Um autarca teimoso

09-05-2001
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Um Autarca Teimoso

Por RUI BAPTISTA

Terça-feira, 6 de Março de 2001

O faro para abraçar causas populares tem sido o segredo do sucesso de Paulo Teixeira, o jovem presidente da Câmara de Castelo de Paiva

A teimosia parece ser, simultaneamente, a maior virtude política e o maior defeito de Paulo Teixeira, o jovem presidente da Câmara de Castelo de Paiva, cujo rosto e cujas palavras desassombradas encheram os ecrãs das televisões nas horas que se seguiram à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. O autarca tinha apenas 26 anos quando se candidatou pela primeira vez à presidência de câmara de um concelho onde passou a infância. Perdeu contra o actual governador-civil de Aveiro, Antero Gaspar, mas decidiu ficar na câmara como vereador, interrompendo uma carreira como gestor numa multinacional que começava a dar os primeiros passos. As declarações desassombradas, que são a sua imagem de marca, valeram-lhe diversos processos judiciais movidos por Gaspar, tendo um deles acabado em condenação. Mas em 1997 voltou a apresentar-se a sufrágio, conquistando desta vez a câmara para o PSD. Tinha 30 anos.

Paulo Teixeira entrou na política pela mão de Ângelo Correia, que o conhecia desde criança. Quando se apresentou em Castelo de Paiva, revelou uma falta de jeito para a política que levou muita gente, dentro do seu próprio partido, a vaticinar o pior. Mas o seu faro para abraçar causas populares valeu-lhe o respeito dos paivenses, que admiraram a maneira como se bateu contra Antero Gaspar. Quando este foi nomeado governador civil, Teixeira ficou com as portas abertas para chegar à presidência da câmara e não desperdiçou a oportunidade.

A sua gestão tem-se distinguido pela maneira como defende publicamente o fim do isolamento a que o concelho foi votado durante gerações. Esteve na linha da frente quando foi preciso cortar estradas para chamar a atenção para a necessidade de reparar a ponte de Entre-os-Rios e foi dele que partiu a ideia de impedir as obras de instalação de condutas de água para a zona do Vale de Sousa. "Já houve quem aprovasse um Orçamento em troca de um queijo limiano; a água do Douro vai ser o nosso queijo", garantiu.

No início do ano teve uma audiência com o secretário de Estado das Obras Públicas, Luís Parreirão, para o alertar para as deficientes condições da ponte. Diz quem assistiu ao encontro que Parreirão o tratou com arrogância. Teixeira jurou vingança e a oportunidade surgiu agora, pelos piores motivos. E aproveitando o embalo, criticou também duramente a ausência no local do acidente de Antero Gaspar, seu "arqui-inimigo". Mesmo sabendo que Gaspar estava ausente no Brasil, numa viagem promovida pela Câmara de Arouca, Teixeira não se cansou de chamar a atenção para a sua ausência, lembrando que a residência de Gaspar fica apenas a meia dúzia de quilómetros da ponte.

Um Autarca Teimoso

Por RUI BAPTISTA

Terça-feira, 6 de Março de 2001

O faro para abraçar causas populares tem sido o segredo do sucesso de Paulo Teixeira, o jovem presidente da Câmara de Castelo de Paiva

A teimosia parece ser, simultaneamente, a maior virtude política e o maior defeito de Paulo Teixeira, o jovem presidente da Câmara de Castelo de Paiva, cujo rosto e cujas palavras desassombradas encheram os ecrãs das televisões nas horas que se seguiram à tragédia da ponte de Entre-os-Rios. O autarca tinha apenas 26 anos quando se candidatou pela primeira vez à presidência de câmara de um concelho onde passou a infância. Perdeu contra o actual governador-civil de Aveiro, Antero Gaspar, mas decidiu ficar na câmara como vereador, interrompendo uma carreira como gestor numa multinacional que começava a dar os primeiros passos. As declarações desassombradas, que são a sua imagem de marca, valeram-lhe diversos processos judiciais movidos por Gaspar, tendo um deles acabado em condenação. Mas em 1997 voltou a apresentar-se a sufrágio, conquistando desta vez a câmara para o PSD. Tinha 30 anos.

Paulo Teixeira entrou na política pela mão de Ângelo Correia, que o conhecia desde criança. Quando se apresentou em Castelo de Paiva, revelou uma falta de jeito para a política que levou muita gente, dentro do seu próprio partido, a vaticinar o pior. Mas o seu faro para abraçar causas populares valeu-lhe o respeito dos paivenses, que admiraram a maneira como se bateu contra Antero Gaspar. Quando este foi nomeado governador civil, Teixeira ficou com as portas abertas para chegar à presidência da câmara e não desperdiçou a oportunidade.

A sua gestão tem-se distinguido pela maneira como defende publicamente o fim do isolamento a que o concelho foi votado durante gerações. Esteve na linha da frente quando foi preciso cortar estradas para chamar a atenção para a necessidade de reparar a ponte de Entre-os-Rios e foi dele que partiu a ideia de impedir as obras de instalação de condutas de água para a zona do Vale de Sousa. "Já houve quem aprovasse um Orçamento em troca de um queijo limiano; a água do Douro vai ser o nosso queijo", garantiu.

No início do ano teve uma audiência com o secretário de Estado das Obras Públicas, Luís Parreirão, para o alertar para as deficientes condições da ponte. Diz quem assistiu ao encontro que Parreirão o tratou com arrogância. Teixeira jurou vingança e a oportunidade surgiu agora, pelos piores motivos. E aproveitando o embalo, criticou também duramente a ausência no local do acidente de Antero Gaspar, seu "arqui-inimigo". Mesmo sabendo que Gaspar estava ausente no Brasil, numa viagem promovida pela Câmara de Arouca, Teixeira não se cansou de chamar a atenção para a sua ausência, lembrando que a residência de Gaspar fica apenas a meia dúzia de quilómetros da ponte.

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