VISITANTES DE OUTROS PARTIDOS

10-09-2001
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Sexta-feira, 07 de Setembro de 2001

Um misto de admiração e curiosidade

"A Festa do "Avante!" sempre despertou em mim um misto de admiração e curiosidade. Até porque antes do 25 de Abril tive a oportunidade de conhecer a Festa do "L'Humanité", o então grande diário do Partido Comunista Francês, tendo ficado surpreendido pela qualidade e variedade das suas manifestações culturais e pela imensa e calorosa mobilização popular. Quando finalmente pude satisfazer a minha curiosidade, já na década de 90, vim confirmar muito do que vira e sentira em França, com a diferença, porém, de que já estávamos no pós-queda do Muro de Berlim, com o desmoronamento das sociedades socialistas do Leste e as suas consequências nas pobres representações dos partidos irmãos .

Retenho antes de mais a sensação de a festa funcionar como o grande momento anual de abertura do PCP aos "não crentes", numa ambígua atitude de indirecta sedução e manifestação de força organizativa, capaz de transmitir uma face mais humana ao Partido e simultaneamente despertar um sentimento de admiração. E, enquanto dirigente do PS, confesso ter sempre sentido alguma inveja e frustração pelo facto do jornal do meu partido nunca ter conseguido fazer a sua própria festa. Mas não será esta só possível quando se parte de uma visão religiosa latu sensu da política e do partido, numa espécie de herança das tradicionais romarias?"

António Reis, deputado do PS

Era o único festival de verão

"Pede-me o PÚBLICO que recorde as minhas viagens à Festa do "Avante!" e a impressão que me causaram. Como nunca atravessei o Tejo - só fui ao Jamor e à Ajuda - a memória já me prega algumas rasteiras (em que sítio tocaram os "The Band"?) mas a impressão está ainda muito presente.

Começa na cara do meu pai, que achava um afronta pessoal ver a "semanada" transformada em EP para o filho ir ver uns cantores comunistas, barbudos e sabe Deus que mais... Só que a afronta era inevitável porque, nesses tempos, a Festa era o único festival de verão. Três dias de concertos e pisang ambon, a bebida da moda, a preços que até a dita "semanada" podia pagar, não se perdiam nem que a Festa fosse organizada por talibans.

Mas o sucesso da Festa é, afinal, muito outro. A Festa era a montra do empenho da militância comunista e isso só não impressionou quem lá não foi.

Podia lembrar-me de muitas pessoas - muito melhor que dos concertos - mas, em três exemplos fecho o circulo : A Catarina, da minha idade, que acampava na Festa com uma semana de antecedência para a ajudar a fazer com as suas mãos, o Prof. Virgílio, artista plástico, que todos os anos expunha a sua obra - sem receio mas com prejuízo -, a camaradas que não resistiam a vê-la como S. Tomé, e a Sophie que me ensinou a amar a Poesia, criou seis filhos num laço de amor e ainda ia ao Aeroporto buscar os Dexy's porque era a camarada que falava melhor inglês...

Esta generosidade e entusiasmo de tantos que lutaram pela utopia antes e depois de Abril, era inevitavelmente contagiante mesmo para quem vinha de fora e já não acreditava nela. Nunca mais lá fui desde que caíu o Muro e se desfez o mito, se calhar, mesmo por não ter prazer em testemunhar esse amargo confronto com a realidade..."

José Eduardo Martins, deputado do PSD e porta-voz do Ambiente

Alguns espectáculos memoráveis

"Fui várias vezes à festa do "Avante!". Recordo especialmente a primeira, ainda na FIL, e alguns espectáculos memoráveis, como um dos Chieftains. A festa do "Avante!" teve momentos de grande qualidade e nela encontro muitos amigos."

Luís Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda

(O PÚBLICO tentou encontrar algum dirigente do CDS-PP que tivesse ido alguma vez à Festa do "Avante!". Apesar da colaboração do próprio partido nessa tarefa, não foi possível encontrar ninguém. Como dizia um dirigente que este ano ficou com vontade de ir à festa: "Seria mais fácil encontrar alguém que já tivesse ido à lua".)

