EXPRESSO: Artigo de Opinião

23-03-2002
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A celebração de Barroso

Relatos do Pedro Bragança

«Durão Barroso impacientou-se mais: 'E depois dizem que a culpa é minha!... Como é que é possível sermos um partido vencedor, se nem sequer abrimos uma garrafa de 'champagne' verdadeiro, numa comemoração política?!' 'Sim! - corroborou José Luís Arnaut. - Já não vivemos na largueza dos tempos cavaquistas, mas ainda podemos pagar uma garrafa de 'champagne' no Grémio!' 'Porque é que não estamos a beber champagne?' - indagou Nuno Morais Sarmento, interpelando com má cara Zeca Mendonça e Sebastião.»

«Então as borbulhas?!» - perguntou Durão Barroso, zangado, fixando o líquido amarelado por detrás da humidade baça do copo. E, virando-se para José Luís Arnaut, insistiu: «Onde estão as borbulhas?!»

«É verdade, isto não tem borbulhas!» - assentiu Arnaut, de cenho franzido, a avaliar o seu próprio copo. Voltou-se logo para Nuno Morais Sarmento, a perguntar: «Porque é que isto não tem borbulhas?!»

«Sim, porque é que isto não tem borbulhas?!» - comentou, por sua vez, Morais Sarmento, admirado.

Os três trocaram entre si olhares apreensivos. Estavam na sala verde do Grémio, a da televisão, que tinham reservado para si, com os copos murchos.

Nuno Morais Sarmento gritou então pelo Zeca Mendonça, que rapidamente assomou à porta, e inquiriu: «Porque é que este 'champagne' não tem borbulhas?!»

«Não tem borbulhas?!» - surpreendeu-se também Zeca Mendonça. - «Deve estar passado! Vou perguntar ao 'barman'.»

Mendonça afastou-se, e os outros três ali ficaram, de expressões carregadas, a atenção vagamente dispersa pelo «écran» da televisão acesa, o incómodo do zumbido de fundo que o aparelho soltava.

Mas eis que Zeca Mendonça reapareceu, acompanhado por Sebastião, o «barman» do Grémio. Foi este último que se apressou a elucidar, perante os olhares expectantes nele concentrados: «Não é 'champagne', é vinho branco.»

Durão Barroso impacientou-se mais: «E depois dizem que a culpa é minha!... Como é que é possível sermos um partido vencedor, se nem sequer abrimos uma garrafa de 'champagne' verdadeiro, numa comemoração política?!»

«Sim!» - corroborou José Luís Arnaut. - «Já não vivemos na largueza dos tempos cavaquistas, mas ainda podemos pagar uma garrafa de 'champagne' no Grémio!»

«Porque é que não estamos a beber champagne?» - indagou Nuno Morais Sarmento, interpelando com má cara Zeca Mendonça e Sebastião.

«Porque é que não serviu o 'champagne'?» - perguntou finalmente Mendonça, ao «barman», num tom mais neutro.

«A mim, só me pediram para abrir uma garrafinha fresca» - explicou Sebastião, a afastar responsabilidades com um encolher de ombros. - «Nem sequer sabia que tinham alguma comemoração política a fazer.»

«O que nos estraga as sondagens é fazerem perguntas a tipos como este!» - desabafou Barroso, enfastiado.

E José Luís Arnaut pôs-se imediatamente de pé, a clamar para o «barman»: «Se o senhor lesse os jornais, sabia muito bem que temos um grande motivo para festejar! Fique sabendo que a liderança partidária do dr. Durão Barroso completou este semana dois anos!»

«E com um balanço indiscutivelmente positivo!» - acrescentou Morais Sarmento. - «Estão sempre a dizer que vamos cair, mas já lá vão dois anos, sem termos caído!»

«E todos temos a certeza de que o eng. Guterres e o PS hão-de cair um dia!» - prosseguiu Arnaut, a espetar o dedo indicador na direcção do nariz do «barman».

«Não temos a menor dúvida de que eles hão-de cair!» - corroborou Morais Sarmento.

«Só não sabemos é quando...» - advertiu Durão Barroso, acenando com a cabeça em tom meditativo. - «Só não sabemos é quando...»

Os outros todos encararam-no, perplexos.

«Mas viemos festejar, não viemos?» - quis saber Arnaut, dirigindo-se a Barroso.

«Claro que viemos festejar os nossos dois anos de liderança» - afirmou, com mais determinação, mesmo com optimismo, Morais Sarmento.

«Pedimos então o 'champagne' para festejar os dois anos de liderança?» - propôs José Luís Arnaut.

«Não foi isso que viemos festejar» - esclareceu Barroso, agora sereno. - «Isso já foi outro dia. Hoje viemos celebrar o afundamento do Guterres no Congresso do PS.»

«Ah!...» - disseram os outros.

E puseram-se todos a olhar para a televisão, a ver as notícias do Congresso do PS.

«Sempre trago o 'champagne'?» - sugeriu o «barman».

«Não vale a pena» - respondeu Barroso, bebendo um golo de vinho branco.

«Sim, este vinho está muito fresco» - assentiu Arnaut.

«E não é mau» - concluiu Morais Sarmento. - «Não envergonharia uma celebração.»

