EXPRESSO: Opinião

02-01-2002
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OPINIÃO

«Os Lusíadas», a mentira e a ignorância Maria da Conceição Coelho*

«Em tempo algum, mesmo antes do 25 de Abril, 'Os Lusíadas' foram lidos na íntegra? E, nessa altura, foram verdadeiramente lidos ou esquartejados em orações e distribuídos à posta para consumo rápido, marcado de intencionalidade, 'ao serviço da Nação'?! Quais velhos do Restelo, vêm avisar o país dos prejuízos das novas e perniciosas metodologias de ensino, pondo em causa tudo o que na actualidade se investiga no âmbito das Ciências da Educação e, ainda, a competência dos professores de Português.» Nô mais, Musa, nô mais, [que a Lira tenho Destemperada e a voz [enrouquecida, E não do canto, [mas de ver que venho Cantar a gente surda [e endurecida. O favor com que mais [se acende o engenho Não no dá a pátria, não, [que está metida No gosto da cobiça [e na dureza D'ua austera, apagada [e vil tristeza. Luís de Camões, Os Lusíadas CAMÕES, no seu tempo, queixa-se à sua musa da gente surda e empedernida a quem se dirige, gente que só pensa na ganância e sofre de uma estupidez triste, soturna, apagada e mesquinha. Poderíamos, sem grande exagero, encontrar actualidade nos versos camonianos, acrescentando-lhes a visão ridícula e caricata de uma estupidez mediatizada que se faz arauto da defesa de valores patrióticos com recurso à vil mentira, exibindo-a como verdade absoluta e abrindo caminho à mais pura demagogia, a que se constrói e desenvolve a partir da ignorância dos factos e explora as emoções do cidadão comum. A total ignorância dos programas escolares de Português das últimas décadas manifesta-se nos órgãos de comunicação social que, através das mais variadas personalidades, dão crédito a uma vergonhosa mentira, publicada como manchete de primeira página n’«O Independente». Constatado o equívoco (afinal, Camões esteve sempre previsto no programa!), que fizeram aqueles donos do mundo? Ao invés de repor a verdade, vêm agora demonstrar os malefícios da ausência de leitura integral da epopeia camoniana. Terão esquecido que, em tempo algum, mesmo antes do 25 de Abril, Os Lusíadas foram lidos na íntegra? E, nessa altura, foram verdadeiramente lidos ou esquartejados em orações e distribuídos à posta para consumo rápido, marcado de intencionalidade, «ao serviço da Nação»?! Quais velhos do Restelo, vêm avisar o país dos prejuízos das novas e perniciosas metodologias de ensino, pondo em causa tudo o que na actualidade se investiga no âmbito das Ciências da Educação e, ainda, a competência dos professores de Português. À cabeça desta manifestação de senhores importantes surge um «Senhor Importantíssimo» que derrama a erudição por tudo o que é jornal, recorrendo às formas mais odiosas com que se pode abordar um assunto: a reles ofensa, o ataque à honra pessoal e à dignidade profissional. E como em questões de «bom senso e bom gosto» o pior cego é aquele que não quer ver, governa à sombra, do alto da sua torre de marfim, qual Big Brother, profeta ou vate a orientar as turbas! Este «senhor importantíssimo» é um T Rex da literatura: ataca e cerca a presa por todos os lados, saliva, urra, mastiga, engole — e arrota, depois, arrogância e narcisismo. Onde têm estado estes senhores de há ano e meio a esta parte, altura em que a equipa começou a trabalhar? Onde têm estado estes senhores que fazem agora tábua rasa dos múltiplos pareceres e sugestões dos consultores, especialistas em Linguística, Literatura e Didáctica da Língua Materna? Onde têm estado desde que, há quatro anos, se iniciou um processo de Formação de Acompanhantes Locais de Português, professores de todo o país, cuja opinião marcou, de forma decisiva, a elaboração do programa? E por que razão não emitiram opinião durante o tempo, alargado, em que o programa esteve sujeito a discussão pública tendo em vista a introdução de possíveis reajustamentos antes da homologação? Não brinquem connosco agora — que não brincámos em serviço! Poderiam, pelo menos, ter prestado atenção ao capítulo da «Apresentação do Programa», onde se instituem as componentes Compreensão Oral, Expressão Oral, Expressão Escrita, Leitura e Funcionamento da Língua como competências nucleares desta disciplina. O que significa que a leitura é uma das componentes do programa e, dentro dessa componente, surge a leitura literária. Embora não se trate de programa de Literatura Portuguesa, concede lugar privilegiado ao texto literário, tomando como inspiração as teses sobre o ensino do texto literário na aula de Português, magistralmente concebidas por Vítor Aguiar e Silva: «O modelo de programa que proponho (...) tem fundamentalmente os seguintes objectivos: reduzir a extensão dos programas; diminuir a massa de informação histórico-literária a transmitir e a decorar; formar leitores que leiam com gosto, com emoção e com discernimento, na escola, fora da escola e para além da escola. Se se quiser, um modelo de programa com o objectivo de formar leitores para a vida, no sentido plural desta expressão: leitores para toda a vida e leitores que buscam nos textos literários um conhecimento, uma sabedoria, um prazer e uma consolação indispensáveis à vida». Longe está o tempo em que uma aula de Português servia para o professor transmitir informação sobre autores e obras e os alunos se limitavam a ouvir e a aprender. Os 50 minutos concedidos actualmente a cada aula são insuficientes à participação avassaladora dos jovens na construção da aprendizagem. O silêncio expectante do passado, ancorado em formas padronizadas de interpretação, muitas vezes forçadas e até arbitrárias, deu lugar a uma profusão de vozes e «em última instância, o professor e o aluno têm de ler e interpretar um texto literário concreto e irredutivelmente individual, num diálogo hermenêutico entre as estruturas textuais e a memória, a informação, a sensibilidade e a imaginação», sendo fundamental que «as emoções — a alegria, a tristeza, a angústia, a piedade, a indignação, a revolta... — fundamentais nos jovens e nos adolescentes não sejam asfixiadas ou esterilizadas no acto de leitura por impositivas grelhas de leitura ou por modelos analítico-interpretativos de aplicação mecânica». O país precisa da verdade e do esclarecimento, os professores precisam de mais respeito pelo seu trabalho. Aqui os louvo pela sua coragem, pelo modo discreto como definitivamente mudam o mundo, sem ambicionar protagonismos mediáticos ou de outra qualquer espécie que não seja a marca indelével com que proporcionam aos jovens o diálogo «em que a inteligência clarifica e depura as emoções e em que estas vivificam e fertilizam a inteligência». Louvo todos aqueles que, no país inteiro, participaram no Projecto Falar, por acreditarem que muito pode ser feito para melhorar o ensino e a aprendizagem do Português. Louvo, também, os que têm contribuído para que a Associação de Professores de Português não morra, persistindo na vontade de a tornar cada vez mais forte. Por último, e assumindo obviamente inteira responsabilidade por tudo o que de bom e de mau este programa encerra, louvo a equipa de autores que contra ventos e marés realizou um trabalho sério, que merecia mais do que a mentira gratuita e generalizada, pois não lhe «lhe falta na vida honesto estudo/Com longa esperiência misturado». Os 25 anos de carreira profissional dedicada aos alunos que comigo partilharam a vida e muito me ensinaram são, para mim, motivo de recomeço e nunca de desistência. E visto que os alunos sempre me mereceram o maior respeito, é com a serenidade e a força dos que nunca pactuam com mentiras e manipulações que vivo esta pequena tempestade. Fica-me, por fim, a convicção de que é pelos meus alunos que continuarei a aceitar o desafio de outras batalhas. Apesar dos inqualificáveis comportamentos de alguns senhores donos do mundo que, do alto do seu pedestal, «nos clausuram num nacionalismo míope e bafiento», não olhando a meios para atingir os seus fins... * Coordenadora dos programas de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa, prof. do Ensino Secundário, mestre em Literatura Portuguesa pela F. L. da U. Lisboa

