Revolta na Linha da Lousã

13-03-2001
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Falta de lugares na automotora foi gota de água para os que esperam o metro

Revolta na Linha da Lousã

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000

Não eram ainda 8h30 quando se deu a revolta na estação da CP de Miranda do Corvo. Apercebendo-se de que a automotora que fazia a ligação a Coimbra, na Linha da Lousã, não chegava para todos, os passageiros ocuparam os carris, cortando a circulação ferroviária num ramal onde circulam aproximadamente dois milhões de pessoas por ano. Ali se mantiveram até às 12h00, quando um representante da CP prometeu que a situação - a disponibilização de apenas duas composições, em vez de três, em hora de ponta - não se repetiria. Mas muitos passageiros deixaram claro que aquela foi apenas a gota de água. Estão cansados da miragem do metro e de continuarem a demorar uma hora a cumprir um trajecto que ronda apenas os 30 quilómetros.

Há escassas semanas, o secretário de Estado das Obras Públicas, Luís Parreirão, garantiu que no III Quadro Comunitário de Apoio está previsto um investimento de 26 milhões de contos para a concretização do metro de superfície, que vai circular na Linha da Lousã. Mas, para as pessoas que viajam diariamente nas velhinhas automotoras Allan, essa foi apenas mais uma notícia a juntar às muitas que vão dando nota do adiamento da concretização do projecto, também ele velho de muitos anos.

"Como havia muitos apartamentos para vender, os presidentes das Câmaras de Miranda e da Lousã anunciaram que vinha aí o metro. A verdade é que venderam os apartamentos, e o metro, esse, continua sabe-se lá em que buraco!...", protestava ontem Luís Rodrigues, de 28 anos, um dos passageiros que ontem se colocaram à frente da automotora, perdendo meio dia de trabalho. "Agora vêm dizer que foi por causa da greve [na CP] que não puderam mandar mais composições. Mas isto foi só a gota de água. Sou auxiliar de educação numa instituição de apoio a deficientes que precisam de mim bem-disposto e não irritado, que é como eu fico todos os dias a viajar em más condições", protestava.

Susana Rodrigues perdeu também a manhã, o que não é invulgar: "Sou empregada doméstica, ganho à hora e quando o comboio se atrasa, que é quase sempre, é menos que eu recebo ao fim do mês". "E ainda temos de ouvir os chefes, que já não têm paciência para as justificações dos atrasos e respondem que não trabalham na CP", acrescentava Vítor Ferreira, tesoureiro em Coimbra.

"Sardinhas enlatadas"

O mais caricato é que, ontem, os passageiros já não reclamavam o metro, apenas queriam trocar as automotoras Allan modernizadas pelas "originais", iguais ao que eram há 40 anos. "Eu quero lá saber como e em que condições vou; eu quero é ir!", exasperava-se Vítor Ferreira. O que se passa é que, de há dois anos para cá, a CP tem vindo a promover uma operação de cosmética nas automotoras originais, que passaram a ter aquilo que foi anunciado como "um 'design' inovador e de forte impacte". A restauração também fez com que melhorassem as condições de conforto, mas roubou lugares sentados e em pé que os passageiros consideram preciosos. "Quando viajamos nas 'novas', parecemos sardinhas enlatadas", ilustrou Susana Rodrigues.

Quando, há dois anos, a CP anunciou a tal "modernização do material circulante" da Linha da Lousã, Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra (uma das accionistas da Sociedade Metro Mondego, que é integrada também pelas Câmaras de Miranda e Lousã, pela CP e pelo Metro de Lisboa) avisou que não admitia que isso servisse como argumento para adiar a concretização do metro. Adiantou ainda, na altura, que esperava que a empreitada começasse em 1999. Hoje, o metro está ainda na fase de anteprojecto.

Falta de lugares na automotora foi gota de água para os que esperam o metro

Revolta na Linha da Lousã

Por GRAÇA BARBOSA RIBEIRO

Quinta-feira, 14 de Dezembro de 2000

Não eram ainda 8h30 quando se deu a revolta na estação da CP de Miranda do Corvo. Apercebendo-se de que a automotora que fazia a ligação a Coimbra, na Linha da Lousã, não chegava para todos, os passageiros ocuparam os carris, cortando a circulação ferroviária num ramal onde circulam aproximadamente dois milhões de pessoas por ano. Ali se mantiveram até às 12h00, quando um representante da CP prometeu que a situação - a disponibilização de apenas duas composições, em vez de três, em hora de ponta - não se repetiria. Mas muitos passageiros deixaram claro que aquela foi apenas a gota de água. Estão cansados da miragem do metro e de continuarem a demorar uma hora a cumprir um trajecto que ronda apenas os 30 quilómetros.

Há escassas semanas, o secretário de Estado das Obras Públicas, Luís Parreirão, garantiu que no III Quadro Comunitário de Apoio está previsto um investimento de 26 milhões de contos para a concretização do metro de superfície, que vai circular na Linha da Lousã. Mas, para as pessoas que viajam diariamente nas velhinhas automotoras Allan, essa foi apenas mais uma notícia a juntar às muitas que vão dando nota do adiamento da concretização do projecto, também ele velho de muitos anos.

"Como havia muitos apartamentos para vender, os presidentes das Câmaras de Miranda e da Lousã anunciaram que vinha aí o metro. A verdade é que venderam os apartamentos, e o metro, esse, continua sabe-se lá em que buraco!...", protestava ontem Luís Rodrigues, de 28 anos, um dos passageiros que ontem se colocaram à frente da automotora, perdendo meio dia de trabalho. "Agora vêm dizer que foi por causa da greve [na CP] que não puderam mandar mais composições. Mas isto foi só a gota de água. Sou auxiliar de educação numa instituição de apoio a deficientes que precisam de mim bem-disposto e não irritado, que é como eu fico todos os dias a viajar em más condições", protestava.

Susana Rodrigues perdeu também a manhã, o que não é invulgar: "Sou empregada doméstica, ganho à hora e quando o comboio se atrasa, que é quase sempre, é menos que eu recebo ao fim do mês". "E ainda temos de ouvir os chefes, que já não têm paciência para as justificações dos atrasos e respondem que não trabalham na CP", acrescentava Vítor Ferreira, tesoureiro em Coimbra.

"Sardinhas enlatadas"

O mais caricato é que, ontem, os passageiros já não reclamavam o metro, apenas queriam trocar as automotoras Allan modernizadas pelas "originais", iguais ao que eram há 40 anos. "Eu quero lá saber como e em que condições vou; eu quero é ir!", exasperava-se Vítor Ferreira. O que se passa é que, de há dois anos para cá, a CP tem vindo a promover uma operação de cosmética nas automotoras originais, que passaram a ter aquilo que foi anunciado como "um 'design' inovador e de forte impacte". A restauração também fez com que melhorassem as condições de conforto, mas roubou lugares sentados e em pé que os passageiros consideram preciosos. "Quando viajamos nas 'novas', parecemos sardinhas enlatadas", ilustrou Susana Rodrigues.

Quando, há dois anos, a CP anunciou a tal "modernização do material circulante" da Linha da Lousã, Manuel Machado, presidente da Câmara de Coimbra (uma das accionistas da Sociedade Metro Mondego, que é integrada também pelas Câmaras de Miranda e Lousã, pela CP e pelo Metro de Lisboa) avisou que não admitia que isso servisse como argumento para adiar a concretização do metro. Adiantou ainda, na altura, que esperava que a empreitada começasse em 1999. Hoje, o metro está ainda na fase de anteprojecto.

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