A celebração de Barroso

Relatos do Pedro Bragança

«Durão Barroso impacientou-se mais: 'E depois dizem que a culpa é minha!... Como é que é possível sermos um partido vencedor, se nem sequer abrimos uma garrafa de 'champagne' verdadeiro, numa comemoração política?!' 'Sim! - corroborou José Luís Arnaut. - Já não vivemos na largueza dos tempos cavaquistas, mas ainda podemos pagar uma garrafa de 'champagne' no Grémio!' 'Porque é que não estamos a beber champagne?' - indagou Nuno Morais Sarmento, interpelando com má cara Zeca Mendonça e Sebastião.»

«Então as borbulhas?!» - perguntou Durão Barroso, zangado, fixando o líquido amarelado por detrás da humidade baça do copo. E, virando-se para José Luís Arnaut, insistiu: «Onde estão as borbulhas?!»

«É verdade, isto não tem borbulhas!» - assentiu Arnaut, de cenho franzido, a avaliar o seu próprio copo. Voltou-se logo para Nuno Morais Sarmento, a perguntar: «Porque é que isto não tem borbulhas?!»

«Sim, porque é que isto não tem borbulhas?!» - comentou, por sua vez, Morais Sarmento, admirado.

Os três trocaram entre si olhares apreensivos. Estavam na sala verde do Grémio, a da televisão, que tinham reservado para si, com os copos murchos.

Nuno Morais Sarmento gritou então pelo Zeca Mendonça, que rapidamente assomou à porta, e inquiriu: «Porque é que este 'champagne' não tem borbulhas?!»

«Não tem borbulhas?!» - surpreendeu-se também Zeca Mendonça. - «Deve estar passado! Vou perguntar ao 'barman'.»

Mendonça afastou-se, e os outros três ali ficaram, de expressões carregadas, a atenção vagamente dispersa pelo «écran» da televisão acesa, o incómodo do zumbido de fundo que o aparelho soltava.

Mas eis que Zeca Mendonça reapareceu, acompanhado por Sebastião, o «barman» do Grémio. Foi este último que se apressou a elucidar, perante os olhares expectantes nele concentrados: «Não é 'champagne', é vinho branco.»

Durão Barroso impacientou-se mais: «E depois dizem que a culpa é minha!... Como é que é possível sermos um partido vencedor, se nem sequer abrimos uma garrafa de 'champagne' verdadeiro, numa comemoração política?!»

«Sim!» - corroborou José Luís Arnaut. - «Já não vivemos na largueza dos tempos cavaquistas, mas ainda podemos pagar uma garrafa de 'champagne' no Grémio!»

«Porque é que não estamos a beber champagne?» - indagou Nuno Morais Sarmento, interpelando com má cara Zeca Mendonça e Sebastião.

«Porque é que não serviu o 'champagne'?» - perguntou finalmente Mendonça, ao «barman», num tom mais neutro.

«A mim, só me pediram para abrir uma garrafinha fresca» - explicou Sebastião, a afastar responsabilidades com um encolher de ombros. - «Nem sequer sabia que tinham alguma comemoração política a fazer.»

«O que nos estraga as sondagens é fazerem perguntas a tipos como este!» - desabafou Barroso, enfastiado.

E José Luís Arnaut pôs-se imediatamente de pé, a clamar para o «barman»: «Se o senhor lesse os jornais, sabia muito bem que temos um grande motivo para festejar! Fique sabendo que a liderança partidária do dr. Durão Barroso completou este semana dois anos!»

«E com um balanço indiscutivelmente positivo!» - acrescentou Morais Sarmento. - «Estão sempre a dizer que vamos cair, mas já lá vão dois anos, sem termos caído!»

«E todos temos a certeza de que o eng. Guterres e o PS hão-de cair um dia!» - prosseguiu Arnaut, a espetar o dedo indicador na direcção do nariz do «barman».

«Não temos a menor dúvida de que eles hão-de cair!» - corroborou Morais Sarmento.

«Só não sabemos é quando...» - advertiu Durão Barroso, acenando com a cabeça em tom meditativo. - «Só não sabemos é quando...»

Os outros todos encararam-no, perplexos.

«Mas viemos festejar, não viemos?» - quis saber Arnaut, dirigindo-se a Barroso.

«Claro que viemos festejar os nossos dois anos de liderança» - afirmou, com mais determinação, mesmo com optimismo, Morais Sarmento.

«Pedimos então o 'champagne' para festejar os dois anos de liderança?» - propôs José Luís Arnaut.

«Não foi isso que viemos festejar» - esclareceu Barroso, agora sereno. - «Isso já foi outro dia. Hoje viemos celebrar o afundamento do Guterres no Congresso do PS.»

«Ah!...» - disseram os outros.

E puseram-se todos a olhar para a televisão, a ver as notícias do Congresso do PS.

«Sempre trago o 'champagne'?» - sugeriu o «barman».

«Não vale a pena» - respondeu Barroso, bebendo um golo de vinho branco.

«Sim, este vinho está muito fresco» - assentiu Arnaut.

«E não é mau» - concluiu Morais Sarmento. - «Não envergonharia uma celebração.»

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