EXPRESSO: Opinião

01-03-2002
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2/2/2002

OPINIÃO

O último que apague a Luz Nicolau Santos

«Manuel Vilarinho disse que estava tudo garantido e foi obrigado a desdizer-se. Diogo Vaz Guedes asseverou que parava as obras e voltou com a palavra atrás. José Lello, numa prestação lamentável, ignorou as responsabilidades de Soares e tentou atirar para cima de Santana o odioso de frustrar 'as expectativas geradas no seio da família benfiquista'. E João Soares, sendo o único que devia falar, remeteu-se a um ensurdecedor silêncio.» O QUE SE está a passar com a construção do novo Estádio da Luz é muito mais que um «cocktail» de indignidades, espertezas saloias e meias-verdades - é uma mistura explosiva que pode vir a descambar numa inaceitável factura a pagar pelos contribuintes portugueses. Ao ponto a que chegámos, a decisão final constituirá um teste não só à coragem e verticalidade de Pedro Santana Lopes, mas sobretudo às qualidades de chefia e decisão do futuro primeiro-ministro de Portugal, chame-se ele Durão Barroso ou Ferro Rodrigues. E será péssimo, num quadro em que se exige grande contenção orçamental, que o novo Governo comece por mostrar fraqueza face a esta inconcebível chantagem. Porque, não tenhamos dúvidas, é de chantagem que se trata. A mensagem subliminar é esta: o Benfica é o clube com mais adeptos em Portugal, logo uma decisão que o penalize pode ter influência decisiva nos resultados eleitorais de 17 de Março. Donde, o poder político que pague o novo estádio da Luz. Não é preciso ser vidente para saber como tudo se passou. Acreditando que os benfiquistas lhe ficariam venerandos e obrigados - e votariam em si -, João Soares, naquele seu estilo magnânimo e monárquico que lhe vem da família, terá garantido à direcção do Sport Lisboa e Benfica e ao presidente da Somague a cedência de terrenos para a construção de uma estação de serviço no eixo Norte-Sul - e deve ter prometido que, depois das eleições, a Câmara autorizaria o aumento da volumetria da construção nos terrenos da Luz de 80 mil para 160 mil metros quadrados e, a cereja em cima do bolo, participaria com 12,5 milhões de euros no capital da Sociedade Benfica-Estádio. Por sua vez, a direcção do Benfica não foi inocente nesta matéria. Arrancou de imediato com as obras para colocar o poder político perante factos consumados, esperando todavia que Soares fosse reeleito. Sabe-se, contudo, o que aconteceu. O povo votou e provocou uma hecatombe eleitoral, a demissão do primeiro-ministro, a queda do Governo, e também a perda da Câmara de Lisboa para Pedro Santana Lopes. E o novo presidente, perante a ausência de compromissos escritos, fez o que tinha a fazer e disse o que tinha a dizer: a CML não participará em sociedades de gestão de clubes de futebol e aquele aumento de volumetria é impensável. A partir daqui, as indignidades começaram a suceder-se entre todos os verdadeiros responsáveis desta monumental trapalhada. Manuel Vilarinho disse que estava tudo garantido e foi obrigado a desdizer-se. Diogo Vaz Guedes asseverou que parava as obras e voltou com a palavra atrás. José Lello, numa prestação lamentável, ignorou as responsabilidades de Soares e tentou atirar para cima de Santana o odioso de frustrar «as expectativas geradas no seio da família benfiquista». E João Soares, sendo o único que devia falar, remeteu-se a um ensurdecedor silêncio. Ora é bom que se diga que os compromissos de Portugal com a UEFA não estão em causa: é possível realizar o Euro 2004 sem um novo estádio da Luz. Ao contrário, conceder mais ajudas públicas ao projecto do que as previstas pode colocar em causa outro compromisso bem mais importante, o do défice zero em 2004 - não tanto pelos montantes em jogo, mas pelo exemplo de laxismo e de permissividade que daí decorreria. Esta semana, os presidentes das Câmaras de Coimbra e Faro já vieram reclamar sobre o custo das obras de acessibilidade para os estádios, sugerindo que necessitarão de novos apoios governamentais. O Sporting, como é óbvio, espera receber o mesmo que for dado ao Benfica. E por aí fora. Por isso, não tenhamos dúvidas: este é um teste de fogo para Santana Lopes e para o novo Governo. E qualquer cedência será dramática para o país. Tão dramática que é caso para dizer: o último que apague a Luz. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt

COMENTÁRIOS AO ARTIGO

5 comentários 1 a 5

6 de Fevereiro de 2002 às 17:22

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

HIMALAIA concordo com o seu comentário. Aliás a "Carta de João Soares" é clara. O Presidente da Câmara não tinha poderes e o sr. Vilarinho também deveria saber. Por issso a confusão foi uma espécie de "vamos arriscar pode ser que pegue".

Também Ferro Rodrigues já disse o que deveria ser dito por um candidato a Primeiro Ministro: "..se muitos estão a cumprir o que acordaram,porque razão é que o Benfica há-de querer mais?! O Euro poderá realizar-se com ou sem o Estádio do Benfica,ou quaalquer outro estádio,já temos muitos estádios..."

Evidentemente que se o Estado fosse atrás da conversa todos os outros cairiam em cima a pedir também. E os que cumpriam ficariam penalizados. O benfica irá ter o seu novo Estádio e eu acho que será bom para os benfiquistas,mas quem o irá pagar serão os que o quiseram construir.

3 de Fevereiro de 2002 às 17:58

coração de leão

é bom que se diga e que todos o saibam : o euro pode realizar-se em 5 ou 6 estádios.Se parar o estádio da Luz não ficamos sem euro.Podemos é aplicar melhor o dinheiro dos contribuintes !

3 de Fevereiro de 2002 às 11:56

caparicano ( o_caparicano@hotmail.com )

Mais uma vez tenho de dar os parabéns ao Nicolau Santos, pelo seu artigo, quanto a mim, exemplar, aliás, na linha dum outro, por coincidência, relativo ao mesmo Clube e intitulado "Os Homens da Massa". Ambos são um mimo de como é o sub-mundo do futebol para onde resvalam pessoas tidas de bem e que quando, vá lá saber-se porquê envolvem-se nos futebóis. Caso exemplar, o Dr. Vale e Azevedo. Ou muito me engano ou, desta vez, irão à barra do tribunal mais Doutores.

3 de Fevereiro de 2002 às 03:13

himalaia

Alto lá O Sr Nicolau, lá que o Sr escreve bem, não há dúvida, é o seu papel; agora que seja tão esquecido quanto aos promitentes já custa a aceitar! Diz o amigo que "está mesmo a ver como as coisas se passaram... o Soares, pensando que ía ganhar, etc. etc. "

Porém, segundo me lembro e olhe que não sou assim tão esquecido, o Sr Santana, de quem o Sr. tanto espera em termos de RIGOR, não sabendo se ía ganhar, até foi bem pressuroso ao Vilarinho garantir que, se fosse ele, mudaria o PDM; é ou não é verdade?

Nicolau, não quer ser você a fechar a porta, pois não?

2 de Fevereiro de 2002 às 16:33

lixado

Mais uma das poucas vezes em que estou completamente de acordo com Nicolau.Aliás, sucintamente, fiz um comentário com mais ou menos este teor mal rebentou esta bronca. MAS A CHANTAGEM VAI DAR FRUTOS ... SEIS MILHÕES É MUITA "FRUTA" MAS TAMBÉM O DIGO, A SER ASSIM, ESTE PAÍS AINDA VAI TER O VILARINHO (OU OUTRO PRESIDENTE BENFIQUISTA) A PRESIDENTE DA REPUBLICA! E, CLARO, DEPOIS É QUE O "REINO" VAI MESMO AO "CHARCO"...

