Histórias de juventude

20-05-2001
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Histórias de Juventude

Terça-feira, 1 de Maio de 2001 Nasceu em 1974 para ajudar nos comícios e campanhas. Com o passar do tempo acabou por se virar para os temas de geração e chegar à nova maioria com propostas independentes e 45 mil militantes "O Mário Mesquita tinha comprado uns 'sprays' novos na Baixa que, por cada letra que se fazia, tinha que se agitar. Aquilo fazia um barulho horrível. E ali estávamos nós, eu [Arons de Carvalho], o Jaime [Gama] e o Mário [Mesquita], numa das paredes da Reitoria, a escrever 'libertem Zenha'. Era eu que estava no carro, de guarda, quando vi a cabeça de um polícia - um daqueles de turno, não era um pide - a espreitar para eles os dois. Só tive tempo de gritar olhá polícia e arranquei dali para fora. Com o Jaime e o Mário é que foi pior. Vieram os dois a correr da Reitoria até ao Campo Grande que nem uns desalmados. Está ver as duas figuras, o Jaime Gama e o Mário Mesquita, a correrem Cidade Universitária abaixo, completamente ofegantes." Arons de Carvalho contou a história, com um sorriso nos lábios, para explicar ao PÚBLICO que a JS já "existia inorganicamente dentro do PS", antes da sua efectiva fundação, em Maio de 1974. Os "primeiros JS", como o secretário de Estado lhes chamou, eram um "grupo criado em 1968 ligado a uma candidatura à Assembleia Nacional", a CEUD. "No máximo, fizemos uns boletins e umas pichagens nesses tempos" anteriores ao 25 de Abril, lembra Arons de Carvalho, hoje secretário de Estado da Comunicação Social. Só depois da Revolução dos Cravos é que a JS foi oficializada. "Houve quem chegasse a propor apenas uma organização de jovens estudantes, mas lá surgiu a Juventude Socialista, que rapidamente cresceu imenso e chegou aos milhares. Naquela altura, para se ter militantes bastava ter a porta aberta", recorda Arons de Carvalho, que acabaria por se tornar no primeiro líder da JS, depois de ter estado entre os fundadores do PS. Depois disso vieram os tempos da "agitação permanente" e de "uma grande carga ideológica", lembra: "Havia comícios a toda a hora, era frequentíssimo não irmos a casa, ficávamos a dormir na sede. Fazia-se muita colagem de cartazes, andava-se muito de bandeira." Um exemplo desses tempos conturbados foi o que se passou no II Congresso, em 1977. A direcção de Arons de Carvalho esteve à beira de ser substituída por uma série de "entristas" trotskistas que, segundo José Leitão, actual alto-comissário para as Minorias Étnicas, tiveram o atrevimento de preparar uma lista para a direcção. "Aquilo andou tremido. Por vezes chegávamos a certos núcleos e éramos recebidos com uma extrema frieza. Havia muita gente que pensava que eles eram só uns tipos mais radicais. Eu mesmo só me apercebi 15 dias antes do congresso que estávamos a lidar com entristas", afirmou. A surpresa também deve ter sido grande para Armando Vara e Luís Patrão. O alto-comissário assegura que também eles não se aperceberam onde se tinham metido. Já naquele tempo, portanto, Armando Vara e Luís Patrão faziam adivinhar a perigosa tendência para o desastre político. Isto porque Vara era o 11º e Patrão 28º da lista trotskista. Foi perante essa ameaça que a JS se permitiu o que de mais próximo teve de um ídolo. Nas suas edições do jornal "Jovem Socialista" tornaram-se recorrentes as imagens de Rosa Luxemburgo. "Uma das figuras míticas do socialismo internacional" para Arons de Carvalho, enquanto que para Leitão era uma "crítica implícita à revolução russa" e uma bandeira na "luta ideológica". Isso não impediu, contudo, que o "slogan" da JS fosse "juventude socialista, juventude marxista". Um lema que, apesar de agora parecer demasiado radical, naqueles anos fazia todo o sentido. "Ai de mim se eu em 1974 dissesse que era social-democrata", afirma o secretário de Estado da Comunicação Social. Ainda assim, nem só de radicais vivia a organização. Como Arons recorda, "a JS nasceu com uma forte componente católica, com pessoas que vieram da Juventude Universitária Católica, como Margarida Marques ou José Leitão". E seria daí que sairiam os líderes seguintes da JS. José Leitão foi o primeiro. Eleito em 1979, lembra que nos seus tempos de liderança os temas de discussão começaram a mudar. "A malta começou a interessar-se por outras coisas, como a ecologia ou o aborto." Margarida Marques, secretária-coordenadora de 1981 a 1984, realça a criação do Conselho Nacional de Juventude e a iniciativa legislativa em relação ao estatuto de objector de consciência como alguns dos contributos da JS do seu tempo. Seguiram-se José Apolinário e António José Seguro que, segundo Marcos Perestrelo, organizou as estruturas da JS espalhadas pelo país. Mas é com Sérgio Sousa Pinto que os números da JS disparam. Em 1995, a JS tinha já ultrapassado os 20 mil militantes. Ano a ano, os valores foram crescendo de forma exponencial, de forma que quando Sérgio Sousa Pinto se retirou da liderança, em 2000, os jovens socialistas eram já mais de 44 mil. É preciso não esquecer, no entanto, que esses foram os anos de governo socialista, em que a JS viu o seu grupo parlamentar crescer para 15 elementos. Vieram então as propostas parlamentares, como a interrupção voluntária da gravidez ou as uniões de facto, que deram à JS uma visibilidade nunca antes conseguida. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL "As armas das FP-25 continuam aí", diz "arrependido"

