EXPRESSO online

20-11-2001
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PS à moda do Porto

Nuno Cardoso, Jorge Coelho e Fernando Gomes mostraram, nos últimos dias, a que ponto se degradaram os valores que devem nortear a actividade política em democracia. A que estado de decomposição cívica o exercício do poder conduziu este PS, com ameaças rasteiras e ajustes de contas na praça pública. A que nível baixou a ética partidária e a linguagem de alguns dos seus principais dirigentes.

Nuno Cardoso culminou uma breve carreira política, para a qual foi alcandorado por Fernando Gomes, da mesma forma desajeitada e inconsequente que marcou os dois anos da sua curta experiência como presidente-substituto da Câmara Municipal do Porto. A sua ingenuidade simpática e a sua figura atípica de político, que podiam ter funcionado como trunfos de afirmação pessoal junto do eleitorado da cidade e da opinião pública, resvalaram frequentes vezes para declarações e atitudes caricatas, de um protagonismo bacoco, quando não revelaram mesmo uma notória incapacidade para liderar e gerir os processos mais complexos de uma grande Câmara, como o do Porto-2001.

A sua origem e posicionamento de independente, à margem da lógica partidária e da desacreditada «nomenklatura» portuense dos socialistas, que poderia ter utilizado para alargar a sua base de apoio e para romper com os pequenos poderes e interesses instalados, esfumou-se na falta de coragem para enfrentar rupturas e fracturas. E acabou, com um tabu de paróquia, na rendição às ameaças e às forças do aparelhismo partidário.

A conferência de imprensa em que anunciou, há dias, a sua desistência foi um exercício patético de amadorismo político, de impreparação pessoal e de incoerência de pensamento. Quem considera os partidos em geral, e o PS em particular, «clubes de amigos e interesses, quase mafiosos» não pode, em simultâneo, manter-se num deles e submeter-se a tal lógica. Quem acha que a sua candidatura teria sido «uma pedrada no lamaçal da política portuguesa» não pode, por receio de divisões e incompreensões, ajudar à manutenção do lamaçal. Quem sonhava que a vitória da sua lista independente iria «provocar uma revolução democrática no país» não pode fugir a tão grandioso desafio com pretextos ridículos e medo de assumir as consequências.

Mas se Nuno Cardoso defraudou todas as expectativas que andara a alimentar, Jorge Coelho não se coibiu de o ameaçar com a cartilha disciplinar e a excomunhão: «Se ele avançar, prejudica violentamente o PS, torna-se um adversário do PS e será tratado como tal: será expulso do partido!», avisou publicamente. Eis a intolerância partidária e a retaliação pessoal no seu esplendor. Não está mal para um partido que se gaba de ser um modelo de pluralismo, de abertura a independentes, de moderação e tolerância.

Fernando Gomes, por seu lado, não resistiu a dar uma facadita nas costas de quem acabava de lhe sair da frente. «Seria extremamente penalizante» ter de enfrentar Nuno Cardoso, disse o retornado autarca à cidade do Porto, porque «é alguém que fui buscar aos bancos da universidade, a quem dei a mão para subir na vida e que inscrevi no Partido Socialista». Querendo diminuir o seu substituto, Gomes veio, involuntariamente, confirmar em pleno a tese dos partidos e comportamentos «quase mafiosos».

É este o triste retrato do PS à moda do Porto. Não se pense, contudo, que é um fenómeno local. É, tão só, o espelho do estado a que chegou o PS nacional.

PS à moda do Porto

Nuno Cardoso, Jorge Coelho e Fernando Gomes mostraram, nos últimos dias, a que ponto se degradaram os valores que devem nortear a actividade política em democracia. A que estado de decomposição cívica o exercício do poder conduziu este PS, com ameaças rasteiras e ajustes de contas na praça pública. A que nível baixou a ética partidária e a linguagem de alguns dos seus principais dirigentes.

Nuno Cardoso culminou uma breve carreira política, para a qual foi alcandorado por Fernando Gomes, da mesma forma desajeitada e inconsequente que marcou os dois anos da sua curta experiência como presidente-substituto da Câmara Municipal do Porto. A sua ingenuidade simpática e a sua figura atípica de político, que podiam ter funcionado como trunfos de afirmação pessoal junto do eleitorado da cidade e da opinião pública, resvalaram frequentes vezes para declarações e atitudes caricatas, de um protagonismo bacoco, quando não revelaram mesmo uma notória incapacidade para liderar e gerir os processos mais complexos de uma grande Câmara, como o do Porto-2001.

A sua origem e posicionamento de independente, à margem da lógica partidária e da desacreditada «nomenklatura» portuense dos socialistas, que poderia ter utilizado para alargar a sua base de apoio e para romper com os pequenos poderes e interesses instalados, esfumou-se na falta de coragem para enfrentar rupturas e fracturas. E acabou, com um tabu de paróquia, na rendição às ameaças e às forças do aparelhismo partidário.

A conferência de imprensa em que anunciou, há dias, a sua desistência foi um exercício patético de amadorismo político, de impreparação pessoal e de incoerência de pensamento. Quem considera os partidos em geral, e o PS em particular, «clubes de amigos e interesses, quase mafiosos» não pode, em simultâneo, manter-se num deles e submeter-se a tal lógica. Quem acha que a sua candidatura teria sido «uma pedrada no lamaçal da política portuguesa» não pode, por receio de divisões e incompreensões, ajudar à manutenção do lamaçal. Quem sonhava que a vitória da sua lista independente iria «provocar uma revolução democrática no país» não pode fugir a tão grandioso desafio com pretextos ridículos e medo de assumir as consequências.

Mas se Nuno Cardoso defraudou todas as expectativas que andara a alimentar, Jorge Coelho não se coibiu de o ameaçar com a cartilha disciplinar e a excomunhão: «Se ele avançar, prejudica violentamente o PS, torna-se um adversário do PS e será tratado como tal: será expulso do partido!», avisou publicamente. Eis a intolerância partidária e a retaliação pessoal no seu esplendor. Não está mal para um partido que se gaba de ser um modelo de pluralismo, de abertura a independentes, de moderação e tolerância.

Fernando Gomes, por seu lado, não resistiu a dar uma facadita nas costas de quem acabava de lhe sair da frente. «Seria extremamente penalizante» ter de enfrentar Nuno Cardoso, disse o retornado autarca à cidade do Porto, porque «é alguém que fui buscar aos bancos da universidade, a quem dei a mão para subir na vida e que inscrevi no Partido Socialista». Querendo diminuir o seu substituto, Gomes veio, involuntariamente, confirmar em pleno a tese dos partidos e comportamentos «quase mafiosos».

É este o triste retrato do PS à moda do Porto. Não se pense, contudo, que é um fenómeno local. É, tão só, o espelho do estado a que chegou o PS nacional.

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