Suplemento Computadores

17-07-2001
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Pagar conteúdos "on-line" é hipótese cada vez mais próxima

À Procura de Um Modelo

Por FÁTIMA CAÇADOR / CASA DOS BITS

Segunda-feira, 2 de Abril de 2001

A semana passada foi um marco negro para os conteúdos jornalísticos "on-line". A Impresa enterrou dois projectos quase em simultâneo, um com pré-aviso de alguns meses, outro de duas horas. O Expresso On-Line foi reformulado no dia 28, com os jornalistas a serem avisados duas horas antes, enquanto, no dia 29, o Directo apagou os seus traços da Internet portuguesa, sendo os leitores redireccionados automaticamente para o "site" da Visão Online, inaugurado no mesmo dia.

Numa altura em que toda a gente fala do falhanço do modelo de sustentação dos conteúdos de Internet com o dinheiro conseguido através da publicidade e dos patrocínios, o fecho do Expresso On-Line - que qualquer pessoa pensaria que tinha todos os ingredientes necessários para triunfar - volta a levantar a questão do modelo possível para a venda de informação e outros conteúdos "on-line".

A nível internacional, a discussão passa-se ao mesmo ritmo, com os despedimentos a sucederem-se em "sites" informativos nos EUA e na Europa, embora em números superiores aos que acontecem em Portugal. Porque, se cá são dezenas de jornalistas - e candidatos - a serem dispensados, a dimensão dos projectos internacionais eleva os números às centenas e aos milhares.

"Não é dramático" - foi uma das frases que Mário Lopes, administrador da Sojornal e gerente da Sojornal.com, mais repetiu durante a conversa telefónica que manteve com Computadores na sequência da notícia da "remodelação" do Expresso On-Line. O despedimento de 17 pessoas foi uma das medidas decorrentes da remodelação editorial do "site", que agora "evolui para fornecer conteúdos em função do que os leitores procuram", explica este responsável, que garante não estar a decisão relacionada com o previsto arranque do SIC On-Line.

Apesar de hoje cada empresa da Impresa definir individualmente a sua estratégia na Internet, Mário Lopes admite que há uma discussão interna no sobre o assunto, mas que não há ainda uma conclusão. Na verdade, no dia seguinte ao anúncio do fecho do Expresso On-Line, a Abril-Controljornal (ACJ), outra empresa da Impresa, fechava o portal Directo e fazia nascer a Visão OnLine. Os despedimentos, dispensas e reintegrações foram ocorrendo ao longo de dois meses, em que a "morte" daquele que pretendia ser um portal de informação global foi sendo preparada.

Ricardo Sécio, director de Internet da ACJ, afirma que o Directo "não foi um insucesso, mas uma experiência forte" e ressalva que "errámos primeiro" e que isso na Internet é importante. Ao longo de quase um ano, a empresa aprendeu "com o que foi feito internacionalmente em grandes grupos editoriais" e concluiu que as boas marcas no "off-line" também são uma referência "on-line", o que levou a uma estratégia de verticalização com o lançamento dos "sites" das revistas. Em meados deste mês, foi lançada a Turbo Online e, no dia 30 de Março, foi a vez da Visão OnLine.

Os novos "sites", que se vão alargar a outras revistas do grupo - como a "Exame", "Caras" e "Casa Claúdia" -, funcionam com uma filosofia diferente do Directo, em que as redacções do "on-line" estão integradas nas do "off-line". De resto, Ricardo Sécio admite que, depois da euforia da Internet, as empresas viram a realidade de que a publicidade não tem uma relação directa com a audiência, ao contrário das revistas. Agora "todos procuram o modelo de negócio de Internet" e o "pay per view" (pagar por visualizar conteúdos) poderá ser considerado mas ainda "não pegou".

De qualquer forma a ACJ pretende ter em breve, no "site" da "Visão", o arquivo disponível para consulta apenas para os assinantes da revista, o que, não sendo ainda uma experiência de conteúdos pagos, será, de certa maneira, um teste a conteúdos reservados.

Que em alguma altura os conteúdos na Internet vão ter de começar a ser pagos é também a opinião de Luís Rodrigues, da Media Capital Multimédia, que só afirma não saber quais os conteúdos e quando. "Este modelo de negócio actual é insustentável para toda a gente", realça e é preciso encontrar o equilíbrio entre os conteúdos 100 por cento pagos e os 100 por cento gratuitos que satisfaça as empresas mas também os leitores.

