EXPRESSO: Vidas

18-09-2001
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FUTURO Internet Como a net ajudou em Nova Iorque Sem comunicações, a baixa de Nova Iorque manteve uma ligação ao exterior pela Internet. Que - numa prova de fogo - não foi abaixo, apesar do intenso pico de tráfego

Texto de Paulo Querido

AP Menos de duas horas depois do segundo avião comercial ter arrasado a torre ainda intacta das gémeas do World Trade Center, no coração da ilha de Manhattan, o sítio da CNN na web ( Menos de duas horas depois do segundo avião comercial ter arrasado a torre ainda intacta das gémeas do World Trade Center, no coração da ilha de Manhattan, o sítio da CNN na web ( www.cnn.com ) voltou a estar visível mercê de uma operação inteligente, que nunca tinha sido tentada antes em situações semelhantes: fazer páginas de texto dispensando o grafismo habitual. A braços com uma quantidade colossal de pedidos de páginas (também conhecidos na gíria por «hits»), as máquinas que dão suporte ao «site» não conseguiam responder, ficando muitíssimo lentas. Os responsáveis técnicos decidiram então aliviar os conteúdos, tendo colocado no ar uma versão mais leve do «site», que apenas comportava texto e uma ou duas fotografias dos incidentes. Esta técnica, que apesar de ser um ovo de Colombo nunca antes fora usada em situações de idênticas corridas à informação na web, foi experimentada com sucesso não apenas na CNN mas em vários outros «sites» noticiosos em todo o mundo, que subitamente tiveram os seus servidores afogados por pedidos. Apesar da cobertura das televisões, milhões de internautas em todo o mundo recorreram à web para seguir o acontecimento com maior profundidade. Em Portugal, ao princípio da tarde de terça-feira os principais sítios noticiosos eram inalcançáveis para a maioria das pessoas. A começar pelo do EXPRESSO, passando pelo do «Público» e pelos das televisões, e acabando no mais conhecido portal nacional, o Sapo (www.sapo.pt). Este foi o único a tomar medidas de emergência: os técnicos passaram os conteúdos para uma versão «tiny», em que só eram servidas as páginas estáticas, isto é, com uma existência física nos discos, ao invés das habituais páginas dinâmicas, fabricadas instantaneamente pelos motores que indagam as bases de dados. Essa versão não continha gráfico algum, apenas texto informativo. Mesmo assim, durante cerca de 5 horas houve problemas de congestionamento na web em geral. «O tráfego era brutal», disse ao EXPRESSO um técnico do Sapo. «O 'link' externo da Telepac esgotou a capacidade», adiantou a mesma fonte enquanto Luís Rodrigues, director de engenharia da Telepac, afirmava ao canal tecnológico do portal que entre as 14 e as 16 horas se sentiu um crescimento de 60% no número de pedidos à rede. Aparentemente o sítio da TVI também terá superado o problema de congestionamento. A existência de uma «task-force» para as emergências na Internet, como os picos de audiência que levaram as máquinas ao tapete aquando da primeira edição do Big Brother, fez com que a TVI tenha aguentado o assalto às notícias tal como, de resto, aguentara uma semana antes com a estreia da terceira série daquele programa, que bateu todos os recordes internos de afluência aos servidores do grupo. Aparentemente o sítio da TVI também terá superado o problema de congestionamento. A existência de uma «task-force» para as emergências na Internet, como os picos de audiência que levaram as máquinas ao tapete aquando da primeira edição do Big Brother, fez com que a TVI tenha aguentado o assalto às notícias tal como, de resto, aguentara uma semana antes com a estreia da terceira série daquele programa, que bateu todos os recordes internos de afluência aos servidores do grupo. Também os órgãos noticiosos de tecnologia abriram excepções ao seu caudal informativo, tendo nalguns casos desempenhado papel importante para a compreensão do acontecimento em termos técnicos. Foi o caso da Slashdot (www.slashdot.org), a meca dos programadores e técnicos de redes, que noticiou por exemplo a morte num dos aviões despenhados em Nova Iorque do director-geral da Akamai, uma empresa bem conhecida no ramo. «Normalmente não aceitaria editar um artigo deste género na Slashdot, mas vou abrir uma excepção porque