Pode dar-me a loucura e acabar com ele

A cisão nas FP-25

Renovar é reciclar pessoas ou políticas?

Os números da JS

Histórias de juventude

Fragilizada e barricada...

...Irreverente ou obediente

Rostos do pós-guterrismo

PS-Porto ameaça abandonar congresso, se Gomes for atacado

Ferro Rodrigues: negociações do OE devem começar já

Aborto em "referendo" entre os socialistas

Histórias de Juventude

Terça-feira, 1 de Maio de 2001 Nasceu em 1974 para ajudar nos comícios e campanhas. Com o passar do tempo acabou por se virar para os temas de geração e chegar à nova maioria com propostas independentes e 45 mil militantes "O Mário Mesquita tinha comprado uns 'sprays' novos na Baixa que, por cada letra que se fazia, tinha que se agitar. Aquilo fazia um barulho horrível. E ali estávamos nós, eu [Arons de Carvalho], o Jaime [Gama] e o Mário [Mesquita], numa das paredes da Reitoria, a escrever 'libertem Zenha'. Era eu que estava no carro, de guarda, quando vi a cabeça de um polícia - um daqueles de turno, não era um pide - a espreitar para eles os dois. Só tive tempo de gritar olhá polícia e arranquei dali para fora. Com o Jaime e o Mário é que foi pior. Vieram os dois a correr da Reitoria até ao Campo Grande que nem uns desalmados. Está ver as duas figuras, o Jaime Gama e o Mário Mesquita, a correrem Cidade Universitária abaixo, completamente ofegantes." Arons de Carvalho contou a história, com um sorriso nos lábios, para explicar ao PÚBLICO que a JS já "existia inorganicamente dentro do PS", antes da sua efectiva fundação, em Maio de 1974. Os "primeiros JS", como o secretário de Estado lhes chamou, eram um "grupo criado em 1968 ligado a uma candidatura à Assembleia Nacional", a CEUD. "No máximo, fizemos uns boletins e umas pichagens nesses tempos" anteriores ao 25 de Abril, lembra Arons de Carvalho, hoje secretário de Estado da Comunicação Social. Só depois da Revolução dos Cravos é que a JS foi oficializada. "Houve quem chegasse a propor apenas uma organização de jovens estudantes, mas lá surgiu a Juventude Socialista, que rapidamente cresceu imenso e chegou aos milhares. Naquela altura, para se ter militantes bastava ter a porta aberta", recorda Arons de Carvalho, que acabaria por se tornar no primeiro líder da JS, depois de ter estado entre os fundadores do PS. Depois disso vieram os tempos da "agitação permanente" e de "uma grande carga ideológica", lembra: "Havia comícios a toda a hora, era frequentíssimo não irmos a casa, ficávamos a dormir na sede. Fazia-se muita colagem de cartazes, andava-se muito de bandeira." Um exemplo desses tempos conturbados foi o que se passou no II Congresso, em 1977. A direcção de Arons de Carvalho esteve à beira de ser substituída por uma série de "entristas" trotskistas que, segundo José Leitão, actual alto-comissário para as Minorias Étnicas, tiveram o atrevimento de preparar uma lista para a direcção. "Aquilo andou tremido. Por vezes chegávamos a certos núcleos e éramos recebidos com uma extrema frieza. Havia muita gente que pensava que eles eram só