EXPRESSO: País

15-12-2001
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Guerras de Lisboa podem dar Junta ao PCP João Soares corre o risco de perder a Câmara de Lisboa para Pedro Santana Lopes, mas mesmo que assim não seja habilita-se a ficar sem a presidência da Junta Metropolitana... a favor do parceiro dos socialistas na coligação da capital, a CDU. Para tanto, pode bastar a previsível derrota dos candidatos do PS em Cascais e em Setúbal. Resta saber se, nos restantes concelhos da Área Metropolitana, as eventuais perdas dos comunistas serão ou não compensadas pelos possíveis ganhos. Soares e Santana, na SIC: CDU pode ficar com maioria na AML A PERDA da presidência da Junta Metropolitana de Lisboa é uma possibilidade real para o PS. Basta, para tanto, que o voto em urna confirme as sondagens que vêm dando Cascais e Setúbal como perdidas para o PSD e para a CDU. Um cenário, tão pessimista quanto plausível, que fará do partido do Governo a segunda força partidária da AML, ao passo que devolverá à CDU a primazia perdida há quatro anos. A PERDA da presidência da Junta Metropolitana de Lisboa é uma possibilidade real para o PS. Basta, para tanto, que o voto em urna confirme as sondagens que vêm dando Cascais e Setúbal como perdidas para o PSD e para a CDU. Um cenário, tão pessimista quanto plausível, que fará do partido do Governo a segunda força partidária da AML, ao passo que devolverá à CDU a primazia perdida há quatro anos. É uma disputa ao milímetro entre as duas principais forças da esquerda - que, curiosamente, concorrem coligadas na capital -, com desfecho dependente dos resultados alcançados por cada uma em seis concelhos-chave: Azambuja, Loures, Odivelas, Barreiro, Alcochete e Setúbal. Em 1997, foi na Área Metropolitana de Lisboa que mais se evidenciou a boa forma do PS, com o partido do Governo a conseguir a presidência da Junta, conquistando à CDU quatro dos seus bastiões - Amadora, Vila Franca de Xira, Montijo e Sesimbra -, e por uma unha negra não fazendo o mesmo em Loures e no Barreiro. Quatro anos depois, a história inverte-se: reflectindo o desgaste da governação, os socialistas estão agora em vias de perder Cascais (para o PSD) e Setúbal (para a CDU), embora acalentem a esperança de anular essas derrotas com a concretização das suas ambições em Loures e no Barreiro. No cenário mais pessimista, mas também o mais plausível, para os socialistas - a perda de Cascais e Setúbal sem qualquer compensação -, a presidência da Junta Metropolitana volta às mãos dos comunistas. E destas não sai mesmo que o PS consiga obter a presidência do recém-criado município de Odivelas - igualmente disputado pelos comunistas, animados pelos resultados de anteriores autárquicas que revelam que todas as freguesias que agora compõem o concelho, com a excepção de Odivelas, são CDU. Mas nem todas as perspectivas são tão negras para o PS. Dando de barato a perda em Cascais e a vitória em Odivelas - hipóteses muito consistentes -, e imaginando, com um pouco de optimismo, que mantêm Setúbal, os socialistas conseguirão manter sob sua tutela a presidência da AML - para a qual defendem, no seu programa eleitoral, reforço de competências -, ainda que com a escassa vantagem de um município. Não obstante este delicado equilíbrio de forças, o significado político maior destas eleições autárquicas depende do que suceder no município de Lisboa. Depois do consulado do comunista Daniel Branco, a presidência da AML tem pertencido a João Soares. Mas, curiosamente, a cor política do futuro presidente da Câmara de Lisboa não terá rigorosamente nenhuma influência na liderança deste organismo. Estando PS e PCP coligados e correndo o risco de, na capital, perderem a eleição para o PSD, nada será alterado, uma vez que este partido não aspira a mais do que quatro presidências na área. E o único contributo que os sociais-democratas dão para esta aritmética é o de, ao conquistarem Cascais, darem de imediato vantagem à CDU sobre o PS.

