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08-12-2000
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Irmãos desavindos

Miguel e Paulo Portas são irmãos, mas também, como todos sabem, adversários políticos, um à esquerda, outro à direita. Há poucos dias, encontraram-se no Parlamento e mais uma vez mostraram desacordo. Disse Paulo: «Nós não vos damos descanso! O Bloco de Esquerda apresentou o projecto para a laicização do Estado e o CDS-PP respondeu logo com a proposta para dar tolerância de ponto no dia em que o Papa vai a Fátima!» Resposta de Miguel: «Mas eu acho muito bem». «Muito bem?», estranhou o líder do PP. «Sim - explicou Miguel -, acho é que peca por pouco». «Por pouco?», estranhou ainda mais Paulo. «Sim - insistiu Miguel -, deviam propor cinco dias de tolerância... para que possam ir de joelhos».

A gravação de Manuel Alegre

QUANDO há alguns anos o engenheiro António Guterres chegou à liderança do PS, muitos questionaram como iria um Partido Socialista, laico e republicano, ser liderado por um católico praticante. Mal se sabia que «ainda a procissão ia no adro» (como popularmente se costuma dizer e se aplica neste caso com todo o propósito). Ora, partiu precisamente de um deputado socialista, Vera Jardim, a apresentação de um projecto de lei da liberdade religiosa. Dadas as declarações críticas sobre o projecto, proferidas por alguns deputados socialistas na imprensa, a direcção da bancada parlamentar do PS agendou para quinta-feira passada um debate interno sobre o projecto. A reunião foi tumultuosa, com deputados como Manuel Alegre, Helena Roseta e Medeiros Ferreira a exigirem que, primeiro, o Governo encete negociações para rever a Concordata que dá privilégios à Igreja. As versões sobre o debate dadas para o exterior foram as suficientes para criar a confusão: Alegre foi várias vezes instado pelos jornalistas a esclarecer se tinha ou não chamado «estalinista» a um seu colega; e, segundo o relato da agência Lusa, alguns deputados socialistas desabafavam que já não tinham «paciência para se envolverem numa guerra entre crucifixos e aventais». A certa altura, Manuel Alegre já pedia ao assessor de imprensa do Partido Socialista que fizesse uma cópia da transcrição de uma gravação que fora feita a certa altura do debate, para que não restassem dúvidas sobre as suas posições. E colegas seus sugeriam que, daqui para a frente, o melhor mesmo é gravar os debates internos no grupo parlamentar. Se assim for, GENTE só se lembra de um caso semelhante: as conversas entre o primeiro-ministro da AD, Pinto Balsemão, e o então Presidente da República, Ramalho Eanes, no início da década de 80, com gravadores entre os dois, também para que depois não houvesse dúvidas...

O Arrumador e o Mercedes

HÁ QUEM ache que arrumador de automóveis não é gente. Ora, Coimbra corrige essa perspectiva. É que na cidade dos doutores há um arrumador que diariamente se desloca para o local de trabalho num Mercedes. Verdade seja dita que o veículo tem 28 anos de idade e não pode ser visto como exemplo de mais-valia social. Mas é com simpatia que o director do Instituto de Medicina Legal, Duarte Nuno, e demais funcionários, seus principais clientes, vêem o arrumador, antes de pegar, às 8 da manhã - larga, em regra, às 4 -, estacionar o seu Mercedes 220 antes de receber as chaves dos automóveis de quem nele deposita confiança. Não cobra taxa especial de luxo e assentou lugar no átrio fronteiro à Sé Nova. Folga ao sábado e domingo!

