EXPRESSO: País

27-05-2001
marcar artigo

Carros escavam Lisboa João Soares e Pedro Santana Lopes lançam novos projectos nos seus municípios. Em Lisboa, avança-se pelo subsolo, com sete novos parques de estacionamento na Baixa-Chiado. Na Figueira da Foz, aposta-se na via aérea, com um aeródromo em zona protegida José Ventura Reservatório da Patriarcal, no subsolo do Jardim do Príncipe Real: uma beleza escondida que pode ser afectada por um parque de estacionamento subterrâneo A CÂMARA Municipal de Lisboa pretende construir um parque de estacionamento subterrâneo no Principe Real, em Lisboa. O projecto para esta zona – englobado num plano de reordenamento do estacionamento da zona da Baixa-Chiado –, prevê uma ocupação para cerca de 400 automóveis e será construído, de acordo com informações da autarquia, em forma de cunha na faixa exterior do perimetro daquele jardim histórico, no lado oposto à Rua da Escola Politécnica. A CÂMARA Municipal de Lisboa pretende construir um parque de estacionamento subterrâneo no Principe Real, em Lisboa. O projecto para esta zona – englobado num plano de reordenamento do estacionamento da zona da Baixa-Chiado –, prevê uma ocupação para cerca de 400 automóveis e será construído, de acordo com informações da autarquia, em forma de cunha na faixa exterior do perimetro daquele jardim histórico, no lado oposto à Rua da Escola Politécnica. O vereador do Trânsito da autarquia lisboeta, Machado Rodrigues, defende que «esta solução não irá afectar o núcleo central do jardim, nem as árvores seculares, uma vez que as escavações para a construção do parque apenas afectarão os passeios circundantes do jardim». No entanto, serão destruídas mais de uma dezena de árvores – que circundam a zona exterior do jardim, junto ao passeio de calçada portuguesa –, embora a autarquia garanta que haverá uma replantação após a conclusão das obras. IPPAR silencioso O projecto está, contudo, ainda em avaliação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) – por estar dentro duma faixa de protecção de 50 metros –, tanto mais que no subsolo do Jardim do Principe Real está localizado o Reservatório da Patriarcal, integrado no núcleo museológico da EPAL, que abrange também o Aqueduto das Águas Livres, a Mãe d'Água e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos. O projecto está, contudo, ainda em avaliação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) – por estar dentro duma faixa de protecção de 50 metros –, tanto mais que no subsolo do Jardim do Principe Real está localizado o Reservatório da Patriarcal, integrado no núcleo museológico da EPAL, que abrange também o Aqueduto das Águas Livres, a Mãe d'Água e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos. O EXPRESSO tentou, ao longo de duas semanas, obter um comentário do presidente do IPPAR, Luís Calado, que nunca esteve disponível. O Reservatório da Patriarcal – uma antiga cisterna de abstecimento de água ao Bairro Alto – é considerado um das mais emblemáticas obras de engenharia hidráulica do século XIX. Discreta beleza Construída entre 1860 e 1864, com um projecto do engenheiro parisiense Mary, a discreta porta de entrada no centro do Jardim do Principe Real, dá acesso a uma estrutura octoganal, com um reservatório central de 880 metros cúbicos – que, aliás, alimenta o repuxo do lago central à superfície – e sustentada por 31 pilares de nove metros de altura onde assentam arcos de cantaria que sustentam as abóbodas. Deste reservatório partiam, pelo menos, três galerias técnicas e de fornecimento de água. Construída entre 1860 e 1864, com um projecto do engenheiro parisiense Mary, a discreta porta de entrada no centro do Jardim do Principe Real, dá acesso a uma estrutura octoganal, com um reservatório central de 880 metros cúbicos – que, aliás, alimenta o repuxo do lago central à superfície – e sustentada por 31 pilares de nove metros de altura onde assentam arcos de cantaria que sustentam as abóbodas. Deste reservatório partiam, pelo menos, três galerias técnicas e de fornecimento de água. Apesar de ter deixado de ser usada nos anos 40 do século passado, a EPAL, com o apoio da Sociedade Lisboa 94, executou um projecto da autoria do arquitecto Valadas Monteiro que viria a ser distinguido, em 1995, com o Prémio Municipal de Arquitectura Eugénio dos Santos. O espaço, que pode ser visitado diariamente, é palco habitual de eventos culturais, como exposições. Apesar da singularidade deste monumento, quer a autarquia de Lisboa, quer o IPPAR não forneceram ainda quaisquer elementos do projecto à EPAL. «Desconhecemos este projecto, embora o vejamos com alguma preocupação face à proximidade da Patriarcal», diz Margarida Ruas dos Santos, directora do Museu da Água da EPAL. Para a Câmara Municipal de Lisboa, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça do Príncipe Real «não irá afectar as árvores seculares do jardim» nem o reservatório da Patriarcal Machado Rodrigues defende-se, considerando que «a tarefa de auscultação das diversas entidades interessadas deverá ser feita pelo IPPAR, com quem estamos em negociações». Este responsável salienta, contudo, que «existem estudos geológicos que garantem que o Reservatório da Patriarcal não será, nem indirectamente, afectado». Machado Rodrigues defende-se, considerando que. Este responsável salienta, contudo, que Varandas Monteiro, autor da obras de reabilitação da Patriarcal, não tem tanta certeza. «O subsolo de Lisboa é uma caixa de surpresas. Não conheço o projecto em concreto, mas há que considerar que o reservatório tem galerias que também possuem valor arquitectónico que convém preservar», sustenta este especialista, considerando que «existiam vantagens em se discutir o projecto publicamente». A hipótese do estacionamento subterrâneo no Principe Real é, aliás, a terceira escolha da Câmara Municipal de Lisboa. Inicialmente, estava previsto um parque no Largo da Misericórdia, junto à estátua do Cauteleiro, mas o IPPAR não viria a autorizar. Depois, os estudos avançaram para o subsolo do Jardim de São Pedro de Alcântara, mas a autarquia abandonou esta hipótese devido às dificuldades de acesso rodoviário. Só depois veio, no final do ano passado,

