Na rota do ALD

11-01-2001
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Milagre q fes J. Penedos em propondo a uzansa de submergiveis sem gravame d'Orçamento (Ex-voto: imagem do cátaro no momento da iluminação)

É dos Livros Sagrados que Moisés atravessou a pé enxuto o mar Vermelho e Jesus deu largos bordejos sobre as águas do rio Jordão. Infelizmente, tais poderes, que permitiriam grandes poupanças ao Estado, não foram transmitidos à Marinha portuguesa. Eis porque o país, podendo dispensar a regionalização, não pode passar sem vasos de guerra.

É aqui que entra o milagre de José Penedos, secretário de Estado da Defesa, que, num momento de inspiração, descobriu que o sistema ALD - aluguer de longa duração - pode ser aplicado aos submarinos.

Verdade seja, o ALD parecia reservado, por misteriosas razões, à aquisição de automóveis, jogadores de futebol e gavetas funerárias do Alto de São João. Até que o bem-aventurado Penedos dele se lembrou para modernizar a Marinha, sem recurso ao massacrado Orçamento de Estado.

Não desfazendo nos milagres do Mestre, várias vezes surpreendido a caminhar à tona, a ideia de atravessar as águas por baixo também tem o seu mérito. E, mesmo supondo que não é desta que os magrebinos invadem Portugal, por desfastio ou à conquista de emprego, podemos sempre utilizar os submarinos para vigiar mariscadores furtivos e defender os direitos dos bivalves.

Com divina centelha, José Penedos alivia as contas do Governo em 150 milhões (sempre difíceis de engolir para quem não vê os submersíveis como alternativa de transporte) e levanta o moral das populações, algo deprimidas com a fraca prestação das Forças Armadas desde o afundamento do «São Miguel».

Consiste o «Plano Penedos» em convencer o Estado a pedir à Banca aquilo com que se alugam submarinos, ficando a pagar uma renda às instituições de crédito durante o tempo de vida útil das embarcações (esperemos que este tempo se cumpra numa legislatura, pois não seria cristão deixar ao Governo seguinte o trabalho de devolver as carcaças). É possível que venhamos a pagar o mesmo, ou um pouco mais, mas as prestações têm esse fascínio - não sentimos tanto. E é como quem pede empréstimo para comprar casa: se não liquidar a prestação a tempo, a Banca pode sempre pedir os submarinos de volta. Com a actual disputa entre banqueiros pelo domínio do sector, um vaso de guerra pode até dar muito jeito a Jardim Gonçalves ou a Champalimaud.

Voltando ao ALD: tratando-se de uma pagela acessível, que cobre a utilização dos barcos e a sua manutenção, afigura-se o negócio de rara oportunidade e motivo de orgulho nacional. De um dia para o outro, os portugueses, que já tinham dado nas vistas como exímios utilizadores de telemóveis, passarão a manobrar sofisticados submarinos.

Imagine V. Eminência o «Plano Penedos» aplicado à Expo. A Banca teria financiado os edifícios e os paquetes de luxo e fornecido os peixes do Oceanário. Pagava- -se a renda e, graças ao ALD, o próprio «Corvo Branco» haveria de dar lucro.

Tudo depende agora da avaliação que a Assembleia da República fizer, na especialidade, do prodígio do governante. Se o milagre for chumbado, só resta a José Penedos tentar a bíblica façanha de andar sobre as águas.

Quem sou eu para lhe ensinar o caminho das pedras?

A Bem da Canonização,

Milagre q fes J. Penedos em propondo a uzansa de submergiveis sem gravame d'Orçamento (Ex-voto: imagem do cátaro no momento da iluminação)

É dos Livros Sagrados que Moisés atravessou a pé enxuto o mar Vermelho e Jesus deu largos bordejos sobre as águas do rio Jordão. Infelizmente, tais poderes, que permitiriam grandes poupanças ao Estado, não foram transmitidos à Marinha portuguesa. Eis porque o país, podendo dispensar a regionalização, não pode passar sem vasos de guerra.

É aqui que entra o milagre de José Penedos, secretário de Estado da Defesa, que, num momento de inspiração, descobriu que o sistema ALD - aluguer de longa duração - pode ser aplicado aos submarinos.

Verdade seja, o ALD parecia reservado, por misteriosas razões, à aquisição de automóveis, jogadores de futebol e gavetas funerárias do Alto de São João. Até que o bem-aventurado Penedos dele se lembrou para modernizar a Marinha, sem recurso ao massacrado Orçamento de Estado.

Não desfazendo nos milagres do Mestre, várias vezes surpreendido a caminhar à tona, a ideia de atravessar as águas por baixo também tem o seu mérito. E, mesmo supondo que não é desta que os magrebinos invadem Portugal, por desfastio ou à conquista de emprego, podemos sempre utilizar os submarinos para vigiar mariscadores furtivos e defender os direitos dos bivalves.

Com divina centelha, José Penedos alivia as contas do Governo em 150 milhões (sempre difíceis de engolir para quem não vê os submersíveis como alternativa de transporte) e levanta o moral das populações, algo deprimidas com a fraca prestação das Forças Armadas desde o afundamento do «São Miguel».

Consiste o «Plano Penedos» em convencer o Estado a pedir à Banca aquilo com que se alugam submarinos, ficando a pagar uma renda às instituições de crédito durante o tempo de vida útil das embarcações (esperemos que este tempo se cumpra numa legislatura, pois não seria cristão deixar ao Governo seguinte o trabalho de devolver as carcaças). É possível que venhamos a pagar o mesmo, ou um pouco mais, mas as prestações têm esse fascínio - não sentimos tanto. E é como quem pede empréstimo para comprar casa: se não liquidar a prestação a tempo, a Banca pode sempre pedir os submarinos de volta. Com a actual disputa entre banqueiros pelo domínio do sector, um vaso de guerra pode até dar muito jeito a Jardim Gonçalves ou a Champalimaud.

Voltando ao ALD: tratando-se de uma pagela acessível, que cobre a utilização dos barcos e a sua manutenção, afigura-se o negócio de rara oportunidade e motivo de orgulho nacional. De um dia para o outro, os portugueses, que já tinham dado nas vistas como exímios utilizadores de telemóveis, passarão a manobrar sofisticados submarinos.

Imagine V. Eminência o «Plano Penedos» aplicado à Expo. A Banca teria financiado os edifícios e os paquetes de luxo e fornecido os peixes do Oceanário. Pagava- -se a renda e, graças ao ALD, o próprio «Corvo Branco» haveria de dar lucro.

Tudo depende agora da avaliação que a Assembleia da República fizer, na especialidade, do prodígio do governante. Se o milagre for chumbado, só resta a José Penedos tentar a bíblica façanha de andar sobre as águas.

Quem sou eu para lhe ensinar o caminho das pedras?

A Bem da Canonização,

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