Guterres demite-se da liderança do PS

27-12-2001
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Guterres Demite-se da Liderança do PS

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES E ANA SÁ LOPES

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

SOCIALISTAS EM CRISE

A direcção nacional do PS reúne hoje. Vai discutir-se a metodologia para substituir Guterres

António Guterres vai anunciar hoje à direcção do PS que renuncia ao cargo de secretário-geral. O anúncio será feito ao final da tarde numa reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional na sede do Largo do Rato. Guterres anunciará também que não está disposto a recandidatar-se a primeiro-ministro.

O processo que levará à sua substituição no PS já começou a ser preparado. Tudo se encaminha para a convocação de um congresso extraordinário do partido. Mas há, entretanto, problemas estatutários para resolver. O prazo mínimo imposto pelos estatutos do partido para convocar um congresso (60 dias) não joga com o prazo mínimo que o Presidente da República (PR) dispõe para convocar eleições antecipadas (55 dias). A manterem-se os estatutos socialistas, isso poderia obrigar Jorge Sampaio a ficar à espera do PS - e a cúpula do partido sabe que o PR não quer deixar a prolongar-se por muito tempo o vazio governativo que o país vive.

Para resolver o problema vai-se recorrer à norma que dá à comissão nacional do PS - órgão máximo entre congressos - poderes de revisão estatutária. Convoca-se esse órgão e resumem-se os prazos. Há aliás ainda do último congresso (Abril deste ano) uma revisão estatutária pendente, que aguarda uma reunião da comissão nacional. Toda esta metodologia será hoje discutida na tal reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional do partido.

Hoje será portanto confirmado o que já na noite das eleições se pressentia - que Guterres quer afastar-se totalmente. "Devo dizer que não tenho quaisquer ambições de natureza política", foi a frase pela qual se pressentiu a ruptura.

O líder socialista queria, aliás, anunciar na própria noite eleitoral que também estava demissionário de secretário-geral. Foi porém vivamente aconselhado a não o fazer. "Isso, acumulado com a renúncia ao Governo, seria dose de cavalo!", explicou ao PÚBLICO um dirigente do partido. Guterres optou então por dizer que comunicaria em primeira mão ao partido a sua decisão, o que acontecerá hoje.

Houve quem também nessa noite o tentasse demover de se demitir de primeiro-ministro, aconselhando antes a apresentação de uma moção de confiança no Parlamento. Guterres negou-se a tal: "Uma moção de confiança não contribuiria para o necessário restabelecimento da confiança entre governantes e governados", explicou. A recusa de uma moção de confiança pode também ser interpretada, num sentido mais lato, como uma recusa de uma qualquer solução da crise no actual quadro parlamentar.

Na noite eleitoral, António José Seguro, dirigente fundador do "guterrismo" há mais de dez anos - quando os guterristas se contavam pelos dedos de uma mão -, foi dos que levantou a voz contra esta solução da moção de confiança. Ou, por outras palavras: dos que se mostrou mais defensor da solução de ruptura adoptada pelo líder do partido.

Na agenda governamental já se começaram a sentir as consequências da renúncia do primeiro-ministro. Estava convocado para todo o dia de amanhã um Conselho de Ministros informal em Alcácer do Sal, para, genericamente, discutir o futuro - ou, na retórica guterriana, dar "um novo impulso" ao Governo. A reunião foi cancelada. Ou melhor: encolhida. Só vai durar uma manhã, com almoço incluído. E terá lugar na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa. Começam a arrumar-se pastas nos gabinetes governamentais.

Guerra interna em Coimbra

Mas começam também a estalar conflitos federativos. Em Coimbra, e apesar dos apelos à "união entre socialistas", o adversário de Luís Parreirão nas últimas eleições para a distrital, Vítor Baptista, não resistiu a sugerir a sua demissão: "Nenhum líder é alheio a estes resultados, que podem ter uma leitura nacional e outra distrital. António Guterres pôs o lugar à disposição, porque as lideranças assumem-se", disse, escusando-se a ser mais claro.

Na sua perspectiva, os resultados para o PS em Coimbra - detinha nove câmaras em 17, passou a ser maioria em apenas cinco e perdeu a capital de distrito - "é mau de mais para ser verdade". "Não digo se a minha estratégia era pior ou melhor, mas estou certo de que, se há um ano tivesse sido eleito presidente da federação, hoje o quadro eleitoral autárquico seria diferente", comentou, em declarações ao PÚBLICO.

Na noite de anteontem, o dirigente distrital do PS, Luís Parreirão, assumiu a derrota face ao objectivo proposto - mais câmaras e mais votos - mas deixou claro que a decisão de não se recandidatar ao cargo que ocupa, "por motivos pessoais", já tinha sido tomada antes do acto eleitoral.

com G.B.R.