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

20 comentários 1 a 10

28 de Agosto de 2001 às 22:58

Lúcia

Ainda bem que me baldava às aulas de Português (aparentemente, nada perdi...) e ia para a taberna mais próxima com alguns colegas, jogar às cartas e ler as aventuras do Rolando de Roncesvales, do Cid, o Campeador, do Sandokan, o Tigre da Malásia, do Tarzan dos Macacos e do Conan, o Bárbaro:

sempre aprendi umas tácticas de luta que me ajudaram mais na vida do que todos os professores e programas de ensino!

28 de Agosto de 2001 às 21:37

Mestre Gil

Abaixo os Lusíadas e viva Gil Vicente, cujo talento não levanta polémica!

28 de Agosto de 2001 às 17:37

É urgente impedir que este crime aconteça

Se, em vez das múltiplas Comissões coordenadoras de tudo e de nada que o Ministério da Educação sustenta com os nossos impostos, se obrigasse os professores a ensinar as crianças a ler e escrever (e, já agora, também a fazer contas), já o problema dos Lusíadas não se punha.

Ler é um instrumento indispensável à formulação do pensamento. Não ensinar as crianças a ler, é o mesmo que condená-las a nunca saberem pensar.

Pode parecer maquiavélico, mas penso que é isso mesmo que se pretende: formar adultos acéfalos, para melhor os poder manipular.

Felizmente estão ainda vivos muitos dos que foram ensinados a ler. Leram os Lusíadas e outros clássicos, alguns bem mais enfadonhos e difíceis, como o Padre António Vieira e D. Francisco Manuel de Melo com eles aprenderam a língua, nomeadamente através da divisão de orações (mesmo sem gostar). Mas hoje sabem pensar pela sua cabeça, por isso são tão incómodos.

Perguntem, já agora às crianças se é mais divertido fazer "árvores" e mais fácil pronunciar "sintagma nominal" e "sintagma verbal", que "sujeito" e "perdicado".

A Senhora Mestra em Língua e Literatura Portuguesa, se exerce, como diz, o professorado há 25 anos, nunca ensinou senão pelos malfadados programas inventados, para nossa desgraça, pelo Ministro Veiga Simão, e que deram início ao descalabro do ensino em Portugal.

Se se fornou há 25 anos na F.L. da U.C.L., deve tê-lo feito, pelo menos em parte, administrativamente, pois era isso que acontecia nessa altura na Faculdade de Letras da U.L. Mais tarde terá feito um Mestrado, o que, hoje em dia, é mais fácil que fazer o antigo 5º ano do Liceu, e está, aliás na moda.