O Governo, as secretárias e os reveladores nomes delas

GOVERNO que se preze cuida de todos os pormenores, como fez o actual Executivo. O cuidado posto na composição dos ministérios revela a arte de bem escolher os nomes das secretárias de ministros e secretários de Estado. Para mostrar que é um «primeiro» destemido, António Guterres tem uma secretária chamada Geraldes, obviamente sem pavor. Já o secretário de Estado da Presidência, Vitalino Canas, que, a exemplo do chefe, nos quer levar ao céu, escolheu uma Assunção. Jaime Gama sabe que o Papa vem a Fátima em Maio beatificar os pastorinhos e diplomaticamente aposta na Pastoriza. Luís Amado, secretário dos Negócios Estrangeiros, só podia ter consigo uma El-Qatta, enquanto, nos Assuntos Europeus, Seixas da Costa dá um toque europeísta, estilo italiano, ao apostar em Frusoni. Percebendo que a força dos emigrantes está em Paris, José Lello, o das Comunidades, tem Eliseu como secretária. Fausto Correia, dos Assuntos Parlamentares, não vai à Assembleia para fazer farinha, logo deixa a Farinha no gabinete. Como a Administração Local tem poderes mínimos, José Augusto Carvalho contrapõe a Máxima. Nogueira Leite, do Tesouro e Finanças, reconhecendo que depois de pagarem impostos os portugueses ficam com pouco, contratou a Nico. Rui Cunha, da Solidariedade e Emprego, sabe que para ter riqueza é preciso dar à Perna e quando esta secretária falha refugia-se na Capela. Fernando Gomes quer uma Administração Interna sem enteados e trouxe do Porto a Neto. Narciso Miranda é secretário dos Portos e para subir à presidência da Câmara do Porto escolheu a Ladeira. Para registar as queixas dos portugueses, o ministro da Justiça, António Costa, tem uma secretária chamada Folha, enquanto o secretário de Estado da Justiça, Diogo Machado, para lembrar que os atrasos nas taxas obrigam a pagar juros, admitiu a Mora. Capoulas Santos pensa que o Desenvolvimento Rural passa pela Leitão e o seu secretário de Estado, Vítor Coelho Barros, acredita que este mesmo Desenvolvimento floresce, e pôs a Monteverde à porta. Guilherme d'Oliveira Martins ainda julga que a Educação está na crista da onda do Governo, e chamou a Ondina. A (Maria) Branca dá o ambiente hospitalar à ministra Manuela Arcanjo, da Saúde. Alberto Martins, que tem a seu cargo a Reforma do Estado, afadiga-se a confrontar a legislação de outros países, daí a secretária chamar-se Comparado. Convencida que as mulheres têm de tirar aos homens direitos de machismo, Maria de Belém, da Igualdade, seleccionou a Furtado. Armando Vara quer afirmar-se como ministro revolucionário, vai daí chamou a Patuleia. Acácio Barreiros sabe que defender os consumidores é tarefa infernal e nada melhor do que ter a Jesus a ajudá-lo. E o secretário de Estado da Administração Pública, que se chama Alexandre Cantigas Rosa e dá música aos sindicatos da Função Pública, para mostrar que é coerente tem a Del Rio (Ai, Macarena!) em cartaz. Um Governo que sabe escolher assim as secretárias não é Gago e, para não ser ultrapassado, o ministro da Ciência e Tecnologia, que não anda a ver estrelas, levou um Marciano para chefe de gabinete!

A viagem de José Cesário

NUMA das últimas conferências de líderes na Assembleia da República (que servem para os «chefes» das bancadas decidirem com o presidente da AR o agendamento da discussão das propostas dos vários partidos, bem como resolverem questões que digam respeito aos deputados), surgiu um pedido surpreendente. Tratava-se de um pedido do deputado do PSD José Cesário, para que o autorizassem a deslocar-se a Bruxelas, a fim de participar como membro suplente na assembleia da UEO. O problema é que o deputado pretendia fazê-lo «em viatura própria». Numa altura em que tanto se fala das viagens-fantasma, alguns dos presentes manifestaram estupefacção e incomodidade, incluindo o presidente da AR, Almeida Santos. Ainda por cima Cesário, deputado por Viseu, em Agosto - na sequência de notícias que o davam como arguido - fez saber que pagara por sua iniciativa à AR cerca de 4600 contos, por causa de deslocações que na sua opinião estavam correctas, mas poderão vir a suscitar dúvidas. A deslocação a Bruxelas foi autorizada, mas com a condição de o deputado não gastar mais do que iria gastar se fosse de avião, não tendo também direito a qualquer devolução se o gasto vier a ser menor - conforme está previsto na lei. Cesário explicou ao EXPRESSO que decidiu ir de carro para poder contactar comunidades de emigrantes em Espanha e em França. É que, como o PSD não conseguiu eleger qualquer deputado pelo círculo da Europa, a direcção do grupo parlamentar atribuiu-lhe a responsabilidade de ficar com os contactos com as comunidades de emigrantes. E adiantou que até vai poupar ao Estado uma noite em estada, pois, como vem de carro, terá de partir um dia mais cedo! GENTE já está a imaginar o deputado social-democrata por essas auto-estradas europeias. E faz daqui um apelo ao próximo líder eleito do PSD, no sentido de reconhecer condignamente o esforço deste deputado.

