Quem é de quem no CDS-PP

13-02-2002
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Quem É de Quem no CDS-PP

Por EUNICE LOURENÇO

Sábado, 19 de Janeiro de 2002 O CDS-PP é um partido pequeno, mas dividido como nenhum outro. Agora divide-se entre portistas e monteiristas, mas em cada grupo há subgrupos e motivações diferentes. O PÚBLICO tenta explicá-los no dia em que começa um congresso que pode fazer com que algumas peças mudem ou outros grupos se formem. Portistas: Fiéis e amigos Ao grupo que, actualmente, está com Portas não se poderá chamar exactamente portistas. É antes um grupo de pessoas que estão juntas neste momento e com este líder por interesses ou motivações diversos. Desses, só uma pequena parte serão fiéis a Paulo Portas, seja por convicção ou por amizade. Fiéis e amigos serão João Rebelo, Pedro Brandão Rodrigues, António Pires de Lima e Luís Nobre Guedes. Curiosamente, todos têm vida para além da política, ou seja, a sua vida não depende do partido. O único destes quatro que trabalha para o partido é João Rebelo, que tem uma profunda ligação à Opus Dei. Vindo da Juventude Centrista (JC), João Rebelo é uma peça fundamental do portismo ao nível operacional. Quando a JC ainda estava com Monteiro, ele foi dos primeiros a virar para Portas e, antes do congresso de Braga, andou a "cacicar" pelo país, mudando a orientação dos jovens centristas. Hoje é o "Jorge Coelho do PP". Também desde sempre com Paulo Portas está Luís Nobre Guedes, que era advogado e administrador-fundador de "O Independente" e esteve no grupo do Altis. Se há muito poucas pessoas que podem fazer Portas suspender uma decisão, Nobre Guedes é uma delas. Actualmente pode aparecer mais, mas continua a ser visto como a "eminência parda", o "Richelieu do PP", de quem quase ninguém gosta, mas que todos temem e têm que suportar, porque é incontornável. Sócio de um dos principais escritórios de advogados de Lisboa, interessa-lhe sobretudo estar próximo do poder. Foi Nobre Guedes quem "repescou" para o partido a terceira figura deste quarteto: Pedro Brandão Rodrigues, um executivo da Portugal Telecom, que tinha estado com Basílio em 1991, mas depois se tinha afastado do CDS, durante o monteirismo. A categoria dos fiéis e amigos de Portas fecha-se com António Pires de Lima, amigo de infância do líder do CDS-PP. Íntimo de Portas, filho do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, gestor na Compal, Pires de Lima será o mais fiel dos fiéis e só estará na política enquanto Portas estiver. Sempre com o líder Se há uma grande diferença entre as pessoas que estão há muito tempo no partido e na política e aqueles que chegaram recentemente e têm vida fora do CDS e da política, este segundo grupo mostra-o. Telmo Correia, Maria Celeste Cardona e Luís Queiró estiveram sempre com o líder, sendo fiéis a cada qual até mudar a liderança. Eles estão sempre no mesmo sítio, os líderes é que mudam. Vindo da JC, Telmo Correia alinhou com Basílio Horta no congresso de 1992, que acabou por ser ganho por Manuel Monteiro. Pouco tempo depois fazia parte do monteirismo. E a seguir passou para o portismo. O percurso de Luís Queiró é semelhante. A diferença é que no congresso de 1992 já estava com Monteiro, fê-lo, aliás, enquanto antigo dirigente da JC e líder da distrital de Lisboa. Celeste Cardona fez o mesmo caminho e tem sido uma das peças fundamentais do CDS-PP na Assembleia da República, onde liderou o combate à reforma fiscal. Neste grupo pode também incluir-se Sílvio Cervan, que agora anda mais desaparecido, mas já foi conhecido como "o rapaz do telemóvel" do portismo. Históricos repescados Uns estão com Paulo Portas por ser o Portas, outros por ele ser o líder do momento, outros porque estão contra Monteiro. Esse será o mínimo denominador comum dos "históricos" que estão ao lado do actual líder e que ele foi "repescar" até como forma de se legitimar a si próprio. Aquele que actualmente tem mais visibilidade é Basílio Horta, a quem