não consigo aceder aos 'sites' noticiosos convencionais e assumo que não sou o único», escreveu o editor do «webzine», Rob Malda. A Slashdot, como outros sítios semelhantes onde qualquer pessoa pode colocar uma mensagem, deu ainda um bom contributo centralizando informações pessoais sobre os acontecimentos, de uma forma mais ou menos sóbria. Algumas das pessoas que os usaram para colocar notícias estavam encurraladas nos edifícios de Manhattan mais perto do World Trade Center. O correio electrónico e o «instant messaging» foram as suas únicas vias de comunicação durante horas, pois os telefones e telemóveis deixaram de funcionar na cidade. «Usei o Instant Messaging para contactar amigos e pedir-lhes que telefonassem à minha família», explicou Timothy Brooks, um consultor que ficou preso no 27º andar de um edifício na Wall Street, a 10 blocos apenas do World Trade Center. Brooks viera do Estado do Maine para uma reunião com um cliente. Chegou ao edifício apenas 15 minutos antes do primeiro avião embater na torre. O seu depoimento tornou-se emblemático nos sítios noticiosos, mas não foi o único. Milhares de pessoas usaram as mesmas ferramentas para continuar a comunicar. Já os organismos oficiais, um pouco por todo o mundo, voltaram a exibir a sua nula apetência por este meio de comunicação feito por excelência para as situações de crise. Se era compreensível o «site» da Casa Branca não referenciar os ataques horas depois (nem o discurso supostamente moralizador de George Bush foi colocado online a horas decentes), mais difícil é aceitar o silêncio digital de órgãos como a União Europeia, para não falar dos governos. Doze horas depois o sítio oficial do primeiro-ministro português ainda não mencionava os graves incidentes, apesar de António Guterres ter emitido a posição oficial muito tempo antes. Voltando aos Estados Unidos, apesar do ataque ao Pentágono muitos dos seus «sites» encontravam-se acessíveis por estarem alojados noutros locais e foi montado um «website» informativo ao cair da noite (cujo endereço não respondeu de imediato devido ao volume de tráfego). Já os organismos oficiais, um pouco por todo o mundo, voltaram a exibir a sua nula apetência por este meio de comunicação feito por excelência para as situações de crise. Se era compreensível o «site» da Casa Branca não referenciar os ataques horas depois (nem o discurso supostamente moralizador de George Bush foi colocado online a horas decentes), mais difícil é aceitar o silêncio digital de órgãos como a União Europeia, para não falar dos governos. Doze horas depois o sítio oficial do primeiro-ministro português ainda não mencionava os graves incidentes, apesar de António Guterres ter emitido a posição oficial muito tempo antes. Voltando aos Estados Unidos, apesar do ataque ao Pentágono muitos dos seus «sites» encontravam-se acessíveis por estarem alojados noutros locais e foi montado um «website» informativo ao cair da noite (cujo endereço não respondeu de imediato devido ao volume de tráfego). A Internet aguentou o pico de duas horas de forma satisfatória e os problemas reportados diziam todos eles respeito apenas aos locais mais conhecidos, da CNN à BBC. Além da redução do geralmente pesado grafismo das páginas, outra táctica usada foi a distribuição da informação por sítios fora dos EUA. A CNN brasileira ( www.cnn.com.br) foi um dos exemplos mais usados pelos portugueses. O pico durou duas horas, mas o período realmente mau durou apenas meia hora, entre as 9h30 e as 10 da manhã em Nova Iorque. John Quarterman, da empresa de medição de tráfego Matrix.Net, afirmou que o acontecimento de terça-feira constituiu «o maior foco de stresse» de sempre na Internet. Porém, poucas horas depois da crise a rede tinha passado com distinção o «teste» à sua capacidade para gerir e encaminhar um volume tremendo de tráfego. Na tarde de terça-feira, nos EUA, a estrutura principal da Internet no continente norte-americano estava a funcionar praticamente nos seus níveis normais, ainda segundo Quartermann. A Internet Health Report, que analisa dados do tráfego entre as redes dos grandes operadores americanos, classificou a situação nos «backbones» (eixos principais) de «saudável» ao início da tarde de terça-feira. paulo@querido.org