Guterres Demite-se da Liderança do PS

Por JOÃO PEDRO HENRIQUES E ANA SÁ LOPES

Terça-feira, 18 de Dezembro de 2001

SOCIALISTAS EM CRISE

A direcção nacional do PS reúne hoje. Vai discutir-se a metodologia para substituir Guterres

António Guterres vai anunciar hoje à direcção do PS que renuncia ao cargo de secretário-geral. O anúncio será feito ao final da tarde numa reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional na sede do Largo do Rato. Guterres anunciará também que não está disposto a recandidatar-se a primeiro-ministro.

O processo que levará à sua substituição no PS já começou a ser preparado. Tudo se encaminha para a convocação de um congresso extraordinário do partido. Mas há, entretanto, problemas estatutários para resolver. O prazo mínimo imposto pelos estatutos do partido para convocar um congresso (60 dias) não joga com o prazo mínimo que o Presidente da República (PR) dispõe para convocar eleições antecipadas (55 dias). A manterem-se os estatutos socialistas, isso poderia obrigar Jorge Sampaio a ficar à espera do PS - e a cúpula do partido sabe que o PR não quer deixar a prolongar-se por muito tempo o vazio governativo que o país vive.

Para resolver o problema vai-se recorrer à norma que dá à comissão nacional do PS - órgão máximo entre congressos - poderes de revisão estatutária. Convoca-se esse órgão e resumem-se os prazos. Há aliás ainda do último congresso (Abril deste ano) uma revisão estatutária pendente, que aguarda uma reunião da comissão nacional. Toda esta metodologia será hoje discutida na tal reunião conjunta da comissão política e do secretariado nacional do partido.

Hoje será portanto confirmado o que já na noite das eleições se pressentia - que Guterres quer afastar-se totalmente. "Devo dizer que não tenho quaisquer ambições de natureza política", foi a frase pela qual se pressentiu a ruptura.

O líder socialista queria, aliás, anunciar na própria noite eleitoral que também estava demissionário de secretário-geral. Foi porém vivamente aconselhado a não o fazer. "Isso, acumulado com a renúncia ao Governo, seria dose de cavalo!", explicou ao PÚBLICO um dirigente do partido. Guterres optou então por dizer que comunicaria em primeira mão ao partido a sua decisão, o que acontecerá hoje.

Houve quem também nessa noite o tentasse demover de se demitir de primeiro-ministro, aconselhando antes a apresentação de uma moção de confiança no Parlamento. Guterres negou-se a tal: "Uma moção de confiança não contribuiria para o necessário restabelecimento da confiança entre governantes e governados", explicou. A recusa de uma moção de confiança pode também ser interpretada, num sentido mais lato, como uma recusa de uma qualquer solução da crise no actual quadro parlamentar.

Na noite eleitoral, António José Seguro, dirigente fundador do "guterrismo" há mais de dez anos - quando os guterristas se contavam pelos dedos de uma mão -, foi dos que levantou a voz contra esta solução da moção de confiança. Ou, por outras palavras: dos que se mostrou mais defensor da solução de ruptura adoptada pelo líder do partido.

Na agenda governamental já se começaram a sentir as consequências da renúncia do primeiro-ministro. Estava convocado para todo o dia de amanhã um Conselho de Ministros informal em Alcácer do Sal, para, genericamente, discutir o futuro - ou, na retórica guterriana, dar "um novo impulso" ao Governo. A reunião foi cancelada. Ou melhor: encolhida. Só vai durar uma manhã, com almoço incluído. E terá lugar na residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa. Começam a arrumar-se pastas nos gabinetes governamentais.

Guerra interna em Coimbra

Mas começam também a estalar conflitos federativos. Em Coimbra, e apesar dos apelos à "união entre socialistas", o adversário de Luís Parreirão nas últimas eleições para a distrital, Vítor Baptista, não resistiu a sugerir a sua demissão: "Nenhum líder é alheio a estes resultados, que podem ter uma leitura nacional e outra distrital. António Guterres pôs o lugar à disposição, porque as lideranças assumem-se", disse, escusando-se a ser mais claro.

Na sua perspectiva, os resultados para o PS em Coimbra - detinha nove câmaras em 17, passou a ser maioria em apenas cinco e perdeu a capital de distrito - "é mau de mais para ser verdade". "Não digo se a minha estratégia era pior ou melhor, mas estou certo de que, se há um ano tivesse sido eleito presidente da federação, hoje o quadro eleitoral autárquico seria diferente", comentou, em declarações ao PÚBLICO.

Na noite de anteontem, o dirigente distrital do PS, Luís Parreirão, assumiu a derrota face ao objectivo proposto - mais câmaras e mais votos - mas deixou claro que a decisão de não se recandidatar ao cargo que ocupa, "por motivos pessoais", já tinha sido tomada antes do acto eleitoral.

com G.B.R.

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