Demonstra porém que o seu Curso de Literatura Portuguesa não incluía o estudo da História de Portugal.

Isto explica porque é que quer sanear os Lusíadas. Como é possível apreciar os Lusíadas, sem saber História ?

É que, se tivesse estudado História a nível Universitário, nunca chamaria "reaccionário" ao pobre do Velho do Restelo. Fique então sabendo, da parte de quem não é mestre, mas apenas licenciado em História, e que, desde a conclusão da licenciatura, tem procurado manter-se actualizado, que Camões utiliza a figura do Velho do Restelo - a escolha de um Velho não é casual: identifica-o Camões com a figura do Sábio, aquele que possui "o saber de experiência feito" - para traduzir uma corrente de opinião, à época existente em Portugal, que pugnava por uma solução bem progressista para a época: o abandono das Índias (o que incluía, como talvez saiba, o Extremo-Oriente e a costa oriental de África), em favor do desenvolvimento de uma política atlântica, que limitava o nosso domínio ao que então se designava por África, Brasil e Lisboa.

Tal corrente de opinião - com a qual, segundo tudo leva a crer Camões se identificava - estava em oposição à política oficial, e era perigoso defendê-la abertamente. O grande Luís Vaz defende-a, nos Lusíadas, pela voz do Velho do Restelo. Talvez por isso, tenha caído em desgraça.

O resultado de se não ter seguido a política "reaccionária" defendida pelo Velho do Restelo, conhece-se: foi a perda da independência a favor de Espanha.

Como é isso precisamente o que hoje em dia se pretende que volte a acontecer, é urgente "sanear" os Lusíadas.

Substituí-lo pelo "progressista" Saramago, ainda é melhor, porque os alunos ficam assim a saber ainda menos de leitura e escrita. Com a "vantagem" de ganharem definitivamente horror à leitura.

28 de Agosto de 2001 às 12:04

EA

E um comentário a este artigo, senhor professor Isaias Afonso?. Para a sua intelegência, que diz ter, mas não se nota, devia ter feito. Ficava-lhe bem e tirava-me certas dúvidas a seu respeito. Porque só comenta certos artigos de pouca intelegência e importancia, faz comentários aos seus próprios comentários e diz mal de pessoas com nível e caracter como são todos os do Expresso.Seria mais bonito e aprendiamos um pouco mais, com um professor primário.

27 de Agosto de 2001 às 15:45

carlos alberto ilharco

Quando andava a estudar e havia exames, a conselho de amigo, dobrei variadissímas vezes " Os Lusiadas " de uma certa maneira, porque havia um professor que dizia:

-Abra os Lusiadas e leia a patir do segundo verso.

Está bem de ver que assim dividia-se muito melhor as orações.

Outro dia ( dando de barato a certeza da reportagem) uma aquipa de TV foi a uma praia, vejam bem a uma praia, e os jovens não sabiam quem era o Camões, o Adamastor o Velho do Restelo e , claro , nem faziam ideia de como começavam os Lusiadas.

No meu tempo ( frase estafada) aprendiam-se as Linhas da Beira Alta, as cordilheiras etc etc.

Os tempos mudam, os métodos de ensino também.

Provavelmente para o Admnistrador da CP faz-lhe falta não saber onde fica o Ramal do Vouga , mas para mim ...

26 de Agosto de 2001 às 15:39

A Sábia

Estes comentários são todos lamentáveis. Em vez de comentarem o artigo em questão, repleto de vergonhosos insultos pessoais e falsas questões, as Marias que aqui vêm escrever não trazem nada de novo, porque se calhar nada sabem realmente sobre o assunto. O direito que o Expresso diz defender sobre opiniões ofensivas da dignidade dos visados devia aplicar-se a todos os comentários aqui expressos. O que é que acrescentam à questão? Se querem mandar e-mails uns aos outros, guardem-nos para vocês e poupem os leitores. Que falta de educação, D. Maria da Silva! Fale das tácticas do Ministério para aprovar esta reforma. Fale do programa em si e das soluções que propõe. Fale da política do facilitismo científico que este programa preconiza. Fale de uma Associação de Professores de Português que quer reduzir o ensino do Português a uma escolaridade obrigatória para aprender a ler a escrever. Fale da falta de coragem de Maria da Conceição Coelho para dizer quem é o "Senhor Importantíssimo", que todos adivinhamos ser Vasco Graça Moura, que sobre o assunto só tem dito verdades objectivas. Traga ideias, traga argumentos.

26 de Agosto de 2001 às 14:59

O Ignoto

Esta Maria da Silva, que não tem ideias e apenas quer barulho, ou está fora de si ou vive numa escola sem alunos ou mora num mundo sem professores.

26 de Agosto de 2001 às 11:10

Céptico

Na minha simplicidade de espírito, fiz perguntas simples. Que ficaram sem resposta. A Senhora D. Maria da Silva e o Senhor Prof. Doutor Carlos Ceia preferem espingardear-se mutuamente, numa demonstração pública de uma das razões pelas quais o nivel de conhecimentos de língua portuguesa é tão baixo entre os jovens portugueses. Ou seja, as vaidades dos agentes são mais importantes do que a eficácia do ensino de português. O que interessa é ver "quem fica por cima" em polémicas patéticas, numa manifestação da mentalidade burocrática que infesta os nossos orgãos consultivos e decisórios. Está tudo explicado. E eu vou continuar a ter que aturar o analfabetismo funcional de muitos jovens que chegam à Universidade, sabendo que a culpa não é de facto deles.

