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05-12-2000
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21 de Outubro

Ensino de português em França perde 80% dos alunos

Lisboa - Em duas décadas, o número de estudantes de português do ensino secundário em França, país onde vive um milhão de portugueses, diminuiu 80%, revela esta sábado o semanário «Expresso». Ao mesmo tempo, o número de alunos que aprendem italiano e russo ultrapassou os que aprendem a língua portuguesa. Este domingo, deputados da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República iniciam em Paris uma visita por vários países europeus para fazerem um diagnóstico do ensino do português no estrangeiro, que deverá estar pronto em Junho do próximo ano. O objectivo é fazer um retrato das carências existentes, tais como a falta de materiais didácticos e de formação de professores. Para isso, os deputados vão debater o ensino do português em França com professores, alunos e representantes da comunidade portuguesa. Os parlamentares viajam ainda para a Suíça, Alemanha e Holanda, passando depois pelo continente americano. Entretanto, estão a ser recolhidos dados junto de sindicatos, ministérios com tutela nesta área, Governos autónomos e entidades que suportam o ensino da língua no estrangeiro. Na raiz desta iniciativa está, segundo Luiz Fagundes Duarte, deputado socialista e membro do grupo de trabalho, a percepção de que «Portugal nunca desenvolveu uma política do ensino da língua no estrangeiro». Mas não só: «Portugal nunca foi capaz de definir, e muito menos de pôr em prática, uma política do Estado para a Língua Portuguesa», disse o deputado num encontro do Sindicato dos Professores no Estrangeiro, em Maio deste ano, em Paris. Antes de partir para a capital francesa, o deputado fez ao «Expresso» um diagnóstico geral da situação, enumerando «falta de materiais didácticos; professores sem qualificação. As comunidades queixam-se de falta de apoio». São impressões que o próprio já avançara em Paris: «nunca se construíram gramáticas, dicionários e manuais de aprendizagem; nunca se formaram, a sério, e nunca se valorizaram professores; nunca se criaram verdadeiros centros culturais que promovam a língua como um universo cultural». Esta última questão é fundamental, a avaliar pelo que diz João Machado, membro do conselho da comunidade portuguesa de França, quando se refere ao papel do português: «o estatuto de língua de emigrante leva os directores das escolas a afastarem a ideia de que o português possa ser uma língua viva necessária para o futuro profissional dos alunos». José Cesário, deputado do PSD que propôs a criação do grupo de trabalho, não tem dúvidas de que «falamos de um sector esquecido pelo E! stado há décadas e que representa oito milhões de contos num orçamento de mais de 1300 milhões de contos». Fagundes Duarte refere que nunca se soube com rigor como é ensinado o português no mundo, quantas pessoas falam ou aprendem a língua fora de Portugal, em quantos países e em quantas escolas. Não se sabe se o número dos que querem aprender diminui, aumenta ou se mantém, quais os materiais didácticos e bibliotecas existentes, qual é a situação laboral dos professores e qual o estatuto que lhes é reconhecido no país de acolhimento. Em boa verdade, resume o deputado, «nunca houve a mínima ideia do que se passa». Ana Benavente, secretária de Estado da Educação, que tutela o ensino do português no estrangeiro nos anos do secundário, considera um «exagero» as críticas feitas à falta de materiais didácticos, assegurando que «há bastante trabalho feito». Ainda assim, concorda que, de um modo geral, o ensino da língua é «um pouco desolador». Menos 80% de alunos A Secretaria de Estado das Comunidades também está a fazer um inquérito sobre o ensino junto das comunidades portuguesas no mundo. Em França, onde vive um milhão de portugueses, o conselheiro João Machado faz um relatório assustador: «a situação da nossa língua tornou-se numa caricatura», diz. Em 1999, havia 11.425 alunos a aprender português, mas 1 milhão 735 mil a aprender espanhol, 135 mil o italiano e 16 mil o russo. «O Governo francês limita-se a fechar os cursos ‘inviáveis’ no secundário. Os professores perderam as ilusões. (...) Em regiões como Champigny-sur-Marne, bastião da comunidade portuguesa, a nossa língua começa a tornar-se rara». Segundo o diagnóstico da Secretaria de Estado das Comunidades, em menos de duas décadas, verificou-se um decréscimo de 80% nos alunos a aprender português em França: 55.300 em 1983, contra os 11.525 no ano passado. Mas, perante esta descida abrupta, «nas regiões onde os professores são activos, inovadores e militantes da língua, o número de alunos aumenta rapidamente», afirma João Machado. Recorde-se que, em França, o português só é ensinado por professores portugueses até à quarta classe. De acordo com dados do Ministério da Educação, a rede oficial tinha, em todo o mundo, 2732 cursos, 671 professores e 60 mil alunos, no ano lectivo passado. João Machado confirma as palavras dos deputados. Fala da «ausência de uma verdadeira política sobre o ensino na emigração dos sucessivos Governos portugueses», que veio acelerar «um processo ‘natural’ de desaparecimento do português». Diz que os professores nunca tiveram formação específica e que o Instituto Camões, «vocacionado para promover a nossa língua e cultura, nunca saiu da cepa torta (...) Durante 10 anos, salvo rara excepção, nunca nada de vulto ousou ou realizou». Por outro lado, «sempre foi extremamente difícil obter uma estatística da situação do ensino em França». O responsável destaca ainda o desaproveitamento dos «media» portugueses, incluindo a RTPInternacional e as rádios: «Não informam, não aconselham e, sobretudo, não alertam a nossa comunidade para o estado do ensino em França». E o retrato que se faz de França, garantem os entendidos, é a cópia dos problemas que se enfrentam noutros países.