José Victor Malheiros, director do Público.pt, considera que o mercado já está preparado para pagar informação "on-line" e reconhece suficientemente o seu valor para o fazer. "Sempre dissemos que não é possível oferecer serviço informativo de qualidade sem que haja pagamento de informação", explica. A informação de qualidade é cara e a publicidade não paga todos os custos - e, por isso, desde o início que "o PÚBLICO está no mercado de fornecimento de conteúdos de informação e outros".

Isto não quer dizer que o Público.pt deixará de ser gratuito, mas que serão pagos alguns serviços que fornecem valor acrescentado ao leitor. A definição do que vai ser vendido e do que será gratuito já foi feita, mas alguns serviços demoraram mais tempo do que previsto a desenvolver porque há uma falta de recursos técnicos. Mas ainda não estão disponíveis também por causa da avaliação da disponibilidade da procura, que contraria a tendência de um mercado de massas, sendo, no início, muito reduzido.

Uma preparação cuidada está também a ser feita no portal Sapo. José Carlos Baldino, administrador, afirma que o Sapo, "como líder de mercado, tem uma responsabilidade acrescida em tudo o que lança para o mercado", não se podendo dar ao luxo de "fazer falsas partidas" porque tudo o que lança "se torna padrão no mercado". Para já, estão a ser estudados pacotes de acessos que "incluam uma série de informação e serviços suficientemente atractivos", dos quais faz parte o Canal Disney.

Luís Rodrigues, da Media Capital, deseja que exista um esforço conjunto entre os "sites" de informação, que deveriam desenvolver um acordo tácito para começar a disponibilizar conteúdos pagos "on-line", "porque, se não, perdem todos". Não está, sequer, preocupado em roubar leitores ao papel, porque não há indicação de que isso aconteça, inclinando-se mais para a extensão dos serviços de subscrição na Net das assinaturas das revistas e jornais.

Mas Luís Rodrigues diz que não tem dúvidas de que as pessoas irão gastar mais dinheiro por dia em cafés do que na compra de conteúdos na Internet e que considera que será um choque para os consumidores a limitação do modelo "tudo gratuito" - embora essa seja a única garantia de que poderão continuar a ter na Internet os mesmos conteúdos com a qualidade dos de hoje.

Pagar conteúdos "on-line" é hipótese cada vez mais próxima

À Procura de Um Modelo

Por FÁTIMA CAÇADOR / CASA DOS BITS

Segunda-feira, 2 de Abril de 2001

A semana passada foi um marco negro para os conteúdos jornalísticos "on-line". A Impresa enterrou dois projectos quase em simultâneo, um com pré-aviso de alguns meses, outro de duas horas. O Expresso On-Line foi reformulado no dia 28, com os jornalistas a serem avisados duas horas antes, enquanto, no dia 29, o Directo apagou os seus traços da Internet portuguesa, sendo os leitores redireccionados automaticamente para o "site" da Visão Online, inaugurado no mesmo dia.

Numa altura em que toda a gente fala do falhanço do modelo de sustentação dos conteúdos de Internet com o dinheiro conseguido através da publicidade e dos patrocínios, o fecho do Expresso On-Line - que qualquer pessoa pensaria que tinha todos os ingredientes necessários para triunfar - volta a levantar a questão do modelo possível para a venda de informação e outros conteúdos "on-line".

A nível internacional, a discussão passa-se ao mesmo ritmo, com os despedimentos a sucederem-se em "sites" informativos nos EUA e na Europa, embora em números superiores aos que acontecem em Portugal. Porque, se cá são dezenas de jornalistas - e candidatos - a serem dispensados, a dimensão dos projectos internacionais eleva os números às centenas e aos milhares.

"Não é dramático" - foi uma das frases que Mário Lopes, administrador da Sojornal e gerente da Sojornal.com, mais repetiu durante a conversa telefónica que manteve com Computadores na sequência da notícia da "remodelação" do Expresso On-Line. O despedimento de 17 pessoas foi uma das medidas decorrentes da remodelação editorial do "site", que agora "evolui para fornecer conteúdos em função do que os leitores procuram", explica este responsável, que garante não estar a decisão relacionada com o previsto arranque do SIC On-Line.