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FUTURO Internet Como a net ajudou em Nova Iorque Sem comunicações, a baixa de Nova Iorque manteve uma ligação ao exterior pela Internet. Que - numa prova de fogo - não foi abaixo, apesar do intenso pico de tráfego

Texto de Paulo Querido

AP Menos de duas horas depois do segundo avião comercial ter arrasado a torre ainda intacta das gémeas do World Trade Center, no coração da ilha de Manhattan, o sítio da CNN na web ( Menos de duas horas depois do segundo avião comercial ter arrasado a torre ainda intacta das gémeas do World Trade Center, no coração da ilha de Manhattan, o sítio da CNN na web ( www.cnn.com ) voltou a estar visível mercê de uma operação inteligente, que nunca tinha sido tentada antes em situações semelhantes: fazer páginas de texto dispensando o grafismo habitual. A braços com uma quantidade colossal de pedidos de páginas (também conhecidos na gíria por «hits»), as máquinas que dão suporte ao «site» não conseguiam responder, ficando muitíssimo lentas. Os responsáveis técnicos decidiram então aliviar os conteúdos, tendo colocado no ar uma versão mais leve do «site», que apenas comportava texto e uma ou duas fotografias dos incidentes. Esta técnica, que apesar de ser um ovo de Colombo nunca antes fora usada em situações de idênticas corridas à informação na web, foi experimentada com sucesso não apenas na CNN mas em vários outros «sites» noticiosos em todo o mundo, que subitamente tiveram os seus servidores afogados por pedidos. Apesar da cobertura das televisões, milhões de internautas em todo o mundo recorreram à web para seguir o acontecimento com maior profundidade. Em Portugal, ao princípio da tarde de terça-feira os principais sítios noticiosos eram inalcançáveis para a maioria das pessoas. A começar pelo do EXPRESSO, passando pelo do «Público» e pelos das televisões, e acabando no mais conhecido portal nacional, o Sapo (www.sapo.pt). Este foi o único a tomar medidas de emergência: os técnicos passaram os conteúdos para uma versão «tiny», em que só eram servidas as páginas estáticas, isto é, com uma existência física nos discos, ao invés das habituais páginas dinâmicas, fabricadas instantaneamente pelos motores que indagam as bases de dados. Essa versão não continha gráfico algum, apenas texto informativo. Mesmo assim, durante cerca de 5 horas houve problemas de congestionamento na web em geral. «O tráfego era brutal», disse ao EXPRESSO um técnico do Sapo. «O 'link' externo da Telepac esgotou a capacidade», adiantou a mesma fonte enquanto Luís Rodrigues, director de engenharia da Telepac, afirmava ao canal tecnológico do portal que entre as 14 e as 16 horas se sentiu um crescimento de 60% no número de pedidos à rede. Aparentemente o sítio da TVI também terá superado o problema de congestionamento. A existência de uma «task-force» para as emergências na Internet, como os picos de audiência que levaram as máquinas ao tapete aquando da primeira edição do Big Brother, fez com que a TVI tenha aguentado o assalto às notícias tal como, de resto, aguentara uma semana antes com a estreia da terceira série daquele programa, que bateu todos os recordes internos de afluência aos servidores do grupo. Aparentemente o sítio da TVI também terá superado o problema de congestionamento. A existência de uma «task-force» para as emergências na Internet, como os picos de audiência que levaram as máquinas ao tapete aquando da primeira edição do Big Brother, fez com que a TVI tenha aguentado o assalto às notícias tal como, de resto, aguentara uma semana antes com a estreia da terceira série daquele programa, que bateu todos os recordes internos de afluência aos servidores do grupo. Também os órgãos noticiosos de tecnologia abriram excepções ao seu caudal informativo, tendo nalguns casos desempenhado papel importante para a compreensão do acontecimento em termos técnicos. Foi o caso da Slashdot (www.slashdot.org), a meca dos programadores e técnicos de redes, que noticiou por exemplo a morte num dos aviões despenhados em Nova Iorque do director-geral da Akamai, uma empresa bem conhecida no ramo. «Normalmente não aceitaria editar um artigo deste género na Slashdot, mas vou abrir uma excepção porque não consigo aceder aos 'sites' noticiosos