26 de Agosto de 2001 às 05:28

Maria da Silva

Resposta à mensagem indelicada que o Sr. Ceia enviou para o meu endereço electrónico:

Pobre Universidade que tais docentes tem...

Ficou assim tão agastado por não usar os seus títulos académicos? Acha que passei por cima deles? Engana-se, o Sr. é que está por de baixo deles, oprimem-no, retiram-lhe clarividência e flexibilidade de raciocínio.

E sabe outra coisa? Quando não quero ser bem educada, não trato as pessoas por “Sr.” ou “Sra D.”... Não!... Nessas ocasiões, inspiro-me em Gil Vicente, percebeu?

Diz o nosso povo, com a sabedoria de quem nunca foi à Universidade: "Presunção e água benta... Cada qual toma a que quer" O Sr. tomou-a toda para si...

Mas não se agaste, Sr. Ceia, acalme-se que isso até lhe pode fazer mal ao fígado... No seu afã furioso até deixou escapar alguns erros pouco recomendáveis em quem se arma em defensor da língua de Camões (então desconhece que incomoda não carece de acento?)

Mas sabe uma coisa? Está muito enganado. Eu conheço-o, melhor dizendo, li o textito que publicou em “A Página da Educação” há dois ou três meses atrás. E fiquei a perceber muita coisa sobre si, Sr. Ceia.

Percebi, por exemplo a sua dor de cotovelo por a História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes e António José Saraiva e o Dicionário da Literatura dirigido por Jacinto do Prado Coelho serem obras mais consultadas do que a literatura cinzenta que produz por imperativos de ascensão na carreira...

Percebi que os manuais escolares de que é autor, não vendem tão bem quanto a sua bolsa desejaria...

Percebi que a sua concepção de educação prevê que os professores sejam “professores-aplicadores” (há expressões mais eloquentes do que um tratado inteirinho de Desenvolvimento Curricular!); que a abordagem dos programas deve ser uniforme (de acordo com a sua esclarecida perspectiva, sem dúvida...); que os cursos de formação inicial de professores devem ser globalizados; que não devemos copiar reformas vindas do estrangeiro, excepto as que vêm do estrangeiro de que o Sr. Ceia gosta...

Percebi, ainda, que a querela em torno dos Programas de Português para o Ensino Secundário pouco tem a ver com o que é melhor para a qualidade do Ensino Secundário: é lá uma questão entre linguistas e historiadores da literatura, a ver quem fica com o quintalzito maior...

Mas a sua cartita irada, também me revelou que o Sr Ceia mentiu no sector “Comentários” do Expresso on-line. Afinal, houve debate sobre os programas de português, e intenso, a avaliar pelas suas próprias palavras. Eu recordo-lhas: o senhor diz que publicou um artigo “no Jornal de Letras (...) escrevi aos autores dos programas e mantive com alguns correspondência privada sobre o assunto, enviei pareceres em devido tempo, escrevi ao Ministro da Educação, publiquei artigos em jornais de grande expansão entre os professores do Ensino Secundário (Educare e Jornal A Página da Educação), mantenho com a Associação de Professores de Português um diálogo permanente sobre o assunto, discordando publicamente da sua posição, apresentei em congressos recentes comunicações sobre o assunto.”

Pela sua parte, o Sr. até se fartou de intervir, espingardeou em todas as direcções. Não foi ouvido? Os seus argumentos não convenceram ninguém? Ou preferiu avançar com os seus títulos académicos, à míngua de argumentação fundamentada? Que falta de respeito, não ligarem ao Sr. Ceia, perdão, doutor...

Então o livrito sobre o ensino da literatura anda a vender-se mal e queria que eu lhe comprasse um? Lá publicidade a si mesmo, não se escusou a fazer... Também é dos que vai para os congressos com a obrazita num saco de plástico, para vender aos mais incautos?

Que quer o Sr. Ceia dizer com a frase: “Se for apenas uma daquelas professoras que não tem mais nada para fazer na sua vida profissional...”? Os professores devem fazer outra coisa para além de serem professores na sua (deles) vida profissional? O quê, por exemplo? Vender livros?

Mas parabéns, Sr. Ceia! Apesar de tudo, conseguiu conter-se e não me mandou para casa ir coser meias... Vá lá! Não percamos a esperança... O caldo ainda não está completamente entornado! Pode, ainda, haver uma solução para si...

Só mais uma coisa: como não gosto de acabar em privado coisas iniciadas em público, vou mandar para o local onde esta conversa começou, a minha resposta à carta insultuosa que enviou para o meu endereço electrónico.

E pronto, Sr. Ceia, por agora chega. Vou tomar o pequeno almoço, que já são quase cinco e meia... Bom dia Sr. Ceia.