A opção de Santana Lopes

SANTANA Lopes declarou que só deixará a vida autárquica se o povo português o escolher como primeiro-ministro. O adversário de Durão Barroso à liderança do PSD discursava em Oucoufra, Paião, durante um jantar comemorativo da sua vitória para a Câmara figueirense. Como a tarefa é difícil, o ex-presidente do Sporting não pode excluir a hipótese de se manter nas autarquias pelos próximos anos. Ele mesmo se disponibilizou para qualquer concelho do distrito de Coimbra. Mas Santana revelou um aspecto curioso, caso seja eleito presidente do PSD: «Nenhuma vitória comprometerá o meu compromisso solene com a Figueira e não serei eu que vou a Lisboa, mas vão ser os outros que vão ter de vir reunir comigo à Figueira». Santana não esclareceu se esta decisão se aplicaria a outras actividades que tem exercido na capital, ou seja: irá ele obrigar a RTP a que sejam feitos na Figueira os programas semanais de televisão onde aparece como comentador desportivo?

O discurso elogioso de Narana Coissoró

A CENA passou-se na Assembleia da República, na quinta-feira, dia da interpelação ao Governo em matéria de Justiça, proposta pelo PP. No plenário, um deputado fazia a intervenção final: «Congratulo-me pela elevação com que decorreu o debate. Tivemos oportunidade de ver como jornalistas impreparados criaram uma ideia incorrecta, e que o caso do Aquaparque nunca podia servir de paradigma do que se passa na Justiça. Era preciso que se fizesse um debate desapaixonado como este. Não vamos criar falsos alarmes: o problema não é que haja 2 ou 3% de prescrições; ficamos a saber que noutros países são 6 ou 7%. A partir de hoje, vamos ter uma nova agenda da Justiça». Desengane-se o leitor se pensa que quem assim falava era um deputado do PS, ou mesmo o ministro da Justiça. Este ouvia em silêncio, tal como a bancada do PS - em que é justo notabilizar, pelo ar embevecido, os deputados Francisco Assis, Jorge Lacão e José Magalhães. Mas o deputado que tão bem falava era nem mais nem menos Narana Coissoró, deputado do partido (o PP) que pedira a interpelação. Enquanto falava, aliás, as faces dos seus colegas de bancada bem expressavam o incómodo que lhes ia na alma. A seu lado, na bancada do PSD, Guilherme Silva e Marques Guedes não escondiam o riso. O tom elogioso de Narana foi tal que, no final do discurso, o único deputado que bateu palmas foi José Penedos - ilustre parlamentar... do PS. Em resposta aos olhares incrédulos de alguns deputados, Penedos riu-se e encolheu os ombros, justificando-se com um «mas é verdade, falou muito bem...». GENTE também aplaude: para uma interpelação tão cor-de-rosa, só mesmo ruidosas palmas cor-de-rosa. Não sabemos se era do adiantado da hora ou se era porque o líder popular, Paulo Portas, tinha faltado por estar com gripe. Mas, de facto, GENTE ficou com a sensação de que os jornalistas estavam ali a mais... Coordenação de PEDRO ANDRADE

Veemência

Exibida por António Boronha, vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, nas vésperas do Benfica-Sporting para a Taça de Portugal, quando ainda não se sabia se o jogo seria transmitido pela TV. Boronha estava no balcão do Gambrinus, acabadinho de chegar da Holanda, quando ligou para o seu amigo Joaquim Oliveira, para saber pormenores do «affair» Vale e Azevedo e a transmissão pela TV. O que ambos disseram GENTE não pode revelar, mas garante que àquela hora o presidente do Benfica teria as orelhas a arder.

