Bolsa à espera de Pina Moura

15-07-2001
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Descida das acções sem paralelo na Europa

Bolsa à Espera de Pina Moura

Por ANABELA CAMPOS E ROSA SOARES

Quinta-feira, 21 de Junho de 2001 Face à indiferença com que foi recebido o recente anúncio da adesão da praça portuguesa ao Euronext, os investidores aguardam um sinal do governo. Se não forem tomadas medidas urgentes de incentivo ao investimento em acções e o Governo não voltar atrás na reforma fiscal, Portugal põe em risco a existência de um mercado de capitais saudável, fundamental para as empresas se financiarem e para o próprio Estado poder cumprir o programa de privatizações, alertam os especialistas contactados pelo PÚBLICO. Nas últimas semanas, a bolsa de Lisboa parece ser vítima de uma "maldição" sem fim, como se tudo e todos estivessem contra o mercado de capitais português. São muitos os factores que têm levado à constante quebra da Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BVLP), que regista uma desvalorização anual de 22,8 por cento, uma descida sem paralelo entre as principais congéneres europeias e um valor que faz esquecer os anos noventa, uma "década de ouro" do mercado português (ver quadro). A má conjuntura económica mundial - a que se veio juntar a crise na América Latina - e nacional, o clima depressivo generalizado dos mercados de capitais, a introdução este ano de medidas fiscais penalizadoras do investimento em bolsa, a ausência de iniciativas políticas dinamizadoras e a recente perda de peso das empresas portuguesas em índices de referência como o da Morgan Stanley, tem-se virado de uma forma muito violenta e castigadora contra a BVLP, que vive neste momento uma crise profunda e sem sinais de recuperação à vista. Se a tudo isto juntarmos ainda uma tremenda falta de confiança dos investidores e o forte efeito psicológico que todo este contexto negativo provoca, estão criadas as condições para dizer que o mercado português vive um dos momentos mais angustiantes dos últimos anos. O agravamento fiscal, introduzido num período de conjuntura depressiva dos mercados, é apontado por muitos analistas como o golpe final, numa praça pequena e periférica como a portuguesa, marcada por uma liquidez muito reduzida e pela falta de transparência e cultura de mercado, demasiadas vezes reflectida na escassa informação que as empresas cotadas dão aos investidores. Por isso, são muitas as vozes que se têm levantado para dizer que se urgentemente não forem tomadas medidas de incentivo ao investimento em bolsa e o Governo não voltar atrás na reforma fiscal, Portugal põe em risco a existência de um mercado de capitais saudável, fundamental para as empresas se financiarem e para o próprio Estado poder cumprir o programa de privatizações. Aliás, numa fase em que o Governo precisa de dinheiro para equilibrar as contas públicas, arrisca-se, a ver reduzido o encaixe com a privatização da Brisa, com sessão especial de bolsa marcada para o próximo dia 16. Contudo há quem defenda - como o fez em declarações ao Público José Lemos, ex-presidente da bolsa de Lisboa - que é menos negativo para o mercado o adiamento da privatização da Brisa devido à má conjuntura do mercado, do que avancar com uma operação que corre o risco de ser mal sucedida. "É uma hipótese que o Governo e os coordenadores da operação deviam equacionar. Se adiassem a privatização, não seria um acto inédito", afirmou José Lemos. Apesar das críticas, o Governo não tem dado sinais de inflexão face à Reforma Fiscal, cujo impacte na bolsa os analistas garantem ser muito elevado, não tanto pelo valor da tributação em si, mas mais pelo efeito psicológico, e pelo facto de ter sido anunciada num período em que eram necessários mediadas drásticas de promoção externa do mercado português e de captação dos investidores. A título de exemplo, um analista lembrou que a Grécia, tal como Portugal, pensou em avançar também com a tributação dos investimentos em bolsa, mas recuou quer devido ao mau comportamento dos mercados, quer a má experiência de Lisboa. O ministro das Finanças não volta atrás na reforma fiscal, mas prometeu medidas para aumentar a poupança e dinamizar o investimento, que são aguardadas com um misto de expectativa e cepticismo. Não há indicações precisas se o Conselho de Ministros de hoje avançará com algumas dessas medidas. Mas o mercado reclama também alterações profundas ao nível da reforma da despesa pública, e um relançamento da economia nacional. Equanto as decisões tardam, o mercado definha, com a cotação de algumas empresas a recuar aos piores níveis de 1997. Alguns títulos apresentam quebras tão elevadas face ao preço a que foram colocados no mercado - em especial as últimas empresas reprivatizadas, como a EDP, e Portugal Telecom - que há operadores a questionar porque é que não estão a ser lançados Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) sobre algumas das nossas principais empresas cotadas. A má "performace" dos restantes mercado, mesmo assim muito longe das quedas do mercado português, pode ser uma explicação possível. Divergências sobre o Euronext A bolsa portuguesa tem uma dimensão reduzida em número de empresas cotadas e em liquidez. Para contrariar a sua pequenez - qualquer um dos principais títulos da bolsa espanhola transacciona diariamente duas ou três vezes mais que o total do mercado nacional - muitos especialistas defendiam a participação activa de Portugal no movimento de concentração bolsista em curso na Europa. Depois de mais de um ano de negociações, Lisboa anunciou a fusão com a Euronext, que agrupra as praças de Paris, Bruxelas e Amesterdão. O anúncio foi feito recentemente, mas o ambiente depressivo do mercado é tão profundo, que nem as maiores empresas, que parecem sair claramente beneficiadas nesta aliança, teve qualquer reflexo positivo no mercado. Este passo da bolsa portuguesa, que o seu presidente define como "infra-estruturante", (ver texto ao lado), não é pacífico. Há quem defenda que seria preferível continuarmos a ser "uma mercearia de bairro" a estar diluídos "num grande hipermercado". Este foi, aliás, o mote deixado, recentemente, pelo presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, Teixeira dos Santos, num seminário sobre mercado de capitais. Mas há também quem defenda precisamente o contrário, que afirma que Lisboa sozinha jamais deixaria de ser periférica. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Bolsa à espera de Pina Moura