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21 de Outubro

Ensino de português em França perde 80% dos alunos

Lisboa - Em duas décadas, o número de estudantes de português do ensino secundário em França, país onde vive um milhão de portugueses, diminuiu 80%, revela esta sábado o semanário «Expresso». Ao mesmo tempo, o número de alunos que aprendem italiano e russo ultrapassou os que aprendem a língua portuguesa. Este domingo, deputados da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República iniciam em Paris uma visita por vários países europeus para fazerem um diagnóstico do ensino do português no estrangeiro, que deverá estar pronto em Junho do próximo ano. O objectivo é fazer um retrato das carências existentes, tais como a falta de materiais didácticos e de formação de professores. Para isso, os deputados vão debater o ensino do português em França com professores, alunos e representantes da comunidade portuguesa. Os parlamentares viajam ainda para a Suíça, Alemanha e Holanda, passando depois pelo continente americano. Entretanto, estão a ser recolhidos dados junto de sindicatos, ministérios com tutela nesta área, Governos autónomos e entidades que suportam o ensino da língua no estrangeiro. Na raiz desta iniciativa está, segundo Luiz Fagundes Duarte, deputado socialista e membro do grupo de trabalho, a percepção de que «Portugal nunca desenvolveu uma política do ensino da língua no estrangeiro». Mas não só: «Portugal nunca foi capaz de definir, e muito menos de pôr em prática, uma política do Estado para a Língua Portuguesa», disse o deputado num encontro do Sindicato dos Professores no Estrangeiro, em Maio deste ano, em Paris. Antes de partir para a capital francesa, o deputado fez ao «Expresso» um diagnóstico geral da situação, enumerando «falta de materiais didácticos; professores sem qualificação. As comunidades queixam-se de falta de apoio». São impressões que o próprio já avançara em Paris: «nunca se construíram gramáticas, dicionários e manuais de aprendizagem; nunca se formaram, a sério, e nunca se valorizaram professores; nunca se criaram verdadeiros centros culturais que promovam a língua como um universo cultural». Esta última questão é fundamental, a avaliar pelo que diz João Machado, membro do conselho da comunidade portuguesa de França, quando se refere ao papel do português: «o estatuto de língua de emigrante leva os directores das escolas a afastarem a ideia de que o português possa ser uma língua viva necessária para o futuro profissional dos alunos». José Cesário, deputado do PSD que propôs a criação do grupo de trabalho, não tem dúvidas de que «falamos de um sector esquecido pelo E! stado há décadas e que representa oito milhões de contos num orçamento de mais de 1300 milhões de contos». Fagundes Duarte refere que nunca se soube com rigor como é ensinado o português no mundo, quantas pessoas falam ou aprendem a língua fora de Portugal, em quantos países e em quantas escolas. Não se sabe se o número dos que querem aprender diminui, aumenta ou se mantém, quais os materiais didácticos e bibliotecas existentes, qual é a situação laboral dos professores e qual o estatuto que lhes é reconhecido no país de acolhimento. Em boa verdade, resume o deputado, «nunca houve a mínima ideia do que se passa». Ana Benavente, secretária de Estado da Educação, que tutela o ensino do português no estrangeiro nos anos do secundário, considera um «exagero» as críticas feitas à falta de materiais didácticos, assegurando que «há bastante trabalho feito». Ainda assim, concorda que, de um modo geral, o ensino da língua é «um pouco desolador». Menos 80% de alunos A Secretaria de Estado das Comunidades também está a fazer um inquérito sobre o ensino junto das comunidades portuguesas no mundo. Em França, onde vive um milhão de portugueses, o conselheiro João Machado faz um relatório assustador: «a situação da nossa língua tornou-se numa caricatura», diz. Em 1999, havia 11.425 alunos a aprender português, mas 1 milhão 735 mil a aprender espanhol, 135 mil o italiano e 16 mil o russo. «O Governo francês limita-se a fechar os cursos ‘inviáveis’ no secundário. Os professores perderam as ilusões. (...) Em regiões como Champigny-sur-Marne, bastião da comunidade portuguesa, a nossa língua começa a tornar-se rara». Segundo o diagnóstico da Secretaria de Estado das Comunidades, em menos de duas décadas, verificou-se um decréscimo de 80% nos alunos a aprender português em França: 55.300 em 1983, contra os 11.525 no ano passado. Mas, perante esta descida abrupta, «nas regiões onde os professores são activos, inovadores e militantes da língua, o número de alunos aumenta rapidamente», afirma João Machado. Recorde-se que, em França, o português só é ensinado por professores portugueses até à quarta classe. De acordo com dados do Ministério da Educação, a rede oficial tinha, em todo o mundo, 2732 cursos, 671 professores e 60 mil alunos, no ano lectivo passado. João Machado confirma as palavras dos deputados. Fala da «ausência de uma verdadeira política sobre o ensino na emigração dos sucessivos Governos portugueses», que veio acelerar «um processo ‘natural’ de desaparecimento do português». Diz que os professores nunca tiveram formação específica e que o Instituto Camões, «vocacionado para promover a nossa língua e cultura, nunca saiu da cepa torta (...) Durante 10 anos, salvo rara excepção, nunca nada de vulto ousou ou realizou». Por outro lado, «sempre foi extremamente difícil obter uma estatística da situação do ensino em França». O responsável destaca ainda o desaproveitamento dos «media» portugueses, incluindo a RTPInternacional e as rádios: «Não informam, não aconselham e, sobretudo, não alertam a nossa comunidade para o estado do ensino em França». E o retrato que se faz de França, garantem os entendidos, é a cópia dos problemas que se enfrentam noutros países.

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