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O último que apague a Luz Nicolau Santos

«Manuel Vilarinho disse que estava tudo garantido e foi obrigado a desdizer-se. Diogo Vaz Guedes asseverou que parava as obras e voltou com a palavra atrás. José Lello, numa prestação lamentável, ignorou as responsabilidades de Soares e tentou atirar para cima de Santana o odioso de frustrar 'as expectativas geradas no seio da família benfiquista'. E João Soares, sendo o único que devia falar, remeteu-se a um ensurdecedor silêncio.» O QUE SE está a passar com a construção do novo Estádio da Luz é muito mais que um «cocktail» de indignidades, espertezas saloias e meias-verdades - é uma mistura explosiva que pode vir a descambar numa inaceitável factura a pagar pelos contribuintes portugueses. Ao ponto a que chegámos, a decisão final constituirá um teste não só à coragem e verticalidade de Pedro Santana Lopes, mas sobretudo às qualidades de chefia e decisão do futuro primeiro-ministro de Portugal, chame-se ele Durão Barroso ou Ferro Rodrigues. E será péssimo, num quadro em que se exige grande contenção orçamental, que o novo Governo comece por mostrar fraqueza face a esta inconcebível chantagem. Porque, não tenhamos dúvidas, é de chantagem que se trata. A mensagem subliminar é esta: o Benfica é o clube com mais adeptos em Portugal, logo uma decisão que o penalize pode ter influência decisiva nos resultados eleitorais de 17 de Março. Donde, o poder político que pague o novo estádio da Luz. Não é preciso ser vidente para saber como tudo se passou. Acreditando que os benfiquistas lhe ficariam venerandos e obrigados - e votariam em si -, João Soares, naquele seu estilo magnânimo e monárquico que lhe vem da família, terá garantido à direcção do Sport Lisboa e Benfica e ao presidente da Somague a cedência de terrenos para a construção de uma estação de serviço no eixo Norte-Sul - e deve ter prometido que, depois das eleições, a Câmara autorizaria o aumento da volumetria da construção nos terrenos da Luz de 80 mil para 160 mil metros quadrados e, a cereja em cima do bolo, participaria com 12,5 milhões de euros no capital da Sociedade Benfica-Estádio. Por sua vez, a direcção do Benfica não foi inocente nesta matéria. Arrancou de imediato com as obras para colocar o poder político perante factos consumados, esperando todavia que Soares fosse reeleito. Sabe-se, contudo, o que aconteceu. O povo votou e provocou uma hecatombe eleitoral, a demissão do primeiro-ministro, a queda do Governo, e também a perda da Câmara de Lisboa para Pedro Santana Lopes. E o novo presidente, perante a ausência de compromissos escritos, fez o que tinha a fazer e disse o que tinha a dizer: a CML não participará em sociedades de gestão de clubes de futebol e aquele aumento de volumetria é impensável. A partir daqui, as indignidades começaram a suceder-se entre todos os verdadeiros responsáveis desta monumental trapalhada. Manuel Vilarinho disse que estava tudo garantido e foi obrigado a desdizer-se. Diogo Vaz Guedes asseverou que parava as obras e voltou com a palavra atrás. José Lello, numa prestação lamentável, ignorou as responsabilidades de Soares e tentou atirar para cima de Santana o odioso de frustrar «as expectativas geradas no seio da família benfiquista». E João Soares, sendo o único que devia falar, remeteu-se a um ensurdecedor silêncio. Ora é bom que se diga que os compromissos de Portugal com a UEFA não estão em causa: é possível realizar o Euro 2004 sem um novo estádio da Luz. Ao contrário, conceder mais ajudas públicas ao projecto do que as previstas pode colocar em causa outro compromisso bem mais importante, o do défice zero em 2004 - não tanto pelos montantes em jogo, mas pelo exemplo de laxismo e de permissividade que daí decorreria. Esta semana, os presidentes das Câmaras de Coimbra e Faro já vieram reclamar sobre o custo das obras de acessibilidade para os estádios, sugerindo que necessitarão de novos apoios governamentais. O Sporting, como é óbvio, espera receber o mesmo que for dado ao Benfica. E por aí fora. Por isso, não tenhamos dúvidas: este é um teste de fogo para Santana Lopes e para o novo Governo. E qualquer cedência será dramática para o país. Tão dramática que é caso para dizer: o último que apague a Luz. E-mail: nicolausantos@mail.expresso.pt