uns tipos mais radicais. Eu mesmo só me apercebi 15 dias antes do congresso que estávamos a lidar com entristas", afirmou. A surpresa também deve ter sido grande para Armando Vara e Luís Patrão. O alto-comissário assegura que também eles não se aperceberam onde se tinham metido. Já naquele tempo, portanto, Armando Vara e Luís Patrão faziam adivinhar a perigosa tendência para o desastre político. Isto porque Vara era o 11º e Patrão 28º da lista trotskista. Foi perante essa ameaça que a JS se permitiu o que de mais próximo teve de um ídolo. Nas suas edições do jornal "Jovem Socialista" tornaram-se recorrentes as imagens de Rosa Luxemburgo. "Uma das figuras míticas do socialismo internacional" para Arons de Carvalho, enquanto que para Leitão era uma "crítica implícita à revolução russa" e uma bandeira na "luta ideológica". Isso não impediu, contudo, que o "slogan" da JS fosse "juventude socialista, juventude marxista". Um lema que, apesar de agora parecer demasiado radical, naqueles anos fazia todo o sentido. "Ai de mim se eu em 1974 dissesse que era social-democrata", afirma o secretário de Estado da Comunicação Social. Ainda assim, nem só de radicais vivia a organização. Como Arons recorda, "a JS nasceu com uma forte componente católica, com pessoas que vieram da Juventude Universitária Católica, como Margarida Marques ou José Leitão". E seria daí que sairiam os líderes seguintes da JS. José Leitão foi o primeiro. Eleito em 1979, lembra que nos seus tempos de liderança os temas de discussão começaram a mudar. "A malta começou a interessar-se por outras coisas, como a ecologia ou o aborto." Margarida Marques, secretária-coordenadora de 1981 a 1984, realça a criação do Conselho Nacional de Juventude e a iniciativa legislativa em relação ao estatuto de objector de consciência como alguns dos contributos da JS do seu tempo. Seguiram-se José Apolinário e António José Seguro que, segundo Marcos Perestrelo, organizou as estruturas da JS espalhadas pelo país. Mas é com Sérgio Sousa Pinto que os números da JS disparam. Em 1995, a JS tinha já ultrapassado os 20 mil militantes. Ano a ano, os valores foram crescendo de forma exponencial, de forma que quando Sérgio Sousa Pinto se retirou da liderança, em 2000, os jovens socialistas eram já mais de 44 mil. É preciso não esquecer, no entanto, que esses foram os anos de governo socialista, em que a JS viu o seu grupo parlamentar crescer para 15 elementos. Vieram então as propostas parlamentares, como a interrupção voluntária da gravidez ou as uniões de facto, que deram à JS uma visibilidade nunca antes conseguida. OUTROS TÍTULOS EM NACIONAL "As armas das FP-25 continuam aí", diz "arrependido"

Pode dar-me a loucura e acabar com ele

A cisão nas FP-25

Renovar é reciclar pessoas ou políticas?

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Histórias de juventude

Fragilizada e barricada...

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Ferro Rodrigues: negociações do OE devem começar já

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