Portas passou o lugar de líder parlamentar, mas também a quem obrigou a desistir de uma candidatura presidencial. Entre Portas e Monteiro, escolherá sempre Portas, mas não terá calado ainda dentro de si as esperanças de um dia congregar apoios para si próprio. Afinal, ele é o único dos fundadores que não chegou à liderança: Freitas já abandonou o partido, Amaro da Costa não chegou a ser presidente, mas será sempre estimado como tal. Também Narana Coissoró foi repescado pelo portismo, depois de Monteiro o ter afastado. Por isso, está sobretudo contra Monteiro. Narana continua a ser o protegido de Adriano Moreira, uma figura que continua a pairar sobre o partido como um príncipe da Renascença. Quem gosta muito de citar Adriano Moreira é Anacoreta Correia, que alguns situam hoje mais próximo de Maria José Nogueira Pinto. Também vindo dos tempos da fundação, Anacoreta Correia será o mais equidistante, o mais institucional e profissional dos actuais dirigentes. A ele coube a coordenação do processo autárquico e dele foi a primeira demissão na noite de 16 de Dezembro. Mais novo, mas carregando consigo a história de ter sido chefe de gabinete de Amaro da Costa, Ribeiro e Castro é outro dos afastados durante o monteirismo. Hoje é eurodeputado e foi ele que redigiu a moção que Portas leva a este congresso. Há quem diga que é um incondicional de Portas, mas também há quem lhe atribua ambições próprias. Monteiristas: Fiéis escudeiros e homens de dinheiro Os monteiristas dividem-se basicamente em duas categorias: os fiéis escudeiros de Manuel Monteiro, que o acompanham desde os tempos da Juventude Centrista, e os homens de dinheiro, que têm ou tiveram grandes cargos no mundo empresarial. Os primeiros são Jorge Ferreira, que foi líder parlamentar, e Gonçalo Ribeiro da Costa, que foi secretário-geral do partido. A eles juntou-se Nuno Correia da Silva, mais novo, mas vindo também da JC. Todos eles vão estar no congresso. Nogueira Simões, actual presidente da Confederação Industrial Portuguesa (CIP), e Nuno Fernandes Thomaz, ex-vice presidente da CIP e ex-vice presidente do Partido Popular nos tempos de Monteiro, são os homens de dinheiro, com fortes ligações ao mundo empresarial, que se mantêm ao lado do ex-líder do PP, como há anos estava Ferraz da Costa, então presidente da CIP. Quando se tratou de decidir se avançava ou não para o congresso, Monteiro só decidiu depois de saber que podia contar com os apoios destes homens, que também fazem com ele seja visto como o porta-voz dos interesses da CIP. A estes dois grupos junta-se ainda uma outra figura, que, no fundo, representa a ligação que Monteiro ainda tem nas estruturas locais. Trata-se de Ismael Pimentel, ex-deputado e presidente da concelhia da Amadora. As mais-valias: Lobo Xavier e Nogueira Pinto Reservas para o futuro ou mais-valias para quem apoiarem, António Lobo Xavier e Maria José Nogueira Pinto valem mais do que o partido ou o líder do momento, embora já tenham sido ambos derrotados em congresso. Da sua atitude neste congresso e da sua disponibilidade para compromissos futuros pode depender a liderança de Portas, mas também a sobrevivência do CDS. Se há quem tem a ganhar com a política, Lobo Xavier tem a perder. Por isso, tem-se dedicado a ganhar dinheiro como fiscalista. Ainda há quem tenha a esperança de que o seu objectivo seja estar uns anos a ganhar muito dinheiro, de forma a depois poder livremente dedicar-se à política. Elitista por natureza, Maria José Nogueira Pinto dá a ideia de que nunca se esforçaria para ganhar o partido: teria de ser o partido a ser-lhe entregue e nunca ela a ganhá-lo. Desperta aversões em certa camadas do actual eleitorado do CDS-PP, mais rurais, mas passa também uma imagem de estadista e deixou uma ideia de ser uma mulher de valor e de combate enquanto liderou a bancada parlamentar. Tem um ódio histórico a Nobre Guedes. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Portas recua para manter liderança do partido