Desejo

De seguir as pegadas do pai Valentim, mas com algumas décadas de avanço, parece ser a sina de João Loureiro. Depois de, aos 20 anos, ter sido líder dos Ban e dono da discoteca Via Rápida, e de aos 30 ser o chefe máximo do Boavistão, João quer chegar a presidente de Câmara antes dos 40. Matosinhos em 2001 é o objectivo do filho do presidente da Câmara de Gondomar, que se acha capaz de derrotar Manuel Seabra, o sucessor de Narciso Miranda e conseguir pintar pela primeira vez de laranja um velho bastião rosa.

Sono

Santo tem sido o de Gomes de Pinho desde a manhã em que, ao fazer o «check out» do Hotel Four Seasons, de Nova Iorque, não resistiu ao impulso de elogiar a qualidade do colchão em que tinha dormido. O empregado da recepção informou-o de que, se quisesse, podia adquirir um colchão idêntico. O triplo administrador da Porto 2001, Fundação de Serralves e Portgás, declarou-se logo interessado no negócio e menos de um mês volvido chegava a Portugal, proveniente da Holanda, o abençoado colchão.

Garantia

Da futura manutenção da Festa de Reis, inventada este ano por Nuno Cardoso para emendar a mão de uma noite de passagem do milénio desastrosa, desprovida de fogo-de-artifício e do tocar das doze badaladas, que indignou a população da cidade do Porto. Na carta de agradecimento que enviou a todos quantos o apoiaram na realização da noite de Reis, o presidente da Câmara do Porto anunciou que «a Festa de Reis veio para ficar» e, com um ano de antecedência, aproveitou para pedir apoio para a festa de 2001.

«Gaffe»

Cometida pelo «Providence Journal» do estado de Rhode Island, ao escrever que os problemas enfrentados pelos negros diziam respeito «aos recentemente emigrados da Nigéria, Haiti ou Açores e aos descendentes dos escravos». O director do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade Brown, Onésimo Almeida, escreveu ao jornal lembrando que os açorianos são portugueses, e não africanos, e que se o resto dos EUA pode não saber disso, é incrível que o facto seja ignorado num estado onde são parte considerável da população.

Irmãos desavindos

Miguel e Paulo Portas são irmãos, mas também, como todos sabem, adversários políticos, um à esquerda, outro à direita. Há poucos dias, encontraram-se no Parlamento e mais uma vez mostraram desacordo. Disse Paulo: «Nós não vos damos descanso! O Bloco de Esquerda apresentou o projecto para a laicização do Estado e o CDS-PP respondeu logo com a proposta para dar tolerância de ponto no dia em que o Papa vai a Fátima!» Resposta de Miguel: «Mas eu acho muito bem». «Muito bem?», estranhou o líder do PP. «Sim - explicou Miguel -, acho é que peca por pouco». «Por pouco?», estranhou ainda mais Paulo. «Sim - insistiu Miguel -, deviam propor cinco dias de tolerância... para que possam ir de joelhos».

A gravação de Manuel Alegre

QUANDO há alguns anos o engenheiro António Guterres chegou à liderança do PS, muitos questionaram como iria um Partido Socialista, laico e republicano, ser liderado por um católico praticante. Mal se sabia que «ainda a procissão ia no adro» (como popularmente se costuma dizer e se aplica neste caso com todo o propósito). Ora, partiu precisamente de um deputado socialista, Vera Jardim, a apresentação de um projecto de lei da liberdade religiosa. Dadas as declarações críticas sobre o projecto, proferidas por alguns deputados socialistas na imprensa, a direcção da bancada parlamentar do PS agendou para quinta-feira passada um debate interno sobre o projecto. A reunião foi tumultuosa, com deputados como Manuel Alegre, Helena Roseta e Medeiros Ferreira a exigirem que, primeiro, o Governo encete negociações para rever a Concordata que dá privilégios à Igreja. As versões sobre o debate dadas para o exterior foram as suficientes para criar a confusão: Alegre foi várias vezes instado pelos jornalistas a esclarecer se tinha ou não chamado «estalinista» a um seu colega; e, segundo o relato da agência Lusa, alguns deputados socialistas desabafavam que já não tinham «paciência para se envolverem numa guerra entre crucifixos e aventais». A certa altura, Manuel Alegre já pedia ao assessor de imprensa do Partido Socialista que fizesse uma cópia da transcrição de uma gravação que fora feita a certa altura do debate, para que não restassem dúvidas sobre as suas posições. E colegas seus sugeriam que, daqui para a frente, o melhor mesmo é gravar os debates internos no grupo parlamentar. Se assim for, GENTE só se lembra de um caso semelhante: as conversas entre o primeiro-ministro da AD, Pinto Balsemão, e o então Presidente da República, Ramalho Eanes, no início da década de 80, com gravadores entre os dois, também para que depois não houvesse dúvidas...

