A ajuda de Aznar ao PSD

02-11-2000
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«Bem!» - Aznar endireitou-se, numa solenidade concentrada. «Na minha opinião, não interessa quem dirige a campanha. Só interessa o candidato a primeiro-ministro. Foi assim que eu ganhei as eleições.»

«Como vê, temos aqui um excelente candidato» - disse Arnaut, apontando orgulhosamente Barroso. «Para começar, tem uma formação académica sólida, com uma notável experiência discente e docente.»

«Isso é péssimo!» - advertiu Aznar, com um arrepio franzido da cara. «Eu acho que o ideal é não ter praticamente nenhuma formação académica, para não ficar desfasado da realidade: eu próprio sou apenas um contabilista, que pude aprender bem o que é a vida, trabalhando com os números: somar, diminuir, multiplicar e dividir. No fundo a vida é isto: contas simples. O importante é uma certa experiência profissional, que nos ensine a vida.»

«Lá isso, o dr. Durão Barroso, felizmente, tem uma magnífica experiência profissional» - elucidou, satisfeito, Arnaut. «Foi meu professor, consultor de empresas...»

«Mal, mal, mal!» - cortou Aznar, impaciente. «A experiência profissional deve ser simples, como a de um contabilista. Se não, entra-se num desajustamento em relação à vida do cidadão comum. Agora o que pode ser importante, isso sim, é conhecer alguma experiência estrangeira, de algum país...»

«Vivi na Suíça e nos Estados Unidos da América» - confiou, com incontido brio, Durão Barroso.

«Sim, sim» - confirmou, prestimoso, Arnaut. «O dr. Durão Barroso, além de conhecer de perto e 'in loco' a vida dos principais países, fala fluentemente vários idiomas.»

«Horrível!» - atalhou o dirigente espanhol, com um arquear afligido das sobrancelhas. «O melhor é não saber nenhum idioma estrangeiro, como eu, nem viver fora. Para não se ganharem más influências. Eu conheci o mundo a passar por alto a vista pela secção internacional do 'ABC', graças a Deus muito resumida. Mas, imprescindível é uma certa experiência política...»

«Eu fui ministro dos Negócios Estrangeiros» - informou Barroso, já inseguro.

«Para não falar das experiências de governo no núcleo político do prof. Cavaco e na Administração Interna» - acrescentou Arnaut, agora também numa expectativa inquieta.

«Eu referia-me a uma experiência política de âmbito mais regional ou local, como a que tive antes de ser líder do PP» - disse Aznar, num tom desanimado. «Vejo que não dispõem do candidato ideal... além disso, enquanto se está na oposição, dá muito resultado dizer mal do que quer que seja, sem sequer entendermos bem do que falamos!»

«Isso sim, acho que vamos fazendo...» - sibilou Arnaut.

«Aquilo que em Espanha chamamos o método da ventoinha: espalhar a porcaria, que de algum modo se atingirá o governo!»

«Sim, nisso tenho-me esforçado» - disse, timidamente, Barroso.

«E como está de moda a Terceira Via centrista» - prosseguiu Aznar - «sem valores, nem ideologias, o ideal é os partidos de direita contratarem algum ex-esquerdista e ex-maoísta, como eu fiz neste meu último governo.»

«Iupiiiii!» - gritou Arnaut, feliz.

E, mais contidamente, Barroso informou: «Já tenho isso garantido.»

«Mas há uma coisa fundamental» - advertiu, finalmente, Aznar. «Os ex-esquerdistas e ex-maoístas têm de ser postos em lugares devidamente controláveis, e subalternos, por causa das tendências perigosas de conversos.»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

«Bem!» - Aznar endireitou-se, numa solenidade concentrada. «Na minha opinião, não interessa quem dirige a campanha. Só interessa o candidato a primeiro-ministro. Foi assim que eu ganhei as eleições.»

«Como vê, temos aqui um excelente candidato» - disse Arnaut, apontando orgulhosamente Barroso. «Para começar, tem uma formação académica sólida, com uma notável experiência discente e docente.»

«Isso é péssimo!» - advertiu Aznar, com um arrepio franzido da cara. «Eu acho que o ideal é não ter praticamente nenhuma formação académica, para não ficar desfasado da realidade: eu próprio sou apenas um contabilista, que pude aprender bem o que é a vida, trabalhando com os números: somar, diminuir, multiplicar e dividir. No fundo a vida é isto: contas simples. O importante é uma certa experiência profissional, que nos ensine a vida.»

«Lá isso, o dr. Durão Barroso, felizmente, tem uma magnífica experiência profissional» - elucidou, satisfeito, Arnaut. «Foi meu professor, consultor de empresas...»

«Mal, mal, mal!» - cortou Aznar, impaciente. «A experiência profissional deve ser simples, como a de um contabilista. Se não, entra-se num desajustamento em relação à vida do cidadão comum. Agora o que pode ser importante, isso sim, é conhecer alguma experiência estrangeira, de algum país...»

«Vivi na Suíça e nos Estados Unidos da América» - confiou, com incontido brio, Durão Barroso.

«Sim, sim» - confirmou, prestimoso, Arnaut. «O dr. Durão Barroso, além de conhecer de perto e 'in loco' a vida dos principais países, fala fluentemente vários idiomas.»

«Horrível!» - atalhou o dirigente espanhol, com um arquear afligido das sobrancelhas. «O melhor é não saber nenhum idioma estrangeiro, como eu, nem viver fora. Para não se ganharem más influências. Eu conheci o mundo a passar por alto a vista pela secção internacional do 'ABC', graças a Deus muito resumida. Mas, imprescindível é uma certa experiência política...»

«Eu fui ministro dos Negócios Estrangeiros» - informou Barroso, já inseguro.

«Para não falar das experiências de governo no núcleo político do prof. Cavaco e na Administração Interna» - acrescentou Arnaut, agora também numa expectativa inquieta.

«Eu referia-me a uma experiência política de âmbito mais regional ou local, como a que tive antes de ser líder do PP» - disse Aznar, num tom desanimado. «Vejo que não dispõem do candidato ideal... além disso, enquanto se está na oposição, dá muito resultado dizer mal do que quer que seja, sem sequer entendermos bem do que falamos!»

«Isso sim, acho que vamos fazendo...» - sibilou Arnaut.

«Aquilo que em Espanha chamamos o método da ventoinha: espalhar a porcaria, que de algum modo se atingirá o governo!»

«Sim, nisso tenho-me esforçado» - disse, timidamente, Barroso.

«E como está de moda a Terceira Via centrista» - prosseguiu Aznar - «sem valores, nem ideologias, o ideal é os partidos de direita contratarem algum ex-esquerdista e ex-maoísta, como eu fiz neste meu último governo.»

«Iupiiiii!» - gritou Arnaut, feliz.

E, mais contidamente, Barroso informou: «Já tenho isso garantido.»

«Mas há uma coisa fundamental» - advertiu, finalmente, Aznar. «Os ex-esquerdistas e ex-maoístas têm de ser postos em lugares devidamente controláveis, e subalternos, por causa das tendências perigosas de conversos.»

Relatos do PEDRO BRAGANÇA

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