PEDRO ALMEIDA VIEIRA

De lixeira a espaço nobre CONSTRUÍDO na década de 70 do século XIX, o Jardim do Príncipe Real - também denominado Jardim França Borges, em homenagem a este jornalista republicano - é actualmente um dos espaços verdes carismáticos de Lisboa. No entanto, nem sempre assim foi. Nos últimos três séculos, o espaço agora ocupado pelo jardim teve um percurso acidentado. Até 1740 foi uma lixeira que servia o Bairro Alto, após o abandono da construção de um palácio. A seguir ao terramoto de 1755, serviu de acampamento militar até que foi aí construída a Basílica Patriarcal, que viria a ser consumida por dois incêndios em 1769 e 1771. Naquela zona ainda chegam a ser feitas as fundações do Erário Régio, um projecto que viria a ser abandonado no final do século XVIII. Depois disso, antes mesmo da construção do Jardim do Príncipe Real, foi implantado no subsolo o Reservatório da Patriarcal para abastecer a zona do Bairro Alto - agora transformado num núcleo museológico.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

2 comentários 1 a 2

3 Maio 2001 às 17:25

Lisboa tem milhares de habitantes e que por tanto tem outros milhares de carros, pelo que têm de ser arrumados de preferência fora do passeio.

Creio que uma boa soluçao a estes parques subterraneos sao os edificios parque. Adaptar um imovel ao estancionamento de carros.

28 Abril 2001 às 19:37

Pedro Fonseca ( pfonseca@physics.rutgers.edu )

Tanta estupidez - mais um parque para

atrair carros ao centro da cidade?

O SEU COMENTÁRIO

Nome:

E-mail:

Comentário:

Os comentários constituem um espaço aberto à participação dos leitores. EXPRESSO On-Line reserva-se, no entanto, o direito de não publicar opiniões ofensivas da dignidade dos visados ou que contenham expressões obscenas.