O Arrumador e o Mercedes

HÁ QUEM ache que arrumador de automóveis não é gente. Ora, Coimbra corrige essa perspectiva. É que na cidade dos doutores há um arrumador que diariamente se desloca para o local de trabalho num Mercedes. Verdade seja dita que o veículo tem 28 anos de idade e não pode ser visto como exemplo de mais-valia social. Mas é com simpatia que o director do Instituto de Medicina Legal, Duarte Nuno, e demais funcionários, seus principais clientes, vêem o arrumador, antes de pegar, às 8 da manhã - larga, em regra, às 4 -, estacionar o seu Mercedes 220 antes de receber as chaves dos automóveis de quem nele deposita confiança. Não cobra taxa especial de luxo e assentou lugar no átrio fronteiro à Sé Nova. Folga ao sábado e domingo!

O Governo, as secretárias e os reveladores nomes delas

GOVERNO que se preze cuida de todos os pormenores, como fez o actual Executivo. O cuidado posto na composição dos ministérios revela a arte de bem escolher os nomes das secretárias de ministros e secretários de Estado. Para mostrar que é um «primeiro» destemido, António Guterres tem uma secretária chamada Geraldes, obviamente sem pavor. Já o secretário de Estado da Presidência, Vitalino Canas, que, a exemplo do chefe, nos quer levar ao céu, escolheu uma Assunção. Jaime Gama sabe que o Papa vem a Fátima em Maio beatificar os pastorinhos e diplomaticamente aposta na Pastoriza. Luís Amado, secretário dos Negócios Estrangeiros, só podia ter consigo uma El-Qatta, enquanto, nos Assuntos Europeus, Seixas da Costa dá um toque europeísta, estilo italiano, ao apostar em Frusoni. Percebendo que a força dos emigrantes está em Paris, José Lello, o das Comunidades, tem Eliseu como secretária. Fausto Correia, dos Assuntos Parlamentares, não vai à Assembleia para fazer farinha, logo deixa a Farinha no gabinete. Como a Administração Local tem poderes mínimos, José Augusto Carvalho contrapõe a Máxima. Nogueira Leite, do Tesouro e Finanças, reconhecendo que depois de pagarem impostos os portugueses ficam com pouco, contratou a Nico. Rui Cunha, da Solidariedade e Emprego, sabe que para ter riqueza é preciso dar à Perna e quando esta secretária falha refugia-se na Capela. Fernando Gomes quer uma Administração Interna sem enteados e trouxe do Porto a Neto. Narciso Miranda é secretário dos Portos e para subir à presidência da Câmara do Porto escolheu a Ladeira. Para registar as queixas dos portugueses, o ministro da Justiça, António Costa, tem uma secretária chamada Folha, enquanto o secretário de Estado da Justiça, Diogo Machado, para lembrar que os atrasos nas taxas obrigam a pagar juros, admitiu a Mora. Capoulas Santos pensa que o Desenvolvimento Rural passa pela Leitão e o seu secretário de Estado, Vítor Coelho Barros, acredita que este mesmo Desenvolvimento floresce, e pôs a Monteverde à porta. Guilherme d'Oliveira Martins ainda julga que a Educação está na crista da onda do Governo, e chamou a Ondina. A (Maria) Branca dá o ambiente hospitalar à ministra Manuela Arcanjo, da Saúde. Alberto Martins, que tem a seu cargo a Reforma do Estado, afadiga-se a confrontar a legislação de outros países, daí a secretária chamar-se Comparado. Convencida que as mulheres têm de tirar aos homens direitos de machismo, Maria de Belém, da Igualdade, seleccionou a Furtado. Armando Vara quer afirmar-se como ministro revolucionário, vai daí chamou a Patuleia. Acácio Barreiros sabe que defender os consumidores é tarefa infernal e nada melhor do que ter a Jesus a ajudá-lo. E o secretário de Estado da Administração Pública, que se chama Alexandre Cantigas Rosa e dá música aos sindicatos da Função Pública, para mostrar que é coerente tem a Del Rio (Ai, Macarena!) em cartaz. Um Governo que sabe escolher assim as secretárias não é Gago e, para não ser ultrapassado, o ministro da Ciência e Tecnologia, que não anda a ver estrelas, levou um Marciano para chefe de gabinete!