CRISTINA FIGUEIREDO e MARIA TERESA OLIVEIRA, com SOFIA RAINHO

Lisboa Lisboa João Soares? João Soares ou Pedro Santana Lopes? Parece que só mesmo as urnas revelarão a chave de um mistério que as sondagens teimam em adensar. À partida, o candidato da única coligação PS/CDU do país leva vantagem, uma vez que a direita não conseguiu ultrapassar divergências antigas e, por tradição, só unida consegue arrebatar a presidência de uma cidade cujos eleitores são maioritariamente de esquerda. Mas o até aqui presidente da Câmara da Figueira da Foz, que em 1997 também retirou aos socialistas uma câmara que nunca conhecera outra cor, pode bem ser a excepção desta regra - só quebrada por Cavaco Silva nas eleições legislativas de 1987 e 91. Seja qual fôr a cor partidária do próximo ocupante dos Paços do Conselho, certo é que terá que enfrentar a oposição de Paulo Portas - que será um dos dois vereadores que ambiciona para o seu CDS, enquanto que o seu irmão Miguel almeja conquistar uma vereação para o Bloco de Esquerda. Alcochete - CDU Miguel Boieiro? Embora a ponte Vasco da Gama tenha alterado a cara e a composição sociológica do concelho, Alcochete deverá continuar nas mãos do comunista Miguel Boieiro, presidente desde 1982. O que não impede o PS de alimentar expectativas de vitória no município, fazendo fé em José Dias Inocêncio, um empresário local cuja campanha os dirigentes nacionais reputam de "sólida". A consolidar a sua esperança, os socialistas socorrem-se dos últimos resultados nas legislativas que lhes deram uma vitória por larga margem. Almada - CDU Maria Emília Sousa! Num concelho onde a CDU governa há 25 anos, a comunista Maria Emília de Sousa concorre a um quarto mandato à frente da autarquia, apostada em reforçar a maioria absoluta. O PS, seu principal adversário, que em 1997 conseguiu eleger mais um vereador, apresenta como candidato Ruben Raposo e espera ultrapassar o resultado conseguido por Torres Couto nas últimas eleições. Já o PSD, recorre a um nome local, aspirando a aumentar a sua presença na câmara, reduzida a um só vereador. A surpresa pode vir do Bloco de Esquerda que se estreia no concelho e poderá eleger Manuela Tavares como vereadora. Amadora - PS Joaquim Raposo! Com os partidos da oposição a apostarem na melhoria das suas votações, o PS faz fé em como conseguirá, desta vez, a maioria absoluta que não obteve em 1997. O re-candidato Joaquim Raposo recorre à obra feita para tentar impedir o regresso da CDU à presidência do município que geriu desde a sua criação, em 1979, até ao último escrutínio. Ao deputado António Filipe cabe a espinhosa missão de recuperar os cerca de 5 mil votos perdidos há quatro anos. No propósito de contrariar os objectivos socialistas é acompanhado pelo seu colega parlamentar, o social-democrata Vieira de Castro. Azambuja - PS Joaquim António Ramos? Apesar de ter mudado de candidato, o PS quer não apenas manter como reforçar a maioria na Câmara Municipal da Azambuja. As expectativas mais optimistas chegam à maioria absoluta - mas isso implica que Joaquim António Ramos (que sucede a Carlos Pinto de Oliveira como rosto do PS no concelho) consiga adicionar mais um mandato aos actuais três. A CDU, que também tem três vereadores, ameaça não facilitar a tarefa ao PS: depois de Setúbal, a Azambuja corresponde à sua segunda maior aposta no distrito. António José Rodrigues, actual vereador, é o cabeça-de-lista da coligação. Barreiro - PS Emídio Xavier? Uma vez mais, aqui a luta é entre a coligação encabeçada pelos comunistas e os socialistas. Há quatro anos, o PS perdeu por menos de 200 votos e, este ano, não quer deixar fugir a presa. Só que os comunistas ainda não se dão por