Maria da Silva

26 de Agosto de 2001 às 03:33

Lúcia

Podem vocês TODOS ter a certeza de q a melhor maneira de nos provocarem repulsa por 1a obra literária é obrigarem-nos a lê-la! :-(

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«Os Lusíadas», a mentira e a ignorância Maria da Conceição Coelho*

«Em tempo algum, mesmo antes do 25 de Abril, 'Os Lusíadas' foram lidos na íntegra? E, nessa altura, foram verdadeiramente lidos ou esquartejados em orações e distribuídos à posta para consumo rápido, marcado de intencionalidade, 'ao serviço da Nação'?! Quais velhos do Restelo, vêm avisar o país dos prejuízos das novas e perniciosas metodologias de ensino, pondo em causa tudo o que na actualidade se investiga no âmbito das Ciências da Educação e, ainda, a competência dos professores de Português.» Nô mais, Musa, nô mais, [que a Lira tenho Destemperada e a voz [enrouquecida, E não do canto, [mas de ver que venho Cantar a gente surda [e endurecida. O favor com que mais [se acende o engenho Não no dá a pátria, não, [que está metida No gosto da cobiça [e na dureza D'ua austera, apagada [e vil tristeza. Luís de Camões, Os Lusíadas CAMÕES, no seu tempo, queixa-se à sua musa da gente surda e empedernida a quem se dirige, gente que só pensa na ganância e sofre de uma estupidez triste, soturna, apagada e mesquinha. Poderíamos, sem grande exagero, encontrar actualidade nos versos camonianos, acrescentando-lhes a visão ridícula e caricata de uma estupidez mediatizada que se faz arauto da defesa de valores patrióticos com recurso à vil mentira, exibindo-a como verdade absoluta e abrindo caminho à mais pura demagogia, a que se constrói e desenvolve a partir da ignorância dos factos e explora as emoções do cidadão comum. A total ignorância dos programas escolares de Português das últimas décadas manifesta-se nos órgãos de comunicação social que, através das mais variadas personalidades, dão crédito a uma vergonhosa mentira, publicada como manchete de primeira página n’«O Independente». Constatado o equívoco (afinal, Camões esteve sempre previsto no programa!), que fizeram aqueles donos do mundo? Ao invés de repor a verdade, vêm agora demonstrar os malefícios da ausência de leitura integral da epopeia camoniana. Terão esquecido que, em tempo algum, mesmo antes do 25 de Abril, Os Lusíadas foram lidos na íntegra? E, nessa altura, foram verdadeiramente lidos ou esquartejados em orações e distribuídos à posta para consumo rápido, marcado de intencionalidade, «ao serviço da Nação»?! Quais velhos do Restelo, vêm avisar o país dos prejuízos das novas e perniciosas metodologias de ensino, pondo em causa tudo o que na actualidade se investiga no âmbito das Ciências da Educação e, ainda, a competência dos professores de Português. À cabeça desta manifestação de senhores importantes surge um «Senhor Importantíssimo» que derrama a erudição por tudo o que é jornal, recorrendo às formas mais odiosas com que se pode abordar um assunto: a reles ofensa, o ataque à honra pessoal e à dignidade profissional. E como em questões de «bom senso e bom gosto» o pior cego é aquele que não quer ver, governa à sombra, do alto da sua torre de marfim, qual Big Brother, profeta ou vate a orientar as turbas! Este «senhor importantíssimo» é um T Rex da literatura: ataca e cerca a presa por todos os lados, saliva, urra, mastiga, engole — e arrota, depois, arrogância e narcisismo. Onde têm estado estes senhores de há ano e meio a esta parte, altura em que a equipa começou a trabalhar? Onde têm estado estes senhores que fazem agora tábua rasa dos múltiplos pareceres e sugestões dos consultores, especialistas em Linguística, Literatura e Didáctica da Língua Materna? Onde têm estado desde que, há quatro anos, se iniciou um processo de Formação de Acompanhantes Locais de Português, professores de todo o país, cuja opinião marcou, de forma decisiva, a elaboração do programa? E por que razão não emitiram opinião durante o tempo, alargado, em que o programa esteve sujeito a discussão pública tendo em vista a introdução de possíveis reajustamentos antes da homologação? Não brinquem connosco agora — que não brincámos em serviço! Poderiam, pelo menos, ter prestado atenção ao capítulo da «Apresentação do Programa», onde se instituem as componentes Compreensão Oral, Expressão Oral, Expressão Escrita, Leitura e Funcionamento da Língua como competências nucleares desta disciplina. O que significa que a leitura é uma das componentes do programa e, dentro dessa componente, surge a leitura literária. Embora não se trate de programa de Literatura Portuguesa, concede lugar privilegiado ao texto literário, tomando como inspiração as teses sobre o ensino do texto literário na aula de Português, magistralmente concebidas por Vítor Aguiar e Silva: «O modelo de programa que proponho (...) tem fundamentalmente os seguintes objectivos: reduzir a extensão dos programas; diminuir a massa de informação histórico-literária a transmitir e a decorar; formar leitores que leiam com gosto, com emoção e com discernimento, na escola, fora da escola e para além da escola. Se se quiser, um modelo de programa com o objectivo de formar leitores para a vida, no sentido plural desta expressão: leitores para toda a vida e leitores que buscam nos textos literários um conhecimento, uma sabedoria, um prazer e uma consolação indispensáveis à vida». Longe está o tempo em que uma aula de Português servia para o professor transmitir informação sobre autores e obras e os alunos se limitavam a ouvir e a aprender. Os 50 minutos concedidos actualmente a cada aula são insuficientes à participação avassaladora dos jovens na construção da aprendizagem. O silêncio expectante do passado, ancorado em formas padronizadas de interpretação, muitas vezes forçadas e até arbitrárias, deu lugar a uma profusão de vozes e «em última instância, o professor e o aluno têm de ler e interpretar um texto literário concreto e irredutivelmente individual, num diálogo hermenêutico entre as estruturas textuais e a memória, a informação, a sensibilidade e a imaginação», sendo fundamental que «as emoções — a alegria, a tristeza, a angústia, a piedade, a indignação, a revolta... — fundamentais nos jovens e nos adolescentes não sejam asfixiadas ou esterilizadas no acto de leitura por impositivas grelhas de leitura ou por modelos analítico-interpretativos de aplicação mecânica». O país precisa da verdade e do esclarecimento, os professores precisam de mais respeito pelo seu trabalho. Aqui os louvo pela sua coragem, pelo modo discreto como definitivamente mudam o mundo, sem ambicionar protagonismos mediáticos ou de outra qualquer espécie que não seja a marca indelével com que proporcionam aos jovens o diálogo «em que a inteligência clarifica e depura as emoções e em que estas vivificam e fertilizam a inteligência». Louvo todos aqueles que, no país inteiro, participaram no Projecto Falar, por acreditarem que muito pode ser feito para melhorar o ensino e a aprendizagem do Português. Louvo, também, os que têm contribuído para que a Associação de Professores de Português não morra, persistindo na vontade de a tornar cada vez mais forte. Por último, e assumindo obviamente inteira responsabilidade por tudo o que de bom e de mau este programa encerra, louvo a equipa de autores que contra ventos e marés realizou um trabalho sério, que merecia mais do que a mentira gratuita e generalizada, pois não lhe «lhe falta na vida honesto estudo/Com longa esperiência misturado». Os 25 anos de carreira profissional dedicada aos alunos que comigo partilharam a vida e muito me ensinaram são, para mim, motivo de recomeço e nunca de desistência. E visto que os alunos sempre me mereceram o maior respeito, é com a serenidade e a força dos que nunca pactuam com mentiras e manipulações que vivo esta pequena tempestade. Fica-me, por fim, a convicção de que é pelos meus alunos que continuarei a aceitar o desafio de outras batalhas. Apesar dos inqualificáveis comportamentos de alguns senhores donos do mundo que, do alto do seu pedestal, «nos clausuram num nacionalismo míope e bafiento», não olhando a meios para atingir os seus fins... * Coordenadora dos programas de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa, prof. do Ensino Secundário, mestre em Literatura Portuguesa pela F. L. da U. Lisboa