Carros escavam Lisboa João Soares e Pedro Santana Lopes lançam novos projectos nos seus municípios. Em Lisboa, avança-se pelo subsolo, com sete novos parques de estacionamento na Baixa-Chiado. Na Figueira da Foz, aposta-se na via aérea, com um aeródromo em zona protegida José Ventura Reservatório da Patriarcal, no subsolo do Jardim do Príncipe Real: uma beleza escondida que pode ser afectada por um parque de estacionamento subterrâneo A CÂMARA Municipal de Lisboa pretende construir um parque de estacionamento subterrâneo no Principe Real, em Lisboa. O projecto para esta zona – englobado num plano de reordenamento do estacionamento da zona da Baixa-Chiado –, prevê uma ocupação para cerca de 400 automóveis e será construído, de acordo com informações da autarquia, em forma de cunha na faixa exterior do perimetro daquele jardim histórico, no lado oposto à Rua da Escola Politécnica. A CÂMARA Municipal de Lisboa pretende construir um parque de estacionamento subterrâneo no Principe Real, em Lisboa. O projecto para esta zona – englobado num plano de reordenamento do estacionamento da zona da Baixa-Chiado –, prevê uma ocupação para cerca de 400 automóveis e será construído, de acordo com informações da autarquia, em forma de cunha na faixa exterior do perimetro daquele jardim histórico, no lado oposto à Rua da Escola Politécnica. O vereador do Trânsito da autarquia lisboeta, Machado Rodrigues, defende que «esta solução não irá afectar o núcleo central do jardim, nem as árvores seculares, uma vez que as escavações para a construção do parque apenas afectarão os passeios circundantes do jardim». No entanto, serão destruídas mais de uma dezena de árvores – que circundam a zona exterior do jardim, junto ao passeio de calçada portuguesa –, embora a autarquia garanta que haverá uma replantação após a conclusão das obras. IPPAR silencioso O projecto está, contudo, ainda em avaliação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) – por estar dentro duma faixa de protecção de 50 metros –, tanto mais que no subsolo do Jardim do Principe Real está localizado o Reservatório da Patriarcal, integrado no núcleo museológico da EPAL, que abrange também o Aqueduto das Águas Livres, a Mãe d'Água e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos. O projecto está, contudo, ainda em avaliação pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) – por estar dentro duma faixa de protecção de 50 metros –, tanto mais que no subsolo do Jardim do Principe Real está localizado o Reservatório da Patriarcal, integrado no núcleo museológico da EPAL, que abrange também o Aqueduto das Águas Livres, a Mãe d'Água e a Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos. O EXPRESSO tentou, ao longo de duas semanas, obter um comentário do presidente do IPPAR, Luís Calado, que nunca esteve disponível. O Reservatório da Patriarcal – uma antiga cisterna de abstecimento de água ao Bairro Alto – é considerado um das mais emblemáticas obras de engenharia hidráulica do século XIX. Discreta beleza Construída entre 1860 e 1864, com um projecto do engenheiro parisiense Mary, a discreta porta de entrada no centro do Jardim do Principe Real, dá acesso a uma estrutura octoganal, com um reservatório central de 880 metros cúbicos – que, aliás, alimenta o repuxo do lago central à superfície – e sustentada por 31 pilares de nove metros de altura onde assentam arcos de cantaria que sustentam as abóbodas. Deste reservatório partiam, pelo menos, três galerias técnicas e de fornecimento de água. Construída entre 1860 e 1864, com um projecto do engenheiro parisiense Mary, a discreta porta de entrada no centro do Jardim do Principe Real, dá acesso a uma estrutura octoganal, com um reservatório central de 880 metros cúbicos – que, aliás, alimenta o repuxo do lago central à superfície – e sustentada por 31 pilares de nove metros de altura onde assentam arcos de cantaria que sustentam as abóbodas. Deste reservatório partiam, pelo menos, três galerias técnicas e de fornecimento de água. Apesar de ter deixado de ser usada nos anos 40 do século passado, a EPAL, com o apoio da Sociedade Lisboa 94, executou um projecto da autoria do arquitecto Valadas Monteiro que viria a ser distinguido, em 1995, com o Prémio Municipal de Arquitectura Eugénio dos Santos. O espaço, que pode ser visitado diariamente, é palco habitual de eventos culturais, como exposições. Apesar da singularidade deste monumento, quer a autarquia de Lisboa, quer o IPPAR não forneceram ainda quaisquer elementos do projecto à EPAL. «Desconhecemos este projecto, embora o vejamos com alguma preocupação face à proximidade da Patriarcal», diz Margarida Ruas dos Santos, directora do Museu da Água da EPAL. Para a Câmara Municipal de Lisboa, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Praça do Príncipe Real «não irá afectar as árvores seculares do jardim» nem o reservatório da Patriarcal Machado Rodrigues defende-se, considerando que «a tarefa de auscultação das diversas entidades interessadas deverá ser feita pelo IPPAR, com quem estamos em negociações». Este responsável salienta, contudo, que «existem estudos geológicos que garantem que o Reservatório da Patriarcal não será, nem indirectamente, afectado». Machado Rodrigues defende-se, considerando que. Este responsável salienta, contudo, que Varandas Monteiro, autor da obras de reabilitação da Patriarcal, não tem tanta certeza. «O subsolo de Lisboa é uma caixa de surpresas. Não conheço o projecto em concreto, mas há que considerar que o reservatório tem galerias que também possuem valor arquitectónico que convém preservar», sustenta este especialista, considerando que «existiam vantagens em se discutir o projecto publicamente». A hipótese do estacionamento subterrâneo no Principe Real é, aliás, a terceira escolha da Câmara Municipal de Lisboa. Inicialmente, estava previsto um parque no Largo da Misericórdia, junto à estátua do Cauteleiro, mas o IPPAR não viria a autorizar. Depois, os estudos avançaram para o subsolo do Jardim de São Pedro de Alcântara, mas a autarquia abandonou esta hipótese devido às dificuldades de acesso rodoviário. Só depois veio, no final do ano passado,