vencidos, mesmo não se recandidatando o presidente Pedro Canário. Carlos Maurício é vereador desde 1989, sendo vice-presidente desde 1993. É certo que o edil vai ser outro, resta saber de que cor. Cascais - PSD António Capucho! O "fantasma" de José Luís Judas assombra a candidatura de José Lamego, cuja derrota é tida como certa mesmo pelos dirigentes nacionais do PS. Aniquilando as possibilidades de os socialistas se manterem na presidência de um município que, até 1993, foi de direita, a herança de Judas deverá reverter inteiramente a favor do candidato PSD/CDS. Até porque António Capucho representa um determinado eleitorado cascalense que não se consegue rever nos antigos revolucionários de esquerda que o PS e o PCP (respectivamente, José Lamego e Dinis de Almeida) apresentam a este combate. Loures - CDU Adão Barata? Há quatro anos, o comunista Demétrio Alves venceu a Câmara de Loures com menos de dois mil votos de diferença em relação ao PS. Entretanto, abandonou a Câmara, na sequência da criação do concelho de Odivelas, o pretexto encontrado para consumar as divergências que o iam afastando da direcção do seu partido. Foi substituído pelo vereador Adão Barata, que, agora, se recandidata. A CDU confia na manutenção desta autarquia mas o PS, uma vez mais, volta a cobiçá-la - já há oito anos a diferença andou pelos dois mil votos. Desta vez candidata Carlos Teixeira, o presidente da secção local. Será que conseguirá a vitória que já há oito anos António Costa, o agora ministro da Justiça, chegou a celebrar? Mafra - PSD Ministro dos Santos! Em Mafra não se esperam alterações significativas no actual quadro político-partidário. O actual presidente da câmara do PSD, José Ministro dos Santos, que preside aos destinos da autarquia há quatro mandatos, parte descansado para mais um combate eleitoral e com praticamente a mesma equipa de 1997. Os socialistas apostam no coronel Aníbal Rodrigues da Silva, embora quase resignados com a previsível maioria absoluta do Ministro social-democrata Moita - CDU João José de Almeida! A CDU tem conseguido resultados confortáveis na Moita o que lhe tem permitido gerir a autarquia com maioria absoluta, actualmente de cinco vereadores. João Almeida manter-se-á, pois, como presidente da Câmara sendo que a grande dúvida que persiste é saber se o candidato do PS, José Manuel Epifânio, conseguirá contrariar a maioria absoluta dos comunistas. O PS é a segunda maior força no concelho, actualmente com três vereadores. À direita, PSD e PP concorrem em listas separadas, e os sociais-democratas, que apresentam mais uma vez José Silva Santos, esperam manter o seu único vereador. Montijo - PS Maria Amélia Antunes! Os socialistas ganharam Montijo em 1997 e nem sequer equacionar não voltar a fazer o mesmo, ainda com melhores resultados, este ano. Maria Amélia Antunes ambiciona um resultado histórico, reforçando a maioria absoluta. Neste município, em que a vitória se disputa à esquerda, a CDU (a quem o PS retirou a presidência) apenas tem como perspectiva a manutenção dos seus actuais dois vereadores. Odivelas - PS Manuel Varges? O novo município da Área Metropolitana de Lisboa tem vindo a ser provisoriamente gerido pelos socialistas. Que pensam, aliás que o seu candidato e actual presidente da comissão instaladora, Manuel Varges, vai ganhar as eleições com maioria absoluta. Mas a CDU e o PSD têm uma ideia contrária. A coligação comunista, que logo contestou o facto de o PS ter ficado à frente da comissão instaladora, acredita nas possibilidades de Natália Santos vencer as eleições. O PSD também não quer descartar as hipóteses de Fernando Ferreira, apenas com uma certeza: os socialistas não terão