A viagem de José Cesário

NUMA das últimas conferências de líderes na Assembleia da República (que servem para os «chefes» das bancadas decidirem com o presidente da AR o agendamento da discussão das propostas dos vários partidos, bem como resolverem questões que digam respeito aos deputados), surgiu um pedido surpreendente. Tratava-se de um pedido do deputado do PSD José Cesário, para que o autorizassem a deslocar-se a Bruxelas, a fim de participar como membro suplente na assembleia da UEO. O problema é que o deputado pretendia fazê-lo «em viatura própria». Numa altura em que tanto se fala das viagens-fantasma, alguns dos presentes manifestaram estupefacção e incomodidade, incluindo o presidente da AR, Almeida Santos. Ainda por cima Cesário, deputado por Viseu, em Agosto - na sequência de notícias que o davam como arguido - fez saber que pagara por sua iniciativa à AR cerca de 4600 contos, por causa de deslocações que na sua opinião estavam correctas, mas poderão vir a suscitar dúvidas. A deslocação a Bruxelas foi autorizada, mas com a condição de o deputado não gastar mais do que iria gastar se fosse de avião, não tendo também direito a qualquer devolução se o gasto vier a ser menor - conforme está previsto na lei. Cesário explicou ao EXPRESSO que decidiu ir de carro para poder contactar comunidades de emigrantes em Espanha e em França. É que, como o PSD não conseguiu eleger qualquer deputado pelo círculo da Europa, a direcção do grupo parlamentar atribuiu-lhe a responsabilidade de ficar com os contactos com as comunidades de emigrantes. E adiantou que até vai poupar ao Estado uma noite em estada, pois, como vem de carro, terá de partir um dia mais cedo! GENTE já está a imaginar o deputado social-democrata por essas auto-estradas europeias. E faz daqui um apelo ao próximo líder eleito do PSD, no sentido de reconhecer condignamente o esforço deste deputado.

A opção de Santana Lopes

SANTANA Lopes declarou que só deixará a vida autárquica se o povo português o escolher como primeiro-ministro. O adversário de Durão Barroso à liderança do PSD discursava em Oucoufra, Paião, durante um jantar comemorativo da sua vitória para a Câmara figueirense. Como a tarefa é difícil, o ex-presidente do Sporting não pode excluir a hipótese de se manter nas autarquias pelos próximos anos. Ele mesmo se disponibilizou para qualquer concelho do distrito de Coimbra. Mas Santana revelou um aspecto curioso, caso seja eleito presidente do PSD: «Nenhuma vitória comprometerá o meu compromisso solene com a Figueira e não serei eu que vou a Lisboa, mas vão ser os outros que vão ter de vir reunir comigo à Figueira». Santana não esclareceu se esta decisão se aplicaria a outras actividades que tem exercido na capital, ou seja: irá ele obrigar a RTP a que sejam feitos na Figueira os programas semanais de televisão onde aparece como comentador desportivo?

