Benfica continua de fora do Euro 2004

09-05-2001
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Benfica Continua de Fora do Euro 2004

Por JOSÉ J. MATEUS*

Terça-feira, 24 de Abril de 2001

O Benfica não anunciou ontem a decisão sobre a participação ou não no Euro 2004 e o ministro do Desporto aceitou o pedido de adiamento feito telefonicamente por Manuel Vilarinho. Mas foi José Lello quem escolheu o dia 8 de Maio como nova data-limite. O Benfica queria mais alguns dias.

O Benfica só vai anunciar a 8 de Maio se o Estádio da Luz entra ou não no Euro 2004, depois de o ministro do Desporto, José Lello, ter aceite o adiamento, na condição de ser ele a fixar a data final, apurou o PÚBLICO. O país e a organização da prova vão ficar em suspenso mais 15 dias, à espera de decisão do clube da Luz. Ontem, o Benfica frustrou todas as expectativas criadas à volta desta novela que parece não ter fim, embora Manuel Vilarinho e outros membros dos órgãos sociais tivessem indicado nos últimos dias que era seu desejo adiar a comunicação sobre a remodelação do actual recinto ou a construção de um novo estádio.

"Se não forem obtidas respostas evidentemente satisfatórias às nossas pretensões, a resposta, hoje, dia 23 de Abril, seria a não participação" no Euro 2004, referiu João Malheiro, porta-voz do Benfica. Isto quer dizer que, apurou o PÚBLICO, para o presidente do Benfica, não chega que José Lello tenha dito a semana passada, num último sinal de abertura, que estaria disposto a dar ao Benfica a mesma percentagem de subsídio estatal destinada ao Sporting e ao FC Porto (o que, num estádio de 75 mil lugares, resultaria numa comparticipação de cinco milhões de contos), caso opte por um novo estádio. Mas essa garantia não foi, por si só, suficiente para o clube da Luz dar uma resposta positiva.

De qualquer forma, este desenlace só foi possível após Manuel Vilarinho ter recebido o aval de Lello, que se encontra em Paris, para assistir ao "particular" entre a França e Portugal. Eduardo Saraiva, assessor do ministro, disse ontem ao PÚBLICO que Vilarinho telefonou ontem ao governante a pedir-lhe um novo adiamento, alegando que "ainda não estava na posse de dados concretos e objectivos", necessários para tomar uma posição final. Mas Malheiro disse ontem também que o "dossier" está praticamente encerrado, ouvidos que foram os técnicos", e esclareceu que "o Benfica necessita ainda de algumas respostas, consideradas fundamentais, das autoridades competentes. Se forem positivas, o Benfica entra no Euro 2004".

Ao que tudo indica, ao clube da Luz não chega que o ministro tenha revelado a disponibilidade para aumentar o financiamento inicial acordado ainda na presidência de Vale e Azevedo - 1,050 milhões de contos de apoio do Estado para um custo das obras de beneficiação então fixado em 4,2 milhões de contos -, e quer mais dinheiro.

Tendo o novo estádio projectado capacidade para 75 mil lugares e um custo na ordem dos 20 milhões de contos, o Benfica não quer ser o único a fazer todo o esforço financeiro e pretende que o apoio do Estado seja tão efectivo como aquele que, segundo fonte do clube encarnado, vai receber o novo estádio de Coimbra. De acordo com essa fonte, Coimbra recebe seis milhões de contos, divididos pelo Estado e pela câmara municipal, e salienta que não é por acaso que o Sporting tem as obras paradas e o FC Porto exige mais financiamento.

Além disso, diz a mesma fonte, o Benfica precisa de saber também se o Estado estará disposto, ou não, a alterar o montante acordado no protocolo de Outubro, caso escolha apenas fazer obras no actual Estádio da Luz, as quais terão sempre um custo mais elevado do que o projecto apresentado por Vale e Azevedo.

Seja como for, o ministro, segundo o seu assessor, mostrou compreensão pelas dúvidas manifestadas pelo presidente do Benfica, na condição de ser ele a fixar o prazo final em 8 de Maio. O Benfica queria mais alguns dias e não foi por acaso que Lello escolheu essa data: nesse dia, estará em Portugal uma delegação da UEFA para definir o número de estádios presentes no Euro 2004 e também o sorteio da prova. Também nesse dia, a UEFA, disse Eduardo Saraiva, tem de estar na posse de todos os dados, para decidir matérias como o sorteio dos jogos, que estádios recebem as meias-finais e a final do Euro 2004.

