O ambiente à mesa num Jantar Pensante

04-05-2001
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O Ambiente à Mesa Num Jantar Pensante

Sábado, 21 de Abril de 2001

Conferência junta investigadores e responsáveis governamentais em Aveiro

%Patrícia Coelho Moreira

Prepare três temas para debate e junte um grupo de especialistas na matéria; dê início à discussão, mas intervalada com pausas para comer; acrescente a participação de todos os interessados e sirva para uma vasta plateia, ao entardecer e "pela noite dentro". Inovadora e com sucesso garantido, é esta a receita que colocou em cima da mesa da Universidade de Aveiro (UA), um "saboroso" Jantar Pensante. Foi assim que se deu início à VII Conferência Nacional sobre a Qualidade do Ambiente, que ontem chegou ao fim, depois de três dias de debates.

Toalhas nas mesas, flores para decorar, águas e sumos servidos, e o cheiro de alguns temperos prometedores no ar. Em substituição das ementas dos restaurantes, o que se podia consultar era o programa do Jantar Pensante, dedicado aos temas: "Alterações Globais", "Diversidade Biológica" e "Ambiente Urbano". E o Jantar Pensante, que se propôs inverter a rotina habitual das sessões de abertura, começou mesmo com o debate. "Afinal, quais são as áreas das mudanças globais?", foi o mote lançado por Carlos Borrego, da UA, para o primeiro painel em agenda.

Os recursos hídricos - "que sofrerão com o agravamento de fenómenos extremos" -, e as alterações climáticas - que são parte importante das modificações ambientais globais - foram as primeiras ideias avançada. Para José Miguel Pereira, engenheiro florestal dedicado às questões do fogo, apresenta-se "decisivo o conhecimento dos cenários meteorológicos mais ou menos restritos em que ocorrem os fogos". Pouco optimista quanto ao futuro da floresta produtiva em Portugal, revelou-se preocupado com um cenário em que se conjugam factores como a "alteração na ocupação do solo, a maior continuidade de vegetação vulnerável ao fogo, e o agravamento das alterações climáticas".

E se para o engenheiro de Ambiente José Manuel Martins "falar de alterações climáticas é falar de um problema planetário", Júlia Seixas, da Universidade Nova de Lisboa, deixou claro que à escala nacional "não existe estratégia de alterações climáticas". A posição portuguesa face ao protocolo de Quioto, disse ainda, resume-se a considerá-lo "um problema político e não científico". De resto, "Portugal participa pouquíssimo em programas internacionais e não temos grande noção do que se passa no país em termos de alterações climáticas", salientou.

Uma estratégia para a diversidade

Servidas as bandejas com os aperitivos, o cair da noite foi dedicado à "Diversidade Biológica", e o debate conduzido por Helena Freitas, docente da Universidade de Coimbra e presidente da Liga para a Protecção da Natureza, serviu para enviar alguns recados ao Governo. O mensageiro foi o próprio secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária, José Junqueiro, presente para manifestar o estímulo estatal à investigação através da atribuição de um prémio anual para as áreas do ambiente e da sócio-economia.

"A investigação nacional, em termos de biodiversidade, é feita graças à iniciativa de indivíduos que se empenham, a partir das suas próprias universidades. Não existe uma estratégia nacional para a conservação da natureza e da biodiversidade, que aguardamos há dez anos", afirmou a própria moderadora. Helena Freitas lançou, por fim, a "provocação": "É necessário um programa de investigação nacional sobre biodiversidade, a partir dos ministérios do Ambiente e da Ciência e da Tecnologia, e que permita a investigação de base e a investigação de áreas protegidas".

"Temos tirado partido da nossa biodiversidade? Não! Não há organização entre instituições, não existe base de dados, há ausência total de prioridades, e ainda estamos à espera de uma estratégia nacional para conservação da natureza e biodiversidade", defendeu também o biólogo Nuno Ferrand de Almeida. Junqueiro responder sentir-se "tranquilo" por ter "um público e um país preocupados, capazes de operar a mudança".

À contestação dos ambientalistas seguiu-se a merecida ceia. O Jantar Pensante voltou depois à mesa para ouvir o painel "Ambiente Urbano", agora ao sabor do café. Entre o grupo moderado pelo arquitecto Nuno Portas, a cidade não podia deixar de ser o alvo de todas as atenções. "Grande parte da nossa população vive no espaço urbano. As cidades e a forma como são vividas constituem uma das causas centrais dos problemas ambientais, ao nível da biodiversidade e das alterações globais", avançou Eduardo de Oliveira Fernandes, da Universidade do Porto.

"Que território nacional estamos a construir? Que qualidade de vida estamos a proporcionar neste novo ambiente urbano?". As dúvidas foram lançadas por Teresa Sá Marques, num apelo geral à reflexão, que não poupou, mais uma vez, críticas. "A investigação em Portugal é muito cara. Era importante criar sistemas de informação para os investigadores, porque não pode haver avaliação sem reflexão e estratégia", defendeu.

