Helicópteros: Força Aérea contra Defesa

07-12-2000
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EH 101: este helicóptero anglo-italiano é o único considerado apto pela Força Aérea, mas a Defesa prefere o Cougar francês

O processo subiu ao secretário de Estado da Defesa, José Penedos, depois de ser considerada «irresolúvel» a «disparidade brutal» entre o relatório final da Comissão de Análise (CA) do concurso, mandatada para recomendar à tutela qual o helicóptero a adquirir, e o relatório do Grupo de Ensaios (GE), órgão da CA encarregue de analisar se os aparelhos propostos cumprem a missão exigida pelo Estado português. A CA, chefiada pelo tenente-coronel Neves Moreira, da Defesa, comunicou ao ministro que o helicóptero a adquirir deve ser o Cougar, da Eurocopter. O GE, chefiado pelo major João Almeida Carvalho, da Força Aérea, reprovou operacionalmente o Cougar e o S-70, da Sikorsky, defendendo que o único apto para a missão é o EH 101, da EHI.

Confrontada há mais de dois meses com as posições divergentes, a tutela, segundo José Penedos, decidiu agora, à revelia do programa do concurso, que a CA vai «fazer novas auditorias técnicas directas com os três concorrentes» para que a «decisão seja clara e límpida». A opção pelas auditorias, soube o EXPRESSO, é a «única saída viável» considerada pela tutela, mas se as duas posições não se alterarem «o concurso será anulado, ou só serão adquiridos dois aparelhos».

«Helis» para náufragos

O Ministério da Defesa definiu também os critérios de compra: preço dos helicópteros, custos do uso destes, capacidade de cumprirem a missão, requisitos desejáveis, contrapartidas.

As propostas foram abertas em Julho : a Eurocopter pediu 6,9 milhões de contos por dois aparelhos, e 44 milhões por 12, a EHI 11,4 milhões e 73,5 milhões, e a Sikorvsky 7,4 milhões e 37,8 milhões. A EHI apresentou ainda uma proposta variante, o mesmo aparelho com outro motor, a 11,45 milhões e 74,3 milhões.

As propostas tiveram todas aprovação prévia pela CA, chefiada por Neves Moreira, e que inclui ainda Álvaro Passos, Manuel Prates e Fátima Diogo, todos do Ministério da Defesa, Alberto Leite, da Inspecção-Geral da Pescas, Almeida Carvalho, da Força Aérea, e Rosário Castro, do ICEP.

De Setembro a Outubro, o GE, liderado por Almeida Carvalho, faz os testes aos aparelhos. No essencial, o GE quer saber se os helicópteros têm autonomia para voar 800 milhas, permanecer num local durante 30 minutos, executar uma operação de salvação de náufragos por guincho, e se permitem o uso de equipamento de radar e fotografia.

Relatório demolidor

O relatório do GE, de 14 de Novembro, classificado secreto, é demolidor: recomenda a eliminação dos aparelhos francês e americano, por estes não cumprirem os requisitos operacionais estipulados no caderno de encargos, e considera que os ingleses são os únicos aptos a cumprir a missão.

O relatório do GE, no entanto, não é tido em conta pela CA. Efectivamente, esta entrega, sete dias depois, o seu relatório final ao ministro, defendendo a compra do «heli» francês, pondo os dois ingleses em segundo e terceiro lugar, e eliminando o americano. A favor desta posição votam cinco elementos do CA, e contra Almeida Carvalho e Alberto Leite, os representantes dos futuros utilizadores dos aparelhos, que registam em acta declarações de voto violentas.

Posteriormente, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Aleixo Corbal, defende junto do ministro da Defesa a justeza do relatório do GE, e são mesmo elaborados dois documentos secretos, um na Defesa e outro na Força Aérea, onde se considera que os critérios de avaliação dos concorrentes foram alterados pela CA, para favorecer o concorrente francês. Neves Moreira diz ao EXPRESSO que «não houve alteração dos critérios» e que «dois concorrentes cumpriram os requisitos».

Apesar deste clima de guerra surda, o ministro da Defesa decidiu não abrir um inquérito. Veiga Simão sabe, no entanto, que a influenciar as duas posições divergentes estão a aposta total da CA no aparelho francês, por um lado, e as prioridades da Força Aérea, por outro, que, para além de querer o «heli» mais sofisticado e recente, o EH 101, considera neste momento que acima de tudo deve privilegiar a operacionalidade dos seus aviões de combate, os novos e antigos F-16 e os Alpha-Jet.

