«Mestre e amigo!» - cumprimentou-o logo o ex-líder parlamentar do PSD, soerguendo-se (pareceu-me). «Muito obrigado por aceitar este meu convite.»
Ainda os cumprimentos efusivos não tinham acabado, quando apareceu Eurico de Melo, também sem reparar em mim.
«Reverendo mestre!» - saudou-o Marques Mendes.
E prosseguiam os cumprimentos amigáveis, quando passou, ainda sem dar por mim, o Prof. Vieira de Carvalho.
«Grande mestre do Norte!» - atirou-lhe Marques Mendes, de braços abertos.
Terminados os abraços, e com todos já sentados à volta da mesa, Mendes elucidou, apontando o magro baralho de cartas: «Pedi-lhes que aqui viessem, para isto.»
«Para a sueca?» - inquiriu Fernando Nogueira.
Perante o assentimento de Marques Mendes, Vieira de Carvalho admirou-se: «Outra vez?!»
«E sempre!» - concluiu o candidato social-democrata, entusiasmado. - «Como nos velhos tempos, um por todos e todos por um!»
«Sim, esse era o nosso lema, no tempo da sueca...»- reconheceu Nogueira, nostálgico.
Mas Eurico de Melo advertiu: «Não sei se me lembro...»
«É facílimo!» - Marques Mendes baralhava novamente as cartas, falando com persuasão. - «O ás é o que vale mais, logo seguido da manilha, depois o rei, o valete e a dama, e vêm finalmente os números, por ordem, do seis ao dois.»
«Ultimamente, só me saem duques» - queixou-se Vieira de Carvalho, renitente.
«Mas o que interessa é aquele desportivismo que fazia de nós uma pinha!» - lembrou Marques Mendes.
«Já não tenho cabeça para jogos tão complexos» - insistiu Eurico de Melo.
«Eu confesso que nunca mais joguei a sueca» - confiou, por sua vez, Nogueira, embaraçado. - «Com este meu novo emprego de banqueiro, os amigos que arranjei preferem o bridge.»
«O que é isso?!» - estranhou Eurico.
«É o que jogam agora os empresários pró-socialistas» - esclareceu Marques Mendes, com um leve rancor.
«O que é que havemos de fazer nós, os banqueiros e os empresários, se os socialistas é que seguem a nossas políticas?!» - justificou-se Fernando Nogueira.
«Então o Barroso também devia aprender!» - ponderou Eurico de Melo.
«E se jogássemos antes a bisca lambida?» - sugeriu Vieira de Carvalho. - «Lá na Maia, a malta gosta mais da bisca lambida.»
«Senhores, senhores!» - clamou Marques Mendes, alarmado. - «Afinal somos, ou não somos, o grupo da sueca?!»
«Eu, na minha posição, o mais que posso aceitar, é o king!» - disse Nogueira.
«Também teremos de aprender isso?» - interrogou Eurico.
«Eu cá só jogo à bisca lambida!» - obstinou-se Vieira de Carvalho.
«Pois eu não jogo consigo!» - declarou Eurico, determinado.
«E a sueca?!» - Marques Mendes lamuriava-se, aterrado. - «A nossa sueca?!»
Vieira de Carvalho levantou-se apressado, despediu-se com um gesto rápido de mão, e partiu em passos largos, anunciando: «Vou apanhar o avião, que tenho hoje um jogo de bisca com o Fraga.»
Imediatamente o seguiu Nogueira: «Eu tenho agora uma partida de bridge, em casa do eng. Jardim Gonçalves.»
«E eu vou ensinar bases políticas ao Barroso» - disse Eurico de Melo, saindo também.
Desolado, a baralhar compassadamente as cartas, Marques Mendes viu-me finalmente. E propôs: «Joga alguma coisa?»
Ensinei-lhe o «crapaud».
Relatos do PEDRO BRAGANÇA
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«Mestre e amigo!» - cumprimentou-o logo o ex-líder parlamentar do PSD, soerguendo-se (pareceu-me). «Muito obrigado por aceitar este meu convite.»
Ainda os cumprimentos efusivos não tinham acabado, quando apareceu Eurico de Melo, também sem reparar em mim.
«Reverendo mestre!» - saudou-o Marques Mendes.
E prosseguiam os cumprimentos amigáveis, quando passou, ainda sem dar por mim, o Prof. Vieira de Carvalho.
«Grande mestre do Norte!» - atirou-lhe Marques Mendes, de braços abertos.
Terminados os abraços, e com todos já sentados à volta da mesa, Mendes elucidou, apontando o magro baralho de cartas: «Pedi-lhes que aqui viessem, para isto.»
«Para a sueca?» - inquiriu Fernando Nogueira.
Perante o assentimento de Marques Mendes, Vieira de Carvalho admirou-se: «Outra vez?!»
«E sempre!» - concluiu o candidato social-democrata, entusiasmado. - «Como nos velhos tempos, um por todos e todos por um!»
«Sim, esse era o nosso lema, no tempo da sueca...»- reconheceu Nogueira, nostálgico.
Mas Eurico de Melo advertiu: «Não sei se me lembro...»
«É facílimo!» - Marques Mendes baralhava novamente as cartas, falando com persuasão. - «O ás é o que vale mais, logo seguido da manilha, depois o rei, o valete e a dama, e vêm finalmente os números, por ordem, do seis ao dois.»
«Ultimamente, só me saem duques» - queixou-se Vieira de Carvalho, renitente.
«Mas o que interessa é aquele desportivismo que fazia de nós uma pinha!» - lembrou Marques Mendes.
«Já não tenho cabeça para jogos tão complexos» - insistiu Eurico de Melo.
«Eu confesso que nunca mais joguei a sueca» - confiou, por sua vez, Nogueira, embaraçado. - «Com este meu novo emprego de banqueiro, os amigos que arranjei preferem o bridge.»
«O que é isso?!» - estranhou Eurico.
«É o que jogam agora os empresários pró-socialistas» - esclareceu Marques Mendes, com um leve rancor.
«O que é que havemos de fazer nós, os banqueiros e os empresários, se os socialistas é que seguem a nossas políticas?!» - justificou-se Fernando Nogueira.
«Então o Barroso também devia aprender!» - ponderou Eurico de Melo.
«E se jogássemos antes a bisca lambida?» - sugeriu Vieira de Carvalho. - «Lá na Maia, a malta gosta mais da bisca lambida.»
«Senhores, senhores!» - clamou Marques Mendes, alarmado. - «Afinal somos, ou não somos, o grupo da sueca?!»
«Eu, na minha posição, o mais que posso aceitar, é o king!» - disse Nogueira.
«Também teremos de aprender isso?» - interrogou Eurico.
«Eu cá só jogo à bisca lambida!» - obstinou-se Vieira de Carvalho.
«Pois eu não jogo consigo!» - declarou Eurico, determinado.
«E a sueca?!» - Marques Mendes lamuriava-se, aterrado. - «A nossa sueca?!»
Vieira de Carvalho levantou-se apressado, despediu-se com um gesto rápido de mão, e partiu em passos largos, anunciando: «Vou apanhar o avião, que tenho hoje um jogo de bisca com o Fraga.»
Imediatamente o seguiu Nogueira: «Eu tenho agora uma partida de bridge, em casa do eng. Jardim Gonçalves.»
«E eu vou ensinar bases políticas ao Barroso» - disse Eurico de Melo, saindo também.
Desolado, a baralhar compassadamente as cartas, Marques Mendes viu-me finalmente. E propôs: «Joga alguma coisa?»
Ensinei-lhe o «crapaud».
Relatos do PEDRO BRAGANÇA