Um industrial que passou para a mediação imobiliária

23-03-2002
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Um Industrial Que Passou para a Mediação Imobiliária

Por JOSÉ ANTÓNIO CEREJO

Quarta-feira, 20 de Março de 2002

Godinho Lopes tinha fortíssimas ligações à Câmara de Lisboa liderada por João Soares e foi o arquitecto da operação imobiliária do Casal Ventoso, que lhe foi entregue sem concurso público

Ao fim da quase uma década aos comandos da Soconstroi, uma grande empresa de construção civil que esteve envolvida em importantes obras ligadas à Câmara de Lisboa e à Parque Expo, Godinho Lopes virou-se, nos últimos anos, para os negócios imobiliários, o golfe, o ténis e o mercado dos estacionamentos. Os seus interesses actuais, para lá de uma intensa actividade de promoção imobiliária nos terrenos da Parque Expo, incluem importantes participações no projecto do campo de treino de golfe das Amoreiras e no complexo de ténis construído no Parque Eduardo VII - ambos particularmente polémicos e merecedores de ainda mais polémicos apoios dos executivos de João Soares.

Na sequência do incêndio que destruiu parcialmente os Paços do Concelho de Lisboa, em 1996, a Soconstroi, com Godinho Lopes à frente, inaugurou uma fase de estreito relacionamento com o município lisboeta. Grande parte das obras da reconstrução foram-lhe imediatamente atribuídas, bem como à empresa Teixeira Duarte, sem concurso nem consulta ao mercado. Logo a seguir, igualmente sem concurso, foi entregue a ambas as sociedades a construção e exploração - através da Companhia de Parques de Estacionamento - do parque de estacionamento da Praça do Município.

Por essa mesma altura, João Soares desencadeou o processo de reconversão do Casal Ventoso, celebrando um conjunto de contratos e permutas com a Soconstroi, então em trânsito do grupo A. Silva & Silva para a Somague, os quais permitiram a esta empresa tomar conta da construção da Quinta da Cabrinha e da quase totalidade da grande operação imobiliária então lançada no Vale de Alcântara. A entrada de Godinho Lopes neste negócio foi igualmente feita sem concurso público, situação que, além da polémica sobre a construção em leito de cheia, levou até os vereadores comunistas, então parceiros de coligação do PS, a distanciarem-se do processo.

Parques subterrâneos

No sector do estacionamento, foi no tempo de Godinho Lopes que a A. Silva & Silva se iniciou - com o negócio da Praça do Município, mas também com os parques subterrâneos do Marquês de Pombal, de Campolide e de Campo de Ourique - num mercado agora dominado, a nível nacional, pela Emparque, uma "holding" controlada pelo grupo. O domínio do sector pela A. Silva & Silva concretizou-se em 1998, com a aquisição da Gisparques, uma empresa de estacionamento muito próxima do antigo vereador do Trânsito da Câmara de Lisboa, Machado Rodrigues, e que, por sinal, também está ligada à sociedade que explora os estacionamentos do Sporting Clube de Portugal, a SP Gis.

No ramo imobiliário, a A. Silva & Silva envolveu-se também, em 1996, com a Parque Expo e a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, nas sociedades Jardins Expo e Expo Domus, que construíam várias urbanizações junto à Expo '98 e cuja gestão também esteve rodeada de suspeitas na altura em que veio a público o escândalo dos navios, que agora levou à detenção de Godinho Lopes

Quanto à Supergolf Amoreiras, a empresa que construiu uma controversa vedação de 30 metros de altura mediante uma autorização verbal da Câmara de Lisboa, Godinho Lopes faz parte do seu Conselho de Administração juntamente com João António e José Manuel Simões de Almeida.

No que respeita ao complexo de ténis e piscinas construído no Parque Eduardo VII e cujo licenciamento foi também fortemente contestado, Luis Godinho Lopes é há vários anos conhecido como um dos rostos da empresa proprietária, uma sociedade cuja administração é agora assegurada por três cidadãos estrangeiros e cujo capital está nas mãos de uma "off-shore", a Pacific Spor Leisure.