José Vegar

EH 101: este helicóptero anglo-italiano é o único considerado apto pela Força Aérea, mas a Defesa prefere o Cougar francês

O processo subiu ao secretário de Estado da Defesa, José Penedos, depois de ser considerada «irresolúvel» a «disparidade brutal» entre o relatório final da Comissão de Análise (CA) do concurso, mandatada para recomendar à tutela qual o helicóptero a adquirir, e o relatório do Grupo de Ensaios (GE), órgão da CA encarregue de analisar se os aparelhos propostos cumprem a missão exigida pelo Estado português. A CA, chefiada pelo tenente-coronel Neves Moreira, da Defesa, comunicou ao ministro que o helicóptero a adquirir deve ser o Cougar, da Eurocopter. O GE, chefiado pelo major João Almeida Carvalho, da Força Aérea, reprovou operacionalmente o Cougar e o S-70, da Sikorsky, defendendo que o único apto para a missão é o EH 101, da EHI.

Confrontada há mais de dois meses com as posições divergentes, a tutela, segundo José Penedos, decidiu agora, à revelia do programa do concurso, que a CA vai «fazer novas auditorias técnicas directas com os três concorrentes» para que a «decisão seja clara e límpida». A opção pelas auditorias, soube o EXPRESSO, é a «única saída viável» considerada pela tutela, mas se as duas posições não se alterarem «o concurso será anulado, ou só serão adquiridos dois aparelhos».

«Helis» para náufragos

O Ministério da Defesa definiu também os critérios de compra: preço dos helicópteros, custos do uso destes, capacidade de cumprirem a missão, requisitos desejáveis, contrapartidas.

As propostas foram abertas em Julho : a Eurocopter pediu 6,9 milhões de contos por dois aparelhos, e 44 milhões por 12, a EHI 11,4 milhões e 73,5 milhões, e a Sikorvsky 7,4 milhões e 37,8 milhões. A EHI apresentou ainda uma proposta variante, o mesmo aparelho com outro motor, a 11,45 milhões e 74,3 milhões.

As propostas tiveram todas aprovação prévia pela CA, chefiada por Neves Moreira, e que inclui ainda Álvaro Passos, Manuel Prates e Fátima Diogo, todos do Ministério da Defesa, Alberto Leite, da Inspecção-Geral da Pescas, Almeida Carvalho, da Força Aérea, e Rosário Castro, do ICEP.

De Setembro a Outubro, o GE, liderado por Almeida Carvalho, faz os testes aos aparelhos. No essencial, o GE quer saber se os helicópteros têm autonomia para voar 800 milhas, permanecer num local durante 30 minutos, executar uma operação de salvação de náufragos por guincho, e se permitem o uso de equipamento de radar e fotografia.

Relatório demolidor

O relatório do GE, de 14 de Novembro, classificado secreto, é demolidor: recomenda a eliminação dos aparelhos francês e americano, por estes não cumprirem os requisitos operacionais estipulados no caderno de encargos, e considera que os ingleses são os únicos aptos a cumprir a missão.

O relatório do GE, no entanto, não é tido em conta pela CA. Efectivamente, esta entrega, sete dias depois, o seu relatório final ao ministro, defendendo a compra do «heli» francês, pondo os dois ingleses em segundo e terceiro lugar, e eliminando o americano. A favor desta posição votam cinco elementos do CA, e contra Almeida Carvalho e Alberto Leite, os representantes dos futuros utilizadores dos aparelhos, que registam em acta declarações de voto violentas.

Posteriormente, o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, Aleixo Corbal, defende junto do ministro da Defesa a justeza do relatório do GE, e são mesmo elaborados dois documentos secretos, um na Defesa e outro na Força Aérea, onde se considera que os critérios de avaliação dos concorrentes foram alterados pela CA, para favorecer o concorrente francês. Neves Moreira diz ao EXPRESSO que «não houve alteração dos critérios» e que «dois concorrentes cumpriram os requisitos».

Apesar deste clima de guerra surda, o ministro da Defesa decidiu não abrir um inquérito. Veiga Simão sabe, no entanto, que a influenciar as duas posições divergentes estão a aposta total da CA no aparelho francês, por um lado, e as prioridades da Força Aérea, por outro, que, para além de querer o «heli» mais sofisticado e recente, o EH 101, considera neste momento que acima de tudo deve privilegiar a operacionalidade dos seus aviões de combate, os novos e antigos F-16 e os Alpha-Jet.

José Vegar

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