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

20 comentários 1 a 10

28 de Agosto de 2001 às 22:58

Lúcia

Ainda bem que me baldava às aulas de Português (aparentemente, nada perdi...) e ia para a taberna mais próxima com alguns colegas, jogar às cartas e ler as aventuras do Rolando de Roncesvales, do Cid, o Campeador, do Sandokan, o Tigre da Malásia, do Tarzan dos Macacos e do Conan, o Bárbaro:

sempre aprendi umas tácticas de luta que me ajudaram mais na vida do que todos os professores e programas de ensino!

28 de Agosto de 2001 às 21:37

Mestre Gil

Abaixo os Lusíadas e viva Gil Vicente, cujo talento não levanta polémica!

28 de Agosto de 2001 às 17:37

É urgente impedir que este crime aconteça

Se, em vez das múltiplas Comissões coordenadoras de tudo e de nada que o Ministério da Educação sustenta com os nossos impostos, se obrigasse os professores a ensinar as crianças a ler e escrever (e, já agora, também a fazer contas), já o problema dos Lusíadas não se punha.

Ler é um instrumento indispensável à formulação do pensamento. Não ensinar as crianças a ler, é o mesmo que condená-las a nunca saberem pensar.

Pode parecer maquiavélico, mas penso que é isso mesmo que se pretende: formar adultos acéfalos, para melhor os poder manipular.

Felizmente estão ainda vivos muitos dos que foram ensinados a ler. Leram os Lusíadas e outros clássicos, alguns bem mais enfadonhos e difíceis, como o Padre António Vieira e D. Francisco Manuel de Melo com eles aprenderam a língua, nomeadamente através da divisão de orações (mesmo sem gostar). Mas hoje sabem pensar pela sua cabeça, por isso são tão incómodos.

Perguntem, já agora às crianças se é mais divertido fazer "árvores" e mais fácil pronunciar "sintagma nominal" e "sintagma verbal", que "sujeito" e "perdicado".

A Senhora Mestra em Língua e Literatura Portuguesa, se exerce, como diz, o professorado há 25 anos, nunca ensinou senão pelos malfadados programas inventados, para nossa desgraça, pelo Ministro Veiga Simão, e que deram início ao descalabro do ensino em Portugal.

Se se fornou há 25 anos na F.L. da U.C.L., deve tê-lo feito, pelo menos em parte, administrativamente, pois era isso que acontecia nessa altura na Faculdade de Letras da U.L. Mais tarde terá feito um Mestrado, o que, hoje em dia, é mais fácil que fazer o antigo 5º ano do Liceu, e está, aliás na moda.

