Kosovo a marcar o compasso

10-03-2001
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Rosas andou à caça do voto comunista

Kosovo a Marcar o Compasso

Por ISABEL BRAGA

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Fernando Rosas foi o candidato presidencial mais rápido a reagir ao problema do urânio empobrecido e conseguiu condicionar os discursos dos outros candidatos. O BE centrou boa parte dos seus esforços na caça ao voto no terreno eleitoral do PCP, prosseguindo essa estratégia mesmo depois do anúncio da não-desistência do candidato comunista.

A campanha presidencial do candidato do Bloco de Esquerda (BE) foi marcada pela polémica à volta do urânio empobrecido, com Fernando Rosas a demonstrar reflexos mais rápidos que os outros candidatos, incluindo os da esquerda. Logo no dia 1 de Janeiro, foi o primeiro a pedir a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Martins Barrento, por causa das suas afirmações acerca de uma "inventona" dos sérvios, obrigou António Abreu e Garcia Pereira a colar-se a ele e condicionou os discursos de Jorge Sampaio e de Ferreira do Amaral, obrigados a comentar um assunto que o BE pusera na ordem do dia e não deixava que saísse de lá.

Ao longo de uma semana, Rosas centrou toda a sua energia em denunciar os problemas de saúde dos militares em missão no Kosovo e em atacar o CEME, o ministro da Defesa, o primeiro-ministro e o Presidente da República. Marcou trunfos, mas denunciou também, de algum modo, a pobreza de meios de uma campanha que viveu muito da militância dos bloquistas (havia sempre peditórios, no fim dos comícios). É que Fernando Rosas, historiador de formação, necessitaria de ter recebido informação científica suficientemente mastigada para poder, nos seus discursos, passar além das explicações demasiado simplistas que foi capaz de fornecer para o problema das bombas da NATO.

As acções de campanha foram quase exclusivamente dirigidas para a denúncia dos problemas dos chamados "excluídos" e dos focos de agressão ambiental. Foram visitas sucessivas a "guetos" de droga, cadeias, hospitais psiquiátricos, bairros de lata habitados por minorias étnicas, enfim, o Portugal das traseiras, sempre instrutivas para quem não conhece, mas que, no contexto de campanha eleitoral, utilizam sempre demagogicamente as vítimas dessas situações, que funcionam como cenário do candidato. Um mal inevitável das campanhas eleitorais em geral, quando os candidatos são da oposição.

Fernando Rosas aproveitou sempre essas situações para chamar a atenção para as iniciativas legislativas do Bloco no parlamento, nunca escondendo que o seu objectivo último era conquistar espaço de manobra para o movimento, tónica sublinhada também por Francisco Louçã, Luís Fazenda e Miguel Portas, que o acompanharam em vários momentos. Sendo qualquer deles mais capaz de um discurso político agressivo do que Rosas, foram-se encarregando à vez de reagir a afirmações ou críticas de outros candidatos. Foi Miguel Portas que respondeu a António Abreu, quando este acusou o BE de andar a pescar votos no espaço eleitoral do PCP

Talvez essas acusações não tenham primado pela elegância, mas eram certeiras: quando a campanha do BE passava por zonas de influência comunista, Fernando Rosas falava ao coração do PCP. Fê-lo em Setúbal e voltou a fazê-lo em Beja, na quarta-feira à noite, onde disse que a sua educação política tinha sido feita na cadeia, tendo como professores os seus companheiros de cela, comunistas de Pias ou de Vale de Vargos.

A expectativa em relação à desistência do candidato do PCP era grande no BE, tanto assim que o comício de Beja fora estrategicamente marcado para a noite seguinte ao esperado anúncio da saída de António Abreu da corrida presidencial. Mas, evidentemente, Fernando Rosas não acusou o golpe, limitando-se a sublinhar que a sua candidatura "não anda a mando de terceiros".

Muito reservado nos contactos de rua, mas a melhorar progressivamente sob esse aspecto, o candidato bloquista, que nunca foi um mau orador, conseguiu, nos últimos dias de campanha, um discurso muito mais solto, abrangente e emotivo do que o do início.

Rosas andou à caça do voto comunista

Kosovo a Marcar o Compasso

Por ISABEL BRAGA

Sexta-feira, 12 de Janeiro de 2001

Fernando Rosas foi o candidato presidencial mais rápido a reagir ao problema do urânio empobrecido e conseguiu condicionar os discursos dos outros candidatos. O BE centrou boa parte dos seus esforços na caça ao voto no terreno eleitoral do PCP, prosseguindo essa estratégia mesmo depois do anúncio da não-desistência do candidato comunista.

A campanha presidencial do candidato do Bloco de Esquerda (BE) foi marcada pela polémica à volta do urânio empobrecido, com Fernando Rosas a demonstrar reflexos mais rápidos que os outros candidatos, incluindo os da esquerda. Logo no dia 1 de Janeiro, foi o primeiro a pedir a demissão do chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), Martins Barrento, por causa das suas afirmações acerca de uma "inventona" dos sérvios, obrigou António Abreu e Garcia Pereira a colar-se a ele e condicionou os discursos de Jorge Sampaio e de Ferreira do Amaral, obrigados a comentar um assunto que o BE pusera na ordem do dia e não deixava que saísse de lá.

Ao longo de uma semana, Rosas centrou toda a sua energia em denunciar os problemas de saúde dos militares em missão no Kosovo e em atacar o CEME, o ministro da Defesa, o primeiro-ministro e o Presidente da República. Marcou trunfos, mas denunciou também, de algum modo, a pobreza de meios de uma campanha que viveu muito da militância dos bloquistas (havia sempre peditórios, no fim dos comícios). É que Fernando Rosas, historiador de formação, necessitaria de ter recebido informação científica suficientemente mastigada para poder, nos seus discursos, passar além das explicações demasiado simplistas que foi capaz de fornecer para o problema das bombas da NATO.

As acções de campanha foram quase exclusivamente dirigidas para a denúncia dos problemas dos chamados "excluídos" e dos focos de agressão ambiental. Foram visitas sucessivas a "guetos" de droga, cadeias, hospitais psiquiátricos, bairros de lata habitados por minorias étnicas, enfim, o Portugal das traseiras, sempre instrutivas para quem não conhece, mas que, no contexto de campanha eleitoral, utilizam sempre demagogicamente as vítimas dessas situações, que funcionam como cenário do candidato. Um mal inevitável das campanhas eleitorais em geral, quando os candidatos são da oposição.

Fernando Rosas aproveitou sempre essas situações para chamar a atenção para as iniciativas legislativas do Bloco no parlamento, nunca escondendo que o seu objectivo último era conquistar espaço de manobra para o movimento, tónica sublinhada também por Francisco Louçã, Luís Fazenda e Miguel Portas, que o acompanharam em vários momentos. Sendo qualquer deles mais capaz de um discurso político agressivo do que Rosas, foram-se encarregando à vez de reagir a afirmações ou críticas de outros candidatos. Foi Miguel Portas que respondeu a António Abreu, quando este acusou o BE de andar a pescar votos no espaço eleitoral do PCP

Talvez essas acusações não tenham primado pela elegância, mas eram certeiras: quando a campanha do BE passava por zonas de influência comunista, Fernando Rosas falava ao coração do PCP. Fê-lo em Setúbal e voltou a fazê-lo em Beja, na quarta-feira à noite, onde disse que a sua educação política tinha sido feita na cadeia, tendo como professores os seus companheiros de cela, comunistas de Pias ou de Vale de Vargos.

A expectativa em relação à desistência do candidato do PCP era grande no BE, tanto assim que o comício de Beja fora estrategicamente marcado para a noite seguinte ao esperado anúncio da saída de António Abreu da corrida presidencial. Mas, evidentemente, Fernando Rosas não acusou o golpe, limitando-se a sublinhar que a sua candidatura "não anda a mando de terceiros".

Muito reservado nos contactos de rua, mas a melhorar progressivamente sob esse aspecto, o candidato bloquista, que nunca foi um mau orador, conseguiu, nos últimos dias de campanha, um discurso muito mais solto, abrangente e emotivo do que o do início.

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