O que vai mudar com o Euronext

Consequências da adesão ao Euronext

Descida das acções sem paralelo na Europa

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Por ANABELA CAMPOS E ROSA SOARES

Quinta-feira, 21 de Junho de 2001 Face à indiferença com que foi recebido o recente anúncio da adesão da praça portuguesa ao Euronext, os investidores aguardam um sinal do governo. Se não forem tomadas medidas urgentes de incentivo ao investimento em acções e o Governo não voltar atrás na reforma fiscal, Portugal põe em risco a existência de um mercado de capitais saudável, fundamental para as empresas se financiarem e para o próprio Estado poder cumprir o programa de privatizações, alertam os especialistas contactados pelo PÚBLICO. Nas últimas semanas, a bolsa de Lisboa parece ser vítima de uma "maldição" sem fim, como se tudo e todos estivessem contra o mercado de capitais português. São muitos os factores que têm levado à constante quebra da Bolsa de Valores de Lisboa e Porto (BVLP), que regista uma desvalorização anual de 22,8 por cento, uma descida sem paralelo entre as principais congéneres europeias e um valor que faz esquecer os anos noventa, uma "década de ouro" do mercado português (ver quadro). A má conjuntura económica mundial - a que se veio juntar a crise na América Latina - e nacional, o clima depressivo generalizado dos mercados de capitais, a introdução este ano de medidas fiscais penalizadoras do investimento em bolsa, a ausência de iniciativas políticas dinamizadoras e a recente perda de peso das empresas portuguesas em índices de referência como o da Morgan Stanley, tem-se virado de uma forma muito violenta e castigadora contra a BVLP, que vive neste momento uma crise profunda e sem sinais de recuperação à vista. Se a tudo isto juntarmos ainda uma tremenda falta de confiança dos investidores e o forte efeito psicológico que todo este contexto negativo provoca, estão criadas as condições para dizer que o mercado português vive um dos momentos mais angustiantes dos últimos anos. O agravamento fiscal, introduzido num período de conjuntura depressiva dos mercados, é apontado por muitos analistas como o golpe final, numa praça pequena e periférica como a portuguesa, marcada por uma liquidez muito reduzida e pela falta de transparência e cultura de mercado, demasiadas vezes reflectida na escassa informação que as empresas cotadas dão aos investidores. Por isso, são muitas as vozes que se têm levantado para dizer que se urgentemente não forem tomadas medidas de incentivo ao investimento em bolsa e o Governo não voltar atrás na reforma fiscal, Portugal põe em risco a existência de um mercado de capitais saudável, fundamental para as empresas se financiarem e para o próprio Estado poder cumprir o programa de privatizações. Aliás, numa fase em que o Governo precisa de dinheiro para equilibrar as contas públicas, arrisca-se, a ver reduzido o encaixe com a privatização da Brisa, com sessão especial de bolsa marcada para o próximo dia 16. Contudo há quem defenda - como o fez em declarações ao Público José Lemos, ex-presidente da bolsa de Lisboa - que é menos negativo para o mercado o adiamento da privatização da Brisa devido à má conjuntura do mercado, do que avancar com uma operação que corre o risco de ser mal sucedida. "É uma hipótese que o Governo e os coordenadores da operação deviam equacionar. Se adiassem a privatização, não seria um acto inédito", afirmou José Lemos. Apesar das críticas, o Governo não tem dado sinais de inflexão face à Reforma Fiscal, cujo impacte na bolsa os analistas garantem ser muito elevado, não tanto pelo valor da tributação em si, mas mais pelo efeito psicológico, e pelo facto de ter sido anunciada num período em que eram necessários mediadas drásticas de promoção externa do mercado português e de captação dos investidores. A título de exemplo, um analista lembrou que a Grécia, tal como Portugal, pensou em avançar também com a tributação dos investimentos em bolsa, mas recuou quer devido ao mau comportamento dos mercados, quer a má experiência de Lisboa. O ministro das Finanças não volta atrás na reforma fiscal, mas prometeu medidas para aumentar a poupança e dinamizar o investimento, que são aguardadas com um misto de expectativa e cepticismo. Não há indicações precisas se o Conselho de Ministros de hoje avançará com algumas dessas medidas. Mas o mercado reclama também alterações profundas ao nível da reforma da despesa pública, e um relançamento da economia nacional. Equanto as decisões tardam, o mercado definha, com a cotação de algumas empresas a recuar aos piores níveis de 1997. Alguns títulos apresentam quebras tão elevadas face ao preço a que foram colocados no mercado - em especial as últimas empresas reprivatizadas, como a EDP, e Portugal Telecom - que há operadores a questionar porque é que não estão a ser lançados Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) sobre algumas das nossas principais empresas cotadas. A má "performace" dos restantes mercado, mesmo assim muito longe das quedas do mercado português, pode ser uma explicação possível. Divergências sobre o Euronext A bolsa portuguesa tem uma dimensão reduzida em número de empresas cotadas e em liquidez. Para contrariar a sua pequenez - qualquer um dos principais títulos da bolsa espanhola transacciona diariamente duas ou três vezes mais que o total do mercado nacional - muitos especialistas defendiam a participação activa de Portugal no movimento de concentração bolsista em curso na Europa. Depois de mais de um ano de negociações, Lisboa anunciou a fusão com a Euronext, que agrupra as praças de Paris, Bruxelas e Amesterdão. O anúncio foi feito recentemente, mas o ambiente depressivo do mercado é tão profundo, que nem as maiores empresas, que parecem sair claramente beneficiadas nesta aliança, teve qualquer reflexo positivo no mercado. Este passo da bolsa portuguesa, que o seu presidente define como "infra-estruturante", (ver texto ao lado), não é pacífico. Há quem defenda que seria preferível continuarmos a ser "uma mercearia de bairro" a estar diluídos "num grande hipermercado". Este foi, aliás, o mote deixado, recentemente, pelo presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários, Teixeira dos Santos, num seminário sobre mercado de capitais. Mas há também quem defenda precisamente o contrário, que afirma que Lisboa sozinha jamais deixaria de ser periférica. OUTROS TÍTULOS EM DESTAQUE Bolsa à espera de Pina Moura

O que vai mudar com o Euronext

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