Demonstra porém que o seu Curso de Literatura Portuguesa não incluía o estudo da História de Portugal.

Isto explica porque é que quer sanear os Lusíadas. Como é possível apreciar os Lusíadas, sem saber História ?

É que, se tivesse estudado História a nível Universitário, nunca chamaria "reaccionário" ao pobre do Velho do Restelo. Fique então sabendo, da parte de quem não é mestre, mas apenas licenciado em História, e que, desde a conclusão da licenciatura, tem procurado manter-se actualizado, que Camões utiliza a figura do Velho do Restelo - a escolha de um Velho não é casual: identifica-o Camões com a figura do Sábio, aquele que possui "o saber de experiência feito" - para traduzir uma corrente de opinião, à época existente em Portugal, que pugnava por uma solução bem progressista para a época: o abandono das Índias (o que incluía, como talvez saiba, o Extremo-Oriente e a costa oriental de África), em favor do desenvolvimento de uma política atlântica, que limitava o nosso domínio ao que então se designava por África, Brasil e Lisboa.

Tal corrente de opinião - com a qual, segundo tudo leva a crer Camões se identificava - estava em oposição à política oficial, e era perigoso defendê-la abertamente. O grande Luís Vaz defende-a, nos Lusíadas, pela voz do Velho do Restelo. Talvez por isso, tenha caído em desgraça.

O resultado de se não ter seguido a política "reaccionária" defendida pelo Velho do Restelo, conhece-se: foi a perda da independência a favor de Espanha.

Como é isso precisamente o que hoje em dia se pretende que volte a acontecer, é urgente "sanear" os Lusíadas.

Substituí-lo pelo "progressista" Saramago, ainda é melhor, porque os alunos ficam assim a saber ainda menos de leitura e escrita. Com a "vantagem" de ganharem definitivamente horror à leitura.

28 de Agosto de 2001 às 12:04

EA

E um comentário a este artigo, senhor professor Isaias Afonso?. Para a sua intelegência, que diz ter, mas não se nota, devia ter feito. Ficava-lhe bem e tirava-me certas dúvidas a seu respeito. Porque só comenta certos artigos de pouca intelegência e importancia, faz comentários aos seus próprios comentários e diz mal de pessoas com nível e caracter como são todos os do Expresso.Seria mais bonito e aprendiamos um pouco mais, com um professor primário.

27 de Agosto de 2001 às 15:45

carlos alberto ilharco

Quando andava a estudar e havia exames, a conselho de amigo, dobrei variadissímas vezes " Os Lusiadas " de uma certa maneira, porque havia um professor que dizia:

-Abra os Lusiadas e leia a patir do segundo verso.

Está bem de ver que assim dividia-se muito melhor as orações.

Outro dia ( dando de barato a certeza da reportagem) uma aquipa de TV foi a uma praia, vejam bem a uma praia, e os jovens não sabiam quem era o Camões, o Adamastor o Velho do Restelo e , claro , nem faziam ideia de como começavam os Lusiadas.

No meu tempo ( frase estafada) aprendiam-se as Linhas da Beira Alta, as cordilheiras etc etc.

Os tempos mudam, os métodos de ensino também.

Provavelmente para o Admnistrador da CP faz-lhe falta não saber onde fica o Ramal do Vouga , mas para mim ...

26 de Agosto de 2001 às 15:39

A Sábia

Estes comentários são todos lamentáveis. Em vez de comentarem o artigo em questão, repleto de vergonhosos insultos pessoais e falsas questões, as Marias que aqui vêm escrever não trazem nada de novo, porque se calhar nada sabem realmente sobre o assunto. O direito que o Expresso diz defender sobre opiniões ofensivas da dignidade dos visados devia aplicar-se a todos os comentários aqui expressos. O que é que acrescentam à questão? Se querem mandar e-mails uns aos outros, guardem-nos para vocês e poupem os leitores. Que falta de educação, D. Maria da Silva! Fale das tácticas do Ministério para aprovar esta reforma. Fale do programa em si e das soluções que propõe. Fale da política do facilitismo científico que este programa preconiza. Fale de uma Associação de Professores de Português que quer reduzir o ensino do Português a uma escolaridade obrigatória para aprender a ler a escrever. Fale da falta de coragem de Maria da Conceição Coelho para dizer quem é o "Senhor Importantíssimo", que todos adivinhamos ser Vasco Graça Moura, que sobre o assunto só tem dito verdades objectivas. Traga ideias, traga argumentos.

26 de Agosto de 2001 às 14:59

O Ignoto

Esta Maria da Silva, que não tem ideias e apenas quer barulho, ou está fora de si ou vive numa escola sem alunos ou mora num mundo sem professores.

26 de Agosto de 2001 às 11:10

Céptico

Na minha simplicidade de espírito, fiz perguntas simples. Que ficaram sem resposta. A Senhora D. Maria da Silva e o Senhor Prof. Doutor Carlos Ceia preferem espingardear-se mutuamente, numa demonstração pública de uma das razões pelas quais o nivel de conhecimentos de língua portuguesa é tão baixo entre os jovens portugueses. Ou seja, as vaidades dos agentes são mais importantes do que a eficácia do ensino de português. O que interessa é ver "quem fica por cima" em polémicas patéticas, numa manifestação da mentalidade burocrática que infesta os nossos orgãos consultivos e decisórios. Está tudo explicado. E eu vou continuar a ter que aturar o analfabetismo funcional de muitos jovens que chegam à Universidade, sabendo que a culpa não é de facto deles.

