Medicamento para Bebés com Venda Suspensa
Por ALEXANDRA CAMPOS
Quarta-feira, 27 de Junho de 2001
Um milhão de unidades de Aero OM por ano
O "vício dos bebés" foi temporariamente retirado do mercado. Mas deve voltar às farmácias já amanhã
Não é um medicamento de primeira necessidade, mas quem já teve um bebé sabe bem o transtorno que a sua falta pode representar. A fama da emulsão oral Aero OM é de tal ordem que algumas mães, no saco preparado para a maternidade, por entre fraldas e biberões, levam já um frasquinho das doces gotas cor-de-rosa para amenizar as atribuladas primeiras noites dos bebés.
O problema é que, há cerca de duas semanas, a venda deste medicamento conhecido como o "vício dos bebés" foi suspensa e o produto recolhido do mercado. Tudo porque o laboratório que o fabrica (a OM Portuguesa, filial da multinacional suíça OM Pharma) foi temporariamente encerrado, na sequência de uma acção inspectiva do Infarmed (Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento), o que obrigou à recolha e reanálise de todos os fármacos produzidos pela empresa, cerca de duas dezenas.
Levada a cabo entre 5 e 7 deste mês, a acção inspectiva do Infarmed permitiu detectar várias irregularidades de carácter técnico, nomeadamente a falta de licenciamento do armazém de distribuição e da unidade industrial da OM-Portuguesa. E, enquanto o primeiro era de imediato encerrado pelo Infarmed, a produção da fábrica acabaria por ser voluntariamente suspensa pela OM Pharma.
O vice-presidente do Infarmed, Rogério Gaspar, desdramatiza a situação, explicando que a recolha dos medicamentos é temporária. "Não há qualquer razão para pânico", garantiu, explicando que se está a proceder à reanálise dos fármacos, o que não significa que a sua qualidade esteja em causa. Trata-se de um procedimento de rotina que o vice-presidente do Infarmed admite, porém, poder colocar alguns pais numa situação "incomodativa". O Aero OM "não é um medicamento essencial, mas todos nós enquanto pais sabemos o que é uma noite mal dormida", reconhece.
Mas, afinal, qual é o segredo do sucesso deste fármaco que em Portugal vende um milhão de unidades por ano? O facto de não ter concorrente no mercado é determinante, mas a principal explicação reside no dimeticone, uma substância que reduz os gases intestinais, segundo explica José Santos, adjunto do director-geral da OM Portuguesa.
José Santos garante afirma que os medicamentos da OM começaram já a ser recolocados no circuito de distribuição, devendo todo o processo estar concluído até ao final desta semana. Hoje mesmo os resultados das reanálises aos lotes de Aero OM vão ser entregues no Infarmed e as gotas cor-de-rosa devem voltar a ser comercializadas a partir de amanhã, acrescentou.
Uma boa notícia para a pediatra Luísa Vasconcelos, que receita as gotas cor-de-rosa sem problemas por acreditar que o "vício dos bebés", além de ajudar à expulsão dos gases, por ser doce, proporciona bem-estar às crianças e alívio aos pais. Já o pediatra Octávio Cunha acredita que este "clássico" dos medicamentos infantis tem basicamente "um efeito placebo", apesar de incluir um composto farmacológico. O efeito essencial é o da glucose, que tem "um efeito sedativo sobre os bebés", afirma o clínico, que acredita poder conseguir-se um efeito idêntico com uma solução de sacarose diluída em água.
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Medicamento para Bebés com Venda Suspensa
Por ALEXANDRA CAMPOS
Quarta-feira, 27 de Junho de 2001
Um milhão de unidades de Aero OM por ano
O "vício dos bebés" foi temporariamente retirado do mercado. Mas deve voltar às farmácias já amanhã
Não é um medicamento de primeira necessidade, mas quem já teve um bebé sabe bem o transtorno que a sua falta pode representar. A fama da emulsão oral Aero OM é de tal ordem que algumas mães, no saco preparado para a maternidade, por entre fraldas e biberões, levam já um frasquinho das doces gotas cor-de-rosa para amenizar as atribuladas primeiras noites dos bebés.
O problema é que, há cerca de duas semanas, a venda deste medicamento conhecido como o "vício dos bebés" foi suspensa e o produto recolhido do mercado. Tudo porque o laboratório que o fabrica (a OM Portuguesa, filial da multinacional suíça OM Pharma) foi temporariamente encerrado, na sequência de uma acção inspectiva do Infarmed (Instituto Nacional da Farmácia e do Medicamento), o que obrigou à recolha e reanálise de todos os fármacos produzidos pela empresa, cerca de duas dezenas.
Levada a cabo entre 5 e 7 deste mês, a acção inspectiva do Infarmed permitiu detectar várias irregularidades de carácter técnico, nomeadamente a falta de licenciamento do armazém de distribuição e da unidade industrial da OM-Portuguesa. E, enquanto o primeiro era de imediato encerrado pelo Infarmed, a produção da fábrica acabaria por ser voluntariamente suspensa pela OM Pharma.
O vice-presidente do Infarmed, Rogério Gaspar, desdramatiza a situação, explicando que a recolha dos medicamentos é temporária. "Não há qualquer razão para pânico", garantiu, explicando que se está a proceder à reanálise dos fármacos, o que não significa que a sua qualidade esteja em causa. Trata-se de um procedimento de rotina que o vice-presidente do Infarmed admite, porém, poder colocar alguns pais numa situação "incomodativa". O Aero OM "não é um medicamento essencial, mas todos nós enquanto pais sabemos o que é uma noite mal dormida", reconhece.
Mas, afinal, qual é o segredo do sucesso deste fármaco que em Portugal vende um milhão de unidades por ano? O facto de não ter concorrente no mercado é determinante, mas a principal explicação reside no dimeticone, uma substância que reduz os gases intestinais, segundo explica José Santos, adjunto do director-geral da OM Portuguesa.
José Santos garante afirma que os medicamentos da OM começaram já a ser recolocados no circuito de distribuição, devendo todo o processo estar concluído até ao final desta semana. Hoje mesmo os resultados das reanálises aos lotes de Aero OM vão ser entregues no Infarmed e as gotas cor-de-rosa devem voltar a ser comercializadas a partir de amanhã, acrescentou.
Uma boa notícia para a pediatra Luísa Vasconcelos, que receita as gotas cor-de-rosa sem problemas por acreditar que o "vício dos bebés", além de ajudar à expulsão dos gases, por ser doce, proporciona bem-estar às crianças e alívio aos pais. Já o pediatra Octávio Cunha acredita que este "clássico" dos medicamentos infantis tem basicamente "um efeito placebo", apesar de incluir um composto farmacológico. O efeito essencial é o da glucose, que tem "um efeito sedativo sobre os bebés", afirma o clínico, que acredita poder conseguir-se um efeito idêntico com uma solução de sacarose diluída em água.