Aparentemente, este adiamento não fez aumentar a preocupação que já existe no Estado e entre os organizadores do evento pelo impasse criado à volta do Estádio da Luz. Segundo fonte da Sociedade Euro 2004, a única coisa que está acordada com a UEFA é que os estádios cujas obras não se tenham iniciado até Setembro deste ano serão excluídos da prova. Ainda antes de conhecer o adiamento da decisão do Benfica, Gilberto Madail disse ao PÚBLICO que a Federação "tem feito tudo o possível para que o Benfica participe no Europeu", mas, acrescentou, do ponto de vista organizacional, "não haverá grandes implicações" se isso não acontecer. "Não vamos entrar em dramatismos. Lamentaremos muito se o Benfica não quiser participar, mas o Euro 2004 não acabará por isso", acrescentou.

Divisão nos órgãos sociais do Benfica

Seja como for, a margem de manobra das duas partes está a extinguir-se, num processo longo. Em Julho do ano passo, Vale e Azevedo recusou assinar o contrato-programa com o Governo, cujo ministro do Desporto era na altura Fernando Gomes. A essa recusa sempre ficou associada a hipoteca do Estádio da Luz, incluída na venda dos terrenos da Urbanização Sul, campos 3, 4 e 5 e Pavilhão Borges Coutinho à Euroárea, embora o Benfica dissesse que a única razão era não concordar com a verba negociada. Em Outubro, e já com a campanha eleitoral do Benfica a decorrer, chegava ao fim o braço-de-ferro e Vale e Azevedo acabaria por assinar o contrato-programa nos termos iniciais. Armando Vara já tinha então substituído Gomes no cargo governativo.

Com a vitória de Vilarinho, o processo estagnou. O novo presidente queria fazer o seu próprio projecto e, já em Fevereiro deste ano, após uma reunião com a UEFA, avança com uma outra solução: um novo estádio. Uma ideia que provocou divisões entre os órgãos sociais do clube. Alguns vice-presidentes e Vilarinho são a favor, apoiados pelos investidores desta direcção (Vítor Santos, por exemplo, um benfiquista que resolveu a contratação de alguns jogadores e é sócio de uma empresa de construção civil, defende esta escolha), enquanto outros são contra. O último episódio foi protagonizado por Luís Nazaré, presidente do Conselho de Fiscal, que terá dito numa reunião que se demitiria se fosse erguido um novo estádio.

*com Bruno Prata

Benfica Continua de Fora do Euro 2004

Por JOSÉ J. MATEUS*

Terça-feira, 24 de Abril de 2001

O Benfica não anunciou ontem a decisão sobre a participação ou não no Euro 2004 e o ministro do Desporto aceitou o pedido de adiamento feito telefonicamente por Manuel Vilarinho. Mas foi José Lello quem escolheu o dia 8 de Maio como nova data-limite. O Benfica queria mais alguns dias.

O Benfica só vai anunciar a 8 de Maio se o Estádio da Luz entra ou não no Euro 2004, depois de o ministro do Desporto, José Lello, ter aceite o adiamento, na condição de ser ele a fixar a data final, apurou o PÚBLICO. O país e a organização da prova vão ficar em suspenso mais 15 dias, à espera de decisão do clube da Luz. Ontem, o Benfica frustrou todas as expectativas criadas à volta desta novela que parece não ter fim, embora Manuel Vilarinho e outros membros dos órgãos sociais tivessem indicado nos últimos dias que era seu desejo adiar a comunicação sobre a remodelação do actual recinto ou a construção de um novo estádio.

"Se não forem obtidas respostas evidentemente satisfatórias às nossas pretensões, a resposta, hoje, dia 23 de Abril, seria a não participação" no Euro 2004, referiu João Malheiro, porta-voz do Benfica. Isto quer dizer que, apurou o PÚBLICO, para o presidente do Benfica, não chega que José Lello tenha dito a semana passada, num último sinal de abertura, que estaria disposto a dar ao Benfica a mesma percentagem de subsídio estatal destinada ao Sporting e ao FC Porto (o que, num estádio de 75 mil lugares, resultaria numa comparticipação de cinco milhões de contos), caso opte por um novo estádio. Mas essa garantia não foi, por si só, suficiente para o clube da Luz dar uma resposta positiva.

De qualquer forma, este desenlace só foi possível após Manuel Vilarinho ter recebido o aval de Lello, que se encontra em Paris, para assistir ao "particular" entre a França e Portugal. Eduardo Saraiva, assessor do ministro, disse ontem ao PÚBLICO que Vilarinho telefonou ontem ao governante a pedir-lhe um novo adiamento, alegando que "ainda não estava na posse de dados concretos e objectivos", necessários para tomar uma posição final. Mas Malheiro disse ontem também que o "dossier" está praticamente encerrado, ouvidos que foram os técnicos", e esclareceu que "o Benfica necessita ainda de algumas respostas, consideradas fundamentais, das autoridades competentes. Se forem positivas, o Benfica entra no Euro 2004".