O discurso elogioso de Narana Coissoró

A CENA passou-se na Assembleia da República, na quinta-feira, dia da interpelação ao Governo em matéria de Justiça, proposta pelo PP. No plenário, um deputado fazia a intervenção final: «Congratulo-me pela elevação com que decorreu o debate. Tivemos oportunidade de ver como jornalistas impreparados criaram uma ideia incorrecta, e que o caso do Aquaparque nunca podia servir de paradigma do que se passa na Justiça. Era preciso que se fizesse um debate desapaixonado como este. Não vamos criar falsos alarmes: o problema não é que haja 2 ou 3% de prescrições; ficamos a saber que noutros países são 6 ou 7%. A partir de hoje, vamos ter uma nova agenda da Justiça». Desengane-se o leitor se pensa que quem assim falava era um deputado do PS, ou mesmo o ministro da Justiça. Este ouvia em silêncio, tal como a bancada do PS - em que é justo notabilizar, pelo ar embevecido, os deputados Francisco Assis, Jorge Lacão e José Magalhães. Mas o deputado que tão bem falava era nem mais nem menos Narana Coissoró, deputado do partido (o PP) que pedira a interpelação. Enquanto falava, aliás, as faces dos seus colegas de bancada bem expressavam o incómodo que lhes ia na alma. A seu lado, na bancada do PSD, Guilherme Silva e Marques Guedes não escondiam o riso. O tom elogioso de Narana foi tal que, no final do discurso, o único deputado que bateu palmas foi José Penedos - ilustre parlamentar... do PS. Em resposta aos olhares incrédulos de alguns deputados, Penedos riu-se e encolheu os ombros, justificando-se com um «mas é verdade, falou muito bem...». GENTE também aplaude: para uma interpelação tão cor-de-rosa, só mesmo ruidosas palmas cor-de-rosa. Não sabemos se era do adiantado da hora ou se era porque o líder popular, Paulo Portas, tinha faltado por estar com gripe. Mas, de facto, GENTE ficou com a sensação de que os jornalistas estavam ali a mais... Coordenação de PEDRO ANDRADE

Veemência

Exibida por António Boronha, vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, nas vésperas do Benfica-Sporting para a Taça de Portugal, quando ainda não se sabia se o jogo seria transmitido pela TV. Boronha estava no balcão do Gambrinus, acabadinho de chegar da Holanda, quando ligou para o seu amigo Joaquim Oliveira, para saber pormenores do «affair» Vale e Azevedo e a transmissão pela TV. O que ambos disseram GENTE não pode revelar, mas garante que àquela hora o presidente do Benfica teria as orelhas a arder.

Desejo

De seguir as pegadas do pai Valentim, mas com algumas décadas de avanço, parece ser a sina de João Loureiro. Depois de, aos 20 anos, ter sido líder dos Ban e dono da discoteca Via Rápida, e de aos 30 ser o chefe máximo do Boavistão, João quer chegar a presidente de Câmara antes dos 40. Matosinhos em 2001 é o objectivo do filho do presidente da Câmara de Gondomar, que se acha capaz de derrotar Manuel Seabra, o sucessor de Narciso Miranda e conseguir pintar pela primeira vez de laranja um velho bastião rosa.

Sono

Santo tem sido o de Gomes de Pinho desde a manhã em que, ao fazer o «check out» do Hotel Four Seasons, de Nova Iorque, não resistiu ao impulso de elogiar a qualidade do colchão em que tinha dormido. O empregado da recepção informou-o de que, se quisesse, podia adquirir um colchão idêntico. O triplo administrador da Porto 2001, Fundação de Serralves e Portgás, declarou-se logo interessado no negócio e menos de um mês volvido chegava a Portugal, proveniente da Holanda, o abençoado colchão.

Garantia

Da futura manutenção da Festa de Reis, inventada este ano por Nuno Cardoso para emendar a mão de uma noite de passagem do milénio desastrosa, desprovida de fogo-de-artifício e do tocar das doze badaladas, que indignou a população da cidade do Porto. Na carta de agradecimento que enviou a todos quantos o apoiaram na realização da noite de Reis, o presidente da Câmara do Porto anunciou que «a Festa de Reis veio para ficar» e, com um ano de antecedência, aproveitou para pedir apoio para a festa de 2001.

«Gaffe»

Cometida pelo «Providence Journal» do estado de Rhode Island, ao escrever que os problemas enfrentados pelos negros diziam respeito «aos recentemente emigrados da Nigéria, Haiti ou Açores e aos descendentes dos escravos». O director do Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros da Universidade Brown, Onésimo Almeida, escreveu ao jornal lembrando que os açorianos são portugueses, e não africanos, e que se o resto dos EUA pode não saber disso, é incrível que o facto seja ignorado num estado onde são parte considerável da população.

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