convencionais e assumo que não sou o único», escreveu o editor do «webzine», Rob Malda. A Slashdot, como outros sítios semelhantes onde qualquer pessoa pode colocar uma mensagem, deu ainda um bom contributo centralizando informações pessoais sobre os acontecimentos, de uma forma mais ou menos sóbria. Algumas das pessoas que os usaram para colocar notícias estavam encurraladas nos edifícios de Manhattan mais perto do World Trade Center. O correio electrónico e o «instant messaging» foram as suas únicas vias de comunicação durante horas, pois os telefones e telemóveis deixaram de funcionar na cidade. «Usei o Instant Messaging para contactar amigos e pedir-lhes que telefonassem à minha família», explicou Timothy Brooks, um consultor que ficou preso no 27º andar de um edifício na Wall Street, a 10 blocos apenas do World Trade Center. Brooks viera do Estado do Maine para uma reunião com um cliente. Chegou ao edifício apenas 15 minutos antes do primeiro avião embater na torre. O seu depoimento tornou-se emblemático nos sítios noticiosos, mas não foi o único. Milhares de pessoas usaram as mesmas ferramentas para continuar a comunicar. Já os organismos oficiais, um pouco por todo o mundo, voltaram a exibir a sua nula apetência por este meio de comunicação feito por excelência para as situações de crise. Se era compreensível o «site» da Casa Branca não referenciar os ataques horas depois (nem o discurso supostamente moralizador de George Bush foi colocado online a horas decentes), mais difícil é aceitar o silêncio digital de órgãos como a União Europeia, para não falar dos governos. Doze horas depois o sítio oficial do primeiro-ministro português ainda não mencionava os graves incidentes, apesar de António Guterres ter emitido a posição oficial muito tempo antes. Voltando aos Estados Unidos, apesar do ataque ao Pentágono muitos dos seus «sites» encontravam-se acessíveis por estarem alojados noutros locais e foi montado um «website» informativo ao cair da noite (cujo endereço não respondeu de imediato devido ao volume de tráfego). Já os organismos oficiais, um pouco por todo o mundo, voltaram a exibir a sua nula apetência por este meio de comunicação feito por excelência para as situações de crise. Se era compreensível o «site» da Casa Branca não referenciar os ataques horas depois (nem o discurso supostamente moralizador de George Bush foi colocado online a horas decentes), mais difícil é aceitar o silêncio digital de órgãos como a União Europeia, para não falar dos governos. Doze horas depois o sítio oficial do primeiro-ministro português ainda não mencionava os graves incidentes, apesar de António Guterres ter emitido a posição oficial muito tempo antes. Voltando aos Estados Unidos, apesar do ataque ao Pentágono muitos dos seus «sites» encontravam-se acessíveis por estarem alojados noutros locais e foi montado um «website» informativo ao cair da noite (cujo endereço não respondeu de imediato devido ao volume de tráfego). A Internet aguentou o pico de duas horas de forma satisfatória e os problemas reportados diziam todos eles respeito apenas aos locais mais conhecidos, da CNN à BBC. Além da redução do geralmente pesado grafismo das páginas, outra táctica usada foi a distribuição da informação por sítios fora dos EUA. A CNN brasileira ( www.cnn.com.br) foi um dos exemplos mais usados pelos portugueses. O pico durou duas horas, mas o período realmente mau durou apenas meia hora, entre as 9h30 e as 10 da manhã em Nova Iorque. John Quarterman, da empresa de medição de tráfego Matrix.Net, afirmou que o acontecimento de terça-feira constituiu «o maior foco de stresse» de sempre na Internet. Porém, poucas horas depois da crise a rede tinha passado com distinção o «teste» à sua capacidade para gerir e encaminhar um volume tremendo de tráfego. Na tarde de terça-feira, nos EUA, a estrutura principal da Internet no continente norte-americano estava a funcionar praticamente nos seus níveis normais, ainda segundo Quartermann. A Internet Health Report, que analisa dados do tráfego entre as redes dos grandes operadores americanos, classificou a situação nos «backbones» (eixos principais) de «saudável» ao início da tarde de terça-feira. paulo@querido.org

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