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Sexta-feira, 07 de Setembro de 2001

Um misto de admiração e curiosidade

"A Festa do "Avante!" sempre despertou em mim um misto de admiração e curiosidade. Até porque antes do 25 de Abril tive a oportunidade de conhecer a Festa do "L'Humanité", o então grande diário do Partido Comunista Francês, tendo ficado surpreendido pela qualidade e variedade das suas manifestações culturais e pela imensa e calorosa mobilização popular. Quando finalmente pude satisfazer a minha curiosidade, já na década de 90, vim confirmar muito do que vira e sentira em França, com a diferença, porém, de que já estávamos no pós-queda do Muro de Berlim, com o desmoronamento das sociedades socialistas do Leste e as suas consequências nas pobres representações dos partidos irmãos .

Retenho antes de mais a sensação de a festa funcionar como o grande momento anual de abertura do PCP aos "não crentes", numa ambígua atitude de indirecta sedução e manifestação de força organizativa, capaz de transmitir uma face mais humana ao Partido e simultaneamente despertar um sentimento de admiração. E, enquanto dirigente do PS, confesso ter sempre sentido alguma inveja e frustração pelo facto do jornal do meu partido nunca ter conseguido fazer a sua própria festa. Mas não será esta só possível quando se parte de uma visão religiosa latu sensu da política e do partido, numa espécie de herança das tradicionais romarias?"

António Reis, deputado do PS

Era o único festival de verão

"Pede-me o PÚBLICO que recorde as minhas viagens à Festa do "Avante!" e a impressão que me causaram. Como nunca atravessei o Tejo - só fui ao Jamor e à Ajuda - a memória já me prega algumas rasteiras (em que sítio tocaram os "The Band"?) mas a impressão está ainda muito presente.

Começa na cara do meu pai, que achava um afronta pessoal ver a "semanada" transformada em EP para o filho ir ver uns cantores comunistas, barbudos e sabe Deus que mais... Só que a afronta era inevitável porque, nesses tempos, a Festa era o único festival de verão. Três dias de concertos e pisang ambon, a bebida da moda, a preços que até a dita "semanada" podia pagar, não se perdiam nem que a Festa fosse organizada por talibans.

Mas o sucesso da Festa é, afinal, muito outro. A Festa era a montra do empenho da militância comunista e isso só não impressionou quem lá não foi.

Podia lembrar-me de muitas pessoas - muito melhor que dos concertos - mas, em três exemplos fecho o circulo : A Catarina, da minha idade, que acampava na Festa com uma semana de antecedência para a ajudar a fazer com as suas mãos, o Prof. Virgílio, artista plástico, que todos os anos expunha a sua obra - sem receio mas com prejuízo -, a camaradas que não resistiam a vê-la como S. Tomé, e a Sophie que me ensinou a amar a Poesia, criou seis filhos num laço de amor e ainda ia ao Aeroporto buscar os Dexy's porque era a camarada que falava melhor inglês...

Esta generosidade e entusiasmo de tantos que lutaram pela utopia antes e depois de Abril, era inevitavelmente contagiante mesmo para quem vinha de fora e já não acreditava nela. Nunca mais lá fui desde que caíu o Muro e se desfez o mito, se calhar, mesmo por não ter prazer em testemunhar esse amargo confronto com a realidade..."

José Eduardo Martins, deputado do PSD e porta-voz do Ambiente

Alguns espectáculos memoráveis

"Fui várias vezes à festa do "Avante!". Recordo especialmente a primeira, ainda na FIL, e alguns espectáculos memoráveis, como um dos Chieftains. A festa do "Avante!" teve momentos de grande qualidade e nela encontro muitos amigos."

Luís Fazenda, deputado do Bloco de Esquerda

(O PÚBLICO tentou encontrar algum dirigente do CDS-PP que tivesse ido alguma vez à Festa do "Avante!". Apesar da colaboração do próprio partido nessa tarefa, não foi possível encontrar ninguém. Como dizia um dirigente que este ano ficou com vontade de ir à festa: "Seria mais fácil encontrar alguém que já tivesse ido à lua".)

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