maioria absoluta. Oeiras - PSD Isaltino Morais! O dinossauro Isaltino de Morais ameaça "fossilizar-se" na presidência da Câmara de Oeiras, de onde não se crê que saia tão depressa, a não ser na eventualidade de o PSD vir a formar Governo e Isaltino ocupe ao sol a pasta que tem vindo a deter na sombra: as Obras Públicas. Ao ponto de os restantes partidos nem contabilizarem Oeiras na sua aritmética eleitoral. O único objectivo verosímil é tentar crescer no concelho. Palmela - CDU Teresa Vicente! Apesar de mudar de candidato - o actual edil, Carlos Sousa, concorre a Setúbal - a CDU tem como certa a manutenção da presidência da autarquia palmelense. Os socialistas são os primeiros a fazer "mea culpa", assumindo que a candidatura de Jorge Mares não corresponde à solução ideal para fazer frente à, até agora, vereadora comunista, Teresa Vicente. Seixal - CDU Alfredo Monteiro da Costa! O comunista Alfredo Monteiro é presidente da Câmara do Seixal desde Janeiro de 1998. E nestas funções se deverá manter durante mais quatro anos. A coligação tem a maioria mais do que absoluta dispondo de seis dos dez lugares do executivo camarário. O PS é a segunda força mais votada mas não atribui especial importância aos resultados que aqui vier a obter. O PSD também só espera ter mais votos. Sesimbra - PS Amadeu Penim! Sesimbra foi um dos concelhos que a CDU perdeu em 1997 para os socialistas que logo venceram com maioria absoluta. O PS recandidata Amadeu Penim, convicto de nova vitória fácil. A CDU não desiste de tentar, apresentando Augusto Pólvora como cabeça-de-lista. Mas mais plausível que uma explosiva vitória da coligação comunista será antes a possibilidade de aumentarem a sua votação e retirarem a maioria absoluta ao PS. Setúbal - CDU Carlos Sousa? Com vantagem nas sondagens, o ainda presidente da Câmara de Palmela, o comunista Carlos Sousa, tem boas hipóteses de transferir o seu mandato para a capital do distrito. O PS ainda não deu a autarquia por perdida mas reconhece que Mata Cáceres, que lidera o executivo camarário desde 1985, está muito desgastado. E como um azar nunca vem só, o ex-socialista Luís Filipe Fernandes decidiu concorrer como independente, criando ainda mais dificuldades ao candidato do seu antigo partido que poderá perder para a CDU exactamente pelos três ou quatro pontos percentuais... que as sondagens àquele atribuem. Sintra - PS Edite Estrela! Pese embora o susto que, há uma semana, lhe pregou uma sondagem que dava a vitória à coligação PSD/PP, o PS não admite sequer perder a maioria absoluta em Sintra. Edite Estrela, que em 1997 foi o rosto de uma lista que obteve seis lugares, concorre a um terceiro mandato com clara vantagem sobre Fernando Seara - actualmente, os sociais-democratas só possuem dois vereadores e os centristas nenhum. De qualquer forma, a coligação de direita não desiste de pensar que Sintra é uma possibilidade. A CDU, que foi claramente penalizada nas últimas eleições, quer aumentar a sua actual equipa de três vereadores. Vila Franca de Xira - PS Maria da Luz Rosinha! Conquistado o bastião à CDU - e ao até então inamovível Daniel Branco -, em 1997, as ambições de Maria da Luz Rosinha são agora mais modestas, mas nem por isso menos difíceis de alcançar: a (re)candidata do PS quer reforçar a maioria obtida há quatro anos. Significa isto passar dos actuais quatro mandatos - o mesmo número que tem a CDU - para cinco ou mesmo seis. Porém, a coligação de esquerda não desarma e pretende, obviamente, reconquistar a presidência do município. Entre os objectivos de uma e outra lista, o PSD - que no actual executivo, com um único vereador, foi o fiel da balança - quer recuperar vantagens antigas.