PEDRO ALMEIDA VIEIRA

De lixeira a espaço nobre CONSTRUÍDO na década de 70 do século XIX, o Jardim do Príncipe Real - também denominado Jardim França Borges, em homenagem a este jornalista republicano - é actualmente um dos espaços verdes carismáticos de Lisboa. No entanto, nem sempre assim foi. Nos últimos três séculos, o espaço agora ocupado pelo jardim teve um percurso acidentado. Até 1740 foi uma lixeira que servia o Bairro Alto, após o abandono da construção de um palácio. A seguir ao terramoto de 1755, serviu de acampamento militar até que foi aí construída a Basílica Patriarcal, que viria a ser consumida por dois incêndios em 1769 e 1771. Naquela zona ainda chegam a ser feitas as fundações do Erário Régio, um projecto que viria a ser abandonado no final do século XVIII. Depois disso, antes mesmo da construção do Jardim do Príncipe Real, foi implantado no subsolo o Reservatório da Patriarcal para abastecer a zona do Bairro Alto - agora transformado num núcleo museológico.

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

2 comentários 1 a 2

3 Maio 2001 às 17:25

Lisboa tem milhares de habitantes e que por tanto tem outros milhares de carros, pelo que têm de ser arrumados de preferência fora do passeio.

Creio que uma boa soluçao a estes parques subterraneos sao os edificios parque. Adaptar um imovel ao estancionamento de carros.

28 Abril 2001 às 19:37

Pedro Fonseca ( pfonseca@physics.rutgers.edu )

Tanta estupidez - mais um parque para

atrair carros ao centro da cidade?

O SEU COMENTÁRIO

Nome:

E-mail:

Comentário:

Os comentários constituem um espaço aberto à participação dos leitores. EXPRESSO On-Line reserva-se, no entanto, o direito de não publicar opiniões ofensivas da dignidade dos visados ou que contenham expressões obscenas.

marcar artigo