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5 comentários 1 a 5

6 de Fevereiro de 2002 às 17:22

ramos18 ( jrcontreiras@netcabo.pt )

HIMALAIA concordo com o seu comentário. Aliás a "Carta de João Soares" é clara. O Presidente da Câmara não tinha poderes e o sr. Vilarinho também deveria saber. Por issso a confusão foi uma espécie de "vamos arriscar pode ser que pegue".

Também Ferro Rodrigues já disse o que deveria ser dito por um candidato a Primeiro Ministro: "..se muitos estão a cumprir o que acordaram,porque razão é que o Benfica há-de querer mais?! O Euro poderá realizar-se com ou sem o Estádio do Benfica,ou quaalquer outro estádio,já temos muitos estádios..."

Evidentemente que se o Estado fosse atrás da conversa todos os outros cairiam em cima a pedir também. E os que cumpriam ficariam penalizados. O benfica irá ter o seu novo Estádio e eu acho que será bom para os benfiquistas,mas quem o irá pagar serão os que o quiseram construir.

3 de Fevereiro de 2002 às 17:58

coração de leão

é bom que se diga e que todos o saibam : o euro pode realizar-se em 5 ou 6 estádios.Se parar o estádio da Luz não ficamos sem euro.Podemos é aplicar melhor o dinheiro dos contribuintes !

3 de Fevereiro de 2002 às 11:56

caparicano ( o_caparicano@hotmail.com )

Mais uma vez tenho de dar os parabéns ao Nicolau Santos, pelo seu artigo, quanto a mim, exemplar, aliás, na linha dum outro, por coincidência, relativo ao mesmo Clube e intitulado "Os Homens da Massa". Ambos são um mimo de como é o sub-mundo do futebol para onde resvalam pessoas tidas de bem e que quando, vá lá saber-se porquê envolvem-se nos futebóis. Caso exemplar, o Dr. Vale e Azevedo. Ou muito me engano ou, desta vez, irão à barra do tribunal mais Doutores.

3 de Fevereiro de 2002 às 03:13

himalaia

Alto lá O Sr Nicolau, lá que o Sr escreve bem, não há dúvida, é o seu papel; agora que seja tão esquecido quanto aos promitentes já custa a aceitar! Diz o amigo que "está mesmo a ver como as coisas se passaram... o Soares, pensando que ía ganhar, etc. etc. "

Porém, segundo me lembro e olhe que não sou assim tão esquecido, o Sr Santana, de quem o Sr. tanto espera em termos de RIGOR, não sabendo se ía ganhar, até foi bem pressuroso ao Vilarinho garantir que, se fosse ele, mudaria o PDM; é ou não é verdade?

Nicolau, não quer ser você a fechar a porta, pois não?

2 de Fevereiro de 2002 às 16:33

lixado

Mais uma das poucas vezes em que estou completamente de acordo com Nicolau.Aliás, sucintamente, fiz um comentário com mais ou menos este teor mal rebentou esta bronca. MAS A CHANTAGEM VAI DAR FRUTOS ... SEIS MILHÕES É MUITA "FRUTA" MAS TAMBÉM O DIGO, A SER ASSIM, ESTE PAÍS AINDA VAI TER O VILARINHO (OU OUTRO PRESIDENTE BENFIQUISTA) A PRESIDENTE DA REPUBLICA! E, CLARO, DEPOIS É QUE O "REINO" VAI MESMO AO "CHARCO"...

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