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Monteiro de volta?

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Eanes apoia Soares

Nós vemos

A batalha de Lisboa

Brindes de campanha

Esquerda versus direita na Internet

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Guerras de Lisboa podem dar Junta ao PCP João Soares corre o risco de perder a Câmara de Lisboa para Pedro Santana Lopes, mas mesmo que assim não seja habilita-se a ficar sem a presidência da Junta Metropolitana... a favor do parceiro dos socialistas na coligação da capital, a CDU. Para tanto, pode bastar a previsível derrota dos candidatos do PS em Cascais e em Setúbal. Resta saber se, nos restantes concelhos da Área Metropolitana, as eventuais perdas dos comunistas serão ou não compensadas pelos possíveis ganhos. Soares e Santana, na SIC: CDU pode ficar com maioria na AML A PERDA da presidência da Junta Metropolitana de Lisboa é uma possibilidade real para o PS. Basta, para tanto, que o voto em urna confirme as sondagens que vêm dando Cascais e Setúbal como perdidas para o PSD e para a CDU. Um cenário, tão pessimista quanto plausível, que fará do partido do Governo a segunda força partidária da AML, ao passo que devolverá à CDU a primazia perdida há quatro anos. A PERDA da presidência da Junta Metropolitana de Lisboa é uma possibilidade real para o PS. Basta, para tanto, que o voto em urna confirme as sondagens que vêm dando Cascais e Setúbal como perdidas para o PSD e para a CDU. Um cenário, tão pessimista quanto plausível, que fará do partido do Governo a segunda força partidária da AML, ao passo que devolverá à CDU a primazia perdida há quatro anos. É uma disputa ao milímetro entre as duas principais forças da esquerda - que, curiosamente, concorrem coligadas na capital -, com desfecho dependente dos resultados alcançados por cada uma em seis concelhos-chave: Azambuja, Loures, Odivelas, Barreiro, Alcochete e Setúbal. Em 1997, foi na Área Metropolitana de Lisboa que mais se evidenciou a boa forma do PS, com o partido do Governo a conseguir a presidência da Junta, conquistando à CDU quatro dos seus bastiões - Amadora, Vila Franca de Xira, Montijo e Sesimbra -, e por uma unha negra não fazendo o mesmo em Loures e no Barreiro. Quatro anos depois, a história inverte-se: reflectindo o desgaste da governação, os socialistas estão agora em vias de perder Cascais (para o PSD) e Setúbal (para a CDU), embora acalentem a esperança de anular essas derrotas com a concretização das suas ambições em Loures e no Barreiro. No cenário mais pessimista, mas também o mais plausível, para os socialistas - a perda de Cascais e Setúbal sem qualquer compensação -, a presidência da Junta Metropolitana volta às mãos dos comunistas. E destas não sai mesmo que o PS consiga obter a presidência do recém-criado município de Odivelas - igualmente disputado pelos comunistas, animados pelos resultados de anteriores autárquicas que revelam que todas as freguesias que agora compõem o concelho, com a excepção de Odivelas, são CDU. Mas nem todas as perspectivas são tão negras para o PS. Dando de barato a perda em Cascais e a vitória em Odivelas - hipóteses muito consistentes -, e imaginando, com um pouco de optimismo, que mantêm Setúbal, os socialistas conseguirão manter sob sua tutela a presidência da AML - para a qual defendem, no seu programa eleitoral, reforço de competências -, ainda que com a escassa vantagem de um município. Não obstante este delicado equilíbrio de forças, o significado político maior destas eleições autárquicas depende do que suceder no município de Lisboa. Depois do consulado do comunista Daniel Branco, a presidência da AML tem pertencido a João Soares. Mas, curiosamente, a cor política do futuro presidente da Câmara de Lisboa não terá rigorosamente nenhuma influência na liderança deste organismo. Estando PS e PCP coligados e correndo o risco de, na capital, perderem a eleição para o PSD, nada será alterado, uma vez que este partido não aspira a mais do que quatro presidências na área. E o único contributo que os sociais-democratas dão para esta aritmética é o de, ao conquistarem Cascais, darem de imediato vantagem à CDU sobre o PS.