26 de Agosto de 2001 às 05:28

Maria da Silva

Resposta à mensagem indelicada que o Sr. Ceia enviou para o meu endereço electrónico:

Pobre Universidade que tais docentes tem...

Ficou assim tão agastado por não usar os seus títulos académicos? Acha que passei por cima deles? Engana-se, o Sr. é que está por de baixo deles, oprimem-no, retiram-lhe clarividência e flexibilidade de raciocínio.

E sabe outra coisa? Quando não quero ser bem educada, não trato as pessoas por “Sr.” ou “Sra D.”... Não!... Nessas ocasiões, inspiro-me em Gil Vicente, percebeu?

Diz o nosso povo, com a sabedoria de quem nunca foi à Universidade: "Presunção e água benta... Cada qual toma a que quer" O Sr. tomou-a toda para si...

Mas não se agaste, Sr. Ceia, acalme-se que isso até lhe pode fazer mal ao fígado... No seu afã furioso até deixou escapar alguns erros pouco recomendáveis em quem se arma em defensor da língua de Camões (então desconhece que incomoda não carece de acento?)

Mas sabe uma coisa? Está muito enganado. Eu conheço-o, melhor dizendo, li o textito que publicou em “A Página da Educação” há dois ou três meses atrás. E fiquei a perceber muita coisa sobre si, Sr. Ceia.

Percebi, por exemplo a sua dor de cotovelo por a História da Literatura Portuguesa de Óscar Lopes e António José Saraiva e o Dicionário da Literatura dirigido por Jacinto do Prado Coelho serem obras mais consultadas do que a literatura cinzenta que produz por imperativos de ascensão na carreira...

Percebi que os manuais escolares de que é autor, não vendem tão bem quanto a sua bolsa desejaria...

Percebi que a sua concepção de educação prevê que os professores sejam “professores-aplicadores” (há expressões mais eloquentes do que um tratado inteirinho de Desenvolvimento Curricular!); que a abordagem dos programas deve ser uniforme (de acordo com a sua esclarecida perspectiva, sem dúvida...); que os cursos de formação inicial de professores devem ser globalizados; que não devemos copiar reformas vindas do estrangeiro, excepto as que vêm do estrangeiro de que o Sr. Ceia gosta...

Percebi, ainda, que a querela em torno dos Programas de Português para o Ensino Secundário pouco tem a ver com o que é melhor para a qualidade do Ensino Secundário: é lá uma questão entre linguistas e historiadores da literatura, a ver quem fica com o quintalzito maior...

Mas a sua cartita irada, também me revelou que o Sr Ceia mentiu no sector “Comentários” do Expresso on-line. Afinal, houve debate sobre os programas de português, e intenso, a avaliar pelas suas próprias palavras. Eu recordo-lhas: o senhor diz que publicou um artigo “no Jornal de Letras (...) escrevi aos autores dos programas e mantive com alguns correspondência privada sobre o assunto, enviei pareceres em devido tempo, escrevi ao Ministro da Educação, publiquei artigos em jornais de grande expansão entre os professores do Ensino Secundário (Educare e Jornal A Página da Educação), mantenho com a Associação de Professores de Português um diálogo permanente sobre o assunto, discordando publicamente da sua posição, apresentei em congressos recentes comunicações sobre o assunto.”

Pela sua parte, o Sr. até se fartou de intervir, espingardeou em todas as direcções. Não foi ouvido? Os seus argumentos não convenceram ninguém? Ou preferiu avançar com os seus títulos académicos, à míngua de argumentação fundamentada? Que falta de respeito, não ligarem ao Sr. Ceia, perdão, doutor...

Então o livrito sobre o ensino da literatura anda a vender-se mal e queria que eu lhe comprasse um? Lá publicidade a si mesmo, não se escusou a fazer... Também é dos que vai para os congressos com a obrazita num saco de plástico, para vender aos mais incautos?

Que quer o Sr. Ceia dizer com a frase: “Se for apenas uma daquelas professoras que não tem mais nada para fazer na sua vida profissional...”? Os professores devem fazer outra coisa para além de serem professores na sua (deles) vida profissional? O quê, por exemplo? Vender livros?

Mas parabéns, Sr. Ceia! Apesar de tudo, conseguiu conter-se e não me mandou para casa ir coser meias... Vá lá! Não percamos a esperança... O caldo ainda não está completamente entornado! Pode, ainda, haver uma solução para si...

Só mais uma coisa: como não gosto de acabar em privado coisas iniciadas em público, vou mandar para o local onde esta conversa começou, a minha resposta à carta insultuosa que enviou para o meu endereço electrónico.

E pronto, Sr. Ceia, por agora chega. Vou tomar o pequeno almoço, que já são quase cinco e meia... Bom dia Sr. Ceia.

Maria da Silva

26 de Agosto de 2001 às 03:33

Lúcia

Podem vocês TODOS ter a certeza de q a melhor maneira de nos provocarem repulsa por 1a obra literária é obrigarem-nos a lê-la! :-(

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