Breves

PSD de olhos postos no congresso do CDS-PP

Quem é de quem no CDS-PP

Descentralização é uma das bandeiras do PSD

Santana Lopes preocupado com bloco central

Fernando Ruas a caminho da presidência da ANMP

Apoiantes da CDU no Porto querem candidatura de João Amaral

Militantes do PS contra "rostos da incompetência

António Seguro coordena listas de deputados

Eduardo Ferro Rodrigues: Hoje é o primeiro dia

Quem É de Quem no CDS-PP

Por EUNICE LOURENÇO

Sábado, 19 de Janeiro de 2002 O CDS-PP é um partido pequeno, mas dividido como nenhum outro. Agora divide-se entre portistas e monteiristas, mas em cada grupo há subgrupos e motivações diferentes. O PÚBLICO tenta explicá-los no dia em que começa um congresso que pode fazer com que algumas peças mudem ou outros grupos se formem. Portistas: Fiéis e amigos Ao grupo que, actualmente, está com Portas não se poderá chamar exactamente portistas. É antes um grupo de pessoas que estão juntas neste momento e com este líder por interesses ou motivações diversos. Desses, só uma pequena parte serão fiéis a Paulo Portas, seja por convicção ou por amizade. Fiéis e amigos serão João Rebelo, Pedro Brandão Rodrigues, António Pires de Lima e Luís Nobre Guedes. Curiosamente, todos têm vida para além da política, ou seja, a sua vida não depende do partido. O único destes quatro que trabalha para o partido é João Rebelo, que tem uma profunda ligação à Opus Dei. Vindo da Juventude Centrista (JC), João Rebelo é uma peça fundamental do portismo ao nível operacional. Quando a JC ainda estava com Monteiro, ele foi dos primeiros a virar para Portas e, antes do congresso de Braga, andou a "cacicar" pelo país, mudando a orientação dos jovens centristas. Hoje é o "Jorge Coelho do PP". Também desde sempre com Paulo Portas está Luís Nobre Guedes, que era advogado e administrador-fundador de "O Independente" e esteve no grupo do Altis. Se há muito poucas pessoas que podem fazer Portas suspender uma decisão, Nobre Guedes é uma delas. Actualmente pode aparecer mais, mas continua a ser visto como a "eminência parda", o "Richelieu do PP", de quem quase ninguém gosta, mas que todos temem e têm que suportar, porque é incontornável. Sócio de um dos principais escritórios de advogados de Lisboa, interessa-lhe sobretudo estar próximo do poder. Foi Nobre Guedes quem "repescou" para o partido a terceira figura deste quarteto: Pedro Brandão Rodrigues, um executivo da Portugal Telecom, que tinha estado com Basílio em 1991, mas depois se tinha afastado do CDS, durante o monteirismo. A categoria dos fiéis e amigos de Portas fecha-se com António Pires de Lima, amigo de infância do líder do CDS-PP. Íntimo de Portas, filho do ex-bastonário da Ordem dos Advogados, gestor na Compal, Pires de Lima será o mais fiel dos fiéis e só estará na política enquanto Portas estiver. Sempre com o líder Se há uma grande diferença entre as pessoas que estão há muito tempo no partido e na política e aqueles que chegaram recentemente e têm vida fora do CDS e da política, este segundo grupo mostra-o. Telmo Correia, Maria Celeste Cardona e Luís Queiró estiveram sempre com o líder, sendo fiéis a cada qual até mudar a liderança. Eles estão sempre no mesmo sítio, os líderes é que mudam. Vindo da JC, Telmo Correia alinhou com Basílio Horta no congresso de 1992, que acabou por ser ganho por Manuel Monteiro. Pouco tempo depois fazia parte do monteirismo. E a seguir passou para o portismo. O percurso de Luís Queiró é semelhante. A diferença é que no congresso de 1992 já estava com Monteiro, fê-lo, aliás, enquanto antigo dirigente da JC e líder da distrital de Lisboa. Celeste Cardona fez o mesmo caminho e tem sido uma das peças fundamentais do CDS-PP na Assembleia da República, onde liderou o combate à reforma fiscal. Neste grupo pode também incluir-se Sílvio Cervan, que agora anda mais desaparecido, mas já foi conhecido como "o rapaz do telemóvel" do portismo. Históricos repescados Uns estão com Paulo Portas por ser o Portas, outros por ele ser o líder do momento, outros porque estão contra Monteiro. Esse será o mínimo denominador comum dos "históricos" que estão ao lado do actual líder e que ele foi "repescar" até como forma de se legitimar a si próprio. Aquele que actualmente tem mais visibilidade é Basílio Horta, a quem Portas passou o lugar de líder parlamentar, mas também a quem obrigou a desistir