CRISTINA FIGUEIREDO e MARIA TERESA OLIVEIRA, com SOFIA RAINHO

Lisboa Lisboa João Soares? João Soares ou Pedro Santana Lopes? Parece que só mesmo as urnas revelarão a chave de um mistério que as sondagens teimam em adensar. À partida, o candidato da única coligação PS/CDU do país leva vantagem, uma vez que a direita não conseguiu ultrapassar divergências antigas e, por tradição, só unida consegue arrebatar a presidência de uma cidade cujos eleitores são maioritariamente de esquerda. Mas o até aqui presidente da Câmara da Figueira da Foz, que em 1997 também retirou aos socialistas uma câmara que nunca conhecera outra cor, pode bem ser a excepção desta regra - só quebrada por Cavaco Silva nas eleições legislativas de 1987 e 91. Seja qual fôr a cor partidária do próximo ocupante dos Paços do Conselho, certo é que terá que enfrentar a oposição de Paulo Portas - que será um dos dois vereadores que ambiciona para o seu CDS, enquanto que o seu irmão Miguel almeja conquistar uma vereação para o Bloco de Esquerda. Alcochete - CDU Miguel Boieiro? Embora a ponte Vasco da Gama tenha alterado a cara e a composição sociológica do concelho, Alcochete deverá continuar nas mãos do comunista Miguel Boieiro, presidente desde 1982. O que não impede o PS de alimentar expectativas de vitória no município, fazendo fé em José Dias Inocêncio, um empresário local cuja campanha os dirigentes nacionais reputam de "sólida". A consolidar a sua esperança, os socialistas socorrem-se dos últimos resultados nas legislativas que lhes deram uma vitória por larga margem. Almada - CDU Maria Emília Sousa! Num concelho onde a CDU governa há 25 anos, a comunista Maria Emília de Sousa concorre a um quarto mandato à frente da autarquia, apostada em reforçar a maioria absoluta. O PS, seu principal adversário, que em 1997 conseguiu eleger mais um vereador, apresenta como candidato Ruben Raposo e espera ultrapassar o resultado conseguido por Torres Couto nas últimas eleições. Já o PSD, recorre a um nome local, aspirando a aumentar a sua presença na câmara, reduzida a um só vereador. A surpresa pode vir do Bloco de Esquerda que se estreia no concelho e poderá eleger Manuela Tavares como vereadora. Amadora - PS Joaquim Raposo! Com os partidos da oposição a apostarem na melhoria das suas votações, o PS faz fé em como conseguirá, desta vez, a maioria absoluta que não obteve em 1997. O re-candidato Joaquim Raposo recorre à obra feita para tentar impedir o regresso da CDU à presidência do município que geriu desde a sua criação, em 1979, até ao último escrutínio. Ao deputado António Filipe cabe a espinhosa missão de recuperar os cerca de 5 mil votos perdidos há quatro anos. No propósito de contrariar os objectivos socialistas é acompanhado pelo seu colega parlamentar, o social-democrata Vieira de Castro. Azambuja - PS Joaquim António Ramos? Apesar de ter mudado de candidato, o PS quer não apenas manter como reforçar a maioria na Câmara Municipal da Azambuja. As expectativas mais optimistas chegam à maioria absoluta - mas isso implica que Joaquim António Ramos (que sucede a Carlos Pinto de Oliveira como rosto do PS no concelho) consiga adicionar mais um mandato aos actuais três. A CDU, que também tem três vereadores, ameaça não facilitar a tarefa ao PS: depois de Setúbal, a Azambuja corresponde à sua segunda maior aposta no distrito. António José Rodrigues, actual vereador, é o cabeça-de-lista da coligação. Barreiro - PS Emídio Xavier? Uma vez mais, aqui a luta é entre a coligação encabeçada pelos comunistas e os socialistas. Há quatro anos, o PS perdeu por menos de 200 votos e, este ano, não quer deixar fugir a presa. Só que os comunistas ainda não se dão por vencidos, mesmo não se recandidatando o presidente Pedro Canário. Carlos Maurício é vereador desde 1989, sendo vice-presidente desde 1993. É certo que o edil vai ser outro, resta saber de que cor. Cascais - PSD António Capucho! O "fantasma" de José Luís Judas assombra a candidatura de José Lamego, cuja derrota é tida como certa mesmo pelos dirigentes nacionais do PS. Aniquilando as possibilidades de os socialistas se manterem na presidência de um município que, até 1993, foi de direita, a herança de Judas deverá reverter inteiramente a favor do candidato PSD/CDS. Até porque António Capucho representa um determinado eleitorado cascalense que não se consegue rever nos antigos revolucionários de esquerda que o PS e o PCP (respectivamente, José Lamego e Dinis de Almeida) apresentam a este combate. Loures - CDU Adão Barata? Há quatro anos, o comunista Demétrio Alves venceu a Câmara de Loures com menos de dois mil votos de diferença em relação ao PS. Entretanto, abandonou a Câmara, na sequência da criação do concelho de Odivelas, o pretexto encontrado para consumar as divergências que o iam afastando da direcção do seu partido. Foi substituído pelo vereador Adão Barata, que, agora, se recandidata. A CDU confia na manutenção desta autarquia mas o PS, uma vez mais, volta a cobiçá-la - já há oito anos a diferença andou pelos dois mil votos. Desta vez candidata Carlos Teixeira, o presidente da secção local. Será que conseguirá a vitória que já há oito anos António Costa, o agora ministro da