Um Industrial Que Passou para a Mediação Imobiliária

Por JOSÉ ANTÓNIO CEREJO

Quarta-feira, 20 de Março de 2002

Godinho Lopes tinha fortíssimas ligações à Câmara de Lisboa liderada por João Soares e foi o arquitecto da operação imobiliária do Casal Ventoso, que lhe foi entregue sem concurso público

Ao fim da quase uma década aos comandos da Soconstroi, uma grande empresa de construção civil que esteve envolvida em importantes obras ligadas à Câmara de Lisboa e à Parque Expo, Godinho Lopes virou-se, nos últimos anos, para os negócios imobiliários, o golfe, o ténis e o mercado dos estacionamentos. Os seus interesses actuais, para lá de uma intensa actividade de promoção imobiliária nos terrenos da Parque Expo, incluem importantes participações no projecto do campo de treino de golfe das Amoreiras e no complexo de ténis construído no Parque Eduardo VII - ambos particularmente polémicos e merecedores de ainda mais polémicos apoios dos executivos de João Soares.

Na sequência do incêndio que destruiu parcialmente os Paços do Concelho de Lisboa, em 1996, a Soconstroi, com Godinho Lopes à frente, inaugurou uma fase de estreito relacionamento com o município lisboeta. Grande parte das obras da reconstrução foram-lhe imediatamente atribuídas, bem como à empresa Teixeira Duarte, sem concurso nem consulta ao mercado. Logo a seguir, igualmente sem concurso, foi entregue a ambas as sociedades a construção e exploração - através da Companhia de Parques de Estacionamento - do parque de estacionamento da Praça do Município.

Por essa mesma altura, João Soares desencadeou o processo de reconversão do Casal Ventoso, celebrando um conjunto de contratos e permutas com a Soconstroi, então em trânsito do grupo A. Silva & Silva para a Somague, os quais permitiram a esta empresa tomar conta da construção da Quinta da Cabrinha e da quase totalidade da grande operação imobiliária então lançada no Vale de Alcântara. A entrada de Godinho Lopes neste negócio foi igualmente feita sem concurso público, situação que, além da polémica sobre a construção em leito de cheia, levou até os vereadores comunistas, então parceiros de coligação do PS, a distanciarem-se do processo.

Parques subterrâneos

No sector do estacionamento, foi no tempo de Godinho Lopes que a A. Silva & Silva se iniciou - com o negócio da Praça do Município, mas também com os parques subterrâneos do Marquês de Pombal, de Campolide e de Campo de Ourique - num mercado agora dominado, a nível nacional, pela Emparque, uma "holding" controlada pelo grupo. O domínio do sector pela A. Silva & Silva concretizou-se em 1998, com a aquisição da Gisparques, uma empresa de estacionamento muito próxima do antigo vereador do Trânsito da Câmara de Lisboa, Machado Rodrigues, e que, por sinal, também está ligada à sociedade que explora os estacionamentos do Sporting Clube de Portugal, a SP Gis.

No ramo imobiliário, a A. Silva & Silva envolveu-se também, em 1996, com a Parque Expo e a Empresa Pública de Urbanização de Lisboa, nas sociedades Jardins Expo e Expo Domus, que construíam várias urbanizações junto à Expo '98 e cuja gestão também esteve rodeada de suspeitas na altura em que veio a público o escândalo dos navios, que agora levou à detenção de Godinho Lopes

Quanto à Supergolf Amoreiras, a empresa que construiu uma controversa vedação de 30 metros de altura mediante uma autorização verbal da Câmara de Lisboa, Godinho Lopes faz parte do seu Conselho de Administração juntamente com João António e José Manuel Simões de Almeida.

No que respeita ao complexo de ténis e piscinas construído no Parque Eduardo VII e cujo licenciamento foi também fortemente contestado, Luis Godinho Lopes é há vários anos conhecido como um dos rostos da empresa proprietária, uma sociedade cuja administração é agora assegurada por três cidadãos estrangeiros e cujo capital está nas mãos de uma "off-shore", a Pacific Spor Leisure.

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