Ao que tudo indica, ao clube da Luz não chega que o ministro tenha revelado a disponibilidade para aumentar o financiamento inicial acordado ainda na presidência de Vale e Azevedo - 1,050 milhões de contos de apoio do Estado para um custo das obras de beneficiação então fixado em 4,2 milhões de contos -, e quer mais dinheiro.

Tendo o novo estádio projectado capacidade para 75 mil lugares e um custo na ordem dos 20 milhões de contos, o Benfica não quer ser o único a fazer todo o esforço financeiro e pretende que o apoio do Estado seja tão efectivo como aquele que, segundo fonte do clube encarnado, vai receber o novo estádio de Coimbra. De acordo com essa fonte, Coimbra recebe seis milhões de contos, divididos pelo Estado e pela câmara municipal, e salienta que não é por acaso que o Sporting tem as obras paradas e o FC Porto exige mais financiamento.

Além disso, diz a mesma fonte, o Benfica precisa de saber também se o Estado estará disposto, ou não, a alterar o montante acordado no protocolo de Outubro, caso escolha apenas fazer obras no actual Estádio da Luz, as quais terão sempre um custo mais elevado do que o projecto apresentado por Vale e Azevedo.

Seja como for, o ministro, segundo o seu assessor, mostrou compreensão pelas dúvidas manifestadas pelo presidente do Benfica, na condição de ser ele a fixar o prazo final em 8 de Maio. O Benfica queria mais alguns dias e não foi por acaso que Lello escolheu essa data: nesse dia, estará em Portugal uma delegação da UEFA para definir o número de estádios presentes no Euro 2004 e também o sorteio da prova. Também nesse dia, a UEFA, disse Eduardo Saraiva, tem de estar na posse de todos os dados, para decidir matérias como o sorteio dos jogos, que estádios recebem as meias-finais e a final do Euro 2004.

Aparentemente, este adiamento não fez aumentar a preocupação que já existe no Estado e entre os organizadores do evento pelo impasse criado à volta do Estádio da Luz. Segundo fonte da Sociedade Euro 2004, a única coisa que está acordada com a UEFA é que os estádios cujas obras não se tenham iniciado até Setembro deste ano serão excluídos da prova. Ainda antes de conhecer o adiamento da decisão do Benfica, Gilberto Madail disse ao PÚBLICO que a Federação "tem feito tudo o possível para que o Benfica participe no Europeu", mas, acrescentou, do ponto de vista organizacional, "não haverá grandes implicações" se isso não acontecer. "Não vamos entrar em dramatismos. Lamentaremos muito se o Benfica não quiser participar, mas o Euro 2004 não acabará por isso", acrescentou.

Divisão nos órgãos sociais do Benfica

Seja como for, a margem de manobra das duas partes está a extinguir-se, num processo longo. Em Julho do ano passo, Vale e Azevedo recusou assinar o contrato-programa com o Governo, cujo ministro do Desporto era na altura Fernando Gomes. A essa recusa sempre ficou associada a hipoteca do Estádio da Luz, incluída na venda dos terrenos da Urbanização Sul, campos 3, 4 e 5 e Pavilhão Borges Coutinho à Euroárea, embora o Benfica dissesse que a única razão era não concordar com a verba negociada. Em Outubro, e já com a campanha eleitoral do Benfica a decorrer, chegava ao fim o braço-de-ferro e Vale e Azevedo acabaria por assinar o contrato-programa nos termos iniciais. Armando Vara já tinha então substituído Gomes no cargo governativo.

Com a vitória de Vilarinho, o processo estagnou. O novo presidente queria fazer o seu próprio projecto e, já em Fevereiro deste ano, após uma reunião com a UEFA, avança com uma outra solução: um novo estádio. Uma ideia que provocou divisões entre os órgãos sociais do clube. Alguns vice-presidentes e Vilarinho são a favor, apoiados pelos investidores desta direcção (Vítor Santos, por exemplo, um benfiquista que resolveu a contratação de alguns jogadores e é sócio de uma empresa de construção civil, defende esta escolha), enquanto outros são contra. O último episódio foi protagonizado por Luís Nazaré, presidente do Conselho de Fiscal, que terá dito numa reunião que se demitiria se fosse erguido um novo estádio.

*com Bruno Prata

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