de uma candidatura presidencial. Entre Portas e Monteiro, escolherá sempre Portas, mas não terá calado ainda dentro de si as esperanças de um dia congregar apoios para si próprio. Afinal, ele é o único dos fundadores que não chegou à liderança: Freitas já abandonou o partido, Amaro da Costa não chegou a ser presidente, mas será sempre estimado como tal. Também Narana Coissoró foi repescado pelo portismo, depois de Monteiro o ter afastado. Por isso, está sobretudo contra Monteiro. Narana continua a ser o protegido de Adriano Moreira, uma figura que continua a pairar sobre o partido como um príncipe da Renascença. Quem gosta muito de citar Adriano Moreira é Anacoreta Correia, que alguns situam hoje mais próximo de Maria José Nogueira Pinto. Também vindo dos tempos da fundação, Anacoreta Correia será o mais equidistante, o mais institucional e profissional dos actuais dirigentes. A ele coube a coordenação do processo autárquico e dele foi a primeira demissão na noite de 16 de Dezembro. Mais novo, mas carregando consigo a história de ter sido chefe de gabinete de Amaro da Costa, Ribeiro e Castro é outro dos afastados durante o monteirismo. Hoje é eurodeputado e foi ele que redigiu a moção que Portas leva a este congresso. Há quem diga que é um incondicional de Portas, mas também há quem lhe atribua ambições próprias. Monteiristas: Fiéis escudeiros e homens de dinheiro Os monteiristas dividem-se basicamente em duas categorias: os fiéis escudeiros de Manuel Monteiro, que o acompanham desde os tempos da Juventude Centrista, e os homens de dinheiro, que têm ou tiveram grandes cargos no mundo empresarial. Os primeiros são Jorge Ferreira, que foi líder parlamentar, e Gonçalo Ribeiro da Costa, que foi secretário-geral do partido. A eles juntou-se Nuno Correia da Silva, mais novo, mas vindo também da JC. Todos eles vão estar no congresso. Nogueira Simões, actual presidente da Confederação Industrial Portuguesa (CIP), e Nuno Fernandes Thomaz, ex-vice presidente da CIP e ex-vice presidente do Partido Popular nos tempos de Monteiro, são os homens de dinheiro, com fortes ligações ao mundo empresarial, que se mantêm ao lado do ex-líder do PP, como há anos estava Ferraz da Costa, então presidente da CIP. Quando se tratou de decidir se avançava ou não para o congresso, Monteiro só decidiu depois de saber que podia contar com os apoios destes homens, que também fazem com ele seja visto como o porta-voz dos interesses da CIP. A estes dois grupos junta-se ainda uma outra figura, que, no fundo, representa a ligação que Monteiro ainda tem nas estruturas locais. Trata-se de Ismael Pimentel, ex-deputado e presidente da concelhia da Amadora. As mais-valias: Lobo Xavier e Nogueira Pinto Reservas para o futuro ou mais-valias para quem apoiarem, António Lobo Xavier e Maria José Nogueira Pinto valem mais do que o partido ou o líder do momento, embora já tenham sido ambos derrotados em congresso. Da sua atitude neste congresso e da sua disponibilidade para compromissos futuros pode depender a liderança de Portas, mas também a sobrevivência do CDS. Se há quem tem a ganhar com a política, Lobo Xavier tem a perder. Por isso, tem-se dedicado a ganhar dinheiro como fiscalista. Ainda há quem tenha a esperança de que o seu objectivo seja estar uns anos a ganhar muito dinheiro, de forma a depois poder livremente dedicar-se à política. Elitista por natureza, Maria José Nogueira Pinto dá a ideia de que nunca se esforçaria para ganhar o partido: teria de ser o partido a ser-lhe entregue e nunca ela a ganhá-lo. Desperta aversões em certa camadas do actual eleitorado do CDS-PP, mais rurais, mas passa também uma imagem de estadista e deixou uma ideia de ser uma mulher de valor e de combate enquanto liderou a bancada parlamentar. Tem um ódio histórico a Nobre Guedes. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL Portas recua para manter liderança do partido

Breves

PSD de olhos postos no congresso do CDS-PP

Quem é de quem no CDS-PP

Descentralização é uma das bandeiras do PSD

Santana Lopes preocupado com bloco central

Fernando Ruas a caminho da presidência da ANMP

Apoiantes da CDU no Porto querem candidatura de João Amaral

Militantes do PS contra "rostos da incompetência

António Seguro coordena listas de deputados

Eduardo Ferro Rodrigues: Hoje é o primeiro dia

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