Apesar de hoje cada empresa da Impresa definir individualmente a sua estratégia na Internet, Mário Lopes admite que há uma discussão interna no sobre o assunto, mas que não há ainda uma conclusão. Na verdade, no dia seguinte ao anúncio do fecho do Expresso On-Line, a Abril-Controljornal (ACJ), outra empresa da Impresa, fechava o portal Directo e fazia nascer a Visão OnLine. Os despedimentos, dispensas e reintegrações foram ocorrendo ao longo de dois meses, em que a "morte" daquele que pretendia ser um portal de informação global foi sendo preparada.

Ricardo Sécio, director de Internet da ACJ, afirma que o Directo "não foi um insucesso, mas uma experiência forte" e ressalva que "errámos primeiro" e que isso na Internet é importante. Ao longo de quase um ano, a empresa aprendeu "com o que foi feito internacionalmente em grandes grupos editoriais" e concluiu que as boas marcas no "off-line" também são uma referência "on-line", o que levou a uma estratégia de verticalização com o lançamento dos "sites" das revistas. Em meados deste mês, foi lançada a Turbo Online e, no dia 30 de Março, foi a vez da Visão OnLine.

Os novos "sites", que se vão alargar a outras revistas do grupo - como a "Exame", "Caras" e "Casa Claúdia" -, funcionam com uma filosofia diferente do Directo, em que as redacções do "on-line" estão integradas nas do "off-line". De resto, Ricardo Sécio admite que, depois da euforia da Internet, as empresas viram a realidade de que a publicidade não tem uma relação directa com a audiência, ao contrário das revistas. Agora "todos procuram o modelo de negócio de Internet" e o "pay per view" (pagar por visualizar conteúdos) poderá ser considerado mas ainda "não pegou".

De qualquer forma a ACJ pretende ter em breve, no "site" da "Visão", o arquivo disponível para consulta apenas para os assinantes da revista, o que, não sendo ainda uma experiência de conteúdos pagos, será, de certa maneira, um teste a conteúdos reservados.

Que em alguma altura os conteúdos na Internet vão ter de começar a ser pagos é também a opinião de Luís Rodrigues, da Media Capital Multimédia, que só afirma não saber quais os conteúdos e quando. "Este modelo de negócio actual é insustentável para toda a gente", realça e é preciso encontrar o equilíbrio entre os conteúdos 100 por cento pagos e os 100 por cento gratuitos que satisfaça as empresas mas também os leitores.

José Victor Malheiros, director do Público.pt, considera que o mercado já está preparado para pagar informação "on-line" e reconhece suficientemente o seu valor para o fazer. "Sempre dissemos que não é possível oferecer serviço informativo de qualidade sem que haja pagamento de informação", explica. A informação de qualidade é cara e a publicidade não paga todos os custos - e, por isso, desde o início que "o PÚBLICO está no mercado de fornecimento de conteúdos de informação e outros".

Isto não quer dizer que o Público.pt deixará de ser gratuito, mas que serão pagos alguns serviços que fornecem valor acrescentado ao leitor. A definição do que vai ser vendido e do que será gratuito já foi feita, mas alguns serviços demoraram mais tempo do que previsto a desenvolver porque há uma falta de recursos técnicos. Mas ainda não estão disponíveis também por causa da avaliação da disponibilidade da procura, que contraria a tendência de um mercado de massas, sendo, no início, muito reduzido.

Uma preparação cuidada está também a ser feita no portal Sapo. José Carlos Baldino, administrador, afirma que o Sapo, "como líder de mercado, tem uma responsabilidade acrescida em tudo o que lança para o mercado", não se podendo dar ao luxo de "fazer falsas partidas" porque tudo o que lança "se torna padrão no mercado". Para já, estão a ser estudados pacotes de acessos que "incluam uma série de informação e serviços suficientemente atractivos", dos quais faz parte o Canal Disney.

Luís Rodrigues, da Media Capital, deseja que exista um esforço conjunto entre os "sites" de informação, que deveriam desenvolver um acordo tácito para começar a disponibilizar conteúdos pagos "on-line", "porque, se não, perdem todos". Não está, sequer, preocupado em roubar leitores ao papel, porque não há indicação de que isso aconteça, inclinando-se mais para a extensão dos serviços de subscrição na Net das assinaturas das revistas e jornais.

Mas Luís Rodrigues diz que não tem dúvidas de que as pessoas irão gastar mais dinheiro por dia em cafés do que na compra de conteúdos na Internet e que considera que será um choque para os consumidores a limitação do modelo "tudo gratuito" - embora essa seja a única garantia de que poderão continuar a ter na Internet os mesmos conteúdos com a qualidade dos de hoje.

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