O Ambiente à Mesa Num Jantar Pensante

Sábado, 21 de Abril de 2001

Conferência junta investigadores e responsáveis governamentais em Aveiro

%Patrícia Coelho Moreira

Prepare três temas para debate e junte um grupo de especialistas na matéria; dê início à discussão, mas intervalada com pausas para comer; acrescente a participação de todos os interessados e sirva para uma vasta plateia, ao entardecer e "pela noite dentro". Inovadora e com sucesso garantido, é esta a receita que colocou em cima da mesa da Universidade de Aveiro (UA), um "saboroso" Jantar Pensante. Foi assim que se deu início à VII Conferência Nacional sobre a Qualidade do Ambiente, que ontem chegou ao fim, depois de três dias de debates.

Toalhas nas mesas, flores para decorar, águas e sumos servidos, e o cheiro de alguns temperos prometedores no ar. Em substituição das ementas dos restaurantes, o que se podia consultar era o programa do Jantar Pensante, dedicado aos temas: "Alterações Globais", "Diversidade Biológica" e "Ambiente Urbano". E o Jantar Pensante, que se propôs inverter a rotina habitual das sessões de abertura, começou mesmo com o debate. "Afinal, quais são as áreas das mudanças globais?", foi o mote lançado por Carlos Borrego, da UA, para o primeiro painel em agenda.

Os recursos hídricos - "que sofrerão com o agravamento de fenómenos extremos" -, e as alterações climáticas - que são parte importante das modificações ambientais globais - foram as primeiras ideias avançada. Para José Miguel Pereira, engenheiro florestal dedicado às questões do fogo, apresenta-se "decisivo o conhecimento dos cenários meteorológicos mais ou menos restritos em que ocorrem os fogos". Pouco optimista quanto ao futuro da floresta produtiva em Portugal, revelou-se preocupado com um cenário em que se conjugam factores como a "alteração na ocupação do solo, a maior continuidade de vegetação vulnerável ao fogo, e o agravamento das alterações climáticas".

E se para o engenheiro de Ambiente José Manuel Martins "falar de alterações climáticas é falar de um problema planetário", Júlia Seixas, da Universidade Nova de Lisboa, deixou claro que à escala nacional "não existe estratégia de alterações climáticas". A posição portuguesa face ao protocolo de Quioto, disse ainda, resume-se a considerá-lo "um problema político e não científico". De resto, "Portugal participa pouquíssimo em programas internacionais e não temos grande noção do que se passa no país em termos de alterações climáticas", salientou.

Uma estratégia para a diversidade

Servidas as bandejas com os aperitivos, o cair da noite foi dedicado à "Diversidade Biológica", e o debate conduzido por Helena Freitas, docente da Universidade de Coimbra e presidente da Liga para a Protecção da Natureza, serviu para enviar alguns recados ao Governo. O mensageiro foi o próprio secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária, José Junqueiro, presente para manifestar o estímulo estatal à investigação através da atribuição de um prémio anual para as áreas do ambiente e da sócio-economia.

"A investigação nacional, em termos de biodiversidade, é feita graças à iniciativa de indivíduos que se empenham, a partir das suas próprias universidades. Não existe uma estratégia nacional para a conservação da natureza e da biodiversidade, que aguardamos há dez anos", afirmou a própria moderadora. Helena Freitas lançou, por fim, a "provocação": "É necessário um programa de investigação nacional sobre biodiversidade, a partir dos ministérios do Ambiente e da Ciência e da Tecnologia, e que permita a investigação de base e a investigação de áreas protegidas".

"Temos tirado partido da nossa biodiversidade? Não! Não há organização entre instituições, não existe base de dados, há ausência total de prioridades, e ainda estamos à espera de uma estratégia nacional para conservação da natureza e biodiversidade", defendeu também o biólogo Nuno Ferrand de Almeida. Junqueiro responder sentir-se "tranquilo" por ter "um público e um país preocupados, capazes de operar a mudança".

À contestação dos ambientalistas seguiu-se a merecida ceia. O Jantar Pensante voltou depois à mesa para ouvir o painel "Ambiente Urbano", agora ao sabor do café. Entre o grupo moderado pelo arquitecto Nuno Portas, a cidade não podia deixar de ser o alvo de todas as atenções. "Grande parte da nossa população vive no espaço urbano. As cidades e a forma como são vividas constituem uma das causas centrais dos problemas ambientais, ao nível da biodiversidade e das alterações globais", avançou Eduardo de Oliveira Fernandes, da Universidade do Porto.

"Que território nacional estamos a construir? Que qualidade de vida estamos a proporcionar neste novo ambiente urbano?". As dúvidas foram lançadas por Teresa Sá Marques, num apelo geral à reflexão, que não poupou, mais uma vez, críticas. "A investigação em Portugal é muito cara. Era importante criar sistemas de informação para os investigadores, porque não pode haver avaliação sem reflexão e estratégia", defendeu.

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