelmente, por barreiras quase intransponíveis, em termos de disponibilidade para uma investigação minuciosa - pelo menos, foi este o meu caso para a preparação desta intervenção.)Aquilo que pude recuperar directamente da minha memória pode, então ser relatado do seguinte modo: da leitura de uma entrevista dada por Manuel Alegre, julgo que a propósito da questão da despenalização da interrupção voluntária de gravidez, retirei as ideias de continuar a Esquerda e a insatisfação que lhe é inerente a serem absolutamente relevantes para o combate por grandes questões de civilização, afirmação com o qual posso concordar em absoluto - aliás, neste particular, esta também parece ser a opinião de Pacheco Pereira; contudo, do mesmo passo, Manuel Alegre - e ele é apenas um exemplo, mas um significativo para este nosso tema da insubmissão - referiu que, quanto à Economia, nada a fazer, para além de trabalhar nos limites do sistema. Esta globalização é uma tendência objectiva pesada, e incombatíveis são os poderes de absolutização financeira que a movem. Ou, pelo menos nesta situação, já nem o paralelo do David e Golias, digo eu, poderia ser invocado. Terá definitivamente acabado o lugar para a revolta, e também para a sua expressão poética?Se interpretei mal o seu pensamento que me desculpe o atingido. De qualquer forma, penso andar bem perto da verdade ao formular este exemplo e ao identificá-lo com uma corrente significativa no seio da intelectualidade do campo democrático na actualidade.A relevância da Esquerda e a da sua insatisfação. Mas a propriamente dita insubmissão, essa não!Estamos então perante o cenário proposto pelo Pensamento Único. Este baseia-se na concepção de uma classe trabalhadora global condenada a jogar na Bolsa para poder sobreviver, incluindo no seu seio uma classe operária condenada ao definhamento final, relegada, após um processo de taylorização embrutecedora, para o ostracismo por ter sido substituída pelas máquinas automáticas dos processos industriais. Mas que pobreza teórica esta, a criada pelos desejos e estímulos de classe pequeno-burgueses - desculpem lá o termo fora de moda, mas não encontrei outro -, agora, acolhidos à sombra do guarda chuva do grande poder financeiro, sonhando que afinal sempre tinham tido toda a razão.

>1< 2 FRANCISCO DA SILVA Insubmissão, mas pouco

- querem eles Novembro de 1999

"tornarmo-nos insubmissos outra e mais uma vez, agora sendo muitos mais do que da última vez"

Cito de cor e vou desenrolando as consequências.

Para Pacheco Pereira, por exemplo, o grande erro dos comunistas terá sido simplesmente o facto de terem pretendido combaterem aquilo que é o estado natural das coisas: a sociedade capitalista. Natural, ora vejam. Tão natural não era, de certeza, para ele, a sociedade, queria eu antes dizer, a comunidade primitiva. Esta, sim, julgava eu, pelo contrário, bem mais próxima da naturalidade porque vogando ainda nos alvores da Cultura e da Civilização usando as técnicas de lascar as pedras ou, quando muito, já na sua fase final, as técnicas de moldar o bronze.

Afinal o natural não é a Natureza não "estragada" pelos frutos da Cultura? Segundo Pacheco Pereira, parece que seria antes a naturalidade das trocas mercantis. E daqui decorre que este estado natural das sociedades humanas será, além disso, afinal de contas, a parte de naturalidade que pode caber à Humanidade na luta pelo natural no meio ambiente, por uma certa maneira pós-moderna de perspectivar as lutas pelos ideais da salvaguarda da natureza. Já viram a bem intencionada confusão onde este tipo de "brincadeiras" conceptuais nos pode conduzir? Sim, porque as ideologias acabaram, nem vê-las.

Insubmissão? Zero. Pelo contrário, pregação a favor da submissão. Afinal, tal como seria de esperar.

Agora, outro exemplo. Continuo a citar de cor - neste caso, Manuel Alegre. A esquerda dita e propagandeada como insubmissa, contudo não ultrapassando nunca as fronteiras do politicamente correcto.

(Pode alguém dizer que ouvi, ou li, ou percebi, ou interpretei, Manuel Alegre de uma maneira menos acertada. Talvez essa evidência possa ser considerada como um bom castigo para o atrevimento! Mesmo assim, devo arriscar. Caso contrário, permanentemente de coibição em coibição atingimos o estado em que a expressão das opiniões deixa de poder acontecer. O fluir do debate é, então, travado, muitas vezes irremediavelmente, por barreiras quase intransponíveis, em termos de disponibilidade para uma investigação minuciosa - pelo menos, foi este o meu caso para a preparação desta intervenção.)

Aquilo que pude recuperar directamente da minha memória pode, então ser relatado do seguinte modo: da leitura de uma entrevista dada por Manuel Alegre, julgo que a propósito da questão da despenalização da interrupção voluntária de gravidez, retirei as ideias de continuar a Esquerda e a insatisfação que lhe é inerente a serem absolutamente relevantes para o combate por grandes questões de civilização, afirmação com o qual posso concordar em absoluto - aliás, neste particular, esta também parece ser a opinião de Pacheco Pereira; contudo, do mesmo passo, Manuel Alegre - e ele é apenas um exemplo, mas um significativo para este nosso tema da insubmissão - referiu que, quanto à Economia, nada a fazer, para além de trabalhar nos limites do sistema. Esta globalização é uma tendência objectiva pesada, e incombatíveis são os poderes de absolutização financeira que a movem. Ou, pelo menos nesta situação, já nem o paralelo do David e Golias, digo eu, poderia ser invocado. Terá definitivamente acabado o lugar para a revolta, e também para a sua expressão poética?

Se interpretei mal o seu pensamento que me desculpe o atingido. De qualquer forma, penso andar bem perto da verdade ao formular este exemplo e ao identificá-lo com uma corrente significativa no seio da intelectualidade do campo democrático na actualidade.

A relevância da Esquerda e a da sua insatisfação. Mas a propriamente dita insubmissão, essa não!

Estamos então perante o cenário proposto pelo Pensamento Único. Este baseia-se na concepção de uma classe trabalhadora global condenada a jogar na Bolsa para poder sobreviver, incluindo no seu seio uma classe operária condenada ao definhamento final, relegada, após um processo de taylorização embrutecedora, para o ostracismo por ter sido substituída pelas máquinas automáticas dos processos industriais. Mas que pobreza teórica esta, a criada pelos desejos e estímulos de classe pequeno-burgueses - desculpem lá o termo fora de moda, mas não encontrei outro -, agora, acolhidos à sombra do guarda chuva do grande poder financeiro, sonhando que afinal sempre tinham tido toda a razão.

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