O caso dos cem mil contos

11-01-2002
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O Caso dos Cem Mil Contos

Terça-feira, 8 de Janeiro de 2002 Um sócio de uma das empresas dos donos da Gitap declarou à Judiciária que o material de campanha foi oferecido a várias candidaturas, "como estava previsto acontecer" O envolvimento financeiro dos irmãos Geraldes Pinto e das suas empresas na campanha socialista para as autárquicas de 1993 terá rondado os cem mil contos. Pelo menos foi o que um deles afirmou, em 7 de Junho de 1995, numa conversa telefónica mantida com Luís Patrão, então director-geral do Partido Socialista e chefe de gabinete de António Guterres. O teor dessa conversa consta dos autos do processo de Luís Monterroso e foi aflorado numa das audiências do julgamento do ex-autarca da Nazaré, no princípio do ano passado. De acordo com a súmula que a Judiciária fez desse diálogo, interceptado com autorização judicial, Geraldes Pinto terá falado com Luís Patrão das "eleições autárquicas e de cerca de cem mil contos que tem que suportar", classificando esse facto de "incrível e assustador". O relato da polícia não refere qualquer reacção do ex-director-geral do partido, mas este afirmou recentemente ao PÚBLICO que "o PS não tinha para com a Gitap nenhum tipo de responsabilidade respeitante às autárquicas de 1993". Luís Patrão ressalvou, contudo, que as candidaturas concelhias actuam muitas vezes "sem que os aparelhos partidários tenham conhecimento detalhado" da suas iniciativas, pelo que "é natural que tenham resultado das eleições de 93 compromissos com muitas empresas " ao nível local. "O que posso dizer é que o Partido Socialista enquanto tal não tinha qualquer tipo de compromisso financeiro com a Gitap derivado das eleições autárquicas", insistiu. Para explicar o facto de não ter reagido às referências de Geraldes Pinto acerca do montante por ele pago na campanha, Luís Patrão afirmou: "Há coisas que se dizem e que não são rebatidas, mas isso não significa que sejam reconhecidas como boas." Interrogado em Março pelo delegado do Ministério Público da Nazaré, no decurso do julgamento de Monterroso, sobre se a Gitap suportou ou não "um valor assustador" na campanha socialista, José Geraldes Pinto respondeu nestes termos: "Seguramente que não. Nem tudo o que se diz ao telefone é verdade e o intuito poderia ser de natureza comercial." Face a uma outra pergunta sobre o mesmo assunto, o presidente do conselho de administração da Gitap admitiu, porém, uma outra explicação para a conversa com Patrão: "Podia estar a dizer que eram dívidas que existiam para com a Oficina de Eventos [uma empresa de marketing político criada por ele e pelo irmão] e que a Oficina de Eventos teria que pagar." Nos autos do mesmo processo encontra-se também uma declaração subscrita por Pedro Rodrigues, um publicitário que foi igualmente sócio da Oficina de Eventos durante algum tempo, a qual ajuda a compreender o que foi dito por Geraldes Pinto sobre as despesas por ele suportadas. Segundo o declarante, o nome de Luís Monterroso não figurava numa lista de devedores da empresa elaborada no fim de Dezembro de 1993 por uma de duas razões: "Ou pagou os trabalhos antes dessa data, ou a Oficina de Eventos [lhe] ofereceu o material [de campanha] que realizou, o que aconteceu com outras candidaturas, como estava previsto acontecer." Em qualquer dos casos, as contas oficiais da campanha socialista desse ano - arquivadas na Comissão Nacional de Eleições - apenas referem, em todo o país, a realização de três pagamentos à Oficina de Eventos. Um deles tem o valor de 684 contos, prende-se com a campanha para a Câmara de Castro Marim, e o recibo não diz quem pagou. Os outros dois somam cerca de 5200 contos e os recibos foram emitidos em nome do "PS - Largo do Rato". J.A.C. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Empresa fornecedora de câmaras socialistas ajudava PS a não pagar IVA

O caso dos cem mil contos

Raposo, Coelho, Seguro e a Oficina de Eventos

Contas de hotel e visitas a Bruxelas pagas pela Gitap

Sócrates admitiu influenciar decisão camarária para favorecer empresa preterida num concurso

Transcrição do resumo da conversa escutada pela Polícia Judiciária

Um empenho sem resultados directos

Ministro e Gitap ameaçam com tribunal

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