Carvalhas intranquilo em águas complicadas

10-10-2000
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O passeio com os jovens no Tejo foi um pretexto para fazer ressaltar o assoreamento do rio

Já em terra firme, a enérgica cabeça-de-lista da coligação por Santarém, Luísa Mesquita, acabaria por fazer um alerta esclarecedor. O pequeno passeio, de cerca de quinze minutos, era o «único possível por causa do assoreamento do rio». Apenas naquele sítio era possível fazer navegar um barco de médio porte; nesta altura do ano os bancos de areia são de tal ordem que noutros lugares, como na capital do distrito, é até possível passar o Tejo a pé.

Aplausos aos patrões

Cerca de meia hora depois, no debate com empresários, no Núcleo Empresarial da Região de Santarém, batia-se o recorde de jornalistas presentes neste dia de campanha: meia dúzia. Muitos mais, mesmo assim, dos que estavam à noite no jantar-comício em Torres Novas. A pouca afluência dos meios de comunicação social corresponde a uma similar pouca vivacidade da campanha eleitoral, pelo menos naquela zona do distrito - até em termos de propaganda visual -, ecos prováveis do drama em Timor.

No debate espontâneo - que nem o líder comunista nem a candidata esperavam - Luísa Mesquita repegou no tema do desassoreamento, entre outros problemas do distrito de Santarém. Mas mostrou também o seu faro político ao fazer rasgados elogios ao patronato, apreciações que foram notadas e retribuídas pelos empresários «a quem defende os trabalhadores».

Carlos Carvalhas não foi capaz de tanta «souplesse» na relação com os industriais. Cometeu mesmo uma «gaffe», ao sublinhar a evasão fiscal das empresas, enunciando mesmo a sua estranheza pelo facto de 50% das empresas darem prejuízo há mais de cinco anos. «Alguma coisa está mal» - observou. Mas assim que se apercebeu de que não estava a fazer o discurso ideal para aquela plateia rapidamente estendeu a crítica aos «profissionais liberais, por exemplo».

O «meu» e o «nosso»

Tarde embora, Carvalhas teve ainda oportunidade de emendar a mão. O ensejo foi-lhe dado por uma pergunta acerca da evolução da posição do PCP sobre a economia, que procurava saber se os comunistas ainda «criticavam o mercado e defendiam os planos quinquenais». A sinceridade do líder comunista jogou a seu favor, nomeadamente quando assumiu as «ilusões» com «um modelo que faliu» ou o «erro enorme» que foi «estatizar a economia».

Sossegando os empresários ao esclarecer que «nunca» foi contra o mercado, Carvalhas assumiu que «vai demorar muito tempo» para que se olhe da mesma maneira «para o meu e para o nosso». E num entusiasmo súbito assegurou que lutará, «sempre», por mais justiça social e por uma sociedade «que é um sonho milenar».

A plateia, sossegada pela defesa da base da economia capitalista e tocada pela sinceridade e emoção do discurso de Carvalhas, aplaudiu - pela primeira e única vez.

TERESA OLIVEIRA

O passeio com os jovens no Tejo foi um pretexto para fazer ressaltar o assoreamento do rio

Já em terra firme, a enérgica cabeça-de-lista da coligação por Santarém, Luísa Mesquita, acabaria por fazer um alerta esclarecedor. O pequeno passeio, de cerca de quinze minutos, era o «único possível por causa do assoreamento do rio». Apenas naquele sítio era possível fazer navegar um barco de médio porte; nesta altura do ano os bancos de areia são de tal ordem que noutros lugares, como na capital do distrito, é até possível passar o Tejo a pé.

Aplausos aos patrões

Cerca de meia hora depois, no debate com empresários, no Núcleo Empresarial da Região de Santarém, batia-se o recorde de jornalistas presentes neste dia de campanha: meia dúzia. Muitos mais, mesmo assim, dos que estavam à noite no jantar-comício em Torres Novas. A pouca afluência dos meios de comunicação social corresponde a uma similar pouca vivacidade da campanha eleitoral, pelo menos naquela zona do distrito - até em termos de propaganda visual -, ecos prováveis do drama em Timor.

No debate espontâneo - que nem o líder comunista nem a candidata esperavam - Luísa Mesquita repegou no tema do desassoreamento, entre outros problemas do distrito de Santarém. Mas mostrou também o seu faro político ao fazer rasgados elogios ao patronato, apreciações que foram notadas e retribuídas pelos empresários «a quem defende os trabalhadores».

Carlos Carvalhas não foi capaz de tanta «souplesse» na relação com os industriais. Cometeu mesmo uma «gaffe», ao sublinhar a evasão fiscal das empresas, enunciando mesmo a sua estranheza pelo facto de 50% das empresas darem prejuízo há mais de cinco anos. «Alguma coisa está mal» - observou. Mas assim que se apercebeu de que não estava a fazer o discurso ideal para aquela plateia rapidamente estendeu a crítica aos «profissionais liberais, por exemplo».

O «meu» e o «nosso»

Tarde embora, Carvalhas teve ainda oportunidade de emendar a mão. O ensejo foi-lhe dado por uma pergunta acerca da evolução da posição do PCP sobre a economia, que procurava saber se os comunistas ainda «criticavam o mercado e defendiam os planos quinquenais». A sinceridade do líder comunista jogou a seu favor, nomeadamente quando assumiu as «ilusões» com «um modelo que faliu» ou o «erro enorme» que foi «estatizar a economia».

Sossegando os empresários ao esclarecer que «nunca» foi contra o mercado, Carvalhas assumiu que «vai demorar muito tempo» para que se olhe da mesma maneira «para o meu e para o nosso». E num entusiasmo súbito assegurou que lutará, «sempre», por mais justiça social e por uma sociedade «que é um sonho milenar».

A plateia, sossegada pela defesa da base da economia capitalista e tocada pela sinceridade e emoção do discurso de Carvalhas, aplaudiu - pela primeira e única vez.

TERESA OLIVEIRA

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