Justiça, chegou a celebrar? Mafra - PSD Ministro dos Santos! Em Mafra não se esperam alterações significativas no actual quadro político-partidário. O actual presidente da câmara do PSD, José Ministro dos Santos, que preside aos destinos da autarquia há quatro mandatos, parte descansado para mais um combate eleitoral e com praticamente a mesma equipa de 1997. Os socialistas apostam no coronel Aníbal Rodrigues da Silva, embora quase resignados com a previsível maioria absoluta do Ministro social-democrata Moita - CDU João José de Almeida! A CDU tem conseguido resultados confortáveis na Moita o que lhe tem permitido gerir a autarquia com maioria absoluta, actualmente de cinco vereadores. João Almeida manter-se-á, pois, como presidente da Câmara sendo que a grande dúvida que persiste é saber se o candidato do PS, José Manuel Epifânio, conseguirá contrariar a maioria absoluta dos comunistas. O PS é a segunda maior força no concelho, actualmente com três vereadores. À direita, PSD e PP concorrem em listas separadas, e os sociais-democratas, que apresentam mais uma vez José Silva Santos, esperam manter o seu único vereador. Montijo - PS Maria Amélia Antunes! Os socialistas ganharam Montijo em 1997 e nem sequer equacionar não voltar a fazer o mesmo, ainda com melhores resultados, este ano. Maria Amélia Antunes ambiciona um resultado histórico, reforçando a maioria absoluta. Neste município, em que a vitória se disputa à esquerda, a CDU (a quem o PS retirou a presidência) apenas tem como perspectiva a manutenção dos seus actuais dois vereadores. Odivelas - PS Manuel Varges? O novo município da Área Metropolitana de Lisboa tem vindo a ser provisoriamente gerido pelos socialistas. Que pensam, aliás que o seu candidato e actual presidente da comissão instaladora, Manuel Varges, vai ganhar as eleições com maioria absoluta. Mas a CDU e o PSD têm uma ideia contrária. A coligação comunista, que logo contestou o facto de o PS ter ficado à frente da comissão instaladora, acredita nas possibilidades de Natália Santos vencer as eleições. O PSD também não quer descartar as hipóteses de Fernando Ferreira, apenas com uma certeza: os socialistas não terão maioria absoluta. Oeiras - PSD Isaltino Morais! O dinossauro Isaltino de Morais ameaça "fossilizar-se" na presidência da Câmara de Oeiras, de onde não se crê que saia tão depressa, a não ser na eventualidade de o PSD vir a formar Governo e Isaltino ocupe ao sol a pasta que tem vindo a deter na sombra: as Obras Públicas. Ao ponto de os restantes partidos nem contabilizarem Oeiras na sua aritmética eleitoral. O único objectivo verosímil é tentar crescer no concelho. Palmela - CDU Teresa Vicente! Apesar de mudar de candidato - o actual edil, Carlos Sousa, concorre a Setúbal - a CDU tem como certa a manutenção da presidência da autarquia palmelense. Os socialistas são os primeiros a fazer "mea culpa", assumindo que a candidatura de Jorge Mares não corresponde à solução ideal para fazer frente à, até agora, vereadora comunista, Teresa Vicente. Seixal - CDU Alfredo Monteiro da Costa! O comunista Alfredo Monteiro é presidente da Câmara do Seixal desde Janeiro de 1998. E nestas funções se deverá manter durante mais quatro anos. A coligação tem a maioria mais do que absoluta dispondo de seis dos dez lugares do executivo camarário. O PS é a segunda força mais votada mas não atribui especial importância aos resultados que aqui vier a obter. O PSD também só espera ter mais votos. Sesimbra - PS Amadeu Penim! 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E como um azar nunca vem só, o ex-socialista Luís Filipe Fernandes decidiu concorrer como independente, criando ainda mais dificuldades ao candidato do seu antigo partido que poderá perder para a CDU exactamente pelos três ou quatro pontos percentuais... que as sondagens àquele atribuem. Sintra - PS Edite Estrela! Pese embora o susto que, há uma semana, lhe pregou uma sondagem que dava a vitória à coligação PSD/PP, o PS não admite sequer perder a maioria absoluta em Sintra. Edite Estrela, que em 1997 foi o rosto de uma lista que obteve seis lugares, concorre a um terceiro mandato com clara vantagem sobre Fernando Seara - actualmente, os sociais-democratas só possuem dois vereadores e os centristas nenhum. De qualquer forma, a coligação de direita não desiste de pensar que Sintra é uma possibilidade. A CDU, que foi claramente penalizada nas últimas eleições, quer aumentar a sua actual equipa de três vereadores. Vila Franca de Xira - PS Maria da Luz Rosinha! Conquistado o bastião à CDU - e ao até então inamovível Daniel Branco -, em 1997, as ambições de Maria da Luz Rosinha são agora mais modestas, mas nem por isso menos difíceis de alcançar: a (re)candidata do PS quer reforçar a maioria obtida há quatro anos. Significa isto passar dos actuais quatro mandatos - o mesmo número que tem a CDU - para cinco ou mesmo seis. Porém, a coligação de esquerda não desarma e pretende, obviamente, reconquistar a presidência do município. Entre os objectivos de uma e outra lista, o PSD - que no actual executivo, com um único vereador, foi o fiel da balança - quer recuperar vantagens antigas.

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