DN

17-02-2001
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No dia em que António Guterres apresenta a sua moção de estratégia ao congresso do PS de 30 de Março, Manuel Alegre vem a público desfazer leituras cor-de-rosa da situação política e, assim, exortar os seus camaradas a uma reflexão mais profunda sobre o que vale o PS nos dias de hoje, as questiúnculas internas que vão dilacerando o partido, as fragilidades do Governo e a descentragem em relação a um projecto político que ainda está por cumprir.

"Neste momento, o PS é um partido muito governamentalizado, muito situacionista, muito de aparelhos, muito sem causas, sem projectos e sem rumo." Ninguém poderia ser mais acutilante e arrasador. O grande poeta de Coimbra toca os sinos a rebate e pede a António Guterres que não deixe que o PS se degrade mais do que já está. Solidário com o líder, a quem reconhece grande inteligência e o mérito de ser "um socialista que ajudou a fazer o PS, marcando presença em todos os combates pela democracia portuguesa", Alegre pede que Guterres não se deixe transformar num intocável, resistindo à tentação governamentalista do poder. Esta destrinça entre Guterres e "os outros" pretende, necessariamente, atingir os membros do Governo e do PS que Alegre considera responsáveis por uma atitude servilista do PS em relação ao Governo, retirando-lhe intervenção própria, um grupo que, "à sombra do líder, quer reforçar o seu poder para se preparar para sucessões".

Manuel Alegre defende, sem inibições, um entendimento com o Partido Comunista ou, pelo menos, o início de negociações sem pretender um PCP à imagem e semelhança do PS. Com fina ironia, Manuel Alegre pergunta se o próximo Orçamento vai ser outra vez aprovado com o deputado do queijo limiano. É interessante a sua posição sobre os chamados "inimigos internos" do PS. Manuel Alegre ridiculariza aqueles que à boca pequena se insurgem contra Mário Soares, Fernando Gomes ou Carrilho apenas porque explicitam as suas críticas. Nada escapa a Manuel Alegre nesta entrevista. A situação económica do País, os vetos às empresas portuguesas em Espanha, a construção europeia ou a "destruição social", como diz, a insegurança em Portugal.

Enfim, uma entrevista que dá que pensar e transformou a moção política de que Guterres é primeiro subscritor num facto político de segunda linha.

Emídio Rangel escreve no DN aos sábados

No dia em que António Guterres apresenta a sua moção de estratégia ao congresso do PS de 30 de Março, Manuel Alegre vem a público desfazer leituras cor-de-rosa da situação política e, assim, exortar os seus camaradas a uma reflexão mais profunda sobre o que vale o PS nos dias de hoje, as questiúnculas internas que vão dilacerando o partido, as fragilidades do Governo e a descentragem em relação a um projecto político que ainda está por cumprir.

"Neste momento, o PS é um partido muito governamentalizado, muito situacionista, muito de aparelhos, muito sem causas, sem projectos e sem rumo." Ninguém poderia ser mais acutilante e arrasador. O grande poeta de Coimbra toca os sinos a rebate e pede a António Guterres que não deixe que o PS se degrade mais do que já está. Solidário com o líder, a quem reconhece grande inteligência e o mérito de ser "um socialista que ajudou a fazer o PS, marcando presença em todos os combates pela democracia portuguesa", Alegre pede que Guterres não se deixe transformar num intocável, resistindo à tentação governamentalista do poder. Esta destrinça entre Guterres e "os outros" pretende, necessariamente, atingir os membros do Governo e do PS que Alegre considera responsáveis por uma atitude servilista do PS em relação ao Governo, retirando-lhe intervenção própria, um grupo que, "à sombra do líder, quer reforçar o seu poder para se preparar para sucessões".

Manuel Alegre defende, sem inibições, um entendimento com o Partido Comunista ou, pelo menos, o início de negociações sem pretender um PCP à imagem e semelhança do PS. Com fina ironia, Manuel Alegre pergunta se o próximo Orçamento vai ser outra vez aprovado com o deputado do queijo limiano. É interessante a sua posição sobre os chamados "inimigos internos" do PS. Manuel Alegre ridiculariza aqueles que à boca pequena se insurgem contra Mário Soares, Fernando Gomes ou Carrilho apenas porque explicitam as suas críticas. Nada escapa a Manuel Alegre nesta entrevista. A situação económica do País, os vetos às empresas portuguesas em Espanha, a construção europeia ou a "destruição social", como diz, a insegurança em Portugal.

Enfim, uma entrevista que dá que pensar e transformou a moção política de que Guterres é primeiro subscritor num facto político de segunda linha.

Emídio Rangel escreve no DN aos sábados

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