Tendência para cobrar taxas no multibanco é "irreversível"

09-11-2001
marcar artigo

Tendência para Cobrar Taxas no Multibanco É "Irreversível"

Por CRISTINA FERREIRA

Quarta-feira, 24 de Outubro de 2001

Garante Jardim Gonçalves

O presidente do BCP defende que cada um venha a pagar o serviço que lhe é prestado. O banco estima em 20 por cento a percentagem de pessoas que "abusa" dos ATM

Os consumidores da rede multibanco em Portugal deverão começar a pagar os serviços que utilizam. Esta é uma ideia que parece receber o consenso dos banqueiros. Depois de Ricardo Salgado, presidente do BES, criticar o mau hábito da banca não cobrar serviços, chegou a vez do presidente do Grupo Banco Comercial Português (BCP), lançar mais uma acha na fogueira ao considerar "irreversível" a tendência para que os serviços automáticos sejam pagos pelos consumidores.

"O sistema financeiro deve procurar ser justo. A tendência é para que cada um venha a pagar o serviço que lhe é prestado. Esta é uma tendência irreversível", disse ontem o presidente do BCP, Jorge Jardim Gonçalves quando questionado sobre a polémica gerada à volta do pagamento das vulgares operações multibanco, hoje grátis. O banqueiro falava, ao final da tarde de ontem, durante uma conferência de imprensa destinada a divulgar os resultados trimestrais do BCP. A declaração de Jardim Gonçalves foi antecedida de uma afirmação do seu vice-presidente, Filipe Pinhal, segundo o qual "os consumidores verdadeiramente abusadores que causam a ineficiência do sistema deverão pagar o custo dos consumidores atípicos, ou seja, daqueles que fazem o uso racional do sistema". Este administrador tinha já referido que "melhorar a eficiência do sistema é o objectivo prioritário. Não é lógico que um utilizador da rede multibanco faça levantamentos diários. Não é lógico que um cliente faça a consulta do saldo, depois faça o levantamento e depois volte a consultar o saldo para comprovar se ficou bem registado". Filipe Pinhal revelou que a percentagem de pessoas que "abusa" dos ATM ascende a 20 por cento e que o número de pessoas singulares e colectivas com capacidade para ter conta bancária é de 6,5 milhões, mas "existem 12 milhões de cartões em circulação".

Ao início da manhã de ontem, e também durante um encontro com os jornalistas para apresentar os resultados trimestrais, o presidente do Grupo Crédito Agrícola [instituição com características mutualistas], José Lemos, considerou "natural"

que as instituições financeiras passem a cobrar uma taxa aos seus clientes sempre que estes utilizem os ATM. A declaração de José Lemos surgiu na sequência de uma pergunta sobre a possibilidade do Crédito Agrícola vir a adoptar a medida, tendo começado por dizer que o assunto "estava em discussão" na Associação Portuguesa de Bancos (APB). Confrontado com o facto da cobrança de taxas dizer respeito à política comercial de cada instituição e de não poder ser concertada através da APB, corrigiu a declaração inicial, explicando que é "susceptível de haver essa discussão na APB". José Lemos aproveitou para negar uma eventual cartelização entre empresas, adiantando que "os bancos podem utilizar essas taxas como estratégia de concorrência".

Actualmente as vulgares operações [por exemplo de levantamento de dinheiro] efectuadas por via automática são gratuitas para quem as faz, mas são pagas pelos bancos sempre que um seu cliente recorre a um terminal de uma instituição concorrente. O que os bancos pretendem agora é repercutir o custo da operação nos clientes quando estes utilizam um ATM de um concorrente, mantendo gratuitas as operações efectuadas nas caixas das instituições onde têm conta aberta.

A polémica envolvendo os ATM foi desencadeada por Ricardo Salgado que em entrevista ao PÚBLICO (Ver edição do dia 13 de Outubro) afirmou que os "bancos criaram um hábito muito mau em relação ao mercado: como tinham margens grandes não debitavam serviços" realizados na rede Multibanco.

Por sua vez, o presidente da APB, João Salgueiro, em entrevista ao Suplemento Economia de 22/10/01, desvalorizou a controvérsia: " É possível, não sei" se os bancos vão cobrar os serviços. "Mas parece-me improvável". " É evidente que teremos que nos adaptar à prática europeia. Mas seria completamente impensável que se introduzisse uma alteração no relacionamento com os clientes num momento em que toda a capacidade de gestão bancária está polarizada pela transição para o Euro e pela sobrecarga de tarefas que representa."

Tendência para Cobrar Taxas no Multibanco É "Irreversível"

Por CRISTINA FERREIRA

Quarta-feira, 24 de Outubro de 2001

Garante Jardim Gonçalves

O presidente do BCP defende que cada um venha a pagar o serviço que lhe é prestado. O banco estima em 20 por cento a percentagem de pessoas que "abusa" dos ATM

Os consumidores da rede multibanco em Portugal deverão começar a pagar os serviços que utilizam. Esta é uma ideia que parece receber o consenso dos banqueiros. Depois de Ricardo Salgado, presidente do BES, criticar o mau hábito da banca não cobrar serviços, chegou a vez do presidente do Grupo Banco Comercial Português (BCP), lançar mais uma acha na fogueira ao considerar "irreversível" a tendência para que os serviços automáticos sejam pagos pelos consumidores.

"O sistema financeiro deve procurar ser justo. A tendência é para que cada um venha a pagar o serviço que lhe é prestado. Esta é uma tendência irreversível", disse ontem o presidente do BCP, Jorge Jardim Gonçalves quando questionado sobre a polémica gerada à volta do pagamento das vulgares operações multibanco, hoje grátis. O banqueiro falava, ao final da tarde de ontem, durante uma conferência de imprensa destinada a divulgar os resultados trimestrais do BCP. A declaração de Jardim Gonçalves foi antecedida de uma afirmação do seu vice-presidente, Filipe Pinhal, segundo o qual "os consumidores verdadeiramente abusadores que causam a ineficiência do sistema deverão pagar o custo dos consumidores atípicos, ou seja, daqueles que fazem o uso racional do sistema". Este administrador tinha já referido que "melhorar a eficiência do sistema é o objectivo prioritário. Não é lógico que um utilizador da rede multibanco faça levantamentos diários. Não é lógico que um cliente faça a consulta do saldo, depois faça o levantamento e depois volte a consultar o saldo para comprovar se ficou bem registado". Filipe Pinhal revelou que a percentagem de pessoas que "abusa" dos ATM ascende a 20 por cento e que o número de pessoas singulares e colectivas com capacidade para ter conta bancária é de 6,5 milhões, mas "existem 12 milhões de cartões em circulação".

Ao início da manhã de ontem, e também durante um encontro com os jornalistas para apresentar os resultados trimestrais, o presidente do Grupo Crédito Agrícola [instituição com características mutualistas], José Lemos, considerou "natural"

que as instituições financeiras passem a cobrar uma taxa aos seus clientes sempre que estes utilizem os ATM. A declaração de José Lemos surgiu na sequência de uma pergunta sobre a possibilidade do Crédito Agrícola vir a adoptar a medida, tendo começado por dizer que o assunto "estava em discussão" na Associação Portuguesa de Bancos (APB). Confrontado com o facto da cobrança de taxas dizer respeito à política comercial de cada instituição e de não poder ser concertada através da APB, corrigiu a declaração inicial, explicando que é "susceptível de haver essa discussão na APB". José Lemos aproveitou para negar uma eventual cartelização entre empresas, adiantando que "os bancos podem utilizar essas taxas como estratégia de concorrência".

Actualmente as vulgares operações [por exemplo de levantamento de dinheiro] efectuadas por via automática são gratuitas para quem as faz, mas são pagas pelos bancos sempre que um seu cliente recorre a um terminal de uma instituição concorrente. O que os bancos pretendem agora é repercutir o custo da operação nos clientes quando estes utilizam um ATM de um concorrente, mantendo gratuitas as operações efectuadas nas caixas das instituições onde têm conta aberta.

A polémica envolvendo os ATM foi desencadeada por Ricardo Salgado que em entrevista ao PÚBLICO (Ver edição do dia 13 de Outubro) afirmou que os "bancos criaram um hábito muito mau em relação ao mercado: como tinham margens grandes não debitavam serviços" realizados na rede Multibanco.

Por sua vez, o presidente da APB, João Salgueiro, em entrevista ao Suplemento Economia de 22/10/01, desvalorizou a controvérsia: " É possível, não sei" se os bancos vão cobrar os serviços. "Mas parece-me improvável". " É evidente que teremos que nos adaptar à prática europeia. Mas seria completamente impensável que se introduzisse uma alteração no relacionamento com os clientes num momento em que toda a capacidade de gestão bancária está polarizada pela transição para o Euro e pela sobrecarga de tarefas que representa."

marcar artigo