Socialistas Portugueses no Parlamento Europeu

05-09-2001
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Intervenção no Parlamento Europeu sobre a Situação em Angola

Sessão – 14.06.2001

Mário Soares – Senhor Presidente, Senhores Deputados, Senhores representantes da Comissão, eu também aprovo a proposta de resolução sobre Angola, que resultou de um compromisso e que é, a meu ver, uma proposta moderada e bastante equilibrada. Trata-se, no fundo, de um apelo à paz que neste momento, como foi já sublinhado pelo deputado José Ribeiro e Castro e agora pelo deputado Carlos Coelho, tem que ser sublinhado pela comunidade internacional e nomeadamente pelo nosso Parlamento.

A situação de Angola é uma situação trágica. Angola é um país devastado, que vive há vinte e seis longos anos ininterruptos em guerra civil. Isto é, desde a independência em 11 de Novembro de 1975 até hoje que existe uma guerra civil, em Angola que se prolonga. Essa guerra civil como aqui foi salientado já, não tem solução militar. E a teoria de que é possível chegar a uma solução pelo esmagamento do inimigo, mesmo que acontecesse o assassinato ou a morte de Savimbi, não é solução porque a guerra continuaria. A guerra só pode terminar através de negociação entre aqueles que a fazem e por pressão da sociedade civil angolana, que está finalmente a emergir. E há vozes independentes da sociedade civil que reclamam a paz, sobretudo apoiadas pela igreja católica angolana, que tem desempenhado nisto um papel extremamente importante, e por todas as outras igrejas, que estão a fazer uma grande pressão em favor da paz, isto é, de uma negociação para a paz. É essa pressão que nós devemos apoiar, tanto a União Europeia como este seu órgão que é o Parlamento Europeu.

Falou-se de uma proposta de alguns dos nossos amigos da esquerda - dos Verdes e do Partido Comunista - que queriam que se fizesse uma condenação especial em relação ao massacre de Cachito. Nós não estamos de acordo e propusemos uma alteração oral que poderia ser de compromisso. Essa alteração oral condenava todos os massacres, venham eles de onde vierem, porque não há só o massacre de Cachito, há também os massacres que têm ocorrido recentemente, por exemplo, em Cabinda. Portanto, se nós só falamos numa espécie de massacres estamos a olhar com um olho cego para uma realidade que, como foi dito, é uma realidade complexa e isso, portanto, sendo um acto aparentemente humanitário é um acto essencialmente político com o qual nós não podemos estar de acordo. Por essa razão vamos votar esta proposta de resolução tal como ela está redigida e não as alterações que foram sugeridas. Fazendo isso pensamos que podemos contribuir para a paz em Angola, e eu quero secundar uma proposta do meu colega José Ribeiro e Castro no sentido de o Parlamento Europeu poder ouvir vozes independentes de Angola que hoje se batem com muita coragem pela paz como, por exemplo, o jornalista Rafael Marques, como, por exemplo, o Arcebispo Zacarias Camoenho, como, por exemplo, o antigo primeiro-ministro de Angola Marcolino Môco, e muitos outros angolanos que são capazes e têm a coragem de vir a este parlamento e dizer com verdade que é preciso acabar com os senhores da guerra.

Porque se é verdade que há senhores da guerra de um lado e outro e que são ambos condenáveis, quer do lado do MPLA, quer do lado da UNITA (e devemos condenar ambos), a verdade é que há interesses que ganham com a guerra, e esses que ganham com a guerra são os interesses do petróleo e dos diamantes, e o que é preciso é fazer emergir a sociedade civil e as igrejas para que aquele povo tão martirizado possa finalmente alcançar a paz.

Intervenção no Parlamento Europeu sobre a Situação em Angola

Sessão – 14.06.2001

Mário Soares – Senhor Presidente, Senhores Deputados, Senhores representantes da Comissão, eu também aprovo a proposta de resolução sobre Angola, que resultou de um compromisso e que é, a meu ver, uma proposta moderada e bastante equilibrada. Trata-se, no fundo, de um apelo à paz que neste momento, como foi já sublinhado pelo deputado José Ribeiro e Castro e agora pelo deputado Carlos Coelho, tem que ser sublinhado pela comunidade internacional e nomeadamente pelo nosso Parlamento.

A situação de Angola é uma situação trágica. Angola é um país devastado, que vive há vinte e seis longos anos ininterruptos em guerra civil. Isto é, desde a independência em 11 de Novembro de 1975 até hoje que existe uma guerra civil, em Angola que se prolonga. Essa guerra civil como aqui foi salientado já, não tem solução militar. E a teoria de que é possível chegar a uma solução pelo esmagamento do inimigo, mesmo que acontecesse o assassinato ou a morte de Savimbi, não é solução porque a guerra continuaria. A guerra só pode terminar através de negociação entre aqueles que a fazem e por pressão da sociedade civil angolana, que está finalmente a emergir. E há vozes independentes da sociedade civil que reclamam a paz, sobretudo apoiadas pela igreja católica angolana, que tem desempenhado nisto um papel extremamente importante, e por todas as outras igrejas, que estão a fazer uma grande pressão em favor da paz, isto é, de uma negociação para a paz. É essa pressão que nós devemos apoiar, tanto a União Europeia como este seu órgão que é o Parlamento Europeu.

Falou-se de uma proposta de alguns dos nossos amigos da esquerda - dos Verdes e do Partido Comunista - que queriam que se fizesse uma condenação especial em relação ao massacre de Cachito. Nós não estamos de acordo e propusemos uma alteração oral que poderia ser de compromisso. Essa alteração oral condenava todos os massacres, venham eles de onde vierem, porque não há só o massacre de Cachito, há também os massacres que têm ocorrido recentemente, por exemplo, em Cabinda. Portanto, se nós só falamos numa espécie de massacres estamos a olhar com um olho cego para uma realidade que, como foi dito, é uma realidade complexa e isso, portanto, sendo um acto aparentemente humanitário é um acto essencialmente político com o qual nós não podemos estar de acordo. Por essa razão vamos votar esta proposta de resolução tal como ela está redigida e não as alterações que foram sugeridas. Fazendo isso pensamos que podemos contribuir para a paz em Angola, e eu quero secundar uma proposta do meu colega José Ribeiro e Castro no sentido de o Parlamento Europeu poder ouvir vozes independentes de Angola que hoje se batem com muita coragem pela paz como, por exemplo, o jornalista Rafael Marques, como, por exemplo, o Arcebispo Zacarias Camoenho, como, por exemplo, o antigo primeiro-ministro de Angola Marcolino Môco, e muitos outros angolanos que são capazes e têm a coragem de vir a este parlamento e dizer com verdade que é preciso acabar com os senhores da guerra.

Porque se é verdade que há senhores da guerra de um lado e outro e que são ambos condenáveis, quer do lado do MPLA, quer do lado da UNITA (e devemos condenar ambos), a verdade é que há interesses que ganham com a guerra, e esses que ganham com a guerra são os interesses do petróleo e dos diamantes, e o que é preciso é fazer emergir a sociedade civil e as igrejas para que